Um homem de 65 anos foi encontrado morto, este sábado, em casa, após ter ligado três vezes para o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e de ter ficado cerca de 31 horas sem auxílio.

O alerta foi dado à Polícia de Segurança Pública (PSP) por uma vizinha, que encontrou Rodrigo Assunção, um pedreiro que vivia perto do bairro Santos Nicolau, em Setúbal, inanimado no chão.

Segundo o Correio da Manhã, que falou com o sobrinho, Jorge, o telemóvel de Rodrigo mostrava que tinham sido feitas três chamadas para o INEM na madrugada de sexta-feira, 19 de janeiro.

“Possivelmente, o meu tio sentiu-se mal e ligou a pedir socorro. A primeira vez, às 05h43, esteve mais de quatro minutos ao telefone. Na segunda, pelas 05h56, esteve 34 segundos, e mais tarde, pelas 06h06, a chamada durou um minuto e 29 segundos“, disse.

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Os registos revelaram ainda que, 13 minutos depois, o INEM ligou a Rodrigo Assunção, que atendeu a primeira chamada, por volta das 6h19, tendo esta durado um minuto e 35 segundos. No entanto, as seis restantes, que foram feitas cerca de 41 minutos depois, às 07h01, às 07h02, às 07h56, às 07h57 e às 07h58, não tiveram resposta do outro lado.

Desta forma, no sábado, 20 de janeiro, os vizinhos depararam-se com uma porta entreaberta e, segundo o mesmo jornal, encontraram o homem morto, com sangue no chão.

A Polícia Judiciária chegou a ser acionada, tendo recolhido testemunhos no local e afastado o cenário de crime, como confirmado ao Observador.

O Observador contactou ainda o INEM, que garantiu ter aberto um inquérito “para averiguar as circunstâncias em que o contacto foi recebido e a forma como esse pedido de socorro foi tratado”.

O INEM lamenta o desfecho que a situação veio a conhecer e apresenta sentidas condolências aos familiares da vítima”, acrescentou, em comunicado.

Para o presidente do sindicato dos técnicos de emergência pré hospitalar, Rui Lázaro, esta morte pode tratar-se de um “caso de negligência grave”. “Não se entende como é que houve um pedido de ajuda, que o INEM tenha tido conhecimento – por isso é que voltou a ligar –, e que não tenha enviado um meio legal quando o utente não atendeu”, critica ao Observador.

Apesar de não saber detalhes da situação, inclusivamente quais terão sido as queixas do homem durante as chamadas para o 112, Rui Lázaro sugere que “talvez não houvesse meios disponíveis” na altura do primeiro telefonema, e que o INEM “tenha tentado mais tarde”.

Segundo o sobrinho, Rodrigo Assunção “não se queixava de doenças”. O mesmo é confirmado ao Observador pelo presidente do Núcleo de Amigos do Bairro Santos Nicolau, Agostinho Ferreira, que revela o homem costumava passar “tardes inteiras” na associação.

“Ainda na semana passada, ele comentou comigo que em março ia atingir a idade de reforma e que queria ir tratar dos papéis, pois isso dar-lhe-ia um dinheiro fixo todos os meses”, recorda, acrescentando que o homem recebia à comissão pelos trabalhos enquanto pedreiro.