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TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Tréguas internas, a noção do risco e as ameaças Pedro Nuno e Ventura. As cartas em cima da mesa de Montenegro

PSD ciente que tem chance única para voltar ao poder. O contrário seria golpe irremediável. Moedas junta-se a Montenegro. Partido atento a Ventura, mas confiante que anula a esquerda mesmo sem Chega.

Enterraram-se, em definitivo, os machados de guerra no PSD. A crise política e a consequente demissão de António Costa apanharam todos de surpresa – incluindo, naturalmente, o núcleo duro de Luís Montenegro. Se o PS ficou (e continua) em estado de choque, na sede do PSD a ideia mais repetida é que o partido tem de estar à altura da “responsabilidade” e da “oportunidade única” que se coloca no horizonte imediato. Ainda assim, ninguém ignora que chegar ao poder e herdar um país em risco de recessão, politicamente crispado e sem soluções na habitação, hospitais e escolas é um desafio enorme. Para todos os efeitos, dificilmente estariam reunidas melhores condições para derrotar os socialistas nas urnas; a alternativa – ou seja, perder as eleições neste contexto concreto – seria muito pior. Seria um desastre absoluto.

Até às duas da tarde do dia 7 de novembro, altura em que António Costa anunciou ao país que iria apresentar a demissão, muitos no PSD apostavam que Luís Montenegro não resistiria às eleições europeias de junho de 2024. Era um líder a prazo. A campanha em torno de um eventual regresso de Pedro Passos Coelho seguia a todo a vapor e o próprio já não escondia aos seus mais próximos que estaria disponível para voltar se o partido assim o quisesse e se Montenegro saísse de cena. Tudo mudou esta semana.

Ao Observador, muitos dos elementos mais críticos da atual direção, um grupo heterogéneo onde se contam viúvos do rioísmo, passistas de sempre ou, simplesmente, desencantados com o montenegrismo, confluem num ponto: para o bem e para o mal, Luís Montenegro será o candidato do partido ao cargo de primeiro-ministro e não há sequer margem para pensar em manobras alternativas. Contas feitas, todas as conversas que estavam em curso para depor Montenegro cessaram no momento em que se percebeu que o partido vai a votos no espaço de três meses e que tem uma oportunidade “única” de voltar ao poder.

Com as contas públicas arrumadas, e apesar de todas as nuvens negras que existem (guerra, inflação, recessão, crise no SNS, braço de ferro com os professores e um mercado de habitação sob pressão) este pode ser um momento de reencontro do partido com história e uma oportunidade de impor o seu programa políticos sem os constrangimentos (graves) de um país de "tanga" ou com troika.

O tudo ou nada para o PSD

Mas qualquer oportunidade encerra um risco. E estas eleições legislativas são exemplo perfeito disso mesmo. Se neste contexto muito particular, com um PS de “gatas“, a braços (mais uma vez) com um caso judicial que afeta toda a cadeia de comando e ainda sem se perceber que partido sairá destes escombros, uma eventual derrota do PSD nas próximas legislativas seria dramática. A convicção de muitos, mais e menos próximos de Montenegro, é de que o partido, caso venha a falhar este objetivo, entraria numa rampa deslizante de desfecho incerto. No limite, existe a consciência de que poderia transformar o PSD simplesmente num partido de dimensão média.

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Até porque, pelo menos num plano mais imediato, não haveria como reagir. Luís Montenegro estaria arrumado e com ele todos os outros – Paulo Rangel, Miguel Pinto Luz, Hugo Soares ou António Leitão Amaro. A solução “Pedro Passos Coelho” deixou de fazer sentido admitindo que o antigo primeiro-ministro dificilmente estaria disposto a voltar para liderar um PSD na sua travessia pela oposição. Carlos Moedas está amarrado à Câmara Municipal de Lisboa, com eleições marcadas para 2025. Todas as outras soluções que pudessem emergir – sobretudo do universo do rioísmo – teriam de se construir a si próprias e, depois, reconstruir o partido. “Em caso de derrota, abrir-se-ia uma caixa de Pandora no PSD”, sintetiza ao Observador um influente social-democrata, insuspeito de nutrir qualquer antipatia por Montenegro.

Para lá da disputa eleitoral propriamente dita, existe outra questão que pesa no PSD: é a primeira vez que os sociais-democratas estão na iminência de regressar ao poder mas não para herdar um país no pântano (António Guterres) ou em bancarrota (José Sócrates). Com as contas públicas arrumadas, e apesar de todas as nuvens negras que existem (guerra, inflação, recessão, crise no SNS, braço de ferro com os professores e um mercado de habitação sob pressão) este pode ser um momento de reencontro do partido com história e uma oportunidade de impor o seu programa políticos sem os constrangimentos (graves) de um “país de tanga” ou com troika.

Por tudo isto, na São Caetano à Lapa, as ordens são claras: gelo nos pulsos, não cometer erros dispensáveis e não embandeirar em arco. Aliás, o primeiro passo foi medido ao centímetro. Luís Montenegro foi o último dos líderes partidários a reagir, fê-lo só depois de reunir o seu núcleo mais duro, às oito da noite, aproveitando o horário nobre das televisões, e afastando-se, tanto quanto possível, da cacofonia em que se tinham transformado as reações políticas.

Montenegro conteve-se nos ataques diretos a António Costa, para não ficar excessivamente colado a uma investigação em curso, e improvisou uma frase que não constava do discurso original e que é todo um tratado político: “O objetivo do PSD não é de confrontação.  Mas sim unir o país”. Montenegro não fará uma campanha em nome de uma qualquer vingança da direita contra a esquerda; vai fazê-la ao centro.

A cúpula do PSD reconhece que este caso que se abateu sobre os socialistas é terreno fértil para André Ventura. Ainda antes de ser conhecido este processo, existiam estudos de opinião que admitiam como possível que o Chega viesse a eleger cerca de 40 deputados em futuras eleições, o que tornaria qualquer solução de poder à direita no mínimo difícil de arquitetar. Sublinhe-se que estas projeções, que vão correndo entre quem estuda sondagens e nos corredores dos vários partidos, existiam antes da demissão de António Costa; ninguém sabe o que vai acontecer depois de 7 de novembro.

“Hoje, aqui, inicia-se a campanha”

É este, neste momento, o estado anímico do quartel-general social-democrata. Cabeça e sangue frio, vai-se repetindo em cada conversa. Desde logo, porque existe perfeita convicção de que os socialistas, mesmo feridos, não devem ser subestimados. Pior: que um eventual arquivamento do inquérito que pende sobre António Costa antes ou durante a campanha eleitoral viraria o país de pantanas. E, internamente, reconhece-se que Luís Montenegro ainda tem um longo caminho de afirmação para fazer, que é preciso acelerar calendários, apresentar equipas e um programa político mobilizador.

Para já, a equipa de Luís Montenegro vai aproveitar o congresso que estava marcado para 25 de novembro, e serviria originalmente para discutir os estatutos do partido, como momento para galvanizar as bases e lançar a corrida eleitoral. Até ver, a reunião magna terá, como previsto, a duração de um dia. Antes disso, este sábado, os sociais-democratas preparam um primeiro momento simbólico e uma primeira tentativa de fazer uma grande demonstração de força: Luís Montenegro e Carlos Moedas estarão juntos num jantar para assinalar dois anos de mandato do autarca, um evento que conta já com mais de mil militantes inscritos.

No Parlamento, segundo apurou o Observador, Joaquim Miranda Sarmento, líder da bancada parlamentar, e demais vices deram instruções por escrito aos deputados para que pensassem cada intervenção não numa lógica do que o Governo socialista “vai fazer”, mas sim “no que não fez e no legado que deixa”. “Hoje, aqui, inicia-se a campanha eleitoral”, escreveu Miguel Santos, vice da bancada social-democrata, num grupo com outros deputados.

Cabeça e sangue frio, vai-se repetindo a cada conversa com o quartel-general social-democrata. Desde logo, porque existe perfeita convicção de que os socialistas, mesmo feridos, não devem ser subestimados. Pior: que um eventual arquivamento do inquérito que pende sobre António Costa antes ou durante a campanha eleitoral viraria o país de pantanas. Internamente, reconhece-se que Luís Montenegro ainda tem um longo caminho de afirmação para fazer, que é preciso acelerar calendários, apresentar equipas e um programa político mobilizador.

O raio-x ao adversário

A locomotiva vai agora acelerar o trabalho de convencimento que, olhando para o estado de desesperança em que se encontrava uma parte relevante do partido e para todas as sondagens realizadas até aqui, não estava a produzir os efeitos pretendidos. Agora, no entanto, sociais-democratas e socialistas entraram em terra de ninguém. Todos os anteriores estudos de opinião deixaram de ter validade política porque a mesa de jogo virou do avesso.

Até aqui, o país não pensava em eleições. Hoje, não pensa (ou não pode pensar) noutra coisa. Até aqui, Luís Montenegro era percecionado como um líder frágil de um partido estagnado que suspirava por Passos e espreitava Moedas. Hoje, Montenegro é candidato a primeiro-ministro, este PSD é a alternativa que de facto existe e Passos não conta para equação.

Até aqui, havia António Costa, dono e senhor de uma maioria absoluta. Hoje, no lugar dele, é muito provável que venha a estar Pedro Nuno Santos, que, só no último ano, conseguiu ser a pinhata humana de António Costa a propósito de um novo aeroporto que só existiu durante 24 horas, conseguiu sair pela porta pequena à boleia de uma indemnização milionária cuja responsabilidade direta só reconheceu depois de consultar a caixa de mensagens, e que só não se esturricou (em definitivo) na comissão parlamentar de inquérito à TAP porque as trapalhadas de João Galamba, seu sucessor, conseguiram desviar as atenções políticas.

Tudo somado, e mesmo mantendo todas as prudências – até porque o PS ainda não escolheu o seu líder –, poucos no PSD ignoram que será mais fácil enfrentar o adversário neste momento e tendo do outro lado Pedro Nuno como candidato a primeiro-ministro. Aliás, já em dezembro de 2022, quando a bola de neve em que se transformaria a indemnização polémica a Alexandra Reis começava ainda a ganhar forma, o Observador antecipava esse mesmo confronto entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos com um título sugestivo sobre o estado de espírito do núcleo duro social-democrata: “PSD celebra trapalhadas de Pedro Nuno. Mas quer ‘maçã podre’ por perto”.

É verdade que a maçã podre não se manteve por perto e que caiu com estrondo há quase um ano. O que permite a Pedro Nuno Santos alegar que não fazia parte do núcleo duro do Governo quando tudo ruiu e que saiu em rutura com António Costa, vão admitindo alguns dirigentes sociais-democratas. Mas, aos olhos da generalidade do partido, cinco programas de comentário político às segundas-feiras e outras tantas tentativas de se descolar publicamente de António Costa não chegam para reabilitar politicamente Pedro Nuno Santos.

Nesse mesmo final de dezembro, o Observador explicava como os mais destacados dirigentes sociais-democratas olhavam para as potencialidades que uma candidatura de Pedro Nuno teria para o PSD: permitiria agregar a direita contra a ameaça do jovem turco; polarizar e dramatizar com o apelo ao voto útil nesse espaço político, neutralizando as ameaças de Chega e IL; e alargaria a influência do PSD no centro moderado. Se é verdade que o calendário se alterou, o raio-x da equipa de Montenegro às potenciais fragilidades de Pedro Nuno Santos não. Muito pelo contrário.

Para já, a equipa de Luís Montenegro vai aproveitar o congresso que estava marcado para 25 de novembro, e serviria originalmente para discutir os estatutos do partido, como momento para galvanizar as bases e lançar a corrida eleitoral. Até ver, a reunião magna terá, como previsto, a duração de um dia. Antes disso, este sábado, os sociais-democratas preparam um primeiro momento simbólico e uma primeira tentativa de fazer uma grande demonstração de força: Luís Montenegro e Carlos Moedas estarão juntos num jantar para assinalar dois anos de mandato do autarca, um evento que conta já com mais de mil militantes inscritos.

O peso do “não é não” a Ventura

Em cima de tudo isto, entre o deve e o haver, a cúpula do PSD reconhece que este caso que se abateu sobre os socialistas é terreno fértil para o crescimento dos extremos, em particular de um partido como o de André Ventura. Ainda antes de ser conhecido este processo, existiam estudos de opinião que admitiam como possível que o Chega viesse a eleger em futuras eleições cerca de 40 deputados, o que tornaria qualquer solução de poder à direita no mínimo difícil de arquitetar. Sublinhe-se que estas projeções, que vão correndo entre quem estuda sondagens e nos corredores dos vários partidos, existiam antes da demissão de António Costa; ninguém sabe o que vai acontecer depois de 7 de novembro.

Quando reagiu à derrocada socialista, Luís Montenegro voltou a ser confrontado com a hipótese de vir a fazer alianças com André Ventura e recuperou o que dissera há poucas semanas: “Não é não“. Ora, confirmando-se o cenário de crescimento do Chega e mantendo-se o cordão sanitário em relação àquele partido, o líder social-democrata teria de fazer figas para, em conjunto com a Iniciativa Liberal, conseguir ter mais deputados do que a esquerda toda junta. Um objetivo, no mínimo, ambicioso.

Neste momento, quando ainda é impossível medir com relativo grau de certeza que impacto terá este processo nas urnas, o quartel-general do PSD vai fazendo contas à vida. Primeira perceção: existe um grande grau de probabilidade de os socialistas se estamparem no caminho e de serem penalizados por tudo o que aconteceu. Aliás, e mesmo sem atirar diretamente a Costa, Montenegro aproveitou o seu primeiro discurso pós-crise para atirar ao coração socialista, numa frase que servirá de guião para o resto da campanha:

“É a terceira vez em 22 anos que as mesmas pessoas, as mesmas políticas e o mesmo padrão de governo trazem um pântano à democracia portuguesa. Quero dizer aos portugueses que está na hora de penalizar, sem apelo nem agravo, a reincidência de uma organização partidária que dá mostras de muito facilmente ceder a esquemas de compadrio político, de vertigens hegemónicas de poder, de orientações de política que geram sempre empobrecimento e pobreza.”

Ora, a ideia que existe é que um escândalo desta dimensão poderá traduzir-se num péssimo resultado para os socialistas e servir como alavanca para o PSD, deixando Luís Montenegro perto de vencer as eleições, ter um grupo parlamentar expressivo, e em condições de esperar pela Iniciativa Liberal, neutralizar qualquer ameaça de ‘geringonças’ à esquerda e isolar André Ventura. Ninguém, nem mesmo os mais próximos de Montenegro, ousam admitir um eventual recuo quanto à indisponibilidade assumida de falar com o Chega.

Confirmando-se esta decisão, restariam as tais contas complexas: PSD e IL teria de ter mais deputados do que a esquerda toda junta mas ficariam naturalmente dependentes da abstenção do Chega para viabilizar, por exemplo um Orçamento do Estado. No fundo, André Ventura ficaria como árbitro do regime e de “espingarda” na mão, a desgastar o governo de Montenegro e à espera do momento e motivos certos para derrubar o PSD. A história, passada e recente, diz que quem provoca uma crise sai penalizado. Foi assim com o PS e o PRD em 1987 e foi assim com Bloco e PCP em 2021. Montenegro poderá estar apostado em esperar pela repetição da história. Mas para pensar em tudo isso tem de ganhar primeiro as eleições de 10 de março de 2024.

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