O enfermeiro Casimiro Dias, que trabalha há 15 anos na Organização Mundial da Saúde, é candidato a diretor-Geral da Saúde, confirmou o próprio ao Observador. Casimiro Dias é já, pelo menos, o sétimo candidato à liderança do organismo.

Enfermeiro de formação, Casimiro Dias exerceu enfermagem durante muito pouco tempo. Aliás, grande parte da sua carreira foi construída no estrangeiro, na Organização Mundial da Saúde (OMS). Foi coordenador da OMS para Sistemas de Saúde na Região das Caraíbas, economista da OMS em Angola e responsável técnico da OMS em Sistemas de Saúde para a Europa. Atualmente, é coordenador de Sistemas de Saúde da OMS e da Organização Pan-Americana da Saúde, em Washington DC. Tem, garante, mais de 15 anos de experiência no apoio técnico aos Ministérios da Saúde e Direções Gerais da Saúde na Europa, África e América.

Desde cedo que Casimiro Dias decidiu trocar a atividade clínica pelo trabalho de planeamento e estratégia. Antes de ser funcionário da OMS, foi assessor do Alto Comissariado da Saúde, entre 2006 e 2008. Este organismo, extinto em 2010, era liderado à época, pela pediatra Maria do Céu Machado. Ao Observador, a especialista, com quem Casimiro Dias trabalhou de perto durante dois anos, explica que o enfermeiro foi “um elemento importante, ativo e com alguma visão” no Alto Comissariado da Saúde. Casimiro Dias trabalhou na implementação do Plano Nacional de Saúde, nos Programas Nacionais de Saúde Prioritários e nas Estratégias Locais de Saúde.

“Um candidato forte” e com “experiência internacional importante”, sublinha Maria do Céu Machado

Foi aliás, Maria do Céu Machado, ex-presidente do Infarmed, que indicou Casimiro Dias para o primeiro cargo na OMS, em Copenhaga, na Dinamarca. Aí, garante, “fez um percurso excelente”. “Toda a gente gostava muito dele”, sublinha. Daí, o enfermeiro partiu depois para África e para as Caraíbas, sempre a trabalhar na OMS.

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Tem, por isso, uma “experiência internacional importante e alguma visão”, diz a médica, que considera Casimiro Dias um “candidato forte”, embora não seja, acredita, o favorito para se tornar no próximo diretor-Geral da Saúde. Recorde-se que, na corrida à sucessão de Graça Freitas estão nomes como André Peralta Santos (atual diretor-Geral da Saúde em regime substituição, uma vez que Graça Freitas se aposentou no final de julho) e Rui Portugal (ex-subdiretor-Geral da Saúde), ambos médicos de Saúde Pública, com larga experiência na Direção-Geral da Saúde.

DGS. Concurso teve pelo menos seis candidatos, mas só dois cumpririam requisitos da CREsAP para suceder a Graça Freitas

Já Casimiro Dias “não tem muito conhecimento da saúde nacional”, realça Maria do Céu Machado. No entanto, a médica acredita que, a ser escolhido, “rapidamente fará a fotografia de Portugal”. Ao Observador, o candidato admite que não sabe se o facto de não ser médico o pode prejudicar na corrida ao cargo de Diretor Geral de Saúde. No entanto, Casimiro Dias lembra que o Diretor-Geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, não é médico e que a “Saúde Pública é multidisciplinar e intervém em todas as áreas de conhecimento”.

Casimiro Dias pode ser solução para o terceiro nome da short list

A candidatura de Casimiro Dias pode revelar-se determinante para que o concurso, lançado pela Cresap, para escolher o novo Diretor-Geral da Saúde, chegue ao fim. Ao Observador, Casimiro Dias garante ter “experiência em liderança e gestão de grandes equipas de especialistas de Saúde Pública”, experiência que, assegura, foi importante em “períodos mais críticos”, como a resposta à epidemia de Febre Amarela em Angola (onde coordenou a vacinação destinada a 15 milhões de pessoas), na resposta à pandemia de Covid-19 na América (onde ajudou a “assegurar a capacidade de vigilância epidemiológica, de acesso às vacinas, aos meios de diagnóstico” e trabalhou na reorganização dos sistemas de saúde e na gestão de camas) ou no desenvolvimento do Plano Europeu de Saúde Pública (uma estratégia que implicou a coordenação com os sistemas de saúde públicos europeus, de modo a “identificar as principais fragilidades, assegurar que capacidades de resposta” e o investimento em saúde pública necessário).

Ora, foi precisamente a falta de candidatos suficientes com experiência comprovada na liderança de grandes equipas que levou a Cresap a repetir o aviso de abertura do concurso para Diretor-Geral da Saúde. Como o Observador noticiou, no primeiro concurso, lançado no início de junho (cinco meses depois do final do mandato de Graça Freitas) apenas dois dos candidatos (André Peralta Santos e Rui Portugal) demonstraram cumprir esse requisito, que era um dos cinco critérios “determinantes” para a avaliação curricular dos candidatos. Uma vez que não foram identificados três candidatos “aptos”, com experiência na liderança de grandes equipas, suficientes para preencher a short list que deveria ter sido enviada ao Ministério da Saúde, a Cresap viu-se obrigado a repetir o aviso de abertura do concurso, sendo que todas as candidaturas recebidas anteriormente se mantêm válidas.

Para a Direção-Geral da Saúde, Casimiro Dias diz querer “trazer o que há de mais inovador no mundo”, de modo a “reforçar a liderança” do organismo. O enfermeiro salienta que “Portugal é o país da União Europeia que investe menos em prevenção da doença, o que tem impacto no SNS”. Alertando que o “envelhecimento da população e outro tipo de doenças colocam pressão na Saúde Pública”, Casimiro Dias, que se considera especialista em Saúde Pública, diz que “é importante continuar o investimento” nesta área, numa altura em que a Saúde Pública ganhou “visibilidade”.

Natural do Algarve, Casimiro Dias é mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública, e graduado em Economia pela London School of Economics and Political Science (LSE). É também autor dos livros “O Valor da Inovação” e “Pandemia”.