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António Araújo, diretor de oncologia do Hospital de Santo António: “Transferir doentes para o estrangeiro é uma estratégia ridícula"

Em entrevista, António Araújo, diretor de oncologia do Hospital de Santo António, diz que o Governo "nunca teve planeamento nesta pandemia", "está desesperado" e toma decisões "estapafúrdias".

Já tomou a segunda dose da vacina contra a Covid-19 e por isso pede para dar esta entrevista sem a máscara no rosto, mas com a distância social recomendada. António Araújo é diretor do serviço de oncologia do Hospital de Santo António, no Porto, o primeiro hospital a receber um doente infetado a 2 de março do ano passado. A este cargo, junta também os de presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, presidente da Associação Portuguesa Contra o Cancro do Pulmão e professor no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.

No seu gabinete, lamenta a falta de médicos no país e garante que existem “muitos recursos humanos que não estão a ser aproveitados”. Em plena pandemia, acusa o Governo de se contradizer, de não delinear estratégias de planeamento e de ir “a reboque da crise”, defendendo que os setores privado e social poderiam estar mais envolvidos no combate àquele que é um dos maiores desafios da história do Serviço Nacional de Saúde.

O médico não tem dúvidas de que a articulação entre hospitais públicos e privados “funciona muito mal” e se resume a acordos pontuais. Confessa que hoje a região Norte respira de alívio e não pratica uma medicina de catástrofe, mas acredita que está preparada para um aumento do número de casos positivos. Apesar das filas de ambulâncias à porta dos hospitais e do alargamento consecutivo da capacidade de internamento em quase todas as unidades de saúde, António Araújo considera que transferir doentes para outros países é “uma estratégia ridícula”.

Fala das novas variantes “pouco surpreendentes” do vírus, do poder da vacina e da diminuição significativa de profissionais de saúde infetados. Explica que os doentes oncológicos sentem medo de ir aos hospitais e, por isso, têm chegado cada vez mais tarde e numa situação mais grave. “O cancro não espera, não mente”, diz.

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O Hospital de Santo António, no Porto, arrancou a vacinação aos profissionais de saúde no dia 27 de dezembro. António Araújo já levou as duas doses

Octavio Passos/Observador

A pandemia está, para já, mais estável e controlada a Norte, relativamente à região Centro e Sul. O que pode explicar isso? E é algo que pode mudar de um dia para o outro?
Em março e abril a pandemia começou aqui no Porto, depois estendeu-se a todo o Norte e foi progredindo para o Sul, atingindo, e muito, Lisboa. Acho que a população nortenha aprendeu muito com esses primeiros meses. Em outubro, depois de virem os emigrantes, a região de Penafiel teve um surto muito grande que colocou o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa muito tenso, com um número muito grande de doentes internados, em enfermaria e em cuidados intensivos, de tal forma que obrigou a transferir doentes para outras unidades de saúde, uma vez que tinha ultrapassado o limite da sua capacidade. A população nortenha habituou-se a respeitar muito a pandemia e a ter em consideração todas as normas de distanciamento social, utilização da máscara sempre, ou quase sempre, a lavagem frequente das mãos e, com isto, diminuiu aparentemente, nesta fase, o número de contágios. Não estamos livres de, de repente, alterar este panorama de um dia para o outro. Estamos com números muito elevados de infeções, nada nos garante que o Norte não possa daqui a umas semanas ter números piores. Nesta fase, felizmente, temos podido respirar um pouco mais de alívio, ao contrário do que se tem verificado na região Centro e na Grande Lisboa.

Ouça aqui a entrevista na íntegra.

António Araújo: Transferir doentes para fora “é uma estratégia ridícula”

A região Norte estará preparada para ter esse número mais elevado?
Temos reparado que muito do sucesso ou insucesso que tem havido na estratégia de combate à pandemia tem sido resultado muito mais de estratégias locais do que propriamente de grandes estratégias ou planeamentos a nível central. Infelizmente, o Ministério da Saúde, em particular, e o Governo, em geral, não têm tido uma estratégia muito definida e sobretudo de planeamento para prevenir ou fazer face a um grande número de doentes. No Norte temos tido presidentes de conselhos de administração, felizmente muito bons, que vão planeando na sua área de influência formas de fazer face a um eventual agravamento dos números e isso verificou-se na primeira vaga, mas também em setembro, outubro e novembro. Estou convencido que estamos minimamente preparados para um aumento substancial do número de casos, sendo que é evidente que se houver um aumento muito grande todos os hospitais vão entrar em tensão e em esforço, vão estar muito perto da rotura e teremos graves dificuldades.

As estratégias adotadas pelo Governo são de resposta e não de planeamento, é isso?
O Ministério da Saúde tem vindo muito a reboque da crise, isto é, tem sido muito mais reativo do que propriamente proativo. Dou-lhe um exemplo muito simples. No Porto, em março e abril, quando o número de casos começou a aumentar muito rapidamente, pensámos em abrir um hospital de campanha, um espaço de retaguarda que desse resposta a doentes que não tivessem sintomas ou tivessem sintomas ligeiros, que sentissem necessidade de ficar internados por não terem as condições sociais para praticar o isolamento, de forma a aliviar a pressão nos hospitais. Isto poderia ter sido planeado para o país inteiro, com tempo, de forma a que quando houvesse um acréscimo grande no número de doentes fosse possível aliviar a pressão hospitalar. Nada foi feito. Viu-se agora que abriram um hospital de campanha no Algarve e outro em Lisboa, mas tem sido tudo muito reativo à situação e não planeado com antecipação. Mesmo no Norte verifica-se essa falta de planeamento a nível central, os hospitais planeiam-se em termos de enfermarias, do trabalho diário, do funcionamento da urgência, de como se enviam os doentes para o internamento, mas não têm a capacidade de criarem grandes hospitais de campanha. E para lá das instalações físicas, que são relativamente fáceis de conseguir, faltam depois os recursos humanos.

"Devemos envolver o setor privado e social. Não estamos numa altura em que nos devemos reger pelas nossas convicções políticas, precisamos de mais recursos humanos, eles existem, podem não ser em número necessário, mas existem no setor social e principalmente no privado."

O principal problema neste momento não se prende tanto com o número de camas ou de ventiladores, mas com a falta de profissionais de saúde, nomeadamente médicos e enfermeiros, é isso?
Arranjar uma estrutura física é relativamente fácil, o problema são os recursos humanos e este é um problema grande porque falamos de recursos humanos muito especializados, que não se formam em semanas, num mês ou num ano. É evidente que esse problema torna-se mais grave porque antes da pandemia sempre se limitou muito o acesso e o recrutamento de recursos humanos para o SNS. Quando analisamos o número de médicos, verificamos que em Portugal temos cinco médicos por cada mil habitantes, 50 mil médicos no total. O problema é que desses 50 mil médicos, existe já uma fatia muito grande, de 18 a 20 mil, que estão apenas no setor privado. Sobram 30 mil médicos e, desses, cerca de 12 mil estão em formação, a tirar a especialidade. O rácio de médicos no SNS para a população não chega a três médicos para mil habitantes, o que é um número muito inferior à média desejável que existe na União Europeia. Ao longo destes últimos anos, a tutela não tem sabido criar mecanismos que ajudem a fixar os médicos, o SNS deixou de ser atrativo para grande parte dos profissionais porque tem salários baixos, o esforço e o trabalho não são reconhecidos por ninguém e encontram um sem número de obstáculos no seu dia a dia para poderem praticar os melhores atos médicos. Tudo isto leva a que neste momento tenhamos um défice muito grande de recursos humanos, ainda mais numa época de pandemia.

"Para onde vamos transferir os doentes? Vamos recrutar aviões, ou como dizia um futebolista há uns anos, charters de doentes para o estrangeiro? Como? A que custo? E as famílias que ficam em Portugal, que tipo de informação vão ter? E se os doentes falecerem nos outros países, como serão transladados? Quem assegura esses transportes? Quem cobre os custos? Essa é mais uma alternativa perfeitamente sem sentido que o Governo coloca, demonstrando que está em desespero."

Qual é a solução? O que é pode ser feito?
Devemos envolver o setor privado e social. Não estamos numa altura em que nos devemos reger pelas nossas convicções políticas, precisamos de mais recursos humanos, eles existem, podem não ser num número necessário, mas existem no setor social e principalmente no privado. Devemos ir buscá-los, por acordo ou por requisição civil, e envolver estes setores no apoio ao esforço que está a ser feito para combater a pandemia. Seja para tratar doentes Covid-19 positivos, nomeadamente nos cuidados intensivos, seja também para cuidar de doentes não Covid-19, que representam uma franja da população que neste momento está com graves falhas de acesso aos cuidados de saúde. Começam por ter logo uma dificuldade no acesso aos cuidados de saúde primários, que têm a sua atividade descentrada. Os nossos colegas de medicina geral e familiar estão a trabalhar imenso, mas estão sobretudo a fazer rastreamento de indivíduos infetados, isto faz com que não tenham horário para atender os outros utentes. Depois de vencer essa dificuldade, estes doentes têm também um entrave que é aceder aos cuidados de saúde hospitalares. Estamos a ter muitas consultas feitas por telefone, temos algum atraso na marcação das primeiras consultas, na realização de alguns exames complementares de diagnóstico e na realização dos tratamentos, nomeadamente os cirúrgicos. Portanto, os setores social e privado deviam ser envolvidos não só no esforço de tratar doentes Covid, mas também para dar apoio a doentes não Covid.

Isso não está a ser feito?
Não, de todo. Ainda temos, infelizmente, muitos recursos humanos no setor da saúde em Portugal que não estão a ser aproveitados como deviam, isto é uma realidade. Claro que se esgotarmos toda essa capacidade, então sim, deveríamos ir tentar procurar a nível internacional. Qualquer profissional de saúde que seja recrutado a nível internacional não pode chegar cá e começar a exercer medicina logo de imediato, tem que vencer uma série de aprovações para poder exercer medicina ou enfermagem, o que demora dias ou semanas. Acho que o Estado tinha obrigação de já ter negociado com o setor social e o setor privado uma estratégia para fazer face a doentes Covid e não Covid, esgotando a capacidade a nível nacional, e só depois pensar em outras alternativas.

Transferir doentes para outros países da Europa faz sentido?
Essa é outra estratégia ridícula que tem sido apontada pelo Governo e que não faz sentido nenhum. Espanha está com um número igualmente muito elevado de doentes infetados, com uma pressão muito grande nas unidades de saúde, algo que também acontece em Itália ou em França. Para onde vamos transferir os doentes? Vamos recrutar aviões, ou como dizia um futebolista há uns anos, charters de doentes para o estrangeiro? Como? A que custo? E as famílias que ficam em Portugal, que tipo de informação vão ter? E se os doentes falecerem nos outros países, como serão transladados? Quem assegura esses transportes? Quem cobre os custos? Essa é mais uma alternativa perfeitamente sem sentido que o Governo coloca, demonstrando que está em desespero. Nunca teve um grande planeamento nesta pandemia, neste momento não tem planeamento, está desesperado e tenta encontrar soluções, muitas delas perfeitamente estapafúrdias, que não se adequam à realidade. Infelizmente Portugal é um país que fica numa extremidade da Europa, não é lógico estar a transportar doentes para outros países que também estão com grandes problemas.

NÃO USAR

António Araújo coordenou o Hospital de Campanha do Porto, aberto de abril a junho de 2020

Octavio Passos

Na prática, que dificuldades existem na articulação entre os hospitais do SNS e os hospitais privados? A rede está a funcionar? Tem margem para evoluir?
Esta rede está a funcionar muito mal, também porque nunca foi acarinhada, nunca se evoluiu na relação entre o setor público e o setor privado. Se analisarmos muitas das declarações que foram feitas pela ministra da Saúde no início da pandemia, esta sempre teve uma convicção política muito forte contra o setor privado da saúde. É evidente que isto cria um afastamento grande e uma desconfiança entre o setor público e privado. Muitos dos protocolos, do planeamento e da interligação que poderiam existir não existem. Na prática, isto reflete-se em contratos pontuais, o que no fim do dia não é nada, não reflete nada.

A Ordem dos Médicos associa este aumento exponencial do número de casos à liberdade concebida pelo Governo durante o Natal. Será mesmo esta a principal razão? Não haverá uma resistência das pessoas em cumprir as regras pela chamada fadiga pandémica?
Penso que existe as duas coisas. Ao longo desta pandemia, o Governo tem dado sinais muito contraditórios, contradizendo-se mesmo quase de um dia para o outro. Isso cria logo a dúvida e a descrença nas pessoas, mas é evidente que a fadiga que a própria pandemia impõe leva a que a sociedade adira muito menos às normas que têm sido recomendadas pela DGS.

A situação nos hospitais é cada vez mais crítica, sente que os médicos continuam motivados para salvar vidas? Quais são as suas principais preocupações e dificuldades?
Os médicos só têm uma motivação: salvar vidas. É verdade que hoje enfrentamos obstáculos muito grandes e neste momento há dois pensamentos preponderantes no dia a dia de um hospital. O primeiro, é ter camas para internar doentes e, depois do internamento, ter camas de cuidados intensivos disponíveis, tanto para doentes Covid como não Covid. A nossa principal preocupação prende-se com a realização de exames de diagnóstico e o estado dos nossos doentes. Hoje é muito mais complicado fazer exames ou acabamos por fazer menos, tudo isto complica a nossa rotina e acaba por nos levar a ver obrigatoriamente menos doentes do que aqueles que gostaríamos.

O número de profissionais de saúde infetados continua a ser um problema e uma preocupação?
Não tenho números atualizados, mas o número de profissionais de saúde infetados é uma preocupação constante e foi, com certeza, uma preocupação para o Ministério da Saúde, até porque quando chegaram as vacinas quiserem vacinar logo os profissionais de saúde. Neste momento, quase todos os especialidades num hospital têm ou médicos de formação específica ou especialistas na área Covid. Médicos que deixaram de estar a praticar atos médicos dentro da sua especialidade só para estarem focados na prestação de cuidados de saúde em Covid-19. Ora, se tivermos um número muito elevado de profissionais de saúde infetados, isso terá um impacto grande na prestação destes cuidados. Parece-me que o número de profissionais infetados tem vindo a diminuir ultimamente e isto é possível porque, por um lado, estamos muito mais habituados a lidar com os doentes infetados e, por outro lado, estamos muito mais protegidos. Recordo-me que no início da pandemia não havia máscaras e equipamentos de proteção individual que chegassem para todos, houve uma altura em que estávamos apenas com a nossa bata, muitas vezes sem máscara, a ver doentes Covid positivos. Penso que estamos mais atentos e protegidos e, claro, começámos a ser vacinados. Temos já um número apreciável de profissionais de saúde vacinados.

Como avalia o plano de vacinação definido pelo Governo?
É capaz de não haver um plano de vacinação ideal. Podemos ter várias estratégias, o Governo decidiu avançar com uma, a de começar a vacinar os profissionais de saúde, é um estratégia tão válida como qualquer outra. Claro que poderíamos delinear outras, como vacinar as pessoas que mais se infetam e causam mais pressão no SNS, os idosos. Neste caso não existe o certo e o errado. Acho que correu muito bem, dentro dos profissionais de saúde não conheço ninguém que se tenha recusado a vacinar, antes pelo contrário. A Ordem dos Médicos tem tido muitas reclamações de profissionais que ainda não tiveram oportunidade de se vacinarem e que estão muito ansiosos por isso, tanto no SNS, porque as vacinas têm chegado a conta gotas, como no setor privado. Aqui o número de vacinados é ainda muito pequeno. Os médicos aderiram muito à vacina, têm expectativas muito elevadas, precisamos é de mais vacinas.

A chamada medicina de catástrofe é já uma realidade em Portugal?
Esse é um termo que nenhum de nós deseja ouvir na nossa vida, é sinal de que o estado das coisas está muito esticado. Realmente em alguns hospitais da Grande Lisboa a pressão é tão grande que começa a ser difícil praticar bons atos médicos. Isso aconteceu também no Norte, no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, naquela altura crítica em outubro. Atingiu-se esse nível de medicina de catástrofe em que começamos a ter decidir quem é que vamos tratar ou dar atenção, o número de doentes é tão grande que, por mais que nos multipliquemos, não chegamos para todos. Isso é altamente penalizador, não só para os cidadãos, mas também para os profissionais de saúde. É eventualmente uma realidade que parece estar a acontecer em alguns hospitais mais pressionados pelo número de doentes Covid-19, mas não é o caso de nenhum hospital neste momento na região Norte, garanto-lhe. O futuro ninguém sabe, esta pandemia já demonstrou que a realidade pode modificar-se, então com a intervenção destas novas estripes que têm surgido, do Brasil, da África do Sul e de Inglaterra, o panorama pode sofrer alterações muito rapidamente.

Que perspetiva tem em relação ao futuro, tendo em conta estas variantes do vírus?
Estas variantes não são propriamente surpreendentes, este vírus tem uma taxa de mutação alta, tal como o vírus da gripe e outros deste tipo de famílias. Esperamos é que as vacinas que existem no mercado e estão a ser administradas possam cobrir também estas variantes. Caso não nos tornem imunes por completo a elas, pelo menos que atenuem os seus efeitos. Espero que no futuro venhamos a conviver com o vírus como convivemos com o vírus da gripe ou o H1N1, que existem na comunidade, vão causando alguns surtos, mas conseguimos controlar e ter doentes relativamente pouco graves.

"Esperamos que as vacinas que existem no mercado e estão a ser administradas possam cobrir também estas variantes. Caso não nos tornem imunes por completo a elas, pelo menos que atenuem os seus efeitos."

Hoje sabe-se que os pedidos de ajuda à Liga Portuguesa Contra o Cancro cresceram 30% com a pandemia. Como diretor do serviço de oncologia no Hospital de Santo António, em que medida esta área da medicina tão sensível está a ser afetada?
Nos últimos 20 anos, trato sobretudo cancro do pulmão e estava convencido que o número de doentes teria diminuído em 2020 comparativamente a 2019. Fiz um levantamento e curiosamente o número de doentes que vimos em 2020 foi em tudo sobreponível ao que vimos em 2019, o que até faz algum sentido. O cancro não espera, não mente, acaba sempre por dar sintomas. Se tiver um cancro no pulmão em janeiro, vai ter sintomas em fevereiro, março ou abril, a. Acontece é que hoje os doentes chegam-nos em estados mais avançados, com graus de desenvolvimento da doença muito maiores, vêm em pior estado geral, por isso tivemos uma taxa de mortalidade muito maior comparativamente aos doentes de 2019.

A mortalidade subiu em que percentagem?
Não lhe vou dizer agora os números, até porque serão revelados num artigo científico que estamos a preparar, mas é um número relativamente significativo.

Os doentes não se dirigem ao hospital por medo ou porque não há capacidade para os atender mais cedo?
Primeiro, têm muita dificuldade em aceder aos cuidados de saúde primários e depois têm medo. No nosso caso, os doentes chegam-nos de duas formas, vindos pelo seu médico de família, quando os sintomas são ligeiros e moderados ou, quando têm sintomas que se agravam muito rapidamente, aí o doente tem a necessidade de vir às urgências do hospital e o serviço reencaminha para a consulta. Neste momento, como as pessoas sentem dificuldades em irem ao seu médico de família, demoram mais tempo a virem ao médico, acabam por vir à urgência e depois o serviço reencaminha para nós. No caso do cancro da mama, por exemplo, os rastreios tiveram parados cerca de seis meses no ano passado, mas isso não quer dizer que os cancros parem. As mulheres em vez de serem acompanhadas mais precocemente, serão apanhadas mais tardiamente, no entanto o número de casos será o mesmo, ou mais ou menos o mesmo, que em 2019, só que vão chegar em estados mais avançados.

De que forma é que pode ser combatido esse receio?
Esse medo reflete-se mesmo em doentes oncológicos, não nos que estão em tratamento que acabam por vir ao hospital porque sabem que é a vida deles que está em jogo. Temos muitos doentes que estão a ser seguidos e manifestam muitas vezes medo de vir à consulta, temos uma taxa grande de consultas por telefone, mas não acredito que existam consultas por telefone, o que existem são contactos feito por telefone. Muitos vêm fazer o exame de seguimento, mas não vêm à consulta, e o médico vê o exame e acaba por falar ao telefone com eles. Há um número muito grande de pessoas que tem muito medo de vir ao hospital, mas garanto que, na grande maioria dos casos, não é no hospital que se vão infetar. As pessoas têm de ter noção de que quando vêm às consultas estão tomadas todas as medidas de proteção, os números dizem-nos que a maioria se infeta muito mais em casa, com os filhos que andam na escola, ou nos locais de trabalho, do que propriamente na vinda ao hospital. É necessário alertar a população para que se tiver a consultas presenciais no hospital deve vir, não deve ter medo.

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