Uma equipa de arqueólogos liderada pelo curador Sebastien Rey, do Museu Britânico, conseguiu identificar um templo descoberto em 2022 na cidade de Tello, no sudeste iraquiano, através de uma planta arquitetónica presente numa estátua de Gudea, um sacerdote que governou a região no século XXI a.C.

Tello está hoje sobre o que outrora foi Girsu, uma cidade-estado suméria do quinto milénio a.C. e importante centro político e religioso. O templo dedicado a Ningirsu, o patrono da cidade, terá sido revelado ao rei-sacerdote num sonho. Desde a descoberta de uma tabuleta que referia a sua existência que tem sido procurado por arqueólogos.

Em declarações ao Telegraph, Rey explicou que a identificação do templo partiu da estátua de Gudea. Esta inclui uma inscrição a anunciar um mandato divino para construção de um templo, uma projeção de um edifício e uma régua com seis marcas. O significado destas marcas era inexplicável para os especialistas  —  até agora.

“A Matemática teria parecido divina para os sumérios. E isto era matemática sagrada numa planta arquitetónica, um código secreto”, explica o responsável do projeto. A tese dos investigadores é que estas marcas configuram um sistema de medição fracionado, ou seja, assente em divisões iguais consecutivas a partir de uma unidade de valor fixo. As medidas imperiais utilizadas no Reino Unido para calcular a massa, por exemplo, são deste modelo.

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Para comprovar a hipótese, os arqueólogos traçaram o templo descoberto no ano passado com as medidas da régua. Os resultados não desapontaram. “A planta coincidiu perfeitamente com o templo”, destacou Rey. “Isto comprova que Gudea construiu de facto o templo depois de lho ter sido ordenado num sonho, e demonstra que os Sumérios eram capazes de utilizar e manipular escalas.” 

A comparação com a Bíblia parte das medidas precisas que Deus dá a Noé para construir a barca que o salvará do Dilúvio e a David para a construção do Templo em Jerusalém, ambos no Antigo Testamento.

O projeto de investigação conhecido como The Girsu Project, encabeçado pelo Museu Britânico com o americano Getty e em parceria com instituições iraquianas, está no terreno desde 2021 para atualizar o conhecimento da civilização suméria que, como sublinha o responsável ao Times, “está assente em pesquisa arcaica.”