Yulia Navalnaya, a viúva de Alexey Navalny, foi informada de que não será aberta uma investigação criminal sobre a morte do marido numa prisão remota do Ártico. Isto porque a causa oficial da morte de Navalny, para as autoridades russas, foi um conjunto de doenças agravadas por uma arritmia cardíaca, na linha do que tinha sido avançado há seis meses pela Rússia, quando o principal opositor de Putin morreu. A viúva considera a conclusão “absurda” e reitera que o marido foi assassinado a mando do regime de Putin.

Num vídeo que partilhou no YouTube esta quinta-feira, Yulia afirma que, enquanto Putin — que foi reeleito em março — estiver no poder, a família conduzirá a sua própria investigação, independentemente do tempo que demorar e das conclusões que a Rússia continuar a divulgar.

“Somos obrigados a acreditar que estava bem o suficiente para caminhar na rua, perante uma temperatura de -20º, e que depois morreu instantaneamente? Eu sei que não é esta a verdade e que estão a esconder o que realmente aconteceu nesse dia”, garante Yulia.

No documento partilhado pelas autoridades russas é apresentada uma longa lista de doenças que afetavam Navalny, que vai desde a hipertensão e a pancreatite até lesões nas vértebras e a presença do vírus do herpes nos pulmões e no baço. Segundo o mesmo relatório, a causa da morte, em concreto, foi um aumento crítico da pressão sanguínea que, associado às restantes comorbilidades, perturbou o ritmo do seu coração, levando-o ao colapso.

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Alexei Navalny, rosto da oposição a Putin, morreu após “uma caminhada” na prisão. Tinha 47 anos

No relatório que a família de Navalny recebeu, e que descreve os acontecimentos de 16 de fevereiro, são referidas as tentativas de reanimação após o ativista ter caído no pátio da prisão e ter sido levado para uma unidade médica onde terão tentado, sem sucesso, salvá-lo com “massagem cardíaca indireta e respiração artificial”. No documento alega-se que foi enviada uma equipa de emergência exterior ao serviço prisional, que também não teve sucesso na reanimação.

“Aqui está um homem sob vigilância constante na prisão, um político reconhecido mundialmente, o líder da oposição, e de repente morre numa hora devido a uma ‘doença combinada’”, criticou a viúva do opositor de Putin, que não tem dúvidas de que “o relatório é uma mentira e estão a esconder o que aconteceu nesse dia”.

Na altura da morte de Navalny, o Serviço Penitenciário Federal da Rússia argumentou que este tinha perdido a consciência e morrido depois de um passeio na prisão para onde foi transferido no final do ano passado. A sua morte, aos 47 anos, deixou a oposição russa sem o seu líder mais popular.

Quem é Alexei Navalny, o opositor que Putin quer fora do caminho

Em 2020, o governo alemão anunciou que Alexei Navalny, principal opositor político de Vladimir Putin, foi envenenado com Novichok. Sentiu-se mal a 20 de agosto desse ano, num voo para Moscovo, depois de ter bebido um chá num aeroporto na Sibéria. Foi hospitalizado em Omsk, na Sibéria, em coma, mas mais tarde, por pressão da família e da equipa, foi transferido para o hospital Charité, na Alemanha.

Após ter recuperado, o ativista regressou à Rússia e acabou por ser condenado a 19 anos de prisão por criar o Fundo Anticorrupção, fundado em 2011 e proibido pelas autoridades sob acusação de “extremismo”.