O arcebispo açoriano José Avelino Bettencourt, o único português que exerce as funções de embaixador da Santa Sé, vai representar o Papa Francisco nos Camarões e na Guiné Equatorial a partir do final de outubro.

A nomeação foi tornada pública esta quarta-feira pelo Vaticano. Bettencourt, que era desde 2018 núncio apostólico na Geórgia e na Arménia e que antes disso tinha sido o chefe de protocolo da Santa Sé, vai agora viajar para aqueles dois países da África Central para representar a Santa Sé.

Nascido em 1962 nas Velas, na ilha de São Jorge, nos Açores, José Avelino Bettencourt emigrou com a família para Otava, no Canadá, quando tinha apenas três anos de idade — e, por isso, foi no Canadá que fez uma grande parte do seu percurso eclesiástico, estudando Letras, Filosofia e Teologia e trabalhando como pároco em duas paróquias da arquidiocese de Otava, incluindo uma comunidade de emigrantes portugueses.

José Bettencourt, o português que só queria ser um simples padre e que o Papa nomeou embaixador

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Em 1995, o padre Bettencourt mudou-se para Roma para estudar direito canónico, por indicação do seu bispo canadiano. Já em Roma, foi colocado ao serviço da Secretaria de Estado da Santa Sé — na prática, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Igreja Católica.

Como o próprio recordou numa entrevista ao Observador em 2018, José Avelino Bettencourt gostava de ter sido um simples pároco — mas a hierarquia da Igreja Católica levou-o por outros caminhos.

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Depois de ter entrado no serviço diplomático do Vaticano, já no final da década de 1990, Bettencourt recebeu a sua primeira missão: trabalhar na representação diplomática da Santa Sé na República Democrática do Congo, onde esteve entre 1999 e 2002. Durante esses anos, testemunhou de perto a guerra civil que se vivia no país, procurando fazer chegar o apoio humanitário do Vaticano e intervir nos esforços de paz.

Em 2002, regressou a Roma para trabalhar na Secretaria de Estado, acompanhando as relações da Santa Sé com os países de língua inglesa, francesa e portuguesa da África Ocidental. Mais tarde, trabalhou também na antecâmara pontifícia, acompanhando os convidados que se encontravam com o Papa Bento XVI no Vaticano.

Em 2012, Bento XVI nomeou José Avelino Bettencourt chefe de protocolo da Santa Sé — um cargo que ocupou até 2018, servindo Bento XVI e Francisco. Durante esses seis anos, o padre português esteve no centro da organização de acontecimentos históricos como o encontro entre Shimon Peres e Mahmoud Abbas nos jardins do Vaticano (preparado em oito dias), a visita do Papa a Jerusalém ou ainda encontros papais com Barack Obama, Donald Trump, Angela Merkel e a rainha Isabel II.

Em 2018, José Avelino Bettencourt foi nomeado pelo Papa Francisco núncio apostólico na Geórgia e Arménia, sendo ordenado bispo e recebendo o título de arcebispo — como é habitual para os núncios. É atualmente o único português que exerce as funções de embaixador da Santa Sé.

Durante os cinco anos que passou na Geórgia e a Arménia, Bettencourt desenvolveu um trabalho em torno das questões da paz no Cáucaso.