Cristiano Ronaldo enfrenta uma ação coletiva nos Estados Unidos, movida por clientes que compraram NFT, ativos não fungíveis, na plataforma de negociação de criptoativos Binance. De acordo com fontes como a Associated Press (AP) ou a BBC, os clientes consideram que a publicidade feita pelo jogador foi “enganosa e injusta”.
“As provas revelam agora que a fraude da Binance só pôde chegar a este tipo de níveis através da oferta e venda de ativos não registados com a ajuda e auxílio de algumas das organizações e celebridades mais reconhecidas do mundo – tal como o réu Ronaldo”, cita a AP a partir do texto da ação, que foi apresentada num tribunal distrital da Flórida, na segunda-feira.
Os clientes pedem uma compensação coletiva de pelo menos mil milhões de dólares o que à atual conversão ronda um montante de 917 milhões de euros. Até ao momento, nem os representantes do futebolista português, nem a plataforma Binance fizeram comentários ao processo.
Cristiano Ronaldo associou-se à Binance em novembro do ano passado, para o lançamento da primeira coleção de NFT com a sua imagem, chamada “CR7”. Os clientes contestam que, devido à imagem do jogador e aos esforços promocionais, a parceria foi “incrivelmente bem sucedida”. O NFT mais barato da coleção custava 77 dólares em novembro, mas um ano mais tarde, já rondava apenas um dólar.
[Já saiu: pode ouvir aqui o quarto episódio da série em podcast “O Encantador de Ricos”, que conta a história de Pedro Caldeira e de como o maior corretor da Bolsa portuguesa seduziu a alta sociedade. Pode ainda ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui e o terceiro episódio aqui.]
Os NFT são representações digitais, que podem ser comprados e vendidos e que têm associada a ideia de propriedade – ou seja, um NFT pertence apenas a uma pessoa, mesmo que seja a imagem de um jogador tão conhecido como CR7. Neste caso, os ativos digitais representavam momentos conhecidos da vida do futebolista madeirense, desde a infância na Madeira até às celebrações de golos.
Em declarações à BBC, Nigel Green, da empresa de consultoria DeVere Group, lembrou que a questão em causa nesta ação coletiva não deve estar apenas centrada na figura do futebolista. “É crucial reconhecer que culpar apenas Ronaldo descomplica excessivamente uma questão que é complexa”, disse. “Em vez disso, a atenção deve ser dirigida para os reguladores globais que têm sido lentos a estabelecer regras claras para um panorama financeiro que está em evolução.”
Não é a primeira vez em que uma celebridade é visada numa questão semelhante devido à associação da sua imagem a ativos digitais. No ano passado, Kim Kardashian chegou a acordo para pagar uma multa de 1,28 milhões de dólares por ter promovido ativos cripto em divulgar que recebeu para fazer publicidade. Na altura, o regulador do mercado norte-americano, a SEC, usou o caso como um lembrete ao público: “(…) quando as celebridades ou influenciadores apoiam oportunidades de investimento, incluindo ativos cripto, não significa que esses produtos de investimento são certos para todos os investidores”, disse Gary Gensler, responsável da SEC, em comunicado.
Kim Kardashian vai pagar 1,26 milhões por ter promovido criptomoeda no Instagram
Depois de Kardashain, também Larry David e Tom Brady estiveram envolvidos em questões legais devido a uma ação legal contra a FTX. A plataforma faliu em novembro de 2022 e houve várias celebridades que associaram a sua imagem à empresa.
A própria Binance atravessa um momento atribulado. Na semana passada, Changpeng Zhao, mais conhecido por “CZ”, o fundador da plataforma, declarou-se culpado de infrações às regras anti-lavagem de dinheiro dos EUA. Chegou a acordo com o regulador de mercado para pôr fim à investigação e aceitou pagar 50 milhões de dólares a título individual, enquanto a empresa terá de pagar 1,81 mil milhões nos próximos 15 meses e mais 2,51 mil milhões de sanção adicional. Na sequência da admissão de culpa, “CZ” demitiu-se do cargo de CEO.