A embaixada do Iraque em Lisboa emitiu um comunicado no passado sábado onde refere que os filhos do diplomata também foram alvo de agressões e de insultos por parte de outros jovens de Ponte de Sor. No comunicado, que foi disponibilizado apenas em árabe, a embaixada iraquiana refere que os dois filhos do embaixador foram insultados e “severamente agredidos” por “serem árabes e muçulmanos”.

De acordo com o comunicado, do qual o Observador obteve uma tradução, a embaixada refere que os dois filhos do embaixador foram insultados e agredidos numa primeira ocasião por seis jovens, aos quais se referem como “um bando de criminosos”. Durante essa altercação, os dois jovens iraquianos terão perdido as chaves de casa. Só quando chegaram ao local onde estavam alojados, em Ponte de Sor, é que se aperceberam do facto, tendo voltado atrás ao local do incidente para tentarem encontrar as chaves perdidas.

Terá sido nessa ocasião que tiveram um segundo encontro com o grupo de seis jovens, o que motivou um novo confronto. Segundo o comunicado da embaixada do Iraque, foi nessa altura que um dos filhos do diplomata iraquiano respondeu e esmurrou um dos alegados agressores. “Os filhos do embaixador protegeram-se”, diz o documento.

O comunicado refere ainda que os dois jovens iraquianos apresentaram queixa à polícia local, acrescentando ainda que esta sabe quem são os seis alegados agressores dos filhos do embaixador e que lhes foi prometido que estes viriam a ser detidos. Segundo o mesmo documento, o embaixador já contactou um advogado para avançar com um processo num tribunal português.

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A embaixada diz ainda que esta não foi a primeira ocasião em que o filho do diplomata iraquiano, que estuda na Escola de Aviação G Air, de Ponte de Sor, foi agredido. Ainda assim, o jovem terá escolhido continuar a viver naquela localidade do Alto Alentejo porque queria terminar o curso. “Já o tinham agredido antes, mas ele continuou a viver lá porque queria terminar os seus estudos, uma vez que era um dos melhores estudantes da escola”, lê-se.

A embaixada refere ainda que “aquilo que foi publicado nos jornais em Portugal é completamente diferente do que se passou e não é de todo verdadeiro”.

Marcelo “chocado”, ex-embaixador iraquiano “envergonhado”

O caso saltou para as manchetes em Portugal depois de um jovem de 15 anos ter sido transportado de helicóptero de Ponte de Sor para o Hospital Santa Maria, em Lisboa, com um traumatismo crânio-encefálico, alegadamente causado por agressões cometidas pelos filhos do embaixador iraquiano. O jovem continua em coma induzido, após intervenção cirúrgica à cabeça e ao rosto. Os dois jovens iraquianos foram detidos horas depois do espancamento, mas foram mais tarde libertados por terem imunidade diplomática e encontram-se em Portugal.

Nesta segunda-feira, a SIC revelou o excerto de uma entrevista que realizou aos dois filhos do embaixador do Iraque e que a estação de televisão irá transmitir na integra durante o Jornal da Noite de terça-feira, 23 de agosto. Afirmaram que a situação em que estão envolvidos resultou de uma “receita perigosa”, que terá envolvido a ingestão de álcool e que acontece “todos os dias” em Portugal.

O incidente levou a que fosse realizada uma investigação por parte da Procuradoria-Geral da República e outra da responsabilidade do governo iraquiano. Na sexta-feira, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse estar “preocupado e chocado” com a situação.

Esta segunda-feira, em declarações à Rádio Renascença, o ex-embaixador do Iraque em Portugal Hussain Sinjari disse estar “horrorizado” e “envergonhado” com o caso de Ponte de Sor.

Embaixador do Iraque recebido por chefe do Protocolo de Estado

De acordo com a Lusa, o embaixador do Iraque foi recebido esta segunda-feira pelo embaixador chefe do Protocolo de Estado, António Almeida Lima, que, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, tem as competências relativas às imunidades diplomáticas.

A informação sobre o encontro de Saad Mohammed M. Ali com António Almeida Ribeiro foi prestada à agência Lusa pela assessoria de imprensa do gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

Também em resposta enviada à Lusa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros adianta que não recebeu qualquer pedido por parte das autoridades judiciais relacionado com os acontecimentos que envolveram os filhos do embaixador do Iraque em Ponte de Sor.