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Bloquear jornalistas de fazer contactos e participar em eventos, pressionar negócios para que não trabalhem com o jornal e dizer que os jornalistas utilizam táticas sombrias. São três ameaças à liberdade jornalística que o jornal Ukrainska Pravda acusa o gabinete presidencial de Volodymyr Zelensky e o próprio chefe de Estado de ter levado a cabo ao longo dos anos e contra as quais promete tomar medidas.

O Pravda deixou um alerta os “colegas, parceiros e organizações internacionais às pressões sistemáticas e de longo prazo que o Gabinete do Presidente exerce sobre o gabinete editorial e os jornalistas”, num comunicado publicado esta quarta-feira e assinado pela equipa editorial. O jornal identifica mesmo “uma ameaça ao trabalho editorial”, ao relatar três incidentes concretos em que os jornalistas sentiram esta pressão.

Em primeiro lugar, acusam o gabinete presidencial de bloquear o contacto entre os jornalistas e as suas fontes, nomeadamente nas autoridades, assim como o acesso dos profissionais a eventos. Por outro lado, relatam pressões exercidas sobre negócios, para que estes não invistam no Pravda com a compra de publicidade. A última acusação é feita diretamente a Zelensky, pelo seu tratamento do jornalista Roman Kravets. O incidente reporta ao mês passado, quando o Presidente interrompeu uma questão do jornalista sobre o processo de escolha da sua equipa.

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Já publicou muitas coisas sobre [esta equipa]. Tem cá uma tática. Como se costuma chamar, as masmorras. Compreendo que…”, afirmou à data Zelensky, tendo sido questionado por Kravets sobre que “homens sombrios” se estava a referir. “Precisa de ter luz nos seus olhos para perceber o que lhe estou a dizer. Continue com a sua pergunta sobre a equipa”, retorquiu o Presidente ucraniano.

“Estes e outros sinais não públicos indicam tentativas de influenciar a nossa política editorial. É especialmente escandaloso constatar isto na altura em que a Rússia está a invadir a Ucrânia em grande escala, quando a nossa luta conjunta pela sobrevivência e pelos valores democráticos é extremamente necessária”, pode ler-se ainda no comunicado do Pravda.

Em resposta a estas pressões, o jornal promete cobrir todas as tentativas da presidência de influenciar jornalistas, garante “que vai haver consequências a nível internacional” e que os obstáculos só fortalecem a motivação de expor a corrupção e a ineficiências nos círculos políticos do país. O comunicado conclui com um apelo a “todos aqueles que valorizam a liberdade de expressão e a independência do jornalismo”, para que apoiem a luta do Pravda. Neste sentido, outros jornais ucranianos, como o Kyiv Independent, partilharam os alertas do Ukrainska Pravda.

Esta não é a primeira vez que o círculo de Volodymyr Zelensky é acusado de tentar controlar os media. Em julho deste ano, o Kyiv Independent publicou uma investigação, em que jornalistas e editores ucranianos – tanto independentes como de media estatais – e observadores internacionais revelaram preocupação com o controlo político dos meios de comunicação, argumentando que a lei marcial imposta depois da invasão russa, no início de 2022, tem sido utilizada como justificação para tomar medidas exageradas.

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