O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu esta terça-feira um cessar-fogo em todos os conflitos armados mundiais, que estão a contribuir para acentuar as várias ameaças que pairam sobre o mundo, e destacou que é necessário reconstruir a confiança no sistema multilateral.
Discursando em Cascais, na abertura do Fórum Global da Aliança das Civilizações da ONU (UNAOC), Guterres deixou vários apelos à paz num mundo em os direitos humanos estão “sob ataque”, em que a crise climática continua a agravar-se e em que “sectarismos de vária ordem proliferam”.
“Em muitos locais do mundo, o tecido social está sob acentuada pressão”, destacou Guterres na assembleia desta iniciativa das Nações Unidas, que foi fundada em 2005 e tem como missão combater a polarização entre sociedades e culturas contemporâneas. Numa cerimónia em que homenageou o antigo Presidente português Jorge Sampaio, que foi o primeiro alto-representante da UNAOC, Guterres assinalou que “as tensões aumentam em várias frentes” por todo o mundo.
“Assistimos a uma onda de xenofobia, de racismo e de intolerância, com as redes sociais a serem exploradas como uma arma poderosa”, destacou, criticando as “estratégias cínicas” que visam “semear divisões e ampliar fraturas nas sociedades”.
“Os conflitos e as guerras alimentam e acentuam cada uma destas ameaças”, disse. “Face a este cenário, precisamos de paz, acima de tudo de paz.”
“Paz na Ucrânia, uma paz justa, em conformidade com a Carta das Nações Unidas, com o Direito Internacional e com as resoluções da Assembleia Geral. Paz em Gaza, com um cessar-fogo imediato, a libertação imediata e incondicional de todos os reféns, a entrega eficaz e sem obstáculos de ajuda humanitária e o início de um processo irreversível rumo à solução dos dois estados. Paz no Líbano, com a cessação das hostilidades imediatamente e a aplicação plena das resoluções do Conselho de Segurança. Paz no Sudão, com todas as partes a silenciarem as armas e a empenharem-se num caminho para uma paz duradoura”, apelou.
“Em todo o lado é imperioso defender a Carta das Nações Unidas e o Direito Internacional, incluindo os princípios de soberania, de integridade territorial e de independência política de todos os estados”, afirmou ainda Guterres.
O secretário-geral da ONU destacou, por outro lado, que “a ausência de paz está a levar a uma erosão da confiança no sistema multilateral, nas sociedades e uns nos outros”, pelo que “restaurar a confiança” é a “tarefa essencial” dos dias de hoje.
No discurso em Cascais, Guterres alertou ainda para os perigos da desinformação e do ódio online, que alimentam o antissemitismo, a islamofobia, os ataques a minorias cristãs e a migrantes. São “velhas táticas com um novo meio”, destacou, apontando também os perigos da inteligência artificial na disseminação de falsidades. Além das comunidades, também as empresas de tecnologia têm de assumir responsabilidades, sublinhou.
Por outro lado, também as instituições mundiais têm de mudar, disse Guterres, vincando que atualmente “as ferramentas multilaterais de paz e segurança, e a arquitetura financeira global, são produtos de uma era passada”. “O Conselho de Segurança está datado e frequentemente paralisado. A arquitetura financeira internacional não reflete a economia de hoje e tornou-se inadequada e injusta.”