Não foram apenas os cinco clãs da família Espírito Santo, que tinham representação no Conselho Superior do Grupo Espírito Santo (GES), que receberam cinco dos cerca de 30 milhões que foram pagos à Escom por serviços de consultoria no negócio dos submarinos. Houve uma sexta pessoa que também ganhou uma fatia dessa comissão, escreve esta quinta-feira o jornal i.

Durante a reunião do Conselho Superior realizada a 7 de novembro de 2013, Ricardo Salgado, então presidente da comissão executiva do Banco Espírito Santo, fez uma confissão relacionada com o negócio da compra dos submarinos. “Deram-nos cinco a nós e eles [os administradores da Escom] guardaram 15”, respondeu, quando questionado por um dos membros sobre como tinha sido “esse assunto do recebimento da comissão da Escom”. Mas esta não foi a única revelação da reunião.

De acordo com o i, antes que os restantes membros do Conselho Superior — António Ricciardi, Manuel Fernando Espírito Santo (filho de Maria do Carmo Moniz Galvão), José Manuel Espírito Santo Silva e Mário Mosqueira do Amaral — tivessem oportunidade de questionar Salgado sobre o porquê de três administradores da Escom receberem 15 milhões de euros, Salgado antecipou-se:

“E vocês têm todo o direito de perguntar: mas como é que aqueles três tipos [Helder Bataglia, presidente da Escom, Pedro Ferreira Neto e Luís Horta e Costa] receberam 15 milhões? A informação que temos é que há uma parte que não é para eles. Não sei se é ou não é. Como hoje em dia só vejo aldrabões à nossa volta… Os tipos garantem que há uma parte que teve de ser entregue a alguém em determinado dia“.

As palavras de Ricardo Salgado reforçam a tese do Ministério Público: o montante pago à Escom, empresa do GES, é “desproporcional” ao trabalho prestado e a empresa terá servido de intermediária de eventuais pagamentos ilícitos. De acordo com a investigação do i, o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) desconfia que os destinatários dos cerca de 30 milhões de euros terão sido “titulares de cargos políticos” que moveram influências para que o consórcio alemão German Submarine Consortium ganhasse o concurso dos submarinos.

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Ao que o i apurou, durante a reunião — onde estavam presentes os nove membros com assento no Conselho, bem como José Castella, controlador financeiro do GES — Ricardo Salgado contou que Luís Horta e Costa, um dos três administradores da Escom, lhe terá explicado que os cerca de 30 milhões de euros pagos pelos alemães ficaram logo reduzidos “a 20 milhões”, com “encargos com advogados” e “pagamentos por fora”. Não obstante, Luís Horta e Costa ter-lhe-á “dado a garantia” de que a empresa do GES não teria “pago nada a ministros”.

A revelação dos montantes do negócio, feita na mesma reunião, não agradou a Ricardo Abecassis Espírito Santo, o membro luso-brasileiro da família, que terá perguntado a Salgado se achava legítimo serem os administradores da empresa “a decidir quanto é que eles vão ganhar, e não os acionistas”. Ricardo Salgado aconselhou-o a não remexer mais no assunto — “Vamos acabar por saber quem recebeu parte disto e quem é que deixou de receber”. O então presidente da comissão executiva do BES terá acrescentado que logo a seguir à operação dos submarinos terão ficado “todos com um ataque de arrependimento, ao ponto de em 2004” decidirem “parar qualquer operação” relacionada com o equipamento militar.

Ricardo Salgado, de acordo com as informações do i, acabaria por não desvendar a identidade do sexto destinatário do dinheiro. Nem os administradores da Escom nem o próprio Salgado responderam aos pedidos de esclarecimento enviados pelo jornal. A Procuradoria-Geral da República limitou-se a dizer que o inquérito está em segredo de justiça.

O negócio da compra dos dois submarinos pelo Estado português à Man Ferrostaal, em 2004, está a ser investigado há mais de oito anos. Até à data, foram constituídos arguidos no processo os três gestores da Escom, por suspeitas de corrupção ativa, tráfico de influências e branqueamento de capitais. Ainda não se conseguiu descobrir o rasto do dinheiro, apesar de existirem suspeitas de que um total de 1.1 milhões de euros, provenientes da comissão paga à Escom, tenha sido depositado nas contas do CDS-PP, entre 27 e 30 de dezembro de 2004.