“Se eu quisesse um emprego fácil, teria ficado no Porto com uma confortável cadeira azul, o troféu da Liga dos Campeões, Deus, e depois de Deus, eu.”
Confiança nunca faltou a José Mourinho e a aposta na Roma numa ligação que ficou acordada e fechada em duas semanas é um exemplo paradigmático. Depois da saída do Chelsea, teve uma primeira época com três títulos no Manchester United mas andava em branco desde 2017 depois de 25 títulos desde o Campeonato pelo FC Porto em 2003. Nem em Old Trafford, muito menos no Tottenham. No entanto, a forma como saiu dos londrinos, apenas a uma semana de discutir mais um troféu na Taça da Liga inglesa, funcionou quase como gasolina para potenciar a vontade de mostrar que não estava “acabado”. Mesmo não tendo ainda as armas para lutar pelos lugares cimeiros da Serie A, ganhou a Liga Conferência na estreia da nova prova da UEFA. Com isso, tornou-se o único com todos os troféus europeus. À beira dos 60 anos que cumpre esta quinta-feira, teve abordagens e convites para comandar as seleções de Portugal, Brasil ou EUA. E o mais fácil até poderia ser aceitar uma dessas possibilidades. Decidiu ficar em Roma. E, com isso, desafiar o impossível.
Esse tem sido um dos pontos marcantes ao longo de mais de duas décadas como treinador principal, depois de ter sido adjunto de nomes como Bobby Robson ou Louis van Gaal. Se fosse fácil, não era para ele. Se fosse confortável, não se adequava à sua maneira de ser. Se fosse previsível, não encaixava do que quer para a sua carreira. Do FC Porto ao Chelsea, do Inter ao Real Madrid e até na Roma, Mourinho não teve um trabalho, um contrato ou uma função mas sim um desafio até onde consegue chegar. Na larga maioria, superou-se. Foi assim que ajudou a construir uma nova vaga de treinadores com ideias e métodos à frente do tempo. É por isso que continua ainda atrás do tempo que lhe permita ser o número 1. Os tempos mudaram, os objetivos são outros, a vontade de ganhar permanece intacta. Exigente, metódico, arrogante e provocador são apenas alguns dos recursos utilizados para defini-lo. O português foi isso e muito mais. E será assim que o legado no futebol irá perdurar entre a multiplicação de histórias que ainda hoje o tornam Special One.
2000. A convulsão no Benfica, o acordo verbal com o Sporting e os oito minutos de Sabry
Depois de passagens pelas camadas jovens do V. Setúbal, pela equipa técnica do Estrela da Amadora e pelo departamento de scouting e observação de adversários da Ovarense, José Mourinho teve a primeira grande oportunidade quando foi convidado a juntar-se a Bobby Robson e Manuel Fernandes no Sporting em 1992. Era um dos técnicos ingleses mais prestigiados, que após oito anos na seleção britânica passara pelos neerlandeses do PSV, e tornou-se uma fonte de conhecimento e inspiração em funções variadas que foram superando amplamente aquela mera apresentação de “tradutor” com que começou em Alvalade. Após a saída do clube leonino no seguimento de uma eliminação na Taça UEFA com o Casino Salzburgo, seguiu o Sir para o FC Porto e para o Barcelona. Na Catalunha, era quase um fiel da balança nas ideias do inglês com uma especial atenção ao trabalho defensivo da equipa. Com a saída de Robson acabou por permanecer, neste caso com Louis van Gaal, que lhe foi concedendo uma maior autonomia de trabalho até com a equipa B.
Em setembro de 2000, Mourinho teve a proposta que já aguardava há algum tempo e aceitou rumar à Luz para comandar um Benfica em convulsão na presidência de João Vale e Azevedo. Jupp Heynckes não resistiu a um mau início de temporada e as coisas não foram fáceis para o português no início, logo com uma derrota a abrir no Bessa, a eliminação na ronda inicial da Taça UEFA com o Halmstads e um empate caseiro com o Sp. Braga. Depois, mesmo com um plantel limitado, conseguiu criar uma base mais ao seu jeito, subiu o rendimento dos encarnados e conseguiu uma série de quatro vitórias seguidas culminadas com um 3-0 na Luz frente ao Sporting. Tudo poderia ter sido diferente nesse início de dezembro: Manuel Vilarinho ganhou as eleições e fez mesmo regressar Toni para treinador, Luís Duque conseguiu um acordo verbal depois do dérbi mas o mesmo não foi bem aceite em Alvalade. Entre Benfica e Sporting, Mourinho ficou sem nada.
Percurso: 11 jogos, seis vitórias, três empates e duas derrotas (17-9 em golos)
Títulos: –
2001-2002. O milagre no Lis, entre as “bocas” de Manuel José e aquele dia em São Miguel
A entrada de José Mourinho na U. Leiria não foi propriamente pacífica e tinha também um outro “peso” pelo rendimento da equipa na temporada anterior. Recuemos no tempo: confirmando as campanhas crescentes desde o regresso à Primeira Liga, a equipa leiriense alcançou a melhor classificação de sempre em 2000/01 com uma vitória na última jornada frente ao Sp. Braga (5-3) que permitiu ultrapassar o Benfica e garantir o inédito quinto lugar na classificação. Questão? Sem saber o desfecho da temporada, João Bartolomeu, que era presidente, “fechou” a contratação de Mourinho em abril. Manuel José, o obreiro da melhor caminhada, revoltou-se por nunca ter sido contactado pelo sucessor, o sucessor não deu grande importância a essa mesma revolta. Começava outro ciclo na carreira do jovem técnico até novo salto para um “grande”.
???? – José Mourinho as manager of Portuguese club União de Leiria during the 2001-2002 season.
During the first half of the season Mourinho impressed and was appointed by FC Porto on January 23, 2002. The rest is history. ????#Throwback pic.twitter.com/xJ3sWFawS6
— Watch The Mou ???????????? (@watchtheMou) August 16, 2021
A começar pela primeira vez uma época de início como treinador principal, Mourinho herdou uma boa base e tentou fazer prevalecer esse mesmo conjunto perante a falta de reforços de ligas profissionais e apenas as apostas em portugueses no estrangeiro como Silas ou brasileiros de clubes mais modestos como Maciel ou Jacques. Não teve um início fácil, com apenas duas vitórias nos primeiros nove jogos oficiais até ao final de outubro, conseguiu consolidar-se com uma série de oito encontros sem perder (seis vitórias e dois empates) entre o final de novembro e o final de janeiro. Aí, quando estava no aeroporto de São Miguel depois de um 1-1 com o Santa Clara, ouviu da boca dos seus jogadores que iria para o FC Porto na sequência de nova derrota dos dragões no Bessa que deixava Octávio Machado em situação delicada. Recusou a hipótese que até levou na brincadeira, acabou mesmo por ir quando estava no top 4. “Entendia todos os lados do jogo, controlava as emoções e subiu o nível dos jogadores e do treino em Portugal”, resumiu o ex-médio Silas.
Biografia de Mourinho já foi publicada: “Benfica não estava preparado para mim”
Percurso: 23 jogos, 12 vitórias, oito empates e três derrotas (34-20 em golos)
Títulos: –
2002-2004. Do jantar na Mealhada ao Porto, da corrida em Old Trafford a Gelsenkirchen
O FC Porto atravessava o período mais complicado em termos desportivos desde que Pinto da Costa chegou à liderança do clube, com Fernando Santos e Octávio Machado a não conseguirem dar continuidade ao penta alcançado em 1999. O líder azul e branco, que entretanto foi procurando saber mais sobre José Mourinho quando estava em Leiria, não teve dúvidas sobre a necessidade de mudar de treinador e de paradigma. José Mourinho também não teve dúvidas sobre a vontade de mostrar-se como treinador e virar esse paradigma. O acordo, feito num jantar noite dentro na Mealhada com a presença de João Bartolomeu, teve tanto de fácil como de imediato, sendo que pelo meio o Benfica tentou um regresso à Luz do técnico (sem sucesso). Apesar de alguns deslizes que levaram a “reações de choque” como a derrota caseira com o Beira-Mar no célebre jogo da bota de Deco a Paulo Paraty ou o 3-0 no Restelo, os dragões seguraram o terceiro lugar.
As seis vitórias consecutivas a fechar a época, com um total de 19 golos marcados, foram quase um presságio para o que se seguiria nas duas temporadas seguintes, por sinal as melhores de sempre do FC Porto: com a base assente em nomes como Vítor Baía, Jorge Costa, Capucho e Costinha, com a aposta em jovens que já estavam no plantel como Ricardo Carvalho, Deco e Hélder Postiga e com as contratações de Maniche, Nuno Valente, Derlei e Paulo Ferreira, Mourinho criou um grupo que se agigantou perante as realidades que foi encontrando inclusive num contexto internacional. Da metodologia de treino à “fome de vencer”, os azuis e brancos tornaram-se uma autêntica máquina que só não ganhou uma Taça em 2004, incluindo triunfos na Taça UEFA e na Liga dos Campeões. Sobraram episódios que aumentaram inesquecíveis (como a reação após a derrota com o Panathinaikos em 2003, a expulsão com a Lazio em 2003 ou a corrida em Old Trafford em 2004), a saída foi conturbada com ameaças à mistura mas foi aí que começou o fenómeno Mourinho.
Maniche. “Podia estar parado completamente e viver do que ganhei no futebol”
Percurso: 127 jogos, 91 vitórias, 21 empates e 15 derrotas (254-96 em golos)
Títulos (6): Uma Champions, uma Taça UEFA, dois Campeonatos, uma Taça de Portugal e uma Supertaça
2004-2007. O nascimento do Special One e a marca que deixou no futebol inglês
A saída para o Chelsea, negociada no iate de Roman Abramovich, era uma aposta de risco a todos os níveis para José Mourinho. No plano salarial chegaria a patamares impensáveis em Portugal e teria ainda outros meios para reforçar o plantel que nunca conhecera até aí, mas a parte desportiva fazia deste o maior desafio da carreira até então perante um Manchester United de Alex Ferguson que era um crónico candidato, um Arsenal que estava na melhor fase do século e um Liverpool a reerguer-se no plano interno e europeu. Onde poderia estar uma crise, o português viu uma oportunidade. E foi assim que, abdicando de contratar grandes estrelas mas assegurando jogadores como Ricardo Carvalho, Drogba, Essien ou Paulo Ferreira, conseguiu o primeiro Campeonato do clube em 50 anos (que viria a revalidar na época seguinte) e uma presença nas meias-finais da Champions onde só caiu frente ao Liverpool com um golo que levantou muita polémica.
Apesar de nunca ter chegado à final da Liga dos Campeões, naquele que foi o único objetivo falhado dessa aposta do Chelsea, Mourinho deixava a sua marca no futebol internacional. Fosse porque mandava calar os adeptos do Liverpool, fosse pela história de como conseguiu sair do balneário num jogo frente ao Bayern em que deveria estar castigado dentro do cesto da roupa, fosse pela maneira como atirou para os adeptos as suas medalhas de campeão (e até o casaco), o treinador passou a ser notícia só por estar. Por ser. Por existir. No entanto, e num plano interno, a relação com Roman Abramovich, Frank Arnesen (diretor para o futebol) e mais tarde Avram Grant (nomeada diretor) foi-se deteriorando com o tempo e nem recordes como os 64 jogos consecutivos sem derrotas em casa chegaram para segurar o treinador num início de temporada em 2007/08 com piores resultados. A rescisão de Mourinho e dos adjuntos custou 26,5 milhões de euros.
Percurso: 185 jogos, 124 vitórias, 40 empates e 21 derrotas (330-119 em golos)
Títulos (6): Dois Campeonatos, uma Taça de Inglaterra, duas Taças de Inglaterra e uma Supertaça
2008-2010. Das vitórias que valiam de pouco à derrota que valeu por tudo no Inter
O próximo desafio passava por Itália. Depois de alguns meses sem trabalho (e onde aproveitou para estudar italiano), José Mourinho foi apresentado como sucessor de Roberto Mancini no Inter. Mais uma vez, não era um desafio fácil. E o primeiro ano nem augurava propriamente nada de bom: com um mercado modesto que trouxe Mancini, Muntari e Quaresma, a conquista do Campeonato e da Supertaça acabaram por ser pouco no contexto dos nerazzurri, que após a descida de divisão da Juventus tinham conseguido consolidar-se de forma hegemónica no plano nacional e procuravam sobretudo a glória europeia (eliminação nos quartos com o Manchester United depois de uma fase de grupos irregular). Nesse verão de 2009, o próprio técnico abriu a porta à possibilidade de deixar Milão e ser o sucessor de Ferguson caso viesse a confirmar-se mesmo a sua retirada (que foi adiada). Ficou no clube. E conseguiu outra das melhores épocas de sempre.
Mesmo ficando sem Zlatan Ibrahimovic, trocado por Samuel Eto’o mais dinheiro, o português apostou em Diego Milito, Sneijder e Thiago Motta para reforçar a base de uma equipa que já tinha Júlio César, Zanetti, Maicon, Materazzi, Lúcio, Walter Samuel ou Cambiasso, entre outros. Se no plano interno ganhou Serie A e Taça, numa “dobradinha” que consolidava o Inter no topo do futebol transalpino, na Liga dos Campeões fez o que poucos acreditavam e ganhou a final realizada em Madrid frente ao Bayern. No entanto, o jogo mais icónico foi mesmo a derrota pela margem mínima em Camp Nou frente ao Barcelona de Messi, Xavi, Iniesta e companhia mesmo jogando reduzido a dez desde os 28′ por expulsão de Thiago Motta. Foi um exercício de resistência, de perseverança e de capacidade de sacrifício que terminou com Mourinho a correr de dedo no ar até à bancada onde estavam os adeptos nerazzurri. Em paralelo com isso, foi o abrir final de porta à possibilidade de treinar em Espanha e no Real Madrid. Uns dias depois, os clubes chegaram a acordo para a mudança e sobraram as lágrimas dos jogadores do Inter perante a despedida do seu treinador.
José Mourinho na Europa. 15 anos, 4 títulos. É bom? Não, é Special para One
Percurso: 108 jogos, 67 vitórias, 26 empates e 15 derrotas (185-94 em golos)
Títulos (5): Uma Champions, dois Campeonatos, uma Taça e uma Supertaça
2010-2013. O choque com o Barça antes de uma viagem entre o quase céu e o inferno
Mais um país, mais um desafio, mais uma missão com grau extra de dificuldade. José Mourinho sempre teve no seu discurso a ideia de que um treinador ambicioso teria de passar um dia pelo Real Madrid mas aquilo que encontrou em 2010 era tudo menos um contexto favorável a deixar marca, fosse pela dança de técnicos no clube (11 em sete anos), fosse pelo apogeu do Barcelona versão Pep Guardiola. E o primeiro clássico foi exemplo disso mesmo para uma equipa reforçada com Di María, Ricardo Carvalho, Özil e Khedira: derrota em Camp Nou por 5-0 e críticas internas até de dirigentes pela incapacidade de reação ao que se estava a passar em campo. Essa humilhação que o português recusaria apelidar de humilhação seria “vingada” depois na final da Taça do Rei com golo de Ronaldo mas o reencontro nas meias da Champions foi favorável de novo aos catalães com uma polémica expulsão de Pepe no início da segunda parte que influenciou o jogo.
Ainda assim, estava apresentado o cartão de visita de Mourinho em Espanha: iria chocar de frente com o rival Barça e puxar pelos galões de Galáctico com que tinha sido apresentado no Santiago Bernabéu. Em 2011/12, mais do que nunca, alcançou essa versão. E por pouco não teve aquela época com que sonhava em Madrid: além de ter sido campeão espanhol com recorde de pontos, de vitórias, de vitórias fora, de golos e de diferença de golos, chegou de novo às meias-finais da Liga dos Campeões mas acabou por cair em casa nas grandes penalidades frente ao Bayern (com a particularidade de ter ido ao balneário contrário dar os parabéns ao adversário). O sonho europeu caiu aí e caiu de vez perante uma terceira época que tornou a saída como algo inevitável: apesar de ter iniciado a temporada a renovar contrato até 2016 e a ganhar a Supertaça ao Barcelona, não conquistou mais títulos, teve problemas internos com jogadores de peso como Casillas, Sergio Ramos ou Ronaldo e desgastou em demasia a imagem na tentativa de desgastar também o seu maior adversário Barça. “As pessoas aqui em Espanha odeiam-me”, atirou numa conferência.
Percurso: 178 jogos, 128 vitórias, 28 empates e 22 derrotas (475-168 em golos)
Títulos (3): Um Campeonato, uma Taça e uma Supertaça
2013-2015. O regresso do Happy One que chegou a ser Special mas saiu após renovar
A passagem pelo Real Madrid pode ter sido a concretização de um sonho pessoal em termos de carreira mas, sobretudo no terceiro e último ano em Espanha, Mourinho foi sentindo que era quase um corpo estranho na Liga e até dentro do próprio clube. Por isso, quando recebeu o convite de Roman Abramovich para voltar a Inglaterra e ao Chelsea, não pensou duas vezes. E até se apresentou de uma forma humilde mas que refletia ao que ia. “Tive duas grandes paixões ao longo da minha carreira, o Chelsea e o Inter, mas o Chelsea foi mais importante na carreira. Prometo o mesmo de 2004 mas com uma diferença: sou um de vós. Agora não sou o Special One, quero ser só o Happy One porque estou muito feliz por regressar”, destacou no regresso.
A primeira temporada acabou por não trazer qualquer título, entre uma derrota na Supertaça Europeia nas grandes penalidades frente ao Inter, a eliminação diante do Atl. Madrid nas meias-finais da Champions e o terceiro lugar na Premier League a quatro pontos do campeão Manchester City. Na época seguinte, vitória no Campeonato, triunfo na Taça de Inglaterra e afastamento logo nos oitavos da Liga dos Campeões com o PSG. O cenário parecia estar a melhorar apesar de nova frustração europeia e foi isso que levou à renovação de contrato no verão de 2015 até 2019. Poucos meses depois, nova saída com nove derrotas nas 16 partidas iniciais do Campeonato e nova rescisão milionária por mútuo acordo, agora de 13,5 milhões de euros.
Percurso: 136 jogos, 80 vitórias, 29 empates e 27 derrotas (245-121 em golos)
Títulos (2): Um Campeonato e uma Taça da Liga
2016-2018. Três títulos num ano, um 2.º lugar como título e o episódio em Stamford Bridge
Quando saiu do Chelsea na primeira passagem, poucos acreditavam que seria possível Mourinho treinar um outro clube inglês que não os londrinos; quando terminou a primeira época no Inter e abriu a porta a uma possível sucessão de Alex Ferguson no Manchester United, muitos começaram a acreditar que era possível ver o técnico noutro conjunto da Premier League; quando regressou ao Chelsea e saiu, quase ninguém podia antever a hipótese de ficar em Inglaterra. Engano: ficou mesmo. E logo para um clube rival nos objetivos, que parecia estar quase prometido há alguns anos. Em Old Trafford, mesmo tendo uma equipa que estava a anos luz dos principais candidatos ao título perante os erros na sucessão de Alex Ferguson, foi chegar, ver e vencer em tudo menos na Premier League ganhando Liga Europa, Taça da Liga e Supertaça em 2016/17.
????"I won three trophies at Manchester United and that was seen as a disaster!"https://t.co/QOHZUGCcED
— Mirror Football (@MirrorFootball) January 25, 2023
Na temporada seguinte de 2017/18, reforçado com nomes como Lukaku, Matic ou Lindelöf, a eliminação nos oitavos da Champions frente ao Sevilha acabou por ser um desaire inesperado mas o crescimento da equipa no Campeonato dava sinais da tal evolução pretendida, com um segundo lugar a prometer mais na terceira época. Não foi isso que aconteceu: com duas derrotas nos três jogos iniciais do Campeonato como não acontecia há mais de 25 anos, a pressão em torno do cargo aumentou. “Esquecem-se que sou treinador de um dos maiores clubes do mundo mas que também sou um dos maiores treinadores do mundo”, atirou em conferência. Não havia mesmo volta a dar e, em dezembro de 2018, Mourinho viu o contrato rescindido, sendo que antes teve um momento de tensão com um adjunto do Chelsea em Stamford Bridge que fez com que pela primeira vez fosse assobiado naquela que foi a sua “casa” em dois períodos distintos.
Percurso: 144 jogos, 84 vitórias, 32 empates e 28 derrotas (244-121 em golos)
Títulos (3): Uma Liga Europa, uma Taça da Liga e uma Supertaça
2019-2021. A 300.ª vitória na Premier, a goleada em Old Trafford e a saída antes da final
O final da experiência no Manchester United levou José Mourinho a ter um período quase sabático até ao final de 2017/18, sendo que foi também nessa altura que voltou a ver a porta do Estádio da Luz a abrir-se por Luís Filipe Vieira. Não aceitou, considerando que era cedo ainda para voltar a trabalhar em Portugal. Todavia, o “bichinho” falou mais alto e o convite do Tottenham após o despedimento de Mauricio Pochettino convenceu-o a voltar à Premier League num contexto diferente de todos os outros até em alguns aspetos extra futebol como a presença constante e diária de câmaras da Amazon para o documentário que estava contratualizado com a direção do clube. Também aqui, o português entrava numa nova realidade.
Os spurs enquadravam-se no tipo de projeto que Mourinho gostava de abraçar para deixar marca mas, entre registos pessoais como a 300.ª vitória na Premier League, o primeiro triunfo no terreno do Newcastle ou a goleada por 6-1 frente ao Manchester United, as coisas não correram de feição a nível de resultados e de ligação com a estrutura para garantir mais e melhores soluções: sexto lugar no Campeonato de 2019/20, um caminho irregular na prova em 2020/21, uma eliminação surpresa da Liga Europa frente ao Dínamo Zagreb que deixou mossa na relação com os responsáveis e o despedimento 17 meses depois quando estava apenas a uma semana de lutar pelo primeiro título após apurar a formação londrina para a final da Taça da Liga.
Percurso: 86 jogos, 49 vitórias, 19 empates e 23 derrotas (166-103 em golos)
Títulos: –
2021-?. A euforia na chegada e a conquista do primeiro título do clube 11 anos depois
Na altura do despedimento do Tottenham, a Roma fez a primeira aproximação a José Mourinho. Primeiro uma aproximação, depois um convite, a seguir uma proposta concreta para regressar a Itália 12 anos depois. O treinador português não pensou duas vezes, até por não se conformar pela forma como tinha saíra do Tottenham a uma semana de discutir a final da Taça da Liga. Foram poucos meses de preparação mas os suficientes para perceber também como era o futebol e sociedade nos dias que correm, algo que trouxe uma imagem diferente também com apoio nas redes sociais (que faz questão de controlar). Mourinho chegou quase como um herói à capital transalpina e tornou-se o primeiro treinador a ganhar todas as competições da UEFA incluindo a estreante Liga Conferência, quebrando os 11 anos sem títulos dos romanos.
Depois de um sexto lugar na Serie A em paralelo com o sucesso europeu, a Roma conseguiu com menos de dez milhões de euros reforçar-se com nomes como Dybala, Wijnaldum, Matic, Belotti, Svilar ou Çelik. As expetativas aumentavam, com um lugar entre os quatro primeiros como objetivo possível. Nesta fase, além de estar na fase seguinte da Liga Europa e nos quartos da Taça de Itália com um calendário que permite sonhar com a final, encontra-se em quinto com 37 pontos, tantos como quarto e terceiro e a um do segundo. Ou seja, dentro do que era esperado. E nem mesmo as sondagens e convites recebidos por três seleções (Portugal, Brasil e EUA) foram suficientes para que deixasse o atual projeto quando já leva mais de 1.000 encontros oficiais na carreira que foram celebrados no início da temporada de 2022/23.
Percurso: 81 jogos, 44 vitórias, 17 empates e 20 derrotas (131-85 em golos)
Títulos (1): Uma Liga Conferência