Vai ser o primeiro grande corredor de hidrogénio verde da União Europeia e deverá estar pronto a funcionar em 2030. Tem um custo estimado de 2,5 mil milhões de euros, ainda que a estimativa seja “prudente”, segundo o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, face à envergadura da obra. Pouco mais de um mês depois de ter sido anunciado, o projeto H2Med, que resulta do acordo entre Portugal, Espanha e França, começa a ganhar forma. Após um mês “intenso” de trabalho técnico, foi esta sexta-feira apresentado em Alicante, numa cimeira que contou com a presença dos líderes dos três países e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

O projeto terá dois traçados fundamentais, que vão ligar Portugal e Espanha através de Celorico da Beira e Zamora, e Espanha e França através do Mediterrâneo, com uma ligação entre Barcelona e Marselha. Quando estiver pronto, vai assegurar o transporte de 10% das necessidades de hidrogénio da Europa, ou o equivalente a dois milhões de toneladas por ano. O próximo passo é o de tentar obter financiamento comunitário para a obra, através da sua apresentação enquanto Projeto de Interesse Comum, que acontecerá a 15 de dezembro. Com o Mecanismo Interligar Europa será possível ter 50% do projeto financiado pela UE, referiu o presidente do Governo espanhol. “Vamos trabalhar sem descanso”, garantiu Pedro Sanchéz.

Tal como foi anunciado a 20 de outubro, numa primeira fase a infraestrutura irá transportar gás natural, mas será preparada para o transporte definitivo de hidrogénio verde.

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Na conferência conjunta dos quatro líderes, António Costa destacou que foi hoje dado mais um passo para a concretização do acordo político firmado em outubro. “Acrescentamos mais uma fonte de energia produzida na Península Ibérica para a Europa, a par das quatro interconexões elétricas que estão acordadas, duas em operações e duas em projeto ou em construção. Além das interconexões de gás natural existentes entre Portugal e Espanha, acrescentamos agora um corredor dedicado ao hidrogénio verde”.

E este corredor, notou o primeiro-ministro, “muda significativamente o paradigma, porque além de sermos importadores e reexportadores de energia, reforçamos a nossa posição enquanto produtores e exportadores de energia”.

Lembrando que a Península Ibérica “é um dos melhores locais para desenvolver energias renováveis” devido aos preços baixos, nomeadamente na energia solar, Costa salientou que isso “torna particularmente competitivo o hidrogénio verde produzido na Península Ibérica”. Para o primeiro-ministro, o H2Med “é um projeto de interesse comum europeu porque satisfaz o interesse de toda a Europa, e surge num momento particularmente importante, em que a guerra na Ucrânia tornou evidente a necessidade de reforçar a segurança energética da Europa”. Costa enalteceu ainda o espírito “construtivo e dialogante” de Emmanuel Macron e o “excelente exemplo de como três países sabem cooperar entre si para, em conjunto, ajudarem a Europa”.

A presidente da Comissão Europeia também não poupou elogios aos três líderes, pelo esforço em chegar a um acordo em prol da Europa. Defendendo que o hidrogénio verde será “uma parte fundamental do sistema energético na transição para a neutralidade carbónica”, von der Leyen manifestou o desejo de ter a Europa “na posição dianteira na construção de um mercado global do hidrogénio”.

A estratégia inclui “metas ambiciosas de produção, mas não só”, ressalvou. “O que definimos é uma visão para o desenvolvimento de uma indústria de hidrogénio em larga escala. E transformámos esta visão em realidade com a criação de uma aliança europeia, um verdadeiro ecossistema ao longo de toda a cadeia de valor”.

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Lembrando que este foi um trabalho que começou em 2020, von der Leyen reconheceu que o tema ganhou importância quando “começou a guerra da Rússia à energia, que teve efeitos severos nos nossos mercados”. Este projeto é, por isso, “benéfico não só para o clima mas também importante para a nossa independência e segurança do abastecimento”.

Von der Leyen salientou o papel do plano REPowerEU, no qual o hidrogénio terá um papel “fundamental”. A meta passa por produzir 10 milhões de toneladas de hidrogénio verde na UE a partir de 2030. E, além disso, importar mais 10 milhões de toneladas. “Este hidrogénio vai ter de chegar à nossa indústria”, ressalvou a presidente da Comissão Europeia. “É por isso que identificámos uma série de corredores estratégicos necessários para transportar o hidrogénio”. E é aqui que surge a Península Ibérica. O corredor vai atravessar a Europa, de oeste para este, a partir de Portugal e Espanha.

Von der Leyen enalteceu o acordo entre os três países, considerando que o H2Med “é um projeto que vai na direção certa”, porque “tem o potencial para nos ajudar a construir uma verdadeira espinha dorsal europeia do hidrogénio”. O facto de ser um projeto de interesse comum torna-o elegível para financiamento comunitário.

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“A Península Ibérica está prestes a tornar-se num dos maiores hubs energéticos da Europa”, destacou ainda, lembrando que a UE financiou a interconexão do golfo da Biscaia, as ligações dos Pirenéus e as interconexões elétricas entre Espanha e Portugal. “Hoje, a Península Ibérica está a tornar-se num portal energético para o mundo. Um corredor de hidrogénio através da Ibéria também poderá ter ligação com o abastecimento de hidrogénio de toda a região do Mediterrâneo”. A UE já assinou uma parceria com o Egito neste sentido  e está “a discutir” com Marrocos. “E estamos a trabalhar numa parceria mais lata com todos os países do Mediterrâneo Sul. Isto é só o início. Mas é um início muito promissor”, concluiu.