A economia portuguesa vai crescer menos de metade do que se previa em julho, antecipa a Comissão Europeia. O Produto Interno Bruto (PIB) vai aumentar 0,7% em 2023, cerca de metade do que prevê o Governo no Orçamento do Estado. Ainda assim, o crescimento será mais que o dobro da média da UE, que só deverá crescer 0,3%.

As novas previsões económicas da Comissão Europeia estão alinhadas com a projeção divulgada em outubro pelo FMI: um crescimento de 0,7% na economia portuguesa no próximo ano. A previsão anterior de Bruxelas, de julho, apontava para um crescimento de 1,9% em 2023.

Bruxelas reviu em alta, porém, o crescimento económico de 2022, apontando para uma expansão de 6,6% – ligeiramente mais do que os 6,5% previstos em julho. Relativamente a 2024, a previsão da Comissão Europeia é que a economia portuguesa volte a acelerar, com uma expansão de 1,7%.

Por outro lado, a Comissão Europeia prevê um défice maior nas contas públicas do que aquilo que está no Orçamento. Se Fernando Medina prevê um défice de 0,9% do PIB, a Comissão diz que será pior: 1,1%.

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Questionado na conferência de imprensa pela correspondente da SIC, o Comissário Europeu Paolo Gentiloni justificou a diferença em relação às previsões do Governo português com uma divergência “moderada” no campo das transferências sociais e dos salários da Função Pública.

“O pico da inflação está próximo”

Acreditamos que o pico da inflação está próximo“, diz Comissário Europeu Paolo Gentiloni, na conferência de imprensa de apresentação destes dados.

A projeção da Comissão Europeia para Portugal é que a taxa de inflação desça de 8% em 2022 para 5,8% em 2023. Em 2024 acredita-se que o ritmo de subida dos preços baixe para 2,3%.

“Depois de uma primeira metade do ano robusta, a economia europeia entrou numa fase muito mais desafiante”, afirma a Comissão Europeia, comentando que “os choques causados pela agressão russa na Ucrânia estão a penalizar a procura económica global e a agravar as pressões inflacionistas globais”.

A UE está entre as economias desenvolvidas mais expostas, devido à proximidade geográfica em relação à guerra e à elevada dependência das importações de gás da Rússia. A crise energética está a penalizar o poder de compra e a pesar na produção. O sentimento económico caiu de forma marcada, por isso, embora o crescimento em 2022 deva ser melhor do que o previsto anteriormente, as previsões para 2023 apontam para um crescimento significativamente mais baixo e uma inflação mais elevada”, diz Bruxelas.

A economia europeia deverá crescer 3,3% em 2022 mas apenas 0,3% no próximo ano, com a Alemanha a pesar com uma contração de 0,6%. Em Espanha, o PIB deverá crescer mais do que Portugal – 1% – mas após um crescimento em 2022 mais fraco: 4,5%.

Paolo Gentiloni desvalorizou, também, os pedidos de alguns países – incluindo Portugal – para se adiarem os prazos para a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Mudar o prazo-limite de 2026 “não é uma decisão política que se pode mudar facilmente” – seria, aliás, “muito difícil, politicamente”, tomar essa decisão.

“Respeito todas as opiniões mas lanço um repto para que se avance na execução destes planos”, afirmou o comissário europeu. “Ainda mais quando se antecipa uma desaceleração da economia, estes investimentos são mais necessários do que nunca”, concluiu Paolo Gentiloni.