O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, alertou segunda-feira que, nestes tempos de guerras na Ucrânia e na Terra Santa, não podem ser esquecidos “os dramas” que se vivem em Portugal, nomeadamente os provocados pela crise económica.

Na abertura da Assembleia Plenária do episcopado, em Fátima, José Ornelas sublinhou a situação das “famílias que acordam sem saber como alimentar os filhos ou pagar a renda” e daquelas que “nem sequer têm teto para descansar, os doentes que veem distantes os cuidados médicos essenciais, os adolescentes e jovens que, com frequência, não conseguem o necessário acompanhamento nos percursos escolares e os jovens formados que emigram para encontrar perspetivas de uma vida mais digna” .

“Contrariamente ao tempo da pandemia, que deu lugar a uma atitude marcada pela busca de fraternidade, solidariedade e justiça, a crise (ou as crises atuais) mostra que, infelizmente, cresceu o fosso entre ricos e pobres: cresceu o isolamento de quem não pode fazer face ao custo dos serviços essenciais à saúde e à dignidade humana”, lamentou o também bispo de Leiria-Fátima, acrescentando que “ficou na sombra quem é incapaz de recomeçar, de refazer vidas derrubadas pelo escalar das rendas de casa ou o aumento dos preços dos bens essenciais”.

O bispo avisou, ainda, que “tudo isto fez crescer exponencialmente a conflitualidade social” e considerou que, “para agravar a situação, quando pairava uma expectativa vacilante de eventuais acordos, mesmo que limitados, em setores fundamentais como o da saúde, da educação e outros, a crise surgida nos últimos dias no seio do governo veio trazer novos e sérios elementos de incerteza e preocupação quanto ao futuro de todos, com a possibilidade de agravamento de muitas situações”.

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“Neste cenário, cresce a frustração e a revolta, especialmente entre os mais vulneráveis, como também a desilusão e a apatia desmobilizadora, campo fértil para manipulações e messianismos populistas que minam os fundamentos de uma autêntica democracia”, afirmou José Ornelas, para quem “o panorama é difícil e exige bom senso e boa vontade de todos”.

O presidente, acentuando que “já estão fixadas eleições para os próximos meses”, fez questão de sublinhar que esta “é uma ocasião para discutir os verdadeiros problemas do país e afinar políticas de recuperação e melhoria, especialmente para os que mais estão a sofrer com estas sucessivas crises”.

“Os protagonistas políticos têm um papel fundamental de apresentar propostas e soluções para que o povo possa ter vontade e oportunidade de fazer escolhas”, disse o líder da Conferência Episcopal Portuguesa.

José Ornelas defendeu ainda que, “apesar deste panorama sério e complexo (…), neste momento é quando é mesmo necessário participar, seja na atividade direta e ativa na vida política, seja no elementar direito e dever de votar”.

“Aos cristãos e a todos os cidadãos, digo claramente: quem acredita tem uma razão acrescida para não fazer parte da cultura da abstenção e da apatia. A participação, além de determinar quem vai ocupar os lugares de governo, serve-lhes também de estímulo e de aviso para o bom desempenho dos cargos para os quais serão eleitos”, afirmou o presidente da CEP.

O bispo de Leiria-Fátima considerou, ainda, que o panorama atual “comporta muitos desafios, dificuldades, percursos tortuosos e dolorosos. Mas tem igualmente possibilidades e dispõe de meios que é necessário utilizar, com responsabilidade, honestidade e criatividade, para o desenvolvimento do país e para garantir a todos uma vida justa e digna”.

Os bispos estão reunidos em Fátima até à próxima quinta-feira, com a análise da situação social a ser um dos temas em cima da mesa de trabalhos desta sessão da Assembleia Plenária da CEP.