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Rússia aperta ofensiva no Donbass e tenta conquistar a cidade de Pokrovsk, mas a Ucrânia parece resistir

Em 30 meses de guerra, a Rússia ocupou 80% do Donbass e aproxima-se agora de Pokrovsk, porta de entrada para o resto do país. Kiev desmente alguns relatos de avanços russos e tenta responder em Kursk.

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Desde abril, a Rússia já rompeu três das cinco linhas de defesa de Pokrovsk

AFP via Getty Images

Desde abril, a Rússia já rompeu três das cinco linhas de defesa de Pokrovsk

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Moscovo reivindicou esta segunda-feira o controlo da localidade de Memryk, em Donetsk. Durante o fim de semana, conquistou outras duas: Vodiane e Nevelske. As rápidas conquistas da Rússia no Donbass marcam uma ofensiva com um foco claro: Pokrovsk. Volodymyr Zelensky admitiu que a situação nesta frente é “difícil”, mas que Kiev resiste, enquanto Vladimir Putin afirma que a ofensiva em Kursk foi uma tentativa falhada de distração.

Antes da guerra, Pokrovsk tinha quase 60 mil habitantes e era uma importante cidade mineira. Em agosto, Kiev mandou evacuar a cidade, quando a linha da frente estava a pouco mais de 10 quilómetros da cidade. Ao fim de 30 meses de guerra, a Rússia ocupa um quinto da Ucrânia, a maior parte no Donbass: 80% desta região está sob controlo russo, mas os avanços ao longo do último ano têm sido mais lentos do que no início da ofensiva. Analistas militares e políticos apontam que a conquista de Pokrovsk pode ser um ponto de viragem, tão relevante como Bakhmut ou Avdiivka, nota o Kyiv Independent.

O que torna Pokrovsk num ponto militar estratégico é o seu posicionamento nas rotas de abastecimento. A cidade fica na intersecção da autoestrada T0504 — uma das maiores na região — e da linha de caminho de ferro, funcionando com porta de entrada para os comboios que vêm do resto do país e fazendo a ligação à região vizinha de Dnipro. Caso a Rússia consiga tomar controlo da cidade, pode bloquear este abastecimento, não só de alimentação aos territórios ocupados, mas de todo o equipamento militar ucraniano e ocidental que chega por comboio e garante a resistência ucraniana no Donbass.

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O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem reconhecido quase diariamente, nos seus discursos, que a situação nesta frente de batalha é difícil, mas garante que estão a ser alocadas as forças necessárias para fazer frente aos avanços russos. Na semana passada, o Comandante das Forças Armadas ucranianas, Oleksandr Syrskyi, afirmou, em entrevista à CNN, que “em seis dias, o inimigo não avançou um único metro na direção de Pokrovsk” e que os equipamentos mais modernos de Kiev estavam a ser utilizados nesta frente.

“Estamos a fortalecer as capacidades de longo alcance da Ucrânia”, garante Zelensky

Grupos de análise independente, que utilizam imagens de satélite para acompanhar os movimentos na frente de batalha, confirmam uma estagnação na direção de Pokrovsk. Em vez disso, as tropas russas estão a estender a frente cerca de 30 ou 40 quilómetros em direção a sul, num movimento “de pinça”, que procura bloquear entre dois flancos. No flanco mais ativo, a sul, têm conquistado pequenas localidades e concentrado os combates nas cidades de Kurakhove, Vuhledar, Ukrainsk e Selydove.

“A perda de Pokrovsk como uma fonte de abastecimento e uma importante interseção dos movimentos será uma perda dura”, argumentou Pasi Paroinen, do Black Bird Group, um grupo de análise finlandês, ao Kyiv Independent. “Quanto mais os russos avançam, mais desbloqueiam a linha da frente e mais recursos exigem aos ucranianos para a conter”, explica o analista.

Obrigados a desmultiplicarem-se para proteger a frente sul, os soldados ucranianos acabam por ser surpreendidos pelas tropas russas, mais numerosas. A 12ª Brigada da Guarda Nacional, que reúne ex-combatentes do Batalhão de Azov, relatou na passada sexta-feira que enfrentava cerca de 15 ataques por dia, na área que controlam. Ainda assim, declaram que os relatos russos de ocupação em algumas localidades são falsos e que os combates continuam ativos em toda a frente.

Em Selydove, uma cidade ucraniana 20 quilómetros a sul de Pokrovsk, a 15ª Brigada da Guarda Nacional utiliza armamento da Segunda Guerra Mundial para disparar mais de 200 vezes por dia. “O inimigo ataca em grupos de 15 pessoas, às vezes vão até 60”, relataram à BBC. No inverno passado, as armas podiam estar durante um dia inteiro sem ser disparadas, notam.

A chegada do inverno pode ser uma nova vantagem para Kiev. O diretor do Ukrainian Security and Cooperation Center, Dmytro Zhmaylo, mostra-se esperançoso e argumenta que os russos não chegam a Pokrovsk antes do final do ano. Por um lado, porque o movimento “de pinça” que Moscovo está a utilizar na regiãos está a encontrar muita resistência a norte, em Kramatorsk e Chasiv Yar. Por outro lado, porque o outono vai fazer chuvas que tornam a região demasiado lamacenta para avanços rápidos, uma vantagem natural que Kiev já tentou utilizar antes.

O inverno aproxima-se. Será este um período de guerra de “desgaste”?

A “última esperança” da ofensiva em Kursk

Para além das deslocação de tropas para a região, a resposta mais eficaz de Kiev surgiu em Kursk. Com esta ofensiva, que começou no dia 6 de agosto, a Ucrânia conseguiu conquistar num mês mais territórios do que a Rússia conquistou no Donbass num ano inteiro, nota o New York Times.

À CNN, Syrskyi admitiu que esta foi uma tática consciente, para obrigar ao desvio de tropas russas da frente de leste, forçando-as a desmultiplicarem-se, como Moscovo tem feito com as tropas ucranianas. “A nossa estratégia está a resultar”, argumentou, notando os avanços no terreno, mas também os prisioneiros de guerra, que podem ser utilizados para “o fundo de troca”.

O administrador militar de Pokrovsk, Serhiy Dobryak, classifica a ofensiva em Kursk como a “última esperança” para a cidade não cair nas mãos de Moscovo. Citado pelo New York Times, Dobryak destacou que, desde abril, as tropas russas conseguiram quebrar três das cinco linhas de defesa da cidade. Para sustentar as duas restantes, as tropas precisam da “distração” que Kiev criou em Kursk.

Apesar do otimismo ucraniano sobre Kursk, o Presidente russo, Vladimir Putin, insiste que a “operação militar na Ucrânia” está sob controlo e que a inesperada ofensiva em Kursk não mudou nada. “O objetivo do inimigo era deixar-nos nervosos e preocupados e transferir tropas de um setor para outro, para parar a nossa ofensiva em áreas chave, principalmente no Donbass”, classificou Putin durante o Fórum Económico de Leste em Vladivostok, citado pela Reuters. “Se funcionou? Não”, rematou.

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