O construtor civil José Guilherme morreu na noite desta quinta-feira aos 78 anos, avançam o Jornal Económico e o Correio da Manhã. O empresário ficou conhecido por ter dado 14 milhões de euros ao antigo presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado.

Os alegados milhões que ofereceu a Ricardo Salgado terão servido de agradecimento às portas que o banqueiro lhe abriu para prosperar em Angola. Este foi apenas um entre vários gestos que teve para com diversos empresários e políticos portugueses investigados nos últimos anos. Mas foram também uma peça essencial na revelação do caso BES, após terem sido descobertas transferências por tranches do BES Angola para uma conta de Salgado na Suíça.

O ex-presidente do BES viria a justificar estas transferências, na primeira vez que se deslocou ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal, como “uma liberalidade” do seu “amigo” José Guilherme pelos conselhos que o próprio Ricardo Salgado lhe tinha dado para apostar em investimentos imobiliários em Angola — e não no Leste europeu.

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O misterioso empresário do ramo da construção era conhecido como “Zé Grande”. José da Conceição Guilherme nunca aparecia publicamente. E faltou à comissão de inquérito à queda do BES em 2015, alegando doença, mas também o porque tinha à data residência em Angola. O facto de ter sido visto na mesma altura a cortar o cabelo no barbeiro habitual na Amadora gerou indignação, mas a queixa feita ao Ministério Público pelo Parlamento acabou por não ter consequências.

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As relações próximas do construtor  não se limitavam a banqueiros. E chegou, por exemplo, a oferecer um almoço ao autarca de Oeiras, Isaltino Morais, por altura do seu aniversário – que lhe custou 3400 euros. À frente de diversas empresas, o empresário terá cedido o seu escritório ao ex-ministro José Sócrates para a sede de uma empresa que este teve com Armando Vara.

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O Benfica emitiu, entretanto, uma nota de pesar, falando de José Guilherme como “uma figura decisiva na construção do novo Estádio da Luz e, em vários momentos, determinante para a recuperação financeira do Clube“. “Destacado empresário, José Guilherme sempre afirmou o seu profundo benfiquismo através de uma dedicação ao Clube que ajudou a superar alguns dos momentos mais exigentes da sua gloriosa existência”, afirma o clube que indica que José Guilherme era o sócio número 3.683.

Nas respostas por escrito que acabou por dar à comissão de inquérito do BES em 2015, o construtor queixou-se ter perdido os 25 milhões de euros que tinha investidos em ações e dívida do grupo BES/GES. E assumiu dificuldades no cumprimento do serviço da dívida ao banco que era superior a 100 milhões de euros.

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Já com a dívida classificada nos ativos problemáticos do Novo Banco, José Guilherme processou a instituição quando não conseguiu renegociar um acordo de pagamento. Uma das dificuldades dessa negociação resultava do facto dos empréstimos concedidos no tempo de Ricardo Salgado terem sido  créditos pessoais ao empresário e não às suas empresas, pelo que não existiam garantias reais.

José Guilherme afirmou ainda que “via o BES e o GES como verdadeiros parceiros de negócios e sei que era assim que aquelas entidades também me viam” para a explicar a relação com o ex-presidente do banco.