As autoridades marroquinas elevaram este sábado para 23 o número de pessoas mortas na fronteira do enclave espanhol de Melilla com Marrocos.

“Cinco migrantes morreram, elevando o número de mortos para 23″, disse à agência de notícias francesa AFP uma fonte das autoridades da província de Nador, acrescentando que “18 migrantes e um membro da polícia permanecem sob vigilância médica”.

O número oficial anteriormente revelado pelas autoridades marroquinas era de 18 mortos.

Na sexta-feira, cerca de duas mil pessoas tentaram entrar ilegalmente em Melilla, desde Marrocos, e 133 conseguiram passar para território espanhol, disseram as autoridades da cidade.

No lado marroquino foram detidas cerca de mil pessoas, segundo as autoridades de Marrocos citadas pela agência de notícias espanhola EFE.

No entanto, os números apresentados pelas organizações de defesa dos direitos humanos diferem dos das autoridades: a Associação Marroquina dos Direitos Humanos coloca o total de mortos em 27, enquanto a organização não-governamental Caminhando Fronteiras indica 37 óbitos.

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De acordo com o jornal norte-americano New York Times, um vídeo do momento da tentativa de cruzamento da fronteira, partilhado pela Associação Marroquina dos Direitos Humanos e confirmado por geolocalização, revelou “dezenas de corpos e homens feridos a serem empilhados em cima uns dos outros ao longo da vedação fronteiriça, rodeados por agentes da segurança marroquina com farda antimotim”.

Também este sábado, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) alertaram para “a necessidade de dar prioridade à segurança dos migrantes em todas as circunstâncias e dos refugiados”.

Segundo a EFE, ambas as organizações internacionais lamentaram as vítimas registadas, considerando que aquele momento “reforça mais do que nunca a importância de encontrar soluções duradouras para as pessoas deslocadas”, apelando à definição de “caminhos para uma migração segura, ordenada e regular”.

Nos últimos dias, já tinha havido confrontos em Marrocos entre grupos de migrantes que se estavam a concentrar nas proximidades da fronteira com Melilla, disseram as mesmas fontes.

As autoridades da cidade revelaram que cerca de duas mil pessoas se concentraram em território marroquino perto de Melilla e começaram a aproximar-se da fronteira às 06:40, tendo sido acionado um dispositivo policial pelos dois países.

Um grupo de 500 pessoas conseguiu ainda assim chegar à vedação que separa os dois territórios, depois de terem destruído o acesso a um posto de controlo que estava fechado.

Era um grupo “perfeitamente organizado e violento”, segundo a Delegação do Governo espanhol em Melilla.

Os enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla são as únicas fronteiras terrestres da União Europeia (UE) com o continente africano (com Marrocos, nos dois casos).

Esta é a primeira tentativa de violação massiva das fronteiras dos enclaves desde a normalização das relações diplomáticas entre Madrid e Rabat, em março passado, depois de um ano de tensões.

A crise entre Marrocos e Espanha estava relacionada com a estada em Espanha em abril de 2021 do líder do movimento independentista sarauí Frente Polisário, para ser tratado na sequência de uma infeção causada pela Covid-19.

A Frente Polisário, apoiada pela Argélia, contesta a ocupação por Marrocos do Saara Ocidental.

A tensão diplomática entre Madrid e Rabat desencadeou a entrada, em meados de maio, de mais de 10.000 migrantes em Ceuta, graças a uma flexibilização dos controlos do lado marroquino.

Em março passado, as relações bilaterais foram normalizadas, depois de o Governo espanhol assumir publicamente que a proposta apresentada por Rabat em 2007 para que o Saara Ocidental seja uma região autónoma controlada por Marrocos é “a base mais séria, credível e realista para a resolução deste litígio”.

O Saara Ocidental é uma antiga colónia espanhola ocupada por Marrocos há 47 anos, no contexto de um processo de descolonização.

Espanha defendeu durante muito tempo que o controlo de Marrocos sobre o Saara Ocidental era uma ocupação e que a realização de um referendo patrocinado pela ONU deveria ser a forma de decidir o futuro do território.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, elogiou esta sexta-feira a colaboração de Marrocos no assalto “violento e organizado” à vedação fronteiriça de Melilla.