A criação da Unidade Local de Saúde do Alto Ave (ULSAAVE) está a gerar “muita expectativa” nos utentes e nos profissionais de saúde, admite o presidente do Conselho de Administração, defendendo que a nova estrutura permite uma “verdadeira integração”.

Em entrevista à agência Lusa, cerca de mês e meio após assumir o cargo, na sequência da reorganização do Serviço Nacional de Saúde (SNS),  Pedro Cunha fala da nova ULSAAVE, fruto da junção do Hospital Senhora da Oliveira (Guimarães) com o Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS) do Alto Ave, abrangendo mais de meio milhão de utentes dos concelhos de Guimarães, de Fafe, de Cabeceiras de Basto, de Vizela, de Mondim de Basto e de Celorico de Basto, e utentes (indiretos) dos concelhos de Famalicão e de Felgueiras que o desejarem.

“[Há] as expectativas dos utentes que querem aceder melhor aos cuidados de saúde, querem ter uma estratégia bem orientada para poderem ter um fluxo mais suave, resolvendo as questões que são mais simples em proximidade e aquelas que são mais complexas, onde os recursos se devem concentrar”, explica o também médico de profissão.

Quanto aos cerca de três mil profissionais que fazem parte da ULSAAVE, criada no âmbito da reorganização do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o presidente do Conselho de Administração (CA) diz que se deixou de ter o hospital, por um lado, e os cuidados de saúde primários, por outro, acrescentando que agora existe uma “equipa” que se “pretende coesa”.

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“Isso implica que todos vão ter de sair um bocadinho da sua zona de conforto. As pessoas que estão aqui [no hospital] não vão fazer só aquilo que faziam antes, as pessoas que estão nos cuidados de saúde primários não vão fazer só aquilo que faziam antes, porque agora é preciso encontrar pontos de ligação, que é uma tarefa acrescida para que os pacientes possam fluir mais facilmente entre uns cuidados e outros”, diz Pedro Cunha.

O presidente do CA da ULSAAVE ressalva, contudo, que a colaboração entre os cuidados primários (prestados nos centros de saúde) e os cuidados hospitalares “não se criou hoje nem por decreto”, defendendo que “não há um modelo único” de ULS, uma vez que cada região tem a sua realidade geográfica, populacional e diferentes equipamentos.

“O que temos agora é uma ferramenta [ULS] que coloca as pessoas todas dentro da mesma instituição e, portanto, deixa de haver um conjunto de barreiras que anteriormente poderiam existir, jurisdições, administrativas, que, neste momento, não existindo, tornam mais fácil a assunção de estratégias de cooperação, que dantes eram um pouco mais laboriosas de encontrar”, salienta o responsável.

Além das expectativas dos utentes e dos profissionais de saúde, Pedro Cunha afirma que há também a expectativa quanto ao funcionamento global do sistema de saúde que, no contexto da criação das novas ULS, “providencia um conjunto de cuidados” integrados.

A proximidade dos cidadãos aos cuidados de saúde é um dos aspetos mais importantes e, por isso, está a ser feito um levantamento dos equipamentos existentes na área de influência da ULSAAVE, para perceber como é que podem ser racionalizados, e “proporcionar às populações a oferta de serviços de saúde” o mais perto e rápido possíveis.

Pedro Cunha procura a otimização dos recursos humanos e uma melhor comunicação entre todas as instituições da ULSAAVE, para se evitar a duplicação de consultas, de meios complementares de diagnóstico, de deslocações, e de perdas de tempo pelos utentes.

“Diria que é deixar de se falar em articulação – que era o que nós falávamos antigamente, quando tentamos encontrar programas funcionais entre os cuidados de saúde primários e os cuidados de saúde hospitalares – e passar a falar numa verdadeira integração (…). Estamos a falar de mais proximidade, de melhor otimização de utilização de recursos e melhoramento das estratégias clínicas, para que haja uma verdadeira integração de cuidados e um acesso entre cuidados de saúde hospitalares e primários e vice-versa”, vinca o clínico.

O presidente do CA da ULSAAVE deu ainda conta de que 96% dos utentes da ULSAAVE têm médico de família, sendo que, dos 4% que não têm clínico atribuído, 3% estão referenciados numa Unidade de Saúde Familiar.

Quanto à necessidade de construção de um novo hospital, Pedro Cunha entende que este é momento para “rentabilizar o espaço e as estruturas existentes”.

ULS Alto Ave ambiciona ser reconhecida como unidade universitária

Em entrevista à Lusa, Pedro Cunha revelou também que a ULS ambiciona ser reconhecida como unidade universitária.

“É uma ambição de toda a nossa comunidade. Não é [só] uma ambição do presidente do Conselho de Administração (CA), mas é, acima de tudo, uma aspiração de toda a comunidade em que a Unidade Local de Saúde está envolvida, sejam das autarquias, dos cidadãos, das instituições de solidariedade social ou do terceiro setor”, sublinha o presidente do CA da ULSAAVE.

Pedro Cunha lembra o esforço que a região tem feito ao longo dos tempos em “receber e oferecer ensino universitário” a mais de 38 instituições.

“O que quer dizer que recebemos mais de 1.500 alunos das diferentes profissões de saúde, que oferecemos mais de 700 estágios, quer nas profissões de saúde quer nas áreas conexas à saúde. E que esse esforço, que está agora a ser expandido a toda a nossa área de influência da Unidade Local de Saúde é, em si, por ser repetido ao longo dos anos, uma forma de reconhecimento da qualidade do ensino universitário que nós aqui fazemos”, frisa o médico de profissão.

Para o presidente do CA da ULSAAVE, esse reconhecimento técnico e da competência por parte das instituições académicas que continuamente ali colocam os seus alunos para prosseguirem a sua formação, falta agora o reconhecimento formal.

“Da tutela, de quem é responsável por isso, de que, de facto, aqui se faz ensino de qualidade, em particular quando estamos envolvidos numa estratégia de formação de toda uma região que, direta ou indiretamente, atrai mais de 500.000 pessoas. (…) E, portanto, isso tudo que nós trabalhamos, dia após dia, e contribuir para que, de uma forma legítima e fundamentada, possamos aspirar a que esta unidade de saúde seja reconhecida como uma unidade universitária, a exemplo de tantas outras que também mereceram”, defende Pedro Cunha.

Questionado sobre se ficaria satisfeito se a Universidade do Minho (sediada em Braga) abrisse a porta a essa ambição, o reponsável destaca que o mais importante é efetivamente a ULSAAVE obter esse reconhecimento.

“Ficaria satisfeito se a Unidade Local de Saúde recebesse esse reconhecimento. A Universidade do Minho é, sem dúvida nenhuma, uma estrutura com quem temos colaborado de uma forma direta e intensa ao longo dos anos e são os nossos principais parceiros. E penso que é importante, seria importante, se houvesse uma estratégia que pudesse englobar as duas instituições para que nós pudéssemos ser dessa forma, reconhecidos”, defende Pedro Cunha.

O presidente do CA dá ainda conta de que a Unidade Local de Saúde do Alto Ave (ULSAAVE) tem avançado, não só do ponto de vista académico, mas também ao nível da investigação clínica, dos ensaios clínicos e de inovação em desenvolvimento, o que já valeu vários prémios e a recertificação pela Agência de Inovação Nacional.

“Mais um aspeto que contribui para o desenvolvimento da região numa estratégia de captação de ensaios clínicos e de toda a envolvente, não só no domínio do aparecimento de medicamentos inovadores, de capacidades e de potenciação do tratamento diferenciado para a população que servimos, mas também na capacidade de atrair outras instituições de ensino, de investigação e de inovação que contam connosco como o seu parceiro”, sublinha Pedro Cunha.

A ULSAAVE é uma das 14 ULS da região de saúde do Norte.