Os líderes dos países mais ricos do mundo estão perto de um acordo político para tentar impor um teto ao preço do petróleo russo que continua a ser comprado por vários estados, incluindo da União Europeia.
A iniciativa tem sido defendida pela secretária de Estado do Tesouro norte-americano, Janet Yellen, e surge como alternativa a sanções que passem por um embargo das compras à Rússia. O objetivo principal é travar as receitas com a venda de petróleo e produtos petrolíferos que continuam a alimentar a máquina de guerra russa, ao mesmo tempo que limitam o efeito das sanções económicas já impostas. Mas há também a expectativa de que este teto possa contribuir para travar a escalada do petróleo no mercado internacional, com efeitos no controlo da inflação de várias economias, ainda que o crude russo esteja já a ser transacionado com um desconto significativo face às cotações dos dois grandes mercados internacionais, Londres (Brent) e Nova Iorque (Nymex).
Segundo um responsável da administração de Joe Biden, citado pela agência Bloomberg, o acordo político pode ser alcançado na cimeira do G7 que se realiza segunda e terça-feira nos Alpes da Baviera (Alemanha), mas os detalhes de como este limite será implementado e mesmo o seu valor serão trabalhados pelos ministros das Finanças dos países do G7 nas próximas semanas. O G7 reúne as maiores economias do mundo — Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Japão, Canadá e Itália — mas não representa os maiores clientes atuais do petróleo russo e esse é um dos obstáculos à execução desta proposta. Neste encontro está a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e participou por vídeoconferência o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que tem pressionado os aliados a adotarem sanções mais duras contra a energia russa.
Será preciso convencer os maiores compradores, nomeadamente a Índia e a China, das vantagens de aderirem a este teto que, do ponto de vista económico, pode ser um grande negócio para os maiores clientes da Rússia, mas trará problemas às relações políticas com o regime de Putin.
Algumas economias do G7 como os Estados Unidos, o Canadá e o Reino Unido — países que são também produtores — já implementaram um embargo total ao petróleo russo, mas a União Europeia estabeleceu um calendário faseado até ao final do ano para acabar com todas as aquisições. Este teto teria de ser aprovado pelo bloco europeu que já sentiu muitas dificuldades em conseguir um consenso sobre as sanções à energia russa. Os defensores da proposta argumentam que o teto poderá ajudar a conter a escalada dos combustíveis e controlar a inflação. A Itália propôs também um limite ao preço do gás importado da Rússia, mas esta proposta está longe de ser consensual.
Para além dos obstáculos políticos, é preciso encontrar uma solução técnica para implementar o teto aos preço dos produtos petrolíferos. Para além do petróleo, a Rússia é o fornecedor mundial de gasóleo e abastece outros produtos intermédios como o VGO (gasóleo de vácuo) que era importado pela Galp.
De acordo com a Bloomberg, uma via que pode ser utilizada será estabelecer uma restrição nos seguros para o transporte de petróleo que apenas poderão ser contratados caso os produtos transacionados cumpram o limiar de preços imposto. Mais de 90% da frota de petroleiros mundiais está coberta pelo International Group od Protecion & Indemninity Club com sede em Londres e por algumas seguradoras baseadas na Europa continental. Os governos ocidentais podem tentar estabelecer como condição a cumprir pelos compradores, para terem acesso à cobertura de seguros para o transporte dos produtos petrolíferos, o pagamento do preço limite.
Este mecanismo teria também de convencer os principais compradores de países não ocidentais que podem preferir negociar com seguradoras russas em vez de terem as potências ocidentais a determinar quanto vão pagar pelo petróleo, isto para salvaguardar a relação com a Rússia. Também não há garantias de que os russos aceitem vender o seu petróleo dentro de um limite, que será pouco superior ao preço de custo. O país já mostrou que está disposto a perder receitas, travando a venda de gás natural aos estados que não cumpriram as exigências de pagamento em rublos. Reter o petróleo durante algum tempo pode também revelar-se uma arma eficaz contra as economias da Europa e dos Estados Unidos, já que teria o efeito contrário ao pretendido pelas potências ocidentais — inflamar ainda mais as cotações internacionais. Para já as cotações seguem com uma ligeira valorização esta segunda-feira, estando o brent, em Londres, a transacionar nos 109,6 dólares e o WTI em Nova Iorque nos 107,8 dólares.