Stacey Williams, antiga modelo norte-americana, afirma ter sido vítima de “um jogo distorcido” entre Donald Trump e Jeffrey Epstein nos anos 90. Diz ter sido abusada por Trump no início de 1993, num encontro entre os três na Trump Tower em Nova Iorque: ao cumprimentá-la, o magnata terá também apalpado a modelo. “Pôs as mãos no meu peito, na cintura, nas nádegas”, descreve Williams, acrescentando que ficou paralisada, sem reação e “profundamente confusa” , enquanto os dois homens trocavam olhares e sorrisos.
Williams partilhou o relato dos alegados abusos com várias pessoas ao longo dos últimos 30 anos, mas a sua história ganhou destaque esta segunda-feira, depois de a ter partilhado num evento do grupo “Sobreviventes por Harris”, que apoia a candidatura de Kamala Harris à Casa Branca e de uma entrevista com o jornal The Guardian, publicada na madrugada desta quinta-feira.
Foi Jeffrey Epstein que apresentou a modelo a Donald Trump, durante um jantar de Natal em 1992. Na altura, Williams mantinha uma relação casual com o abusador — cujos crimes só viriam a público anos mais tarde — e relata que a relação entre os dois homens era muito transparente: “Ele e o Donald eram muito, muito amigos e passavam muito tempo juntos”.
Meses depois, enquanto o casal passeava por Nova Iorque, Epstein terá sugerido que parassem na Trump Tower para visitar o amigo. Foi aí que se terão tido lugar os abusos, de acordo com a descrição de Williams. À saída, a modelo recorda que Epstein se mostrou zangado e começou a gritar com ela, perguntando-lhe “por que tinha feito aquilo”. “Senti-me envergonhada e enojada quando nos separámos. Sentia esta sensação horrível de revisitar [os abusos], com as suas mãos sobre sim. E senti este vazio no estômago, que aquilo devia ter sido orquestrado. Senti-me um pedaço de carne”, relata ao jornal britânico.
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Mais tarde nesse ano, Trump enviou-lhe um postal, que a modelo mostrou ao The Guardian, com uma imagem da sua propriedade em Mar-a-Lago, onde se pode ler: “Stacey — A tua casa longe de casa. Com amor, Donald”. A modelo diz ter-se afastado de Epstein pouco depois desses eventos e garante que, enquanto estiveram juntos, nunca tomou conhecimento dos abusos sexuais que levou a cabo durante vários anos e pelos quais foi condenado. Epstein morreu na prisão em 2019.
À data, o ex-Presidente garantiu que não falava com Epstein desde o início dos anos 2000 e que nunca teve conhecimento dos seus esquemas de tráfico sexual. Mas o jornal nota que este incidente levanta novas questões sobre a verdadeira natureza da relação que Trump e Epstein mantiveram durante a década de 1990.
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Williams não é a primeira mulher a acusar o agora candidato presidencial de abuso sexual — no ano passado, Trump foi condenado num outro caso. A ex-modelo afirma que o facto de outras mulheres terem feito as suas acusações a motivou a falar publicamente sobre o abuso que também sofreu e que já tinha partilhado com duas amigas em 2005 e 2006.
A campanha de Donald Trump já negou que o abuso tenha acontecido. “Estas acusações, anunciadas numa chamada da campanha de Harris duas semanas antes das eleições, são inequivocamente falsas. É óbvio que esta história falsa foi inventada pela campanha de Harris”, declarou a assessora de imprensa num comunicado citado pelo Guardian.