A vacinação gratuita contra a gripe vai ser alargada às pessoas com mais de 50 anos de idade, afirmou o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, um contraste com a informação que tinha sido transmitida na véspera pela secretária de Estado da Promoção da Saúde, Margarida Tavares, numa entrevista dada na noite de quinta-feira ao Jornal 2, na RTP2. A vacinação sazonal e sem custos contra a Covid-19 também será alargada à população entre os 18 e os 59 anos.

As atualizações têm efeito a partir da próxima segunda-feira, dia 15 de janeiro, segundo comunicado da Direção-Geral da Saúde (DGS), que adianta que, no caso da vacinação contra a gripe “será ponderado o alargamento a outros grupos etários nas próximas semanas, atendendo à disponibilidade de vacinas e desde que seja mantido o objetivo de conseguir a melhor cobertura vacinal na população elegível”.

Mais cedo, esta sexta-feira, Manuel Pizarro, na inauguração da Unidade de Saúde do Beato, em Lisboa, já tinha adiantado que a decisão de alargar a vacinação contra a gripe tinha a ver com a disponibilidade de vacinas. O Observador contactou fonte oficial do Ministério da Saúde que esclareceu que foi ponderado começar nos 45 anos mas que acabou por ser tomada uma decisão diferente — sem prejuízo de, mais adiante, poder alargar-se o programa até aos 45 anos se for necessário.

Até à data, a toma da vacina contra a gripe é aconselhada a pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, mas a decisão da Direção-Geral da Saúde é abranger um maior leque de população, nomeadamente a faixa etária entre os 50 e os 59 anos. “A distribuição destas idades é feita na base de uma avaliação científica sobre a vantagem da vacinação […]. Aquilo que a DGS fez foi avaliar se, havendo ainda disponibilidade de vacinas, havia ou não vantagem para a saúde das pessoas em alargar o leque das pessoas que se podem vacinar”, indicou Manuel Pizarro.

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Margarida Tavares foi questionada naquele espaço informativo sobre as declarações feitas na quinta-feira pela diretora-geral da Saúde, Rita Sá Machado, que falou de um excesso de mortalidade não apenas na faixa etária acima dos 65 anos, mas também na dos 45-64 anos. “As vacinas são baseadas em risco-benefício”, sublinhou a governante. “E nós temos a opinião de uma comissão técnica de vacinação para ver em que idades o custo-benefício é benéfico e existe, de facto, um benefício suficiente para o fazer.”

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Margarida Tavares sustentou que a recomendação atualmente em vigor pelas instituições globais é a de que, “para acima dos 65 anos está recomendada pelo menos uma cobertura vacinal de 75%”. Agora, Portugal opta por disponibilizar a vacina também aos mais novos. “Podemos fazê-lo agora, até, e vamos provavelmente anunciá-lo amanhã, porque essa avaliação foi feita pela comissão técnica de vacinação.”

A secretária de Estado confirmou também que o modelo de disponibilização das vacinas na rede de cuidados de saúde primários (centros de saúde) e nas farmácias vai ser mantido. “Este ano, abandonámos o modelo de centros de vacinação, que foram apenas para uma vacinação em massa contra a Covid-19”, explicou.

“Mas, precisamente porque temíamos baixar muito a adesão às vacinas depois de uma época muito cansativa e em que a perceção de risco baixou muito para a população, pretendemos complementar a resposta dos cuidados de saúde primários, que sempre existiu e mantém-se, com uma nova resposta, através das farmácias, que são um local de que as pessoas gostam, que têm um acesso fácil”, acrescentou.

“Foi muito bem sucedido”, avaliou Margarida Tavares. “Este ano, ao contrário do que se tem dito, vacinámos mais pessoas contra a gripe do que em qualquer outro dos anos anteriores.”

Máscaras em instituições de saúde continuam recomendadas

A secretária de Estado da Promoção de Saúde foi também questionada sobre se o excesso de mortalidade que se verifica atualmente no país deveria conduzir à adoção de medidas como as já aplicadas em Espanha e nos Estados Unidos, onde as máscaras voltaram a ser obrigatórias em hospitais e unidades de saúde.

Margarida Tavares respondeu que o Governo não considerou “justificado” nem “proporcional” proceder à aplicação de uma obrigatoriedade a nível nacional, mas lembrou que o uso de máscara continua a ser recomendado nesses contextos e que as unidades de saúde têm autonomia para decidir a sua obrigatoriedade.

“Não entendemos que fosse justificado, que fosse proporcional à situação”, sublinhou. “Todos aprendemos muito sobre o uso de máscaras. Sabemos que as máscaras nos podem proteger dos outros e sabemos que nós podemos proteger os outros com o uso de máscara. Refiro-me à comunidade. Não estou a falar do uso de máscara em contexto de saúde ou pelos profissionais de saúde, [mas sim] da máscara comunitária.”

Máscaras voltam a ser obrigatórias em centros de saúde e hospitais em Espanha

Por isso, continuou Margarida Tavares, “essa medida está fortemente indicada” e “nunca deixou de ser recomendada”, no contexto da “utilização que as pessoas sabem fazer”.

“Nunca deixou de ser uma orientação bem clara para as instituições de saúde. Nunca deixou de ser recomendada. E as instituições de saúde, os serviços de saúde, têm autonomia para implementar essa obrigatoriedade dentro das instituições de saúde. E nós recomendamo-lo vivamente. A DGS tem feito essa recomendação, ela existe, está em norma”, disse.

“Com a vasta experiência que os serviços de saúde têm, podem e devem fazê-lo perante estas circunstâncias. Avaliar em que locais, nomeadamente os serviços de urgência, algumas consultas, alguns locais de internamento. É, sem dúvida, indicado neste momento”, acrescentou.

A secretária de Estado destacou ainda que, “provavelmente”, Portugal atravessa “uma das mais significativas epidemias em termos de Gripe A, nomeadamente H1N1, da última década”. “Muito provavelmente é um dos anos em que temos uma maior circulação de vírus”, acrescentou.

Notícia atualizada às 22h35, com o comunicado da Direção-Geral da Saúde