A prestação de Sepp Kuss na Vuelta do ano passado dirigia os holofotes para a Jumbo-Visma. Porém, nos bastidores do pelotão, discorriam suspeitas em relação a uma das equipas. A Caja Rural, um dos conjuntos convidados para a competição, estava altamente exposta a acusações na posse de toda a gente e que a organização temia que fossem reveladas. Transcrições de conversas e áudios de WhatsApp divulgadas anonimamente davam conta de que vários corredores tinham interagido com o médico Marcos Maynar, uma figura que ficou associada ao mundo do doping por estar a ser investigado, uma vez que, alegadamente, fazia parte de uma rede de tráfico.

A equipa defendeu que as conversas tinham sido descontextualizadas e que não provavam a realização de qualquer ato ilícito. No entanto, Marcos Maynar tornou-se, em Espanha, numa espécie de guru das substâncias que estimulam o rendimento desportivo devido ao envolvimento na Operação Ilex que resultou na suspensão do ciclista Miguel Ángel López por “uso e posse de substâncias proibidas nas semanas que antecederam o Giro d’Italia”, como comunicou a International Testing Agency.

Nesta altura, o colombiano, que foi inclusivamente afastado da Astana, equipa que representou até dezembro de 2022, pode estar em vias de voltar a correr devido ao recuo do Ministério Público espanhol em relação às medidas preventivas por considerar que não estão reunidas provas suficientemente fortes para comprovar o uso direto de substâncias nem a forma como podem ter afetado o desempenho do ciclista. Ainda assim, um dos temas mais prementes do ciclismo volta a estar em foco em Espanha.

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Uma reportagem do jornal Marca revela algumas estratégias usadas pelos ciclistas para escaparem aos controlos anti-doping. Uma delas é o conhecimento prévio que os desportistas têm da janela temporal que por lei impossibilita os agentes que lhes fazerem análises. Em Espanha, entre as 23h e as 6h não é possível realizar testes-surpresa, de modo a respeitar a privacidade dos atletas. O espaço temporal permite que uma substância que seja tomada no início desse intervalo de tempo não seja detetada em análises realizadas nas primeiras horas do dia. Os testes anti-doping até podem ser realizados durante a madrugada, mas só com uma autorização obtida quando há suspeitas prévias de incumprimento.

Do mesmo modo, por uma questão de timing de obtenção dos resultados, os testes não acontecem entre quinta-feira e domingo. A razão é a falta de laboratórios, problema que não está circunscrito a Espanha. A Marca utiliza como exemplo a América do Sul, onde só existe um laboratório homologado no Rio de Janeiro, dado que impede que as análises provenientes dos países circundantes viajem nas 48 horas recomendáveis. Mesmo quando os resultados são claros, essas conclusões não são factuais ficando a possível irregularidade ao abrigo da interpretação. Além disso, os ciclistas têm a hipótese de, após um resultado positivo, emitirem um certificado excecional de uso terapêutico de determinadas substâncias.