A fome aperta e, sentado numa cadeira, alguém tem uma mesa adiante onde reluz um prato de comida. As ordens são para não tocar e cada segundo a olhar para aquela refeição que faria a barriga parar de ser rabugenta acentua uma sensação incómoda como a experienciada pelo Sporting. A logística complicou as contas ao conjunto verde e branco. Entendeu-se que, mesmo que o emblema de Alvalade tivesse viajado até Famalicão, onde contava defender a liderança do campeonato, naquele caso, não havia como jogar pelo seguro. A falta de policiamento adiou o jogo e deixou a equipa de Amorim a olhar para o prato e a não lhe poder tocar.

Acumulou-se então a fome de bola e, quando o leão não se alimenta, o perigo é maior. A União Leiria, que regressou este ano à Segunda Liga depois de se ter sagrado campeã da Liga 3, era a presa que se vislumbrava nos quartos de final da Taça de Portugal. O Sporting teve tantos olhos como barriga e entrou com tudo. A equipa do Lis, habituada a ter mais tempo a posse da bola nos jogos da competição em que participa, desfez-se dela e entregou a iniciativa. No momento da recuperação, em poucos toques, lançava os homens mais adiantados que esperavam abertos nos flancos. Só que apenas Jordan Van Der Gaag e Jair da Silva eram pouca fartura para tanto óleo.

Ficha de Jogo

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U. Leiria-Sporting, 0-3

Quartos de final da Taça de Portugal

Estádio Dr. Magalhães Pessoa, em Leiria

Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa)

U. Leiria: Kieszek, Zié Ouattara, Bura, Lystsov, Vasco Oliveira, Pedro Empis (Valdir Jr., 81′), D’avilla (Marcos Silva, 89′), Diogo Amado (Leandro Silva, 81′), Lucho Vega (Leandro Antunes, 75′), Jordan Van der Gaag (Ayongo, 75′) e Jair da Silva

Suplentes não utilizados: Fábio Ferreira, Tiago Ferreira, Rashaan Fernandes e Bryan Rochéz

Treinador: Vasco Botelho da Costa

Sporting: Franco Israel, Geny Catamo (Esgaio, 72′), Eduardo Quaresma (Neto, 87′), Coates, Matheus Reis (Gonçalo Inácio, 72′), Nuno Santos, Hjulmand (Daniel Bragança, 80′), Pedro Gonçalves, Edwards, Trincão (Morita, 72′) e Gyokeres

Suplentes não utilizados: Adán, Diogo Pinto, Rafael Pontelo e Koba Koindredi

Treinador: Rúben Amorim

Golos: Gyokeres (32′ e 74′) e Pedro Gonçalves (37′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Nuno Santos (15′), Ouattara (19′), Edwards (39′), Empis (44′) e Trincão (45+4′)

O Sporting começou então a encher o bandulho e pelo homem que tem sido o ganha pão esta temporada. Gyokeres e o golo são inseparáveis. Quando toda a gente estava a pensar que no momento anterior o árbitro do encontro, Tiago Martins, tinha revertido uma grande penalidade, o sueco estava a pensar na razão da sua felicidade e na nascitura finalização perfeita. Marcar não lhe sai mesmo da cabeça, mas o próprio avançado já admitiu que bem que a podia usar mais vezes para finalizar. No Estádio Dr. Magalhães Pessoa, assim foi. Canto batido por Nuno Santos e o desvio acabou por aparecer.

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Mesmo com a larica em níveis mais estáveis, Gyokeres tinha apenas servido as entradas e a Pedro Gonçalves até as levou numa bandeja. Os jogadores da União Leiria estavam a jogar em ritmos diferentes. Jordan Van Der Gaag conseguiu carregar a bola até ao último terço, mas só quando já a tinha perdido é que a restante equipa o acompanhou. Sempre um passo à frente, Gyokeres fugiu ao lateral Ouattara e fez o passe atrasado para Pedro Gonçalves concretizar.

O bloco defensivo prostrado da equipa treinada por Vasco Botelho da Costa acabou por sofrer de bola parada e em transição, mas, mesmo em ataque continuado, o Sporting já tinha sido perigoso. Gyokeres atirou ao poste logo aos cinco minutos e também Trincão proporcionou uma defesa a Kieszek. Em organização ofensiva, os jogadores de Rúben Amorim criavam perigo essencialmente através de Nuno Santos, a operar aberto na esquerda, e de Marcus Edwards, nos breves namoros com a zona ao lado dos centro campistas adversários. No corredor central, o sinal vermelho era mostrado pelo trio de médios da União Leiria — Diogo Amado, D’avilla e Lucho Vega — e também pelos centrais — Bura, Lystsov e Vasco Oliveira.

Com a União Leiria a conseguir soltar mais a criatividade de Jordan Van Der Gaag na segunda parte, Jair dispôs da melhor ocasião do encontro para a equipa do Lis que para chegar a esta fase da Taça eliminou Pedrógão, Académico Viseu, Atlético Malveira e Marítimo. Mas foi Gyokeres quem, numa noite em que se empenhou em corrigir os defeitos, voltou a marcar de cabeça, eliminando a lacuna que o próprio apontou sobre si numa entrevista ao jornal Record. O Sporting venceu (0-3) confortavelmente e avança para as meias-finais, onde pode encontrar o Benfica se os encarnados derrotarem o Vizela.