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A economista e primeira presidente do Conselho de Finanças Públicas, Teodora Cardoso, morreu este sábado em Lisboa aos 81 anos, disse à Lusa fonte do Banco de Portugal.

Nascida em 1942 em Estremoz, licenciada em Economia pelo Instituto Superior de Economia, Teodora Cardoso começou a carreira em 1973 enquanto técnica do Banco de Portugal, estando integrada no Departamento de Estatística e Estudos Económicos com funções de coordenadora do núcleo de Economia Monetária, Diretora de Departamento e Consultora da Administração. Chegou a chefiar aquele departamento entre 1985 e 1990 e foi consultora da administração entre 1991 e 1992.

Além disso, participou em vários projetos do banco central, nomeadamente na elaboração da Lei Orgânica do Banco de Portugal (1975) e na reformulação geral das estatísticas monetárias (1976/1977).

Esteve envolvida na negociação dos acordos de estabilização com o Fundo Monetário Internacional (1984/1985) e representou o Banco de Portugal no Sub-Comité de Política Monetária do Comité de Governadores da Comunidade Europeia, de 1990 a 1992.

Em 1992, Teodora Cardoso mudou-se para o Banco Português de Investimento (BPI) e foi consultora da administração durante 16 anos, até que se tornou membro do conselho de administração do Banco de Portugal.

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Em 2012, a economista assumiu a liderança do Conselho das Finanças Públicas, afirmando que iria trabalhar com “a maior isenção”. Saiu do cargo em 2019 e foi substituída por Nazaré da Costa Cabral, reformando-se.

O Conselho das Finanças Públicas foi criado como parte do memorando de entendimento entre Portugal e a troika na sequência do pedido de auxílio financeiro de 2011.

Recebeu o Grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique em 2005 e em 2019.

A economista politicamente independente, mas criticada à esquerda

Ao longo da sua carreira, manteve-se independente politicamente, ainda que entrado em algumas controvérsias com o governo socialista de António Costa e com os partidos da gerigonça. Prova disso foi o facto de, quando abandonou a liderança do CFP, o parlamento aprovou, por maioria, um voto de louvor à economista pelo seu contributo para a transparência no acompanhamento do processo orçamental, mas o o BE, o PCP, o PEV e o deputado do PS Ascenso Simões votaram contra, enquanto as bancadas do PSD, PS, CDS e PAN votaram a favor.

Em 2019, Teodora Cardoso chegou a confessar que os sete anos que passou na instituição foram “difíceis como devem ser” e indicou que o trabalho tem de continuar porque ainda há muito por fazer nesta área em Portugal.

Questionada, na altura, sobre se deixava algum conselho para a sua sucessora, Teodora Cardoso referiu que “cada pessoa tem a sua personalidade” e que é preciso manter a equipa a funcionar.

“Dar muitas entrevistas não é boa ideia porque senão tornamo-nos um fenómeno mediático e não é isso que o Conselho deve ser. Boas relações com os deputados dependem mais dos deputados do que de nós. Cada pessoa tem a sua personalidade”, disse a economista.

Presidente da República lembra “vida dedicada” ao país e à causa pública

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a morte de Teodora Cardoso, recordando a economista “reconhecida e respeitada” com uma “vida dedicada” ao país e à causa pública.

O Presidente “lamenta a morte de Teodora Cardoso, economista reconhecida e respeitada com uma vida dedicada ao país com elevado sentido de missão e plena dedicação à causa pública, nos anos mais recentes com relevância nas finanças públicas”, refere uma nota divulgada pela Presidência da República.

Na mesma nota, Marcelo Rebelo de Sousa apresenta “aos familiares e amigos mais próximos as mais sentidas condolências”, lembrando que em 2019 agraciou a economista e primeira presidente do Conselho de Finanças Publicas (CFP) com a Grã-Cruz da Ordem Infante D. Henrique “pelo relevante serviço a Portugal”.

Mário Centeno realça “brilhante percurso” de Teodora Cardoso

O governador do Banco de Portugal e conselho de administração da instituição manifestam o “mais profundo pesar pelo falecimento de Teodora Cardoso”, que foi a primeira “mulher administradora do banco, após uma longa carreira como economista da instituição”.

“Neste momento de perda e consternação, o Banco de Portugal realça o brilhante percurso de uma economista que esteve ligada à instituição ao longo das últimas cinco décadas”, lê-se numa nota enviada às redações.

CFP destaca contributo para independência da instituição

O Conselho das Finanças Públicas (CFP) lamentou a morte da economista e sua primeira presidente Teodora Cardoso, destacando o seu contributo em prol da independência da instituição.

Numa nota de condolências, publicada na sua página na Internet, a organização “manifesta o seu mais profundo pesar” pela morte de Teodora Cardoso, a “sua primeira distinta presidente” entre 2012 e 2019.

Lembra que a economista esteve na “génese do CFP ao integrar, em 2011, o grupo de trabalho criado para elaborar os estatutos desta instituição”, que nasceu na sequência do programa de ajustamento financeiro de Portugal (2011-2014).

“Teodora Cardoso desempenhou ao longo da sua vida profissional um papel determinante no estudo, acompanhamento e defesa da economia portuguesa no trabalho desenvolvido na Fundação Calouste Gulbenkian, no Banco de Portugal e no Conselho das Finanças Públicas (CFP), bem como em inúmeras intervenções públicas”, assinala a nota.

“Por todo o trabalho que desenvolveu ao longo da sua vida, o CFP manifesta o seu apreço e gratidão prestando homenagem à mulher e economista que muito marcou e contribuiu para afirmar a independência desta instituição”, acrescenta a nota.