O Presidente argentino, Javier Milei, regressa a Espanha na sexta-feira para uma visita que está a gerar nova polémica por não incluir encontros com o governo ou o Rei, mas prever uma condecoração do executivo regional de Madrid.

Milei esteve em Madrid no mês passado pela primeira vez desde que tomou posse como Presidente da Argentina, para participar numa convenção do partido de extrema-direita Vox, sem ter pedido audiências com as autoridades de Espanha.

Essa passagem por Madrid acabou em polémica, por declarações durante a convenção do Vox que o governo espanhol, liderado pelo socialista Pedro Sánchez, considerou insultuosas e inadmissíveis por serem feitas durante uma visita a Espanha.

A polémica transformou-se em crise diplomática com a retirada da embaixadora de Espanha de Buenos Aires.

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Espanha retira embaixadora de Buenos Aires por declarações de Milei, que chamou “corrupta” à mulher de Sánchez

Milei chamou corrupta à mulher de Pedro Sánchez em Madrid e nas semanas seguintes dirigiu críticas a ministros e chamou cobarde ao próprio líder do governo espanhol.

O Presidente argentino e o seu governo têm sublinhado que Milei tem sido também ele insultado por membros do governo espanhol, que o acusam de negacionismo e autoritarismo ou sugeriram que consome drogas.

Aquando da anterior passagem por Espanha, e já com alguma polémica por Milei não pedir audiências com as autoridades do Estado espanhol, o gabinete do Presidente argentino explicou que se tratava de uma deslocação só para participar na convenção do Vox e estava já prevista uma segunda viagem, a desta semana, para receber um prémio de uma associação, que teria outro tipo de agenda.

Para além da cerimónia de receção do prémio do Instituto Juan de Mariana, a agenda de Milei em Madrid conhecida esta semana só inclui um encontro oficial, com a presidente da Comunidade Autónoma de Madrid (governo regional), Isabel Díaz Ayuso, do Partido Popular (PP, direita).

O governo espanhol disse desconhecer a agenda de Milei, mas que foi autorizada a aterragem numa base militar e disponibilizado o dispositivo de segurança habitual para um chefe de Estado enquanto permanecer em território espanhol, como já aconteceu na visita anterior.

Quanto ao Rei Felipe VI, o jornal El Pais publicou nesta quinta-feira que o Presidente da Argentina pediu uma audiência ao chefe de Estado, mas segundo a agenda da Casa Real, esse encontro não se realizará.

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O jornal confirmou o pedido de audiência com “fontes conhecedoras dessa solicitação” e fontes da Casa Real lembraram ao El Pais que Felipe VI coordena com o Ministério dos Negócios Estrangeiros “as visitas a Espanha” de chefes de Estado e de governo internacionais, sublinhando ainda que, de acordo com a Constituição, “a política externa é competência exclusiva do governo”.

As declarações de Milei em maio em Madrid foram criticadas por grandes empresas, confederações empresariais e por diversos partidos, incluindo o PP, que chegou a qualificar o discurso do Presidente da Argentina na convenção do Vox como “chocante” e “uma intromissão na política nacional”, embora tenha defendido que o governo e Sánchez estavam a “exagerar muitíssimo” na resposta e a entrar numa “escalada verbal que não conduz a lado nenhum”.

Perante a nova visita de Milei e a nova polémica, a direção nacional do PP ainda não se pronunciou.

Já a presidente do governo regional de Madrid disse nesta quinta-feira ser “uma honra” receber e condecorar Milei, “eleito por ampla maioria nas urnas pelo povo”.

Isabel Díaz Ayuso, que o Partido Socialista (PSOE) acusa de estar apenas a fazer uma provocação, afirmou ainda não ter culpa de Milei não querer reunir-se com um governo e um primeiro-ministro que “provocou uma crise diplomática e insulta constantemente”.

Milei vai receber a Medalha Internacional da Comunidade de Madrid como reconhecimento dos “vínculos históricos, culturais, linguísticos e económicos” da Argentina com a região, segundo um comunicado do executivo de Ayuso.

Para o governo espanhol, Ayuso demonstra “profunda deslealdade com as instituições espanholas”.

Fontes do executivo reiteraram nesta quinta-feira que “é surpreendente e anómalo que um Presidente estrangeiro não solicite em nenhuma das suas primeiras visitas a Espanha um encontro institucional com o seu homólogo, como fazem todos os Presidentes do mundo, ao mesmo tempo que mantém encontros de caráter privado e com autoridades autonómicas”.

O executivo acrescentou que Milei “tem mostrado uma atitude reiterada de procura de confrontação e ofensa” às instituições espanholas e espera que, ao contrário do que aconteceu na visita anterior, esteja desta vez “à altura do povo argentino e respeite as instituições espanholas”.

Milei estará na sexta-feira em Madrid antes de seguir, no sábado, para uma visita à Alemanha, onde tem prevista uma “curta visita de trabalho” com o chanceler Olaf Scholz, viajando depois para a República Checa, onde será recebido pelo chefe do governo, Petr Fiala.