Se do lado ucraniano da trincheira  há guerreiros de quatro patas a detetar minas terrestres, do lado russo existem mamíferos com barbatanas a controlar as águas do Mar Negro, prontos para deter mergulhadores inimigos.

Patron, o guerreiro de quatro patas do exército ucraniano que já detetou mais de 150 minas russas

O Instituto Naval dos EUA (USNI, na sigla original) analisou imagens de satélite do porto de Sebastopol, na Crimeia — que desde 2014 é território ocupado pela Rússia –, e concluiu que há lá dois compartimentos com golfinhos treinados pelo exército russo desde fevereiro, mês em que começou a guerra. A razão? Possivelmente para proteger a frota que ali está de um possível ataque subaquático por parte das forças ucranianas.

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De acordo com a análise do USNI, os navios ancorados em Sebastopol — ponto crucial da Marinha da Rússia — estão localizados fora do alcance de mísseis, contudo, estão “vulneráveis à sabotagem subaquática”.

Transformar estes animais em artilharia de defesa já remota à União Soviética, quando foi criada uma unidade de treino de golfinhos para deteção de armas submersas, com base em Kazachya Bukhta, onde permanece ainda hoje. O colapso da URSS fez com que o programa passasse para as mãos do exército ucraniano que mal o manteve operacional e, em 2014, com a anexação da Crimeia, voltou ao controlo da Marinha da Rússia.

Dois anos depois, em 2016, a Agence-France Presse noticiava os planos de Moscovo relativamente à compra de cinco golfinhos com “dentes perfeitos e instinto assassino”, lançando um processo de licitação por um contrato de 1,75 milhão de rublos (cerca de 20 mil euros) para os entregar à base de Sebastopol até o final do verão. Não é claro se os golfinhos que se acredita estarem atualmente em Sebastopol são estes.

Já em 2020, informava a Forbes, emergiram evidências de que a Rússia enviou golfinhos treinados para a base naval em Tartus, na Síria, durante a guerra neste país do Médio Oriente. Afinal, quais provas? Novamente, imagens de satélite datadas de 2018.

Mas antes, em 2019, uma baleia branca, ou beluga, foi encontrada por uma embarcação norueguesa usando um arnês, onde era possível ler: “equipamento de São Petersburgo”. Peritos noruegueses consideraram que este seria um animal treinado pela marinha russa para espionagem.

Baleia-branca nos mares da Noruega pode ser arma de espionagem russa

Quando a notícia veio à tona, o coronel Viktor Baranets negou as acusações em declarações à televisão russa Govorit Moskva, admitindo que:

Mas temos golfinhos militares que usamos para papéis de combate, isso não escondemos. Em Sebastopol [na Crimeia] temos um centro para golfinhos militares, treinados para resolver várias tarefas: desde analisar o fundo do mar a proteger um troço de água, assassinar mergulhadores estrangeiros, colocar minas nos cascos de navios estrangeiros”, citava-o a BBC na época.

Por sua vez, durante a Guerra Fria, a Marinha norte-americana aproveitou as capacidades de eco localização dos golfinhos para detetar minas e outros objetos que colocassem em perigo a vida dos combatentes.