“A revolução da inteligência artificial chegou às moedas físicas”. Foi assim que a Casa da Moeda começou a antecipar, nas redes sociais, o lançamento daquela que descreve como a “primeira moeda metálica do mundo desenhada por inteligência artificial (IA)”. Com o nome “Mundo Digital”, a moeda de coleção, em prata, ficou esta segunda-feira, 11 de dezembro, disponível.
A moeda, com um valor facial de 10 euros e que é possível adquirir por 95 euros (sendo que a emissão está limitada a quatro mil exemplares em prata), foi produzida pela Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM), com o apoio do Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra. No Instagram, a “Mundo Digital” foi descrita como uma “obra de arte que transcende a fronteira entre o natural e o artificial” e um “casamento” que “une o biológico e o digital”, uma vez que conta com “uma face criada pela inteligência artificial para humanos e outra desenhada por humanos para máquinas”.
Em comunicado, a Casa da Moeda indica que esta moeda comemorativa portuguesa não é “produzida por uma IA qualquer e sim por uma IA desenvolvida para o efeito por um grupo de investigadores” do Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra (CISUC), que teve de desenvolver algoritmos “de Criatividade Computacional Evolutiva que permitem criar imagens”.
Ao Observador, a Casa da Moeda detalha que o CISUC começou por utilizar algoritmos já existentes, mas percebeu que “os resultados não eram muito interessantes” do “ponto de vista plástico e criativo”. “Os resultados eram bastante óbvios, as imagens geradas eram sistematicamente clichés e imitavam produção artística humana”. A mesma posição foi defendida pelos investigadores num artigo partilhado no site do laboratório de investigação CDV Lab (que faz parte do Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra), onde mostraram exemplos desses resultados que consideram “dececionantes” e opostos aos que tinham idealizado.
Apesar de, por exemplo, a Pressburg Mint de Bratislava já ter “apresentando um bullion em prata desenhado por IA”, a Casa da Moeda defende que a “Mundo Digital” é a primeira do mundo a ter sido desenhada por essa tecnologia porque não foram utilizados algoritmos já existentes. Desta forma, afirma que o CISUC criou “uma IA nova cujo gerador não é guiado por dados, não tem acesso às obras de arte produzidas pelos humanos e como tal não se pode apropriar desses trabalhos”. “Foi criado para inovar e não para imitar, expandindo assim os limites da criatividade e produção artística.”
No total, foram geradas mais de 43 milhões de imagens, número que posteriormente foi reduzido através de um processo de curadoria que permitiu chegar ao resultado final. O reverso da moeda foi desenhado por inteligência artificial e cada setor circular e camada visual representa “uma interpretação matemática da IA sobre a ideia de ‘uma moeda sobre o mundo digital'”.
Por outro lado, o anverso foi desenhado pelos investigadores de Coimbra e os arcos concêntricos “sugerem uma interligação e um diálogo entre o lado humano e o lado da IA da moeda” e codificam, segundo a Casa da Moedas, “a expressão matemática correspondente à imagem do reverso”. Ou seja, “simboliza a tradução do pensamento humano em código compreensível pela IA, enfatizando a ideia de uma parceria criativa entre as duas entidades”.
Desta forma, embora os dois lados tenham aparências distintas, representam “o mesmo artefacto através da correspondência entre o que a IA ‘pensa’ ser uma representação válida para os humanos (reverso) e o código gerado pelos humanos que permite à IA reproduzir essa representação (anverso)”.
Para a Casa da Moeda, esta moeda é “pioneira”, pode “representar o início de uma nova era na conceção de moedas, incorporando inteligência artificial e criatividade computacional” e o seu futuro será “provavelmente orientado para uma abordagem continuada de inovação na cunhagem”.