“Elis & Tom, Só Tinha de Ser com Você”
No início de 1974, Elis Regina e Tom Jobim juntaram-se no estúdio da MGM em Los Angeles para gravarem um disco, Elis & Tom. O consagrado compositor de Garota de Ipanema era o convidado especial do álbum, mas cedo começou a querer tomar conta de tudo, entrando em conflito com a cantora e muito em especial com o então marido desta, César Camargo Mariano que era também o pianista da banda de Elis e o encarregado dos arranjos. E o disco esteve quase para não ser feito, por Elis ter perdido a paciência com Jobim. Roberto de Oliveira, então empresário dela, e assistido por Jom Tob Azulay, registou os trabalhos de gravação com uma pequena câmara de filmar e sem qualquer filtro, captando os conflitos, as fricções e discórdias iniciais, até Jobim e Elis, representantes de duas gerações diferentes da música popular brasileira, com feitios e idiossincrasias criativas e interpretativas muito diferentes, entrarem finalmente em harmonia e darem origem a um disco histórico. Em Elis & Tom, Só Tinha de Ser com Você, Roberto de Oliveira resgata essas imagens inéditas há quase meio século, combinadas com depoimentos de Mariano, dos músicos que acompanhavam a cantora e nele tocaram, dos filhos de Elis e Jobim e de nomes como Nelson Motta ou Jon Pareles, entre vários outros. É um dos melhores documentários estreados este ano.
“Geração Low Cost”
Adèle Exarchopoulos interpreta, neste filme escrito e realizado por Emmanuel Marre e Julie Lecoustre, uma hospedeira de bordo chamada Cassandre que trabalha numa companhia aérea low cost, a Wings. Cassandre tem 26 anos e a sua vida, entre voos, resume-se a encontros sexuais efémeros combinados no Tinder e a festas e bebedeiras com os colegas ou os amigos. Marre e Lecoustre labutam sobre a existência rasa e fútil da personagem, os seus horizontes de vida limitados e as suas escassas ambições pessoais e profissionais, mas ao fim de meia hora Geração Low Cost começa a chover no molhado e a sublinhar o óbvio. E nem o subenredo do efeito sobre Cassandre da morte recente da mãe num acidente de automóvel, nem a revelação dos bastidores e das exigências e pressões do trabalho numa companhia low cost, nem a beleza de Adèle Exarchopoulos, são suficientes para que a fita mantenha um mínimo de interesse, nem muito menos que justifique as quase duas horas de duração.
“A Sereia da Noite”
Filmado no interior da Eslováquia pela realizadora checa Tereza Nvotová, este filme ganhou o Meliès de Prata de Melhor Longa-Metragem Europeia no Festival de Cinema Fantástico de Sitges de 2022, e o Leopardo de Ouro da secção Cineastas do Presente no Festival de Locarno. Sarlota e Tamara, a sua irmã mais nova, vivem com a mãe, que as desleixa e maltrata, numa cabana perto de uma remota aldeia das montanhas. Têm como vizinha Otyla, uma cigana, que os aldeãos dizem ser bruxa. Um dia, quando Sarlota foge da mãe para a floresta, seguida por Tamara, dá-se uma tragédia. Vinte anos depois, Sarlota, que bloqueou esse acontecimento trágico e foi recolhida pela assistência social e criada numa instituição na cidade, regressa à vila e instala-se na degradada casa onde viveu com a mãe e a irmã, para tentar tirar a limpo o que aconteceu então com elas, com Otyla e consigo. A Sereia da Noite foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.