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O arcebispo de Cantuária, Justin Welby, demitiu-se da liderança da Igreja Anglicana esta terça-feira, dizendo que renunciou “com tristeza” depois de não ter conseguido garantir que houvesse uma investigação adequada sobre as alegações de abusos sexuais a crianças e jovens por parte de um voluntário em campos de férias cristãos nos anos 70 e 80.

“Tendo solicitado a graciosa permissão de Sua Majestade o Rei, decidi renunciar ao cargo de Arcebispo de Cantuária”, disse Welby num comunicado publicado no site da Igreja de Inglaterra, onde assume que foi informado em 2013 sobre os abusos sexuais, embora ressalve ter sido igualmente informado de que a polícia também tinha sido notificada. “Acreditei erradamente que seria seguida uma resolução apropriada”, assegura.

Welby considera ser “muito claro” que deve “assumir a responsabilidade pessoal e institucional pelo longo e traumatizante período entre 2013 e 2024”. Além disso, revela que os últimos dias renovaram o seu “há muito sentido profundo sentimento de vergonha pelas falhas históricas de salvaguarda da Igreja de Inglaterra”.

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“Espero que esta decisão deixe claro o quão seriamente a Igreja de Inglaterra compreende a necessidade de mudança e o nosso profundo compromisso em criar uma Igreja mais segura. Ao renunciar, faço-o com tristeza por todas as vítimas e sobreviventes de abusos”, acrescenta na nota.

Durante o período de transição do cargo, compromete-se a “prestar assistência às vítimas“. “Delegarei todas as minhas outras responsabilidades de salvaguarda atuais até que o processo de avaliação de riscos necessário esteja concluído”, garante.

O líder religioso estava a sofrer pressão para se demitir após uma investigação ter revelado que não informou a polícia sobre abusos físicos e sexuais cometidos em série por um voluntário em campos de férias cristãos. Um relatório publicado na semana passada, citado pela ABC News, prova que podia tê-lo feito em agosto de 2013, quando foi informado oficialmente do caso de agressões sexuais cometidas por John Smyth, pouco depois de se ter tornado arcebispo de Cantuária.

Líder da Igreja Anglicana pressionado para se demitir. Não denunciou casos de abuso sexual em campos de férias que conheceu em 2013

Na semana passada, Welby reconheceu responsabilidade por não ter garantido que as acusações fossem investigadas com a “energia” com que deveriam ter sido depois de conhecer o historial de abusos. Garantiu, no entanto, que não se iria demitir naquele momento. A pressão aumentou e o desfecho acabou por ser o oposto.

Nos últimos dias, alguns membros do Sínodo Geral, a assembleia nacional da Igreja Anglicana, criaram uma petição a pedir ao Arcebispo de Cantuária que se demitisse, defendendo que tinha “perdido a confiança do seu clero”. A petição reunia mais de 6.800 assinaturas até ao final da tarde desta segunda-feira.

O que acontece agora que o Arcebispo de Cantuária renunciou?

No regulamento dos gabinetes eclesiásticos estabelece-se que o Arcebispo de Cantuária é obrigado a reformar-se aos 70 anos. No caso de Justin Welby, que quis renunciar antes disso (completaria 70 anos em janeiro de 2026) teve de apresentar a sua renúncia ao monarca em exercício, o rei Carlos, que lhes concedeu permissão para renunciar.

Segundo relatos citados pelo The Guardian, o atual Chefe da Igreja Anglicana tinha intenção de cumprir o seu mandato até atingir a idade da reforma, restava-lhe pouco mais de um ano. Chegou ao cargo em 2o13 e durante o tempo em que liderou os anglicanos britânicos presidiu à celebração do matrimónio entre o príncipe Harry e atriz norte-americana Meghan Markle.

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A escolha de um sucessor de Welby ficará a cargo do monarca e primeiro-ministro do Reino Unido, que por sua vez segue o conselho da Comissão de Nomeações da Coroa. A comissão acorda dois nomes para nomeação do primeiro-ministro, que podem ser indicados por ordem de preferência. A comissão é um órgão da Igreja de Inglaterra e não da coroa, pelo que o primeiro-ministro não é obrigado a aceitar o seu conselho quando chegar a hora de anunciar um nome.

O antecessor de Welby, Rowan Williams, demitiu-se do cargo em 2012, aos 61 anos. O seu mandato à frente da Igreja de Inglaterra ficou marcado pelas posições liberais do arcebispo sobre a homossexualidade. Durante a sua liderança, a Igreja de Inglaterra esteve perto de se dividir em relação à ordenação de clérigos gays e de mulheres bispos.