Com ambições de integrar os círculos célebres dos serviços secretos do Reino Unido (MI5) e um plano para se tornar num “agente duplo” que fracassou redondamente, Daniel Khalife acabou preso, fugiu da prisão durante quatro dias, voltou a ser preso e foi condenado esta quinta-feira por espionagem ao serviço do Irão.
“Khalife alegou que queria ajudar a segurança do Reino Unido tornando-se num ‘agente duplo’, mas a realidade que descobrimos é que ele simplesmente colocou a segurança do Reino Unido em grande risco com o que estava a fazer”, declarou o chefe do Comando Antiterrorista da Polícia Metropolitana britânica, Dominic Murphy, que reforçou a relevância das ameaças do Irão e o perigo associado à informação divulgada pelo ex-soldado.
O advogado do militar, citado pelo Telegraph, disse que a narrativa à volta de se querer tornar um “agente duplo” era “infeliz” e ”por vezes a roçar o ridículo”, sublinhando que se “se assemelhava mais ao Scooby-Doo do que ao James Bond ou Homeland“, que o britânico revelou ter utilizado como inspiração.
A investigação a Daniel Khalife começou em 2021, depois de o então jovem de 20 anos ter contactado o MI5 de forma anónima duas vezes, admitindo ter comunicado com agentes iranianos e revelando o seu desejo de se tornar numa peça importante na espionagem contra o Irão. No entanto, tudo saiu ao contrário e a sua mensagem para os serviços secretos britânicos acabou por ser o que o denunciou. Conseguiram identificar o soldado que estava destacado no Quartel de Staffordshire e foi detido no início do ano seguinte.
A relação entre Khalife e o Irão começou no Facebook, após o contacto de um intermediário que convenceu o britânico a agir como agente infiltrado no exército do Reino Unido e o levou a prometer comprometer-se com causa “por mais de 25 anos”. Alistou-se aos 16 anos e, pouco tempo depois, já estava a reunir documentos confidenciais para fornecer aos seus contactos iranianos. Desde listas de soldados nas forças especiais a material falsificado, as autoridades acreditam que Khalife terá apagado provas depois de ter feito o envio de informação sensível.
Porém, a polícia conseguiu recuperar vários dispositivos e documentos do quarto do acusado, revelando registos classificados e mais de dois anos de conversas entre Khalife e os agentes iranianos. Um ano mais tarde, quando ia ser formalmente acusado, uma nova busca revelou um explosivo no quarto, que levou a suspeitas adicionais de terrorismo. Cumpridos nove meses de pena na prisão de Wandsworth, enquanto aguardava julgamento, o britânico orquestrou uma fuga do estabelecimento, que o deixou à solta nas ruas dos subúrbios de Londres durante quatro dias.
Quando foi apanhado, Khalife admitiu ter escapado com o objetivo de ser transportado para um novo estabelecimento de alta segurança, onde estaria afastado de “pedófilos e terroristas”. Este ano, o espião foi condenado tanto pela fuga, como por ter “transmitido informações ao Irão, em violação da secção 1 da Lei sobre os Segredos Oficiais de 1911. Foi igualmente considerado culpado de ter obtido ou tentado obter informações suscetíveis de serem úteis a uma pessoa que comete ou prepara um ato de terrorismo, em violação da secção 58A da Lei do Terrorismo de 2000”, informa o relatório da Polícia Metropolitana britânica.
A sua sentença será conhecida no dia 12 de dezembro, mas a juíza Bobbie Cheema-Grubb adiantou que Khalife pode esperar uma “longa pena de prisão”.