A atriz francesa Juliette Binoche defendeu que as atrizes devem aprender a dizer “não” aos papéis que transformam as mulheres em objetos, no Festival de Cinema de San Sebastián, em Espanha, onde recebeu um prémio de carreira este domingo.

“É preciso também dizer ‘não’ a determinadas coisas para não vivermos numa espécie de sistema em que nos veem dessa forma”, como objetos, declarou Binoche, uma das mais prestigiadas atrizes francesas, distinguida com vários prémios durante a sua vida cinematográfica. Sempre que lhe propuseram papéis em que ela seria “a mulher de alguém, ou objetificada enquanto mulher”, ela disse tê-los recusado.

“Eu só disse ‘não’, porque não estava interessada”, afirmou à imprensa a atriz de 58 anos, admitindo sentir-se “muito sortuda” por ter desempenhado tantos papéis interessantes ao longo da sua carreira. “Nem sempre é fácil, mas também é preciso saber saltar para o desconhecido, onde já não se está num contexto de códigos machistas”, prosseguiu Binoche, cujo papel no filme de 1996 “O Paciente Inglês”, realizado por Anthony Minghella, lhe valeu o Óscar de melhor atriz secundária, atribuído pela academia de cinema norte-americana.

Juliette Binoche, que interpretou cerca de 75 papéis diferentes desde a sua estreia no grande ecrã, em 1983, disse que tenta “nunca julgar um papel, mas aceitá-lo com todas as suas contradições, todas as suas zonas sombrias e com o que, em última análise, o torna humano”. Domingo à noite, o Festival de Cinema de San Sebastián, no País Basco, distinguiu-a, bem como ao realizador canadiano David Cronenberg, com um Prémio Honorário Donostia, em sinal de reconhecimento das respetivas carreiras na sétima arte.

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Entre os anteriores recipientes do Prémio Donostia – que significa San Sebastián na língua basca e é a mais alta distinção do certame -, estão os atores Meryl Streep, Ian McKellen, Robert De Niro e Richard Gere. No ano passado, os galardoados com o prémio foram a atriz francesa Marion Cotillard e o ator norte-americano Johnny Depp.

Nos filmes que protagonizou, Juliette Binoche contracenou com atores como Ethan Hawke, Daniel Day-Lewis, Ralph Fiennes, Jeremy Irons, Daniel Auteuil, Judi Dench, Catherine Deneuve, Mathieu Kassovitz e Clive Owen, entre outros. Foi dirigida por cineastas como Krzysztof Kieslowski, autor de “Três cores: Azul”, o primeiro filme da trilogia pela qual Binoche obteve o prémio de melhor atriz no Festival de Veneza e um prémio César, galardão para que foi nomeada mais nove vezes.

Esta musa do cinema de autor europeu trabalhou também com os cineastas Abbas Kiarostami, Olivier Assayas e Michael Haneke, bem como com David Cronenberg, o outro premiado nesta 70.ª edição do certame. Binoche tornou-se hoje a 26.ª mulher a receber este galardão honorífico, também atribuído a outras compatriotas suas, entre as quais Jeanne Moreau, Catherine Deneuve, Isabelle Huppert e Marion Cotillard.