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Gazprom invoca limitações técnicas para reduzir volumes de gás entregues pelo Nord Stream que serve vários países europeus

dpa/picture alliance via Getty I

Gazprom invoca limitações técnicas para reduzir volumes de gás entregues pelo Nord Stream que serve vários países europeus

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Rússia já fechou o gás a pelo menos 9 países europeus. Quais as alternativas e os cenários para o corte total?

Europa acusa Rússia de usar o gás como arma política. Agora o corte atingiu a Alemanha e não se sabe se vai durar. Que países são mais afetados, que alternativas têm? Estão prontos para o corte total?

“É o nosso produto, são as nossas regras. Não jogamos com as regras dos outros”. Foi nestes termos que o presidente da Gazprom comentou os cortes no abastecimento de gás à Alemanha e a outros países como a Itália através do gasoduto Nord Stream. As declarações de Alexei Miller foram feitas esta sexta-feira no Fórum Económico Internacional de São Petersburgo onde Putin também atacou a estratégia europeia, e no mesmo dia que a Comissão Europeia aprovou a candidatura da Ucrânia à União Europeia.

O argumento russo para cortar em mais de metade — 60% — o fluxo de gás com destino a vários países da Europa central é técnico. A Gazprom alega que a empresa de engenharia alemã Siemens falhou a entrega de um equipamento que está numa fábrica no Canadá para reparações e cuja devolução à Rússia foi travada pelas sanções impostas por aquele país.

Rússia admite suspender fornecimento pelo gasoduto Nord Stream. “Será uma catástrofe para a Alemanha”

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Mas para o ministro da Economia alemão não há dúvidas de que a decisão da Gazprom é política. Robert Habeck já tinha afirmado em maio que a Rússia ia usar os recursos energéticos como uma arma. E esta redução do fornecimento acontece na mesma semana em que quatro líderes europeus, incluindo o chanceler alemão, foram a Kiev demonstrar o apoio à Ucrânia e dar um passo decisivo para a adesão do país à UE.

Também a Áustria e a Itália reportaram a queda na receção de gás russo, tal como a França e Eslováquia. Juntam-se a uma lista cada vez mais longa de países onde estão também a Polónia, a Bulgária, a Finlândia e a Holanda. Pelo menos.

Alemanha e Áustria anunciaram já este fim de semana planos para responder ao risco de abastecimento que incluem a retoma da produção elétrica a partir de centrais a carvão.

Alemanha e Áustria retomam produção elétrica a carvão para reduzir necessidade de gás russo

A petrolífera italiana Eni revelou que estava a receber apenas 65% do gás contratado à Gazprom. O primeiro-ministro italiano não aceitou as causas de manutenção invocadas pela empresa russa.

“Tanto a Alemanha como nós, e os outros países, acreditamos que são mentiras. Na realidade estão a fazer um uso político do gás como estão a usar o escoamentos de cereais (retidos na Ucrânia) para fazer política”, afirmou esta quinta-feira, Mario Draghi.

Esta tese é apoiada por declarações do diretor executivo da rede de gás da Ucrânia que acusa a Gazprom de cortar o fornecimento à Itália e à Alemanha para colocar mais pressão sobre os países da UE. Segundo Sergiy Makogon, citado pelo Financial Times, a empresa russa poderia compensar a redução do fluxo pelo Nord Stream injetando mais gás através do sistema de gasodutos da Ucrânia, cuja utilização está muito abaixo da capacidade contratada, e sem custos adicionais.

"Tanto a Alemanha como nós, e os outros países, acreditamos que são mentiras. Na realidade estão a fazer um uso político do gás como estão a usar o escoamentos de cereais (retidos na Ucrânia) para fazer política"
Mario Draghi, primeiro-ministro italiano sobre as explicações dadas pela Gazprom para reduzir o volume de gás para a Europa

Desde o início da crise energética com origem na invasão da Ucrânia que os países europeus evitaram incluir o gás russo nas sanções económicas impostas ao regime de Vladimir Putin. Ainda que tenham ao mesmo tempo procurado soluções alternativas de abastecimento que permitam cortar o cordão da dependência do gás natural da Rússia. Apesar dos anúncios de novos contratos com outros fornecedores — desde os Estados Unidos ao Médio Oriente passando por África — esse esforço não chega para o horizonte dos próximos meses. Sobretudo se a Europa tiver de enfrentar um corte unilateral no abastecimento como aquele que foi feito esta semana e que repete, em mais larga escala, a interrupção nas entregas a outros países que começaram em abril quando a Rússia exigiu o pagamento dos contratos em rublos.

Que “power” tem a Europa para se livrar da energia russa

O mais recente corte surge poucas semanas antes da prevista entrada em trabalhos de manutenção anual do pipeline offshore do Nord Stream e a empresa pública russa não especificou por quanto tempo as entregas vão ser reduzidas. Se se prolongarem no tempo podem comprometer a reposição dos stocks de segurança durante o verão que a Alemanha estava a planear para responder à procura no inverno e em linha com a recomendação feita pela Comissão Europeia.

A Alemanha, tal como a União Europeia, tem planos de contingência para responder de imediato ao corte do abastecimento. Os cenários vão desde uma regulação dos preços de venda no retalho até ao racionamento e ao corte do abastecimento aos maiores consumidores industriais e elétricas. O que pode ter consequências devastadoras para a indústria de uso mais intensivo de energia com efeitos em cadeia a toda a economia.

Que países estão a ser mais afetados pelos cortes da Gazprom

Mas como estão os países a lidar com esta ameaça? A resposta depende muito do peso de dois fatores na equação: grau de dependência da Rússia como fornecedor do gás que consome e o peso que o gás tem no abastecimento energético e na economia. Esta acaba por ser a variável com mais peso.

Finlândia: muita dependência da Rússia, pouca dependência do gás

Apesar de surgir nas agências internacionais como um dos países com maior dependência, mais de 90%, a Finlândia não terá sido especialmente afetada pelo corte no fornecimento russo de gás (e eletricidade) que foi anunciado em maio. A empresa russa alegou incumprimento da exigência de pagamento em rublos e o diferendo encontra-se em arbitragem. Em 2021, a Gazprom vendeu dois terços do gás consumido na Finlândia, mas este combustível representa apenas 8% das necessidade de energia do país.

O Governo finlandês estava preparado para esta eventualidade, com a Agência Nacional de Abastecimento Energético a assegurar o abastecimento de famílias, entidades de saúde e de apoio social, bem como da indústria alimentar. Apesar de ser um país exposto a baixas temperaturas, são poucas as casas finlandesas que contam com o gás para aquecimento — esta é a principal razão para que o consumo aumente muito no inverno na maioria dos outros países europeus.

Para mitigar o risco, o Governo finlandês assinou um contrato de 10 anos para a entrega de gás natural liquefeito através de um navio com terminal flutuante de GNL (que dispensa um terminal portuário dedicado) com a empresa americana Excelerate Energy. A empresa Gasum está também a tentar cobrir falhas no curto prazo com outras fontes como por exemplo através do gasoduto que liga a Finlândia à Estónia.

Ainda assim, a falta do gás russo vai obrigar as grandes empresas industriais do país — sobretudo papeleiras, químicas e alimentares — a procurar alternativas e adaptar o seu dispositivo produtivo.

Alemanha: Como o maior cliente do gás russo responde a um corte total

Do outro lado da escala está a maior economia europeia. De acordo com as estatísticas internacionais, a Alemanha nem é um dos países que está mais dependente da Rússia no abastecimento de gás — ligeiramente abaixo dos 50% segundo dados de 2020. Mas basta olhar para outras estatísticas para perceber a enorme vulnerabilidade deste gigante industrial. A Alemanha é o maior cliente do gás que a Rússia vende através de gasoduto (e que é a maioria), absorvendo quase 24% do total.

O país conseguiu nos últimos meses reduzir a sua dependência da Rússia para 35%, mas ainda está muito longe da autonomia energética. O gás natural representou 27% do consumo total da energia no ano passado e os maiores clientes são os residenciais e serviços (aquecimento), a indústria e, em menor escala, o setor elétrico. As reservas de armazenamento estão atualmente a 55% da capacidade, nível que tem de ser elevado para 90% até novembro, de acordo com a recomendação europeia.

O site Clean Energy Wire (CLEW), uma publicação especializada na transição energética na Alemanha, traça esta sexta-feira um cenário para o corte total do gás russo.

São necessárias até 24 horas para confirmar um corte absoluto nas entregas de gás pelo Nord Stream. No imediato a reação das autoridades dependeria do nível de consumo e do armazenamento. Outro fator a ponderar, segundo Klaus Muller da agência de gasodutos, é a disponibilidade de outros fornecedores. Estes são os indicadores que determinam se o país tem de declarar estado de emergência e decidir rapidamente o que fazer para evitar o tumulto. Sendo certo que este cenário seria muito mais difícil de gerir no inverno do que agora quando o consumo de gás é muito baixo.

Ukraine conflict - Nord Stream 1

São necessárias até 24 horas para confirmar o fim dos fluxos de gás no gasoduto

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Se se verificar uma crise séria no gás, haverá racionamento. Neste cenário, os clientes protegidos terão tratamento preferencial — habitações, pequenos negócios como padarias e supermercados, serviços essenciais como hospitais, escolas, estações de polícia e produtores de alimentos. Os primeiros consumidores a serem afetados seriam as empresas com contratos interruptíveis que preveem já os cortes de fornecimento em caso de necessidade, seguem-se as centrais de ciclo combinado não essenciais à produção de eletricidade e logo a seguir os grandes clientes industriais que respondem por 37% do consumo.

Citado pelo site CLEW, o responsável pela agência gestora das redes avisa contudo que a hierarquia e calendário dos cortes é muito difícil de antecipar, pelo que admite que a decisão de cortar fornecimento seja tomada caso a caso e não de forma generalizada. Na linha da frente dos setores mais penalizados estariam a químico, o aço, os fertilizantes e o vidro. Dependendo do tempo que fossem obrigadas a desligar algumas unidades, poderiam ficar com danos permanentes, o que teria potencial para causar um efeito dominó sobre as cadeias de abastecimento da economia alemã com consequências para todos os clientes internacionais, já que a Alemanha é uma forte exportadora.

Antes de chegar ao estado de emergência há o estado de alarme, acionado em caso de perturbação significativa da oferta ou no caso de elevada procura. Este estado poderá ser acompanhado de um aumento ainda mais expressivo dos preços do gás natural, o que poderia obrigar a uma intervenção regulatória. A resposta à crise exige ainda uma grande capacidade de antecipação, o que passa pela comunicação às autoridades das previsões de consumo dos maiores consumidores. E pode passar também pelo mecanismo de solidariedade entre países da União Europeia. A Alemanha já fez acordos com a Áustria e a Dinamarca.

Como estão os outros países a gerir a crise do gás

Apesar de ser também um cliente importante da Gazprom, a Itália aparenta estar mais tranquila. Esta quinta-feira o ministro da Transição Ecológica, Roberto Cingolani, afirmou que a situação do gás “está sob controlo. Estamos a monitorizar os fluxos dia e noite e para já os danos são limitados”.

A empresa italiana Eni, que é cliente da Gazprom, reportou logo na quarta-feira um redução de 15% nos volumes de gás recebidos, sem que a fornecedora russa tivesse dado uma razão ou indicado quanto tempo duraria esse corte parcial. O fluxo de gás diminuiu mais no dia seguinte, mas até agora os responsáveis italianos têm assegurado ter stocks suficientes para aguentar a redução do abastecimento. Itália foi um dos países mais rápidos a mexer-se já durante a guerra para diversificar as fontes de gás natural, tendo fechado contratos com a Argélia, mas também com outros países africanos, como Angola, Líbia, Congo e Egipto. O facto de a Eni ser ela própria uma grande produtora de gás nestas geografias terá ajudado. A empresa italiana está também envolvida no projeto de gás natural em Moçambique, um consórcio que envolve a Galp.

Inside The Factory Versalis Of Eni

A petrolífera italiana tem exploração de gás fora de Itália e está com a Galp no projeto de Moçambique

Getty Images

Situação diferente é a da Áustria. O país mantém uma das relações mais antigas e profundas com a energia russa, tendo em 2018 prolongado um contrato de compras de longo prazo até 2040. A empresa de energia austríaca, a OMV, nasceu no pós-guerra depois do tratado que levou a Rússia a entregar ativos de energia em troca da neutralidade austríaca.

A agência de energia já admitiu que seriam precisos cinco anos para eliminar as importações de gás russo, o que implicaria encontrar outros fornecedores, mas também aumentar a eficiência energética e produzir combustíveis sintéticos. Daí que o país tenha procurado conciliar as compras à Gazprom, que representam cerca de dois terços do consumo, com as restrições financeiras da União Europeia.

Num prazo mais curto, a estratégia austríaca passa por reforçar muito o nível de armazenagem cuja ocupação era uma das mais reduzidas da Europa, de apenas 20%, o que acontece mais em países abastecidos por gasoduto. As autoridades lançaram um concurso para comprar todo o volume de gás necessário para o consumo em janeiro, o mês com maior procura e estão preparadas para gastar até cinco mil milhões de euros para encher todos os depósitos antes do próximo inverno. Os responsáveis do país admitem que essas reservas venham a ser preenchidas com stocks de gás russo, mas sublinham que não têm alternativa se não apostar em armazenar todo o gás que conseguirem.

A ministra da Ação Climática reconheceu que a invasão da Ucrânia está a obrigar o país a enfrentar “verdades desconfortáveis. “Será um grande esforço e temos de encarar que vai demorar tempo”, afirmou Leonere Gewessler. “Se precisamos de constituir reservas agora, pode haver gás russo incluído”.

A Polónia e a Bulgária foram as primeiras a sentir logo em abril os efeitos das contra-sanções de Putin, ao verem o abastecimento interrompido por falta de pagamento em rublos.

A resposta imediata dos polacos foi a que conseguiam gerir a falha do gás russo. O país tem possibilidade de importar metade das suas necessidades através de cargas de gás natural liquefeito (GNL) e tem várias rotas de abastecimento porque está bem localizado para ter acesso a infraestruturas alternativas ao gasoduto que vem da Rússia.

"Os desenvolvimentos do que aconteceu esta semana vão ser um choque massivo para os preços do gás, à medida que a Europa está a lutar para reabastecer os seus stocks antes do inverno, isto no caso de esta redução de entregas ser de longa duração". 
Tom Marzec-Manser da consultora especializada em gás ICIS

A Polónia tem um terminal de GNL no mar Báltico e está ligado ao gasoduto do Báltico que a partir deste ano vai entregar gás com origem na Noruega e na Dinamarca. O facto de grande parte da sua eletricidade ser produzida a partir de carvão, que a Polónia produz em grande quantidade, também lhe dá maior autonomia energética. O maior desafio será sentido na preparação do inverno quando o consumo sobe por causa da temperatura.

Já a Bulgária pode ter mais dificuldades. O Azerbaijão pode ser um fornecedor alternativo, mas não será suficiente. O país também está à procura de novos fornecimentos na Noruega, no Médio Oriente e no Norte de África e, no limite, pode retomar o projeto de construção da central nuclear de Belene perto do rio Danúbio que foi suspenso no ano passado.

Mesmo que seja possível aos ex-clientes da Gazprom ultrapassarem os sobressaltos provocados pela suspensão dos envios pelo gasoduto, há uma consequência que é inevitável. A fatura do gás natural vai subir ainda mais, à medida que mais países europeus procuram outras geografias. Um analista ouvido pelo Financial Times, refere que a Europa e a Ásia vão tentar cada vez mais ultrapassarem-se uma à outra para conseguir garantir cargas, puxando para cima os preços mundiais do gás natural. São esses preços que acabam por ter lastro a Portugal, que, ainda assim, não tem um problema de abastecimento de gás natural, já que não recebe este produto com origem na Rússia.

“Os desenvolvimentos do que aconteceu esta semana vão ser um choque massivo para os preços do gás, à medida que a Europa está a lutar para reabastecer os seus stocks antes do inverno, isto no caso de esta redução de entregas ser de longa duração”. É o aviso de Tom Marzec-Manser da ICIS, consultora do mercado do gás.

E o efeito dos preços altos chega a todos os países, incluindo aqueles que como Portugal não estão dependentes do gás russo, apesar de algumas compras pontuais no passado.

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