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A tradicional ‘balcanização’ do PSD já perdeu Luís Montenegro e o partido está a encaminhar-se mais uma vez para uma bipolarização na disputa interna: num lado, Paulo Rangel, candidato não-oficial que vai mesmo avançar; do outro, Rui Rio, presidente oficial que está muito perto de avançar, mas ainda sem uma decisão final. As figuras do PSD são praticamente as mesmas das últimas diretas, mas algumas cartas saíram do baralho e outras tornaram-se trunfos importantes. Antes de uma grande guerra pública, a luta Rio-Rangel faz-se agora na mercearia: fazem-se cálculos, contam-se apoios e negoceiam-se lugares.

A menos de dois anos da próxima oportunidade de o PSD ser poder, estas eleições diretas são uma espécie de primárias. Paulo Rangel já não recua, Rui Rio dificilmente não avança, Jorge Moreira da Silva está à espreita de uma oportunidade, Luís Montenegro está mesmo fora — e Carlos Moedas está focado na câmara de Lisboa, embora seja visto por todos como um ativo importante. Quem são, afinal, as cartas dentro e fora do baralho da próxima disputa interna do PSD? Quanto valem? E quem tem neste momento a mão mais forte?

Rui Rio. Juntar a mercearia à vontade de ser primeiro-ministro

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Rui Rio ainda está a fazer contas, a desdobrar-se em almoços e a fazer chamadas (seja ele próprio ao telefone ou José Silvano no seu lugar) para perceber se avança. O presidente do PSD, reconhece fonte da direção ao Observador, sente-se agora com mais força do que tinha antes das autárquicas. Os sinais dados pelo seu núcleo duro depois de ter ganho Lisboa, Coimbra e Funchal e de ter reduzido a distância para o PS são de que o atual líder devia avançar.

Menos de 48 horas depois da noite das eleições, a Comissão Política Nacional, como haveria de firmar em comunicado, defendeu que o PSD (leia-se, este PSD, com este líder) está “preparado” para ser alternativa e que o partido está agora melhor posicionado para “ganhar a confiança dos portugueses” nas “eleições que se avizinham”. Nessa reunião, explicaram ao Observador algumas fontes presentes, houve vários membros da direção que disseram que agora era tempo de ganhar as “legislativas”, naquilo que pode ser visto como um incentivo. Outros, como foi o caso do vogal e amigo de Rio, António Carvalho Martins, terão dito que já disseram em privado ao líder o que acham de uma recandidatura.

Já Rio vê no aumento do voto urbano um sinal de que a perceção sobre o PSD está a mudar e que é possível bater António Costa e o PS. E, caso seja um PS sem Costa, ainda mais, já que Rio não desiste de conquistar o centro — que acredita que pode ficar órfão caso o seu adversário em 2023 seja Pedro Nuno Santos.

A pressão interna para a recandidatura de Rio já começou e os que sempre estiveram do seu lado são os que estão a empurrar o líder para a frente. David Justino já disse, em declarações ao Público, que seria “incompreensível” o atual presidente do PSD não avançar. O secretário-geral José Silvano, os vice-presidentes Salvador Malheiro e André Coelho Lima e o deputado Carlos Eduardo Reis (galvanizado pela vitória de Barcelos) serão neste momento os grandes dinamizadores da recandidatura de Rio.

Rui Rio venceu há menos de dois anos, na segunda volta, a sociedade Montenegro-Pinto Luz, que juntava todos os descontentes do rioísmo. Na altura foi mais forte, contando com a capacidade de mobilização de vários autarcas e com o eixo Aveiro-Porto-Braga, três distritais importantes. São precisamente essas que Rangel tem tentado furar como um queijo suíço, aproveitando-se do descontentamento com a liderança de Rio, que nunca evitou comprar guerras com as estruturas quando quis marcar posição.

Há alguns exemplos que mostram que Rangel tem margem para crescer em zonas do mapa que antes eram de Rio. Vítor Martins, que lidera a concelhia de Aveiro, estará agora em rutura com Salvador Malheiro. Há outras concelhias no distrito que votaram ao lado de Rio e podem cair para Rangel. Santa Maria Feira, outra grande concelhia, deve manter-se no lado oposto ao de Rio, com a vantagem de Rangel ter menos anti-corpos do que tinha Montenegro no distrito onde sempre fez política (o que então facilitou o trabalho à dupla de rioístas Topa-Malheiro).

O mesmo acontece no distrito de Braga, onde o posicionamento do eurodeputado José Manuel Fernandes pode ser fundamental pela influência que tem no concelho onde foi autarca (Vila Verde, que será liderado pela mulher, a recém-eleita Júlia Fernandes) e junto de outros autarcas que estiveram até aqui sempre ao lado de Rio. Para o eurodeputado de Vila Verde, o mais confortável seria Rio não avançar — aí, apoiaria Rangel de caras. Além do percurso comum em Bruxelas, José Manuel Fernandes beneficiaria de uma vitória de Rangel, passando a ser o mais sério candidato a chefiar a delegação de Bruxelas caso o atual vice-presidente do PPE (cargo que também poderia cair para o vila-verdense) conquistasse a São Caetano à Lapa. Apesar disso, a máquina de Rio ainda não dá o eurodeputado como perdido na contagem de espingardas.

No Porto, começa a ser evidente a proximidade entre o líder distrital, Alberto Machado, e Rangel. Isto ao mesmo tempo que o deputado se afasta de Rio. Trofa e Vila Nova de Gaia também terão aqui uma palavra importante. São estas as contas de mercearia que Rangel força Rio a fazer. E o presidente do PSD está a fazê-las, na sua típica gestão do tempo, para perceber se tem condições para ganhar.

Além disso, a máquina de Rio acredita que o famoso “voto livre” — que lhe deu bons resultados, em 2018 e 2020, mesmo em locais controlados por Santana e Montenegro — pode ter crescido com o bom resultado das autárquicas. Mas, no inner circle, de Rui Rio, ainda há quem não dê a recandidatura como certa, como é o caso de Nuno Morais Sarmento: “Sou vice-presidente de Rio e não tenho por certo [que se recandidate]“.

Pontos fortes É o presidente em exercício e já venceu duas diretas e uma tentativa de impeachment, contrariando as expectativas sempre que foi menorizado e subestimado. Ganhou um balão de oxigénio com a vitória nas autárquicas ao vencer Coimbra, Funchal e, sobretudo, Lisboa. Desde que assumiu a liderança do PSD mostrou ser uma ‘velha raposa’ com conhecimento e domínio do aparelho.

Pontos fracos Rui Rio não traz o fator novidade e já tentou por uma vez chegar a primeiro-ministro, em 2019. O discurso de ‘deslealdade’ e ‘traição’ que conseguiu colar a Luís Montenegro após a tentativa de impeachment falhada de janeiro de 2019, não pode ser imputada na mesma proporção e força a Rangel. Além disso, algumas estruturas do aparelho que controlava nas três principais distritais estão agora mais vulneráveis às investidas rangelistas.

Porquê “Ás”? Se avançar para a liderança do PSD, Rui Rio será sempre — com mais ou menos odds a seu favor — um sério candidato à vitória nas diretas. É ele, afinal, que tem (pelo menos para já) o poder.

Paulo Rangel. O candidato que antes de o ser já o é

É o segredo mais mal escondido do PSD: Paulo Rangel vai ser candidato à liderança do partido. David Justino diz que o eurodeputado meteu na cabeça que ia ser candidato no início do ano. O que é verdade, mas com uma nuance: isso aconteceu no início do ano de 2010. A vontade não é de agora. Na altura, Rangel perdeu para Passos Coelho, mas o eurodeputado nunca escondeu ter ambições de voltar a ser candidato à liderança do PSD e agora acredita que tem as condições políticas e pessoais (foram estas que lhe faltaram em 2017) para vencer.

Paulo Rangel fez um trabalho de formiga que se intensificou nos últimos meses, mas integrado num percurso com mais de 10 anos. Foi, aliás, à liça antes de Rio numa guerra de barões contra a nova burguesia basista de Relvas e Passos em 2010. Voltando a 2021, Rui Rio tentou condicionar Rangel, convidando-o para um combate na câmara do Porto que o retirava destas diretas, fosse qual fosse o resultado. Até Manuela Ferreira Leite — criadora de Rangel, mas também próxima de Rio — classificou, há uma semana, este convite de Rio como “bizarro”.

O eurodeputado percorreu as várias “capelinhas” numa verdadeira “rota da carne assada” por todo o país, tendo realizado uma campanha paralela à do líder na ajuda aos candidatos autárquicos. E também isso não é uma coisa de 2021: há anos que Rangel não vira a cara a um convite de uma concelhia, para se manter vivo junto do aparelho.

Rangel conseguiu, entretanto, fechar o apoio de Miguel Pinto Luz. Os dois já apareceram ao lado um do outro no comício de Marco Pina em Odivelas em vésperas de eleições e ainda planeiam aparecer no lançamento de um livro na próxima semana. A mesma semana em que decorre um decisivo Conselho Nacional, que analisa os resultados das autárquicas e vai convocar as diretas e o Congresso.

O trabalho que Rio agora está a fazer junto das estruturas, Paulo Rangel já fez antes das autárquicas. Garantiu apoios importantes nos meses que antecederam o escrutínio. Resolveu também a questão das campanhas negras que o ameaçam com a sua orientação sexual, tendo resolvido o assunto na televisão nacional. Já depois de tudo isso, e sem contar com um revés, a dupla Rangel-Pinto Luz teve de parar para perceber os efeitos do resultado de 26 de setembro. Feitas as reflexões, retomaram rapidamente o caminho (e os contactos). A dúvida não é se a candidatura avança mas, apenas, em que dia avança.

Na cabeça dos estrategas de Rangel estão os números de 2020, em que Rui Rio venceu Luís Montenegro por 2071 votos (17.157 contra 15.086 votos). O eurodeputado acredita que pode conquistar estruturas que antes pertenciam a Rio, vencer em distritos que eram de Montenegro e arrebatar os que caíram para Miguel Pinto Luz — que, de forma natural, se posicionam contra Rio, como é o caso de Lisboa e Setúbal. O distrito do Porto, onde Rio deu avanços importantes a Santana e Montenegro nas diretas anteriores, é uma das pedras-chave da estratégia do eurodeputado. Rangel não desiste de tentar conseguir um domínio hegemónico no distrito, havendo para já apenas um apoio que considera ser mais difícil de conquistar na concelhia da Póvoa de Varzim. De resto, Rangel acredita que pode ganhar tudo, apostando no desgaste de algumas estruturas relativamente à atual liderança.

Entretanto, Rangel também já sabe que não terá a oposição de outras figuras do espaço não-rioista. Luís Montenegro, em entrevista ao Jornal de Notícias e à TSF, assumiu que não estava na corrida: “Não tenciono protagonizar nenhuma candidatura”. Menos divisão são mais votos em Rangel.

O antigo homem forte do aparelho, Miguel Relvas, também assumiu publicamente, no programa Lei da Bolha, da TVI24, que “neste momento aquele que está posicionado pelo país e que pode ser uma alternativa é Paulo Rangel”. A nível simbólico, Nuno Morais Sarmento — mesmo sendo vice-presidente de Rui Rio — desconstruiu as acusações de traição dos apoiantes de Rio contra Rangel. Para Sarmento, Rangel não está a fazer “algo de errado, muito menos de traiçoeiro”.

Pontos fortes Conseguiu federar os Lesados de Rui de Rio e negociar o apoio de Miguel Pinto Luz (que com ele traz Lisboa e Setúbal). O eurodeputado terá menos anti-corpos que Luís Montenegro em algumas zonas do país e aposta em furar ou mesmo virar distritos que foram importantes na vitória de Rio. Se conseguir mesmo conquistar o Porto, Braga e fazer mossa em Aveiro, este será meio caminho andado para vencer o partido. Além disso, a não candidatura de Luís Montenegro ajuda a recrutar montenegristas para a causa (de destronar Rio).

Pontos fracos O resultado das autárquicas não só não foi desastroso para Rui Rio, como deu um novo fôlego ao atual líder. Alguns dos apoios importantes que Rangel garantiu rezam para que Rio não seja candidato para não terem de afrontar o líder e mudar de lado. Outro ponto fraco de Rangel é que o adversário é experiente e está no poder (o que também lhe dá margem para fazer promessas e negociar apoios). Tem de contar ainda com a imprevisibilidade do voto livre.

Porquê “Ás”? Já não há dúvidas de que vai avançar e que é, neste momento, a principal ameaça à liderança de Rui Rio. Se Rio não avançar, torna-se até ás de trunfo.

Jorge Moreira da Silva. Um livro ainda só pelo prefácio

Jorge Moreira da Silva tentou posicionar-se na corrida à liderança, no início de setembro, com o lançamento de um livro com um título sugestivo: “Dire(i)to ao Futuro”. Aquele que foi o primeiro vice-presidente de Pedro Passos Coelho voltou a fazer o que fez em 2019: alimentou a ideia nos bastidores de que podia mesmo ser candidato à liderança. Resta saber se agora, ao contrário de há dois anos, avança mesmo. Conseguiu juntar Passos e Portas nesse evento, mas não se adiantou sobre uma eventual candidatura.

Nessa ocasião, disse ser contra a “futilização da política” e criticou o facto de as pessoas tenderem “a falar de liderança personalizando a coisa”. Moreira da Silva lamentava mesmo que se falasse de “líderes e não de liderança” e que ,“de uma vez por todas em Portugal”, se olhasse para “os atributos da liderança.” Defendeu depois um perfil de liderança em que o próprio encaixava: “Na minha ótica, que foge muito aos cânones tradicionais do carisma e daquilo que cabe num tweet, acho que um líder tem de ser um servidor. Um líder que mede o seu êxito pelo impacto que as medidas e as suas decisões têm na vida dos outros.” Sobre a liderança do PSD em concreto, fugiu à questão: “Não é disso que estamos a falar.”

Nos bastidores, Jorge Moreira da Silva aposta, no entanto, em ser uma terceira via alternativa a Rui Rio e Paulo Rangel. A ideia do antigo líder da JSD seria começar a partir de Braga (e aí seria fundamental ter o apoio dos mais de mil votos de Famalicão) e ir conquistando apoios pelo país entre os que não se reveem nem em Rio, nem em Rangel.

O antigo governante podia ainda somar o apoio de Salvador Malheiro, de quem é amigo, mas só num cenário em que Rio não avançasse. Entre os apoiantes de Rui Rio, Jorge Moreira da Silva até podia ser útil para dividir eleitorado, já que acreditam que podia roubar 2 a 3 mil votos a Rangel (entre os anti-Rio) que ajudariam o atual presidente a manter o poder.

Pontes fortes Num cenário de bipolarização Rio-Rangel, podia surgir como uma terceira via e recolher os votos dos não-alinhados.

Pontes fracos Não se conhecem, para já, apoios relevantes. Não tem a mesma notoriedade dos adversários junto das estruturas. Já recuou em 2019, correndo o risco de protagonizar uma nova versão da história do Pedro e o Lobo. 

Porquê ‘7’? Na verdade, Jorge Moreira da Silva é um 7 porque — tal como este número — pode valer mais em determinados contextos (passando a ter os pontos de uma ‘manilha’). Está aparentemente a uma grande distância dos ases, mas poderá, eventualmente, ganhar força no caso de Rio não avançar ou mesmo entrar como terceira via e contribuir para uma divisão do eleitorado. Mil votos podem fazer a diferença numa eleição renhida.

Miguel Pinto Luz. A cartada mais forte jogada por Rangel

Miguel Pinto Luz conquistou o seu espaço ao avançar em 2020 contra Rui Rio e foi o mais votado à primeira volta nas distritais de Lisboa e Setúbal. E só não conseguiu a vitória na Madeira porque os votos não foram contados. A estratégia foi a de afirmar uma alternativa pelas ideias e sem confrontações pessoais. Numa disputa bipolarizada entre Rio e Montenegro, Pinto Luz apareceu como uma via alternativa. A sua votação e a de Montenegro, juntas, à primeira volta superaram a de Rui Rio, mas o facto de a esmagadora maioria dos seus apoiantes e sindicatos de voto terem migrado para Montenegro na segunda volta não foi o suficiente para desalojar Rio da liderança.

Por uma questão de afirmação, o vice-presidente da câmara de Cascais até terá ajudado a uma vitória de Rio, que podia ser batível à primeira volta (a prova é que não conseguiu 50% dos votos), mas o presidente em exercício acabou por embalar ao vencer essa primeira batalha. Desde então, Miguel Pinto Luz tem estado mais discreto, embora seja um dos rostos assumidamente não-alinhados com Rio.

Miguel Pinto Luz tem estado a trabalhar com Paulo Rangel, naquele que continua a ser um caminho para se posicionar para o futuro do PSD. Terá como grande missão conseguir transportar os votos de 2020 para Paulo Rangel, o que nem sempre é líquido, como se viu na segunda volta das últimas diretas. Mas vai cuidando do seu futuro. Se Rangel ganhar, Pinto Luz será o natural número dois do novo líder (a menos que Carlos Moedas aceite ser primeiro vice-presidente do PSD — convite que poderá vir também de outras candidaturas) e ir ganhando a notoriedade que lhe faltou em 2020.

Pontos fortes Teve um bom resultado em distritos importantes em 2020. A aliança com Rangel dá-lhe um bom posicionamento para a sucessão da liderança caso Rangel vença.

Pontos fracos O poder de Cascais (com Carreiras à cabeça) no distrito de Lisboa tenderá a perder força com o emergir do colosso que é a câmara de Lisboa com as cores do PSD. Se Rangel não vencer, Pinto Luz ficará associado a mais uma derrota e perder influência no distrito.

Porquê rei? É neste momento o apoio mais importante de Paulo Rangel. Se há dois anos tinha pressa em ser rei, agora está a jogar a médio prazo. Mesmo assim é, até agora, a carta mais forte jogada do lado do eurodeputado.

Salvador Malheiro. O enfraquecido mas eterno king (maker) de Rio

Salvador Malheiro já não tem a influência no partido que teve em diretas passadas e parte dos contactos com o aparelho — essenciais para ganhar eleições — passam agora pelo secretário-geral José Silvano. No entanto, sempre que as coisas apertaram para Rui Rio foi ele o rosto da negociação. Foram dele, em parte, as vitórias anteriores de Rui Rio. Foi também ele que puxou por João Montenegro, antigo homem forte do terreno de Passos Coelho e antigo diretor de campanha de Santana Lopes, para as últimas internas. O agora secretário-geral-adjunto também organizou a volta autárquica de Rio em setembro, numa campanha que acabou por ser um sucesso (pelo resultado obtido). Se a dupla Malheiro-João Montenegro voltar a estar oleada, é sempre uma mais-valia para Rio.

Por tudo isto, Malheiro será sempre uma peça fundamental para o presidente do PSD numa disputa interna, mesmo que tenha perdido a mão em alguns pontos do distrito, como é o caso da concelhia de Aveiro e outras concelhias do distrito.

Por outro lado, caso Rui Rio não avance, Salvador Malheiro pode sempre optar por procurar outro candidato para apoiar. O amigo Jorge Moreira da Silva, por exemplo.

Pontos fortes Continua a ter ao seu lado uma parte importante do distrito de Aveiro e tem no telemóvel os números dos mesmos autarcas a quem ligou nas últimas duas diretas e que foram essenciais para as vitórias de Rio em 2018 e 2020.

Pontos fracos Perdeu alguma da influência que tinha na negociação para José Silvano. Os casos de caciquismo colaram-se à pele de Malheiro. O autarca tem sido desgastado por várias investigações do Ministério Público, mesmo que alguns casos tenham acabado arquivados.

Porquê rei? Mesmo sem a influência de eleições anteriores continua a ser um dos trunfos que Rui Rio tem para jogar na mesa do aparelho social-democrata.

Luís Montenegro. A espera acabou (e o montenegrismo, para já, também)

“Estamos à espera do Luís”. Nas últimas semanas, alguns militantes com sindicatos de voto importantes do espaço não-rioista recusavam-se a assumir qualquer compromisso com Paulo Rangel, alegando que esperavam um sinal de Luís Montenegro ou dos antigos escudeiros montenegristas (Hugo Soares à cabeça, mas também outros, como Pedro Alves). A espera terminou no domingo com uma entrevista do antigo líder parlamentar ao Jornal de Notícias e à TSF, com Luís Montenegro a justificar que não se candidatava por “várias razões”, sendo a principal o facto de ter, quando se apresentou em 2019, “um projeto de afirmação política do PSD a 4 anos”. Entretanto, explica, envolveu-se em “projetos de natureza profissional e pessoal, que não queria deixar a meio nesta altura”.

Luís Montenegro disse ainda que não tem “nada combinado com ninguém” e que não exclui nada, podendo até não apoiar ninguém e passar ao lado desta disputa interna. Se, por um lado, o antigo líder parlamentar não avança, por outro pode sempre ajudar a encaminhar os seus apoiantes para uma das outras candidaturas. Luís Montenegro está longe de controlar os 47% que votaram em si na segunda volta, mas pode dar alguma força a um outro candidato com o seu apoio (que nunca será Rio).

Um dos apoiantes mais próximos de Luís Montenegro nas últimas diretas diz ao Observador que “ainda é cedo para excluir o apoio a uma outra candidatura”, mas que “o mais provável é que, quem apoiou o Luís, vá apoiar o Rangel”. O objetivo de Montenegro, explica a mesma fonte, é “ficar como a reserva moral de tudo isto”.

Pontos fortes Continua a ter alguns apoiantes e a prova disso é que, até domingo, houve quem ficasse à espera que tomasse uma decisão.

Pontos fracos O não-avanço mostra que não teria, neste momento, apoios para fazer melhor do que há dois anos. Criou muitos anti-corpos no PSD e nunca se conseguiu libertar da imagem de oportunista por ter tentado precipitar eleições em janeiro de 2019, a quatro meses das europeias e a oito meses das legislativas.

Porquê valete? Mesmo sem ser um ator principal na disputa eleitoral pode ajudar um dos opositores de Rio a afastar o atual líder.

Carlos Moedas. O novo miúdo no bairro

Carlos Moedas é o homem do momento no PSD e, como tal, seria sempre um ativo de qualquer uma das candidaturas caso decidisse apoiar publicamente um dos lados. Não é, no entanto, previsível que o faça. Como presidente da câmara de Lisboa, Carlos Moedas deverá optar por uma postura de neutralidade na linha do ‘Eu trabalho com qualquer presidente’.

É, no entanto, inegável que a sua popularidade, dentro e fora do partido, está em altas. “O Moedas é o novo e popular miúdo do bairro, que todos querem ter na equipa”, diz um social-democrata que seguiu de perto o acordo Pinto Luz-Rangel.

Mesmo que tenha uma preferência íntima (Carlos Moedas é amigo de Paulo Rangel e estiveram juntos — um na Comissão outro no Parlamento — durante 5 anos em Bruxelas, entre 2014 e 2019), o presidente eleito da câmara de Lisboa foi convidado por Rui Rio para candidato à maior autarquia da capital, o que lhe condiciona as opções. Além disso, estando a instalar-se num cargo tão importante, Moedas não ganharia em envolver-se numa disputa eleitoral.

Mas se Moedas está condicionado, os seus mais próximos conselheiros e a sua equipa não, como registou o Expresso. Miguel Morgado, António Leitão Amaro e João Marques de Almeida são alguns dos exemplos referidos pelo semanário de elementos da equipa de Moedas que não querem Rio na liderança. Mas há outros. O próprio Ângelo Pereira, vereador de Moedas e líder da distrital de Lisboa, alinhou com Pinto Luz, sendo natural alinhar no bloco Rangel-Pinto Luz.

Já Carlos Moedas ficará, ele sim, como uma reserva para o futuro do partido. Marcelo Rebelo de Sousa já o repete, em privado, há alguns anos: Moedas é uma hipótese de futuro para a liderança do PSD. Após a vitória em Lisboa é consensual nas estruturas do partido que, se tudo correr bem, Moedas terá uma palavra a dizer na futura liderança do PSD, seja no pós-Rio ou no pós-Rangel.

Carlos Moedas será também, com naturalidade, um nome a ter em conta como vice-presidente na próxima direção do PSD, seja qual for o líder eleito. Aí, ficará como o número dois do partido e ainda melhor posicionado para no futuro — após a aventura de Lisboa — ser ele mesmo a liderar o partido. Também por isto, o caminho que considerará mais prudente será não tomar posição por ninguém.

Pontos fortes Venceu a câmara de Lisboa contra todas as expectativas. Protagonizou uma das mais importantes vitórias do PSD e não tem anti-corpos no partido. Seria um ativo para qualquer uma das candidaturas.

Pontos fracos Com a eleição, está amarrado à câmara de Lisboa, o que significa que, mesmo que saia da autarquia em 2025, na melhor das hipóteses vai a tempo de ser líder e tentar vencer o país (se os ciclos de quatro anos se cumprirem) apenas em 2027. São seis anos. Que, em política, é muito tempo. Se decidir (e conseguir) fazer os três mandatos pode entrar na história, mas vai perdendo a oportunidade de ter voos mais altos, como chegar a primeiro-ministro.

Porquê joker? Seria uma carta que podia alterar o jogo se assim o entendesse, mas está quase obrigado, pelas circunstâncias, a ficar fora do jogo. O que, para o futuro do próprio, é uma posição confortável e até desejável.

Passos Coelho. O ás que virou duque

Pedro Passos Coelho é adorado no PSD e, há não muitos meses, dizia-se que bastaria querer e ganhava o partido. Mas o antigo primeiro-ministro colocou-se muito cedo fora desta corrida. Sobre se queria voltar a ser líder do partido, foi claro: “Não, não, não”.

Passos Coelho fora da corrida pelo PSD

Além disso, houve duas sondagens da Intercampus ao país, uma durante a campanha, outra divulgada na noite eleitoral, que o davam em segundo lugar como o preferido para suceder a Rui Rio. Ou seja: atrás de Paulo Rangel. Passos teve ainda um gesto que não caiu bem em algumas estruturas do partido: não apareceu em nenhuma ação de apoio a Carlos Moedas, no que foi visto como um amuo por o antigo comissário não se ter aconselhado com ele antes de avançar para Lisboa.

Passos Coelho não deixa, no entanto, de ter uma grande popularidade no PSD. Quando e se um dia quiser pode facilmente passar de duque a ás. Para já, tudo indica que se vai manter equidistante da disputa eleitoral interna, embora não seja surpresa para ninguém que prefira a substituição de Rio. Em 2017 tentou, aliás, unir o partido em torno de Paulo Rangel. Foi Rangel que, na altura, não quis.

Pontos fortes Foi primeiro-ministro e goza de uma grande popularidade no interior do partido. Quando deixou o PSD, o partido estava praticamente todo unido em seu redor. Muitos, no PSD, continuam a achar que é o único capaz de voltar a ganhar o Governo ao PS.

Pontos fracos Por opção própria, está afastado. Não traz novidade. O país, em algumas sondagens e estudos de opinião, parece não ser tão entusiasta quanto o partido (apesar de ter ficado em primeiro lugar nas duas eleições legislativas a que se candidatou).

Porquê duque? Se quisesse, Passos Coelho podia ser um ás ou mesmo o croupier que baralha tudo e distribui jogo, mas optou por não se envolver em disputas eleitorais. Fica com a carta mais baixa.