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A central hidroelétrica de Kakhovka, na região de Kherson, na Ucrânia, foi totalmente destruída, não sendo possível repará-la, confirmou esta terça-feira a Ukrhydroenergo, a empresa estatal ucraniana que gere a maioria das barragens no país, citada pela Interfax. Um vídeo partilhado no Twitter por Anton Gerashchenko, conselheiro do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, mostra a central submersa pelas águas do Rio Dnipro.

Volodymyr Zelensky, que convocou uma reunião de emergência na sequência do incidente, informou que “os terroristas russos realizaram uma detonação interna das estruturas da central hidroelétrica de Kakhovskaya durante a noite”, pelas 2h50 (4h50 em Lisboa), provocando a inundação de 80 localidades, incluindo Nova Kakhovka. “Foi ordenada a evacuação das áreas em risco e que fosse providenciada água a todas as cidades e aldeias que são fornecidas pelo reservatório de Kakhovsky. Vamos fazer tudo para salvar as pessoas”, garantiu o Presidente ucraniano, acrescentando que os militares e o governo estão envolvidos na operação.

O governador ucraniano de Kherson, Oleksandr Prokudin, disse, ao início da manhã desta terça-feira, que a subida do nível das águas do Dnipro devido à destruição da barragem colocou cerca de 16 mil habitantes da margem direita, controlada pelas forças da Ucrânia, e que, por essa altura, havia pelo menos sete localidades “parcial ou totalmente inundadas”, número que foi entretanto atualizado por Zelensky. “Sabemos que outras povoações vão ser inundadas e estamos preparadas para isso”, declarou o responsável, informando que os habitantes estavam a ser retirados das suas casas e transportados por autocarro e comboio para outras cidades ucranianas, incluindo Kiev.

Ucrânia acusa Rússia e Rússia acusa Ucrânia

Ucrânia e Rússia têm trocado acusações relativamente à destruição da barragem. As autoridades ucranianas e seus aliados acusam o Exército russo de ter sido responsável pelo colapso da central hidroelétrica de Kakhovka, que fornece a água que é utilizada para arrefecer os reatores nucleares de Zaporíjia, a cerca de 160 quilómetros. Já os oficiais russos dizem que foi a Ucrânia que destruiu a barragem. Vladimir Leontiev, autarca russo de Nova Kakhovka, afirmou, depois de uma fonte oficial russa ter dito à TASS que a central hidroelétrica tinha ruído “devido a danos causados pelo conflito”, que a sua destruição “é uma catástrofe criada pelas autoridades ucranianas e por aqueles que as controlam”.

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O governador russo de Kherson pintou um retrato da situação que não vai também ao encontro do que tem sido relatado pelas autoridades ucranianas. De acordo com a agência russa TASS, Vladimir Saldo disse que a destruição da barragem não implica “a evacuação em larga escala das localidades na região de Kherson”, porque, apesar de ter provocado um grande fluxo de água, a situação não crítica e não vai evitar que as forças de Moscovo continuem a “proteger” a margem esquerda do rio.

Um outro membro do governo russo da região, Andrey Alekseenko, garantiu que a população não corre risco de vida, citou a CNN internacional. Pelo contrário, o Governo ucraniano alertou para a possibilidade de um número elevado de vítimas. Numa reação publicada no Twitter, o Ministério da Defesa da Ucrânia constatou que grande parte da região sul do país corre risco de ser inundada e que o número de vítimas será “massivo”, garantindo que “os russos vão pagar por tudo”.

Incidente é um dos mais graves da guerra na Ucrânia

A central hidroelétrica de Kakhovka, na localidade de Nova Kakhovka é uma de seis barragens construídas ao longo do Rio Dnipro, um dos mais longos da Europa, que atravessa a Ucrânia de uma ponta à outra, desaguando a sul, no Mar Negro, na região de Kherson.

Desde fevereiro de 2022, quando começou a invasão russa da Ucrânia, que a barragem construída em 1956, no tempo da União Soviética, é controlada pela Rússia. De acordo com a Sky News, há muito tempo que a Ucrânia temia que Moscovo fizesse explodir a central para impedir que as forças nacionais conseguissem chegar à margem esquerda do rio, dominada pelo Exército russo. Apesar de não ser claro porque é que a barragem foi destruída, esta apresenta-se por enquanto como a explicação mais plausível.

São várias as localidades na região de Kherson que dependem da barragem para o fornecimento de água, e a sua destruição pode ter um impacto negativo no setor agrícola local.

Segundo a BBC, a central também serve a península da Crimeia, ocupada pelas forças russas desde 2014, o que significa que a região pode também ser afetada. Além do perigo que a subida do nível das águas representa para as 22 mil pessoas que vivem na zona sul de Kherson, o colapso da infraestrutura pode afetar o normal funcionamento da central nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, que é fornecida pela barragem. Em comunicado, a Energoatom constatou que o incidente pode ter consequências negativas para a central, uma vez que a água utilizada para arrefecer os reatores nucleares tem origem em Kakhovka. Para já, a situação está sob controlo. De acordo também com a BBC, a Energoatom garantiu que informará caso a situação sofra uma alteração.

A Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA) confirmou no Twitter ter conhecimento dos relatos de “danos” na barragem de Kakhovka e que “os especialistas na central nuclear de Zaporíjia estão a monitorizar de perto a situação”. “Não existe risco de segurança imediato na central”, garantiu o organismo com sede em Viena. O mesmo foi reforçado em comunicado pelo diretor da IAEA, Rafael Grossi, que apontou que existem alternativas a Kakhovka. O responsável lembrou, no entanto, que a falta de água fria para arrefecer os sistemas pode impedir o funcionamento “dos geradores de emergência a diesel”.

Tanto o governo ucraniano como os responsáveis internacionais têm sido unânimes na classificação do incidente como um dos mais graves da guerra na Ucrânia. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, acusou no Twitter Moscovo de ter provocado “provavelmente o maior desastre tecnológico em décadas” e de ter “colocado centenas de civis em perigo”. “Este é um crime de guerra hediondo”, declarou. Já o chefe do gabinete do Presidente classificou o incidente como um “ecocídio”.