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PSD lança campanha com lema "Unir Portugal". "Temos de acabar com este clima de grande conflitualidade"

Este artigo tem mais de 1 ano

Sociais-democratas vão lançar conjunto de outdoors para reforçar estratégia que vão levar para as legislativas: a ideia de que só Montenegro e o PSD conseguirão acabar com clima de crispação no país.

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TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Mais um passo na afinação da estratégia social-democrata para tentar vencer as próximas eleições legislativas. O PSD vai lançar esta sexta-feira, em todo o país, os novos cartazes do partido com uma mensagem que permite a várias leituras: “Unir o país”. A ideia é vender a imagem de Luís Montenegro, não como líder da oposição e escrutinador-mor do Governo, mas como o único candidato a primeiro-ministro capaz de relançar o país e devolver tranquilidade social. Numa ideia: a solução acima do caos.

“Vivemos tempos de grande conflitualidade”, começa por explicar ao Observador Hugo Soares, secretário-geral do partido. “O país precisa de acabar com este clima de conflitualidade entre governo e forças de segurança, entre governo e médicos, entre governo e professores, entre governo e os jovens que se veem forçados a emigrar. E é também tempo de devolver a credibilidade e o prestígio às instituições”.

O novo cartaz do PSD. Objetivo da direção é aproveitar rede nacional de outdoors

O objetivo assumido dos sociais-democratas é colocar o partido acima do clima de crispação em que o país mergulhou a 7 de novembro. Além de ser uma forma de tentar marcar a diferença em relação aos seus adversários à direita, que tenderão a cair nesse registo, será também uma forma de se afastar da imagem deixada pelo PS, que terá dois desafios objetivos: em primeiro lugar, além de toda a contestação social que existe (problemas na Saúde, Educação e Habitação), os socialistas poderão ter a tentação de agravar os ataques diretos ao Ministério Público e à Procuradoria-Geral da República e cair na tese da cabala.

Basta ver que, apesar dos avisos que se vão multiplicando no interior do PS para que não se caia na armadilha de radicalizar o discurso, Augusto Santos Silva, à cabeça, não hesitou em fazer duras críticas à forma como os operadores judiciais e judiciários estão a conduzir esta e outras investigações, exigindo, entre outras coisas, celeridade na investigação que foi aberta António Costa. Os sociais-democratas (e muitos socialistas) entendem que este tipo de discursos acabará inevitavelmente por se virar contra o PS. Daí o objetivo de tentar afirmar Montenegro como o único verdadeiramente capaz de esvaziar este clima de “conflitualidade”.

Além disso, em segundo lugar, e antecipando que Pedro Nuno Santos venha a ser de facto o líder do PS, desde sempre associado a uma ala mais radical do partido (impressão que tem tentado afastar, mas que José Luís Carneiro e os apoiantes deste vão tentar fazer vingar), Montenegro terá tudo a ganhar se se conseguir afirmar como o único que, com moderação e responsabilidade, é capaz de “unir o país”.

Até porque, apesar do favoritismo objetivo de Pedro Nuno Santos, os socialistas terão dificuldades em virar rapidamente a página de uma disputa interna que não será assim tão cortês como se poderia antecipar, sobretudo depois de José Luís Carneiro ter somado apoios importantes nos últimos dias (Santos Silva, Vieira da Silva, Fernando Medina).

Decretadas as “tréguas internas” no PSD, com um partido pacificado e mobilizado para conquistar umas eleições que são encaradas como sendo uma “oportunidade única” de voltar ao poder, Montenegro tem a vantagem de ter largos meses para se dedicar ao país sem pensar nas lutas fratricidas do partido e sem sujar as mangas da camisa com este tipo de disputas internas.

Aliás, os sinais de que o plano é precisamente apostar nessa imagem de moderação e de sentido de Estado vão-se acumulando nos últimos dias. No sábado, 11 de novembro, depois de António Costa ter dedicado largos minutos da sua declaração ao país a falar sobre a sua relação com Diogo Lacerda Machado, sobre o papel do seu agora ex-chefe de gabinete e sobre algumas suspeitas que recaem sobre os processos de decisão do Governo, Montenegro aproveitou a festa de dois anos de Carlos Moedas em Lisboa para acentuar o contraste evidente entre o momento que os dois partidos atravessam, como contava aqui o Observador.

“É a terceira vez que o país cai num pântano político. Era mais fácil estar a responsabilizar o PS. Não me faltavam razões. Mas quero dizer: o PSD vai-se concentrar em explicar aos portugueses como é que a sua vida vai melhorar. Estamos direcionados para o futuro; não para justificar o passado. Precisamos de unir o país. Não deixar ninguém de lado. Respeitar a diferença. Olhar para as pessoas e a dialogar com elas. Governar contra o povo, com arrogância, com soberba, com uso e abuso do poder, tomando conta da Administração, acaba sempre mal”, foi reforçando Montenegro.

Outro sinal: mesmo depois de Pedro Nuno Santos ter aproveitado a sua apresentação de candidatura para voltar a tentar colar Luís Montenegro a André Ventura, acrescentando depois que o projeto PSD-IL já seria “suficientemente radical para preocupar” o país, o presidente social-democrata deixou o candidato à liderança do PS sem resposta, desvalorizando e atribuindo a declaração do antigo ministro às coisas próprias de uma campanha interna. Nas entrelinhas: não estão ao mesmo nível.

Mais recentemente, quando muitos líderes partidários exigiam a cabeça de Mário Centeno como governador do Banco de Portugal, e apesar da pressão dos jornalistas, Montenegro limitou-se a pedir ao antigo ministro das Finanças que fizesse um exame de consciência. “Sei bem o que faria no lugar dele”, foi o mais longe que Montenegro se permitiu a ir na reação ao folhetim em torno do convite a Centeno para chefiar o Executivo no lugar de Costa, o alegado envolvimento de Marcelo Rebelo de Sousa, o desmentido de Belém e a assunção do erro por parte do governador do Banco de Portugal.

De resto, o tom foi definido no próprio dia da demissão de António Costa: Luís Montenegro foi o último dos líderes partidários a reagir, fê-lo só depois de reunir o seu núcleo mais duro, às oito da noite, afastando-se, tanto quanto possível, da cacofonia em que se tinham transformado as reações políticas.  Quando o fez, o líder social-democrata evitou os ataques diretos a António Costa, para não ficar excessivamente colado a uma investigação em curso, e improvisou uma frase que não constava do discurso original: “O objetivo do PSD não é de confrontação. Mas sim unir o país”.

Até ver, e tal como explicava aqui o Observador, Luís Montenegro está apostado em evitar uma campanha em nome de uma qualquer vingança da direita contra a esquerda; antes, vai fazê-la ao centro e para o eleitorado moderado (e maioritário). O tal que define eleições. Resta saber se, encontrado um líder do PS e com o aumentar natural da pressão de uma campanha eleitoral, Montenegro conseguirá manter-se fiel à estratégia inicial.

Na festa de Moedas, Montenegro lançou as cartas eleitorais: impostos, pensionistas, professores e combate à corrupção

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