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A urgência de obstetrícia do Hospital Santa Maria esteve a funcionar com normalidade ao longo desta segunda-feira, ao contrário do que havia sido inicialmente dito por fonte do hospital, que apontava para o bloco de partos estar cheio.

Em declarações à Rádio Observador, o diretor do serviço obstétrico, Diogo Aires de Campos, confirmou que ao final do dia desta terça-feira havia três vagas no bloco de partos.

Situação diferente da que foi registada durante o fim-de-semana, em que o bloco encheu várias vezes, sem ter possibilidade de admitir novas grávidas. “Houve um aumento enorme do numero de gravidas que acorreu à nossa urgência, houve um aumento do numero de partos que foi sentido durante o fim de semana todo”, confirmou Aires de Campos.

“Mas a situação foi aliviando e hoje durante todo o dia esteve tudo relativamente calmo”, acrescentou o médico. Fonte hospitalar do Santa Maria confirmou ao Observador que a última vez que se registou falta de vaga foi por volta da meia-noite desta segunda-feira, tendo a situação normalizado desde então.

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A urgência obstétrica do Hospital Santa Maria tem estado a receber um maior fluxo de grávidas nos últimos dias, na sequência do encerramento de vários blocos de partos em hospitais de todo o país, como o Hospital Beatriz Ângelo (Loures), o Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, o Hospital de Setúbal, o Hospital de Braga e o Hospital de Portimão.

SIM denuncia pressão semelhante no Garcia de Orta e Amadora/Sintra. “Mentira tem perna curta”, diz Roque da Cunha

O presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, tinha confirmado a falta de vagas no bloco de partos do Santa Maria ao Observador, remetendo para a informação disponibilizada ao INEM através do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU).

Não tendo qualquer prazer nesta denúncia, [o Sindicato] deixa um apelo pungente para que as grávidas possam ser informadas quais os hospitais a que não devem recorrer, já que a informação que é transmitida ao INEM não é transmitida à população em geral”, disse Roque da Cunha em declarações ao Observador.

Para além da situação de “contingência” no Santa Maria, o presidente do SIM acrescentou ainda que as urgências obstétricas do Hospital Garcia de Orta e do Hospital Fernando Fonseca (Amadora/Sintra) estão em situação semelhante.

Contactada pelo Observador, fonte do Garcia de Orta explicou, porém, que neste momento não há constrangimentos na urgência obstétrica daquele hospital mas que, como a urgência vai encerrar durante a noite por falta de médicos (das 20h às 08h30), “é provável” que o sistema já esteja a reencaminhar as grávidas para outros hospitais — nomeadamente o Centro Hospitalar de Setúbal e o Centro Hospitalar Barreiro/Montijo.

O Hospital Amadora/Sintra ainda não respondeu às tentativas de contacto do Observador.

Roque da Cunha fala numa “política de ocultação em relação à realidade que se está a passar nos blocos de partos da Área Metropolitana de Lisboa”. “É uma situação anormal, particularmente quando o diretor do departamento transmite ao poder político que o Hospital Santa Maria ainda pode receber muitas parturientes”, afirma. “Mais uma vez, a mentira tem perna curta.”

Urgência do Hospital de Setúbal só tem sete médicos no quadro. Resto do serviço é assegurado por tarefeiros que “não entram no plano de férias”

A situação em vários blocos de parto por todo o país ao longo dos últimos dias tem-se agravado devido à dificuldade em assegurar a manutenção das escalas nas urgências obstétricas em período de férias. É esse o caso no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, onde há apenas sete médicos do quadro a fazer urgências, sendo o resto do serviço assegurado pelos ditos “tarefeiros” — cuja marcação de férias não tem de ser coordenada com a administração do hospital.

Isso mesmo confirmou ao Observador o diretor do serviço, José Pinto de Almeida, que aponta que para um Hospital da dimensão do de Setúbal, o serviço de urgência obstétrica deveria funcionar com 23 médicos especialistas. Contudo, apenas sete asseguram as urgências em Setúbal.

A generalidade deles poderia até já nem fazer urgências, porque têm mais de 55 anos, mas continuam a fazê-las para evitar um perfeito descalabro”, afirma o médico, já que apenas uma das médicas do serviço tem menos de 55 anos.

O serviço é mantido em funcionamento com recurso a médicos contratados, os chamados “tarefeiros”. “Esta é a realidade o ano inteiro. Nesta altura a situação agravou-se porque é uma altura em que já há pessoas em férias”, explicou o diretor de serviço, destacando que perante o quadro atual, basta haver um especialista de férias para se sentirem os efeitos na escala.

A isso soma-se o facto de não ser possível coordenar férias com os “tarefeiros”. “Não têm de pedir autorização para gozar férias e não estão dependentes de qualquer tentativa de organização com os restantes médicos do serviço”, explica. Nos últimos dias, a disponibilidade destes médicos foi “reduzida”, confirmou Pinto de Almeida.