O empresário Vasco Mello assegurou esta segunda-feira em tribunal que a nomeação de António Mexia para a presidência da EDP em 2006 partiu dos acionistas privados e não resultou de um acordo entre Manuel Pinho e Ricardo Salgado.

Na sessão de julgamento do Caso EDP, realizada no Juízo Central Criminal de Lisboa, o então presidente do grupo empresarial José de Mello refutou desta forma o que constava da indiciação do Ministério Público (MP) relativamente ao antigo governante, que apontava para um alegado acordo entre o ex-ministro da Economia e o ex-presidente do Banco Espírito Santo (BES) sobre a indicação do nome de António Mexia para presidente executivo.

“Tive uma reunião com outros acionistas privados para a EDP com o primeiro-ministro: deveriam ser os acionistas privados a indicar quem seria nomeado para a presidência da EDP”, frisou Vasco Mello, sublinhando que nesse encontro estavam também o BCP e os espanhóis da Cajastur e que naquela data o BES ainda não era acionista da empresa elétrica.

E acrescentou: “António Mexia foi uma sugestão nossa. Não sei quem Manuel Pinho queria indicar. António Mexia foi indicado como presidente executivo e António de Almeida como presidente do conselho de administração. E isso não foi sugestão nossa, terá sido a demonstração de vontade por parte do Estado”.

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O gestor prestou ainda depoimento enquanto ex-presidente da Brisa sobre a operação de compra da Autoestradas do Atlântico, inicialmente travada pela Autoridade da Concorrência e depois revertida por decisão do Governo, numa operação que é apontada pelo MP como um dos casos de alegado favorecimento de Manuel Pinho aos interesses do Grupo Espírito Santo (GES) e de Ricardo Salgado.

Para Vasco de Mello, o recurso através do Ministério da Economia “parecia ser a forma adequada de tratar do assunto”, argumentando que um processo judicial “levaria mais tempo” e porque caso a decisão do Ministério não fosse favorável, ainda haveria hipótese de recorrer aos tribunais.

Por outro lado, o empresário recusou que o BES tivesse influência no que se passava na Brisa por via da dívida bancária da empresa, ao alegar que a exposição ao grupo então liderado por Ricardo Salgado era de cinco milhões de euros.

Salientou também que o GES “tinha uma relação privilegiada com a Mota-Engil” e que esta era, a nível de concessões, “o maior concorrente da Brisa em Portugal”.

O BES era um credor pequeno no conjunto de exposição que a Brisa tinha ao sistema financeiro. Não me recordo de haver exposição adicional ao BES. [A exposição] do grupo Mello era bastante mais significativa”, observou o gestor, continuando: “Nunca falei com Ricardo Salgado sobre a operação das Autoestradas do Atlântico”.

Antes da interrupção para almoço foram ainda ouvidos como testemunhas o administrador da Promovalor Manuel Sousa Duarte, o gestor Nuno Gaioso Ribeiro e o antigo presidente executivo da Siemens Carlos Melo Ribeiro.

Manuel Pinho, em prisão domiciliária desde dezembro de 2021, é acusado de corrupção passiva para ato ilícito, corrupção passiva, branqueamento e fraude fiscal.

A sua mulher, Alexandra Pinho, está a ser julgada por branqueamento e fraude fiscal – em coautoria material com o marido -, enquanto o ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, responde por corrupção ativa para ato ilícito, corrupção ativa e branqueamento de capitais.