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“Se pudermos usar um vestido bonito, vamos usá-lo”. Logo após a Jamaica ter empurrado o Brasil para fora do Mundial ainda na fase de grupos, o selecionador da Jamaica, Lorne Donaldson, não recusou a ideia das Reggae Girlz estarem a viver a história da Cinderela com a inédita passagem ao oitavos de final.

Na eliminatória contra a Colômbia, em Melbourne, na Austrália, a história funcionou ao contrário. As que vinham para serem princesas é que roubaram o sapatinho. A jamaicana Tiernny Wiltshire cravou a sola no calcanhar na adversária Catalina Usme. A colombiana ficou descalça e agarrada ao tendão de Aquiles com dores. Bem vistas as coisas, calçar um par de chuteiras não é muito diferente de calçar sapatos de salto alto. Em vez do peso do corpo estar concentrado em duas agulhas, está distribuído por vários pitons.

Apesar da semelhanças com o conto, o enredo do jogo não se aproximava de um guião recomendável para uma história infantil. Os duelos intensos não eram protagonizados por personagens que guardam o sofrimento nas páginas dos livros. Jody Brown por exemplo, levou com a bola na cara e sentiu o impacto do embate. No campo, onde as protagonistas ainda procuravam o tal vestido que embelezasse o encontro, assistia-se a uma sequela da Gata Borralheira e não tanto da Cinderela.

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Catalina Usme (51′) colocou a Colômbia em vantagem logo no início da segunda parte. Um cruzamento de um lado ao outro do campo de Ana María Guzmán apanhou a defesa jamaicana, Deneisha Blackwood, desprevenida. A resposta foi imediata. Jody Brown cabeceou ao poste e falhou o empate por pouco.

A Jamaica foi atrás do golo que esteve perto de acontecer. Drew Spence, dentro dos dez minutos finais, cabeceou ligeiramente ao lado. O último fôlego num Mundial em que foram um balão de oxigénio.

A pérola

  • Rápida, ágil, atenta. Jorelyn Carabalí, defesa-central colombiana responsabilizou-se por manter a baliza a zero. A jogar em dupla com Daniela Arias, a jogadora do Atlético Mineiro foi uma das marcadoras diretas de Khadija Shaw, a jogadora mais adiantada e a grande estrela da Jamaica, impedindo-a de conseguir situações de finalização.

O joker

  • A Colômbia não é refém da capacidade criativa de Linda Caicedo. Também Leicy Santos tem rasgos técnicos no meio-campo que oferecem imaginação ao jogo colombiano. Com tantas jogadoras deste tipo juntas, as sul-americanas fogem à matriz do futebol da região do globo de onde são provenientes tantas vezes caracterizado pela capacidade de choque.

A sentença

  • A Colômbia avança para os quartos de final e garante desde já a melhor participação de sempre em Mundiais. Las Cafeteras tinham caído nos oitavos de final na edição de 2019, sendo que, em 2011, nem sequer passaram a fase de grupos. A Inglaterra é o próximo adversário das sul-americanas. A Jamaica sai após ter jogado pela primeira vez uma eliminatória da prova.

A mentira

  • A desilusão da Jamaica devido à eliminação não condiz com o feito histórico que a equipa alcançou ao chegar aos oitavos de final num grupo onde também estava a França e o Brasil. Talvez uma melhor prestação de Khadija Shaw, que deixa o Mundial sem qualquer golo marcado e com um cartão vermelho, pudesse ter ajudado as Reggae Girlz a irem um pouco mais além.