Quatro sindicatos que representam os Bombeiros Sapadores vão voltar a reunir-se, esta quinta-feira, com o Governo, mais de um mês depois do encontro que terminou abruptamente por motivos de segurança, com protestos à porta da sede do Executivo e largas dezenas de bombeiros na rua. O Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores, que não foi convocado para esta reunião, fala numa “provocação”.
No Campus XXI, poderão estar concentrados elementos afetos aos Bombeiros Sapadores. Mas, para já, nada faz antever que se repitam as imagens de há um mês, com grupos destes operacionais a furar o cordão de segurança montado pela PSP e a correr em direção à sede do Executivo, a rebentar petardos e a deflagrar bombas de fumo junto às instalações onde decorria o encontro. O que não significa que a contestação não possa voltar a subir de tom, avisam fontes dos Sapadores.
“À partida o Governo vai ter bom senso” nas negociações e aproximar-se das reivindicações dos bombeiros no que diz respeito à carreira profissional, diz fonte dos Sapadores que tem participado nas manifestações e que pede para não ser identificado. “Mas acredito que, se o Governo não tiver bom senso e apresentar propostas ridículas, humilhantes e degradantes, as manifestações podem acontecer e intensificar-se”, acrescenta ao Observador.
A reunião desta quinta-feira acontece no Campus XXI, com a secretaria de Estado do Ordenamento do Território e sem a presença do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS). Ao Observador, o vice-presidente Leonel Mateus diz que não compreender porque foram excluídos deste primeiro encontro com outros quatro sindicatos – tendo sigo agendada outra negociação só com este sindicato para 16 de janeiro.
“Vamos questionar o Governo sobre porque é que não está a cumprir o protocolo negocial. É logo a primeira pergunta que vamos fazer na reunião. Vamos aguardar para ver qual a justificação para não nos receberem”, defendeu o sindicalista.
O vice-presidente do SNBS considera “curiosa” a data do encontro definida pelo ministério, uma vez que o sindicato tinha agendado, para o dia anterior, uma manifestação que, entretanto, “foi suspensa para demonstração de boa fé”. Leonel Mateus vê esta coincidência como uma “tentativa de provocação por parte do Governo”, que, acrescenta, “parece ter problemas com o sindicato mais representativo” dos Sapadores.
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“Protestos não são velórios. Sem cor e sem barulho não é protesto”
Apesar de não estarem previstas, para já, manifestações com igual expressão à de dezembro, que levou ao fim da negociação entre Governo e sindicatos, os sapadores contactados pelo Observador admitem que o cenário possa mudar, casos as expectativas dos operacionais não sejam correspondidas.
“Fala-se nos grupos sobre a presença [no Campus XXI, sede do Executivo], com muita gente a apelar à participação, mas nada parecido ao de dia 3”, confessa um sapador, que prefere manter o anonimato. Ricardo Ribeiro, bombeiro sapador de Lisboa, completa: “O Governo não está de boa fé e está a criar condições para que os bombeiros se manifestem de maneira mais visível.”
Já o vice-presidente do SNBS defende que os protestos do último mês não foram “violentos”, mas “mais expressivos” e que, ao afastar-se das reivindicações dos sapadores, o Governo está a “provocar ainda mais” os operacionais.
“Um protesto não é um velório. Sem cor e sem barulho não é um protesto. Cabe ao governo chegar-se à frente”, defende Leonel Mateus, que recusa associar os protestos verificados durante a última reunião ao sindicato que dirige.
Contactada pelo Observador, fonte da PSP refere que não foram informados de “nenhuma manifestação” para esta quinta-feira, pelo que irão manter “o policiamento normal no Campus XXI”, apesar de estarem, “como sempre, prevenidos e prontos a reagir”.
O que esperam os sapadores das reuniões com o Governo?
À conversa com o Observador, as expectativas dos sapadores para as próximas reuniões dividem-se. Um dos bombeiros diz que espera “boa fé” do Governo e lembrou que o Executivo apresentou medidas que vão ao encontro das reivindicações dos sapadores.
Por outro lado, Ricardo Ribeiro diz que o Executivo apresentou, na última reunião, “três medidas ofensivas, cada uma pior que a outra”, sendo que o que está em cima da mesa é retirar essas propostas apresentadas em dezembro.
O vice-presidente do SNBS partilha da opinião do sapador lisboeta e entende que o Governo está a remediar os erros cometidos. “O MAI percebeu que a última proposta [apresentada na reunião de dezembro] era altamente ofensiva”, atira.
Sindicato acusa Governo de usar protestos para ganhar tempo
No início de dezembro, o Governo suspendeu os encontros com os sapadores quando os protestos à porta do Campus XXI se intensificaram. Porém, Leonel Mateus, que esteve presente no encontro, defende que “na mesa de negociações ninguém ouviu barulho”.
“Foi alguém de fora [da sala onde ocorriam as negociações] que veio avisar [dos tumultos]. Estava a decorrer normalmente. Não se percebeu nada”, defende, antes de acusar o Governo de tentar ganhar tempo ao aproveitar-se dos protestos.
“As negociações foram interrompidas por meia hora. Comprometi-me a falar com os sapadores para acalmar os ânimos, isso ficou acordado. Desci e falei com os sapadores, retomamos e tivemos mais de uma hora à espera. Depois, o Governo decidiu que não havia segurança”, relatou.
Nos protestos de dezembro foram usadas tochas e petardos, o que levou o primeiro-ministro, Luís Montenegro, a apelar à responsabilidade dos sapadores, avisando ainda que o Governo não vai decidir “na base da coação”.