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RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

As notas do debate. No todos contra todos, quem esteve melhor entre os oito?

No primeiro debate alargado a oito (segunda-feira repete-se na rádio), as coligações à direita e à esquerda dominaram boa parte do tempo. Justiça, Saúde, salários e impostos também foram tema.

Surpreendentemente interrompido por um protesto em nome do ambiente logo nos primeiros minutos, o debate alargado aos líderes dos oito partidos com assento parlamentar na RTP começou marcado pelas duas sondagens divulgadas uma hora antes, que colocavam a AD à frente do PS. Foi a partir desses números que o moderador, Carlos Daniel, lançou a primeira questão, já esperada: a das coligações à esquerda e à direita. Pedro Nuno Santos viu-se na necessidade de ter de esclarecer, outra vez, a sua posição, depois de várias declarações equívocas, garantindo que o PS “não provocará nenhum impasse constitucional” se a direita tiver a maioria, para depois acusar Luís Montenegro de se “esconder atrás de um biombo”, já que o líder da AD voltou a não dizer o que fará se ficar em segundo nas eleições.

O tema marcou toda a primeira parte (mais curta) do debate, com todos os partidos a falarem as suas posições. Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, disse “ser o mais claro” — “Não viabiliza um governo minoritário do PS, porque há uma solução: passa pela IL e pelo PSD” — e André Ventura puxou pelos números das sondagens (entre 17 a 20%) para se fazer impor: “Com toda a probabilidade não haverá maioria à direita sem o Chega”.  À esquerda, não houve margem para dúvidas para a disponibilidade de acordos. “A única solução estável é à esquerda. À direita não se entendem e ofendem-se entre si”, disse Maria Mortágua, enquanto Paulo Raimundo afirmou que o PCP quer “travar regresso aos tempos sombrios da troika” e Rui Tavares colocou o Livre como uma “parte da solução” de uma maioria de esquerda. A única incerteza que ficou foi em relação ao PAN, porque depois de Inês Sousa Real já ter recusado alianças com a AD, devido às posições que o CDS e o PPM defendem sobre as touradas, agora admitiu ficar do lado do PS ou do PSD: “A nossa coligação é com os portugueses”.

Aliás, Inês Sousa Real foi a única a falar do protesto dos jovens que atiraram tinta e interromperem o debate em nome do clima, criticando a forma, mas também os seus colegas por não abordarem o tema e defendendo a causa ambiental.

Depois do intervalo, o segundo tema sobre a mesa foi a Justiça. Pedro Nuno Santos acusou Luís Montenegro de falta de coerência devido às posições diferentes nos casos de António Costa e Miguel Albuquerque, obrigando Montenegro a dizer que não tinha pedido a demissão do ex-primeiro ministro e que se estivesse no lugar do ex-líder do governo regional da Madeira talvez não se recandidatasse. Além da Justiça, falou-se obviamente das várias propostas para a Saúde, e de salários/impostos e crescimento económico.

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Quem ganhou o debate? Um painel de avaliadores do Observador deu notas de 1 a 10 a cada um dos oito líderes (como pode ver no gráfico em baixo) e explicou porquê. O mesmo método que usámos ao longo dos 28 frente a frente: a média das notas surge na tabela inicial onde pode ver a classificação geral e saber quem tem estado melhor.

Filomena Martins — Quem muito tem de se justificar, entra a perder. Ora Pedro Nuno Santos não só teve de o fazer em relação ao carrossel de declarações sobre a viabilização de um governo de direita logo a abrir o debate, como o fez com a espada de duas sondagens negativas (uma delas ainda por cima quase dispensando o Chega para uma maioria da AD+IL) sobre a cabeça e com um rapaz tresloucado a interrompê-lo aos gritos — que (sabe-se lá como) furou a segurança da RTP e entrou estúdio dentro com outros achando que assim defendiam o clima, pintando uns vidros pelo meio. Num debate sempre pouco funcional com tanta gente, valeu a Pedro Nuno Luís Montenegro não ter estado muito melhor. O líder da AD deve ter-se convencido de duas coisas: a primeira é que manter o tabu (sobre não dizer o que fará se ficar em segundo) é uma estratégia ganhadora, daí insistir nela; a segunda é que os remoques e interrupções do frente a frente com Pedro Nuno lhe recorreram bem (por isso insistiu neles, repetindo-os à exaustão). Como se não bastasse, enredou-se completamente na questão da incoerência dos casos António Costa/Miguel Albuquerque e aquele “se fosse eu talvez não me recandidatasse”, em relação a Albuquerque é de bradar aos céus. Só que Montenegro desembrulhou-se nas medidas sectoriais (sobretudo na Saúde), enquanto Pedro Nuno não consegue descolar das do Governo a que pertenceu (não percebe mesmo, ou não quer, permitido até a Ventura ter graça, imagine-se, ao atirar-lhe com o lema Pedro Abrunhosa/Bloco de Esquerda). Posto isto, sobra o quê? Rui Rocha podia ter marcado muitos mais pontos — “o não funciona Pedro” soube a pouco — e André Ventura cavalgou os números das sondagens mas continua sem explicar proposta nenhuma. Paulo Raimundo só fala do que “faz bem às pessoas”, como se alguém lhes quisesse mal, Rui Tavares deve ter descoberto um pote de ouro tando dinheiro tem para distribuir e Mariana Mortágua lá vai atacando aqui e ali, mas sempre sabendo o seu lugar. Sobra Inês Sousa Real, novamente com um pé do lado de cá e outro do lado de lá, perdida entre os animais.

Miguel Pinheiro — No debate entre todos, Pedro Nuno Santos voltou à sua condição de animal domesticado, depois de ter soltado o “animal feroz” no frente a frente com Luís Montenegro. Na noite de sexta-feira, comportou-se como o gestor de condomínio de António Costa: acha que os socialistas governaram muito bem nos últimos anos e insta os portugueses a agitarem bandeirinhas do PS sempre que saírem de casa para irem trabalhar, para levarem as crianças à escola ou para comprarem uma carcaça na padaria da esquina. Perante isto, os restantes candidatos dividiram-se em dois grandes grupos: a esquerda encolheu-se, tentando não atacar o partido de que depende para ter poder, influência e oxigénio; a direita uniu-se num ataque cerrado e concertado ao PS e a Pedro Nuno Santos (sendo que Rui Rocha acrescentou a isto vários ataques ao PSD). Sobrou o PAN: tentando resistir à atração do voto útil, Inês Sousa Real tomou a decisão inteligente de falar repetidamente dos animais e do planeta, lembrando assim aos seus eleitores potenciais porque é que devem manter-se firmes a 10 de março.
Neste debate, não houve um grande vencedor, mas houve um grande perdedor — Pedro Nuno

Miguel Santos Carrapatoso — Que me perdoem os adeptos do poliamor, mas dois é bom, oito é manifestamente demais. Este modelo de debate não favorece a troca de argumentos e premeia as entrevistas cruzadas, tornando-se inevitavelmente um somatório de momentos mais e menos conseguidos de cada um. Nesse campeonato, esteve mal Luís Montenegro nos dois primeiros temas. Na questão da governabilidade, em que continua sem dizer o que fará se ficar em segundo e se existir uma maioria de direita no Parlamento, e esteve mal na questão da Justiça. Esta noite, disse duas coisas: que nunca pediu a demissão de António Costa e que no lugar de Miguel Albuquerque “talvez” – e a expressão foi mesmo esta – não se recandidatasse. A primeira, apesar de factual, é absurda; a segunda, demonstra falta de convicção. Pedro Nuno Santos, que arrancou o debate enrolado nas trapalhadas que cometeu em matéria de governabilidade, lá veio esclarecer (finalmente) que governa se ficar em primeiro e governa se ficar em segundo e tiver uma maioria de esquerda. Além disso, apontou, sem se esconder, críticas ao funcionamento da Justiça. Ainda na questão da governabilidade, e à exceção de Montenegro, todos, à direita e à esquerda, foram cristalinos sobre políticas de alianças. Houve também Inês Sousa Real, que, não tendo nada para dizer (até porque já se aliou a PS e a PSD), disse o seguinte: “A nossa coligação é com os portugueses”. Está certo. Depois o debate entrou nas questões mais programáticas e, aí, Pedro Nuno voltou a mostrar todas as fragilidades (em parte herdadas) do PS. Esteve melhor Montenegro, menos bem Rui Rocha e André Ventura, que foram repetindo a ideia de que os privados tudo salvarão, e menos bem Mortágua, Raimundo e Rui Tavares, que foram devolvendo que o Estado vai resolver o que não conseguiu resolver nos últimos oito anos. Apesar de tudo, neste tópico em particular, o prémio para a frase mais vazia da noite vai novamente para Inês Sousa Real, que lamentou que as pessoas paguem “a saúde animal como se fosse um bem de luxo”. Prioridades. Sousa Real merece também outra menção honrosa. Desafiada a falar sobre a economia, a líder do PAN disse… que não seria “um voto no PS ou no PSD” a fazer a “diferença”. Ok. Neste capítulo, foram mais eficazes para os respetivos eleitorados Luís Montenegro, de um lado, Pedro Nuno Santos e Mariana Mortágua, do outro, representando dois blocos com visões diferentes sobre como relançar a economia. Rocha, que deveria ter marcado pontos aqui, limitou-se a frases feitas; Ventura continua sem saber explicar as contradições do seu programa – como é que se aumenta tanto a despesa e se reduz tanto a receita continuando a crescer; Raimundo responde a tudo com a necessidade de aumentar salários (sendo que não se aumentam por decreto) e Tavares não tem ideia de como é que se chega onde o Livre quer chegar. Quanto à forma, num debate em que até Ventura conseguiu manter alguma urbanidade, esteve mal Montenegro, praticamente o único a não respeitar os pedidos do moderador e a interromper vigorosamente os adversários. Hoje, não havia necessidade. Mortágua, por outro lado, teve as intervenções mais esclarecidas. Ainda assim, será difícil imaginar que alguém tenha conseguido mais votos depois desta noite.

Rui Pedro Antunes — Há dois assuntos que o líder do PSD terá, regularmente, de enfrentar até 10 de março e que estiveram no debate: a situação na Madeira e a viabilização de um governo minoritário do PS. Luís Montenegro foi corajoso a demarcar-se, até ao limite que podia, de Miguel Albuquerque. Já no tabu da governabilidade, manteve-se redondo. Não quer dizer com as palavras todas o que sempre disse a vida toda: quem ficar em primeiro, deve governar. Mesmo que seja o PS. Ainda atirou Seguro, que tinha falado de manhã, contra Pedro Nuno (lembrando o acordo de redução do IRC assinado com o PSD). Montenegro esteve bem melhor que no frente a frente com Pedro Nuno Santos, o que agora contraria o spin da AD na última semana (confirmado pelas sondagens): que a perceção da bolha política não tem a ver com a perceção dos eleitores. Se agora correu bem, significa que correu mal? Já Pedro Nuno Santos apareceu em modo “português suave”, talvez por perceber o inverso: que a postura de combativo-fanfarrão não deu frutos nos estudos de opinião. Voltou a insistir no tabu de Montenegro, mas tinha perdido autoridade moral sobre o assunto ao desdizer-se toda a semana sobre o assunto. Quando os adversários atacaram Costa e os últimos oito anos de Governação foi forçado a defender os serviços públicos, que não estão famosos, como se fosse o incumbente. Depois de um debate em que correu bem, o resto da semana foi confusa e o debate não ajudou a voltar a recentrar-se. André Ventura voltou ao modo quem quer casar com a carochinha (insistindo que o Chega vai ser incontornável numa maioria de direita), mas o João Ratão favorito (o PSD) teima em negar. Num modelo que não favorece tanto a postura de bate-boca que têm os frente-a-frente, Ventura não conseguiu impor o seu estilo. E ainda levou com Rui Tavares a lembrar que convidou Miguel Albuquerque para a sua candidatura presidencial de 2021. Rui Rocha apresentou-se como o grande defensor dos privados (o que só o ajuda a agarrar o eleitorado liberal) e não poupou Montenegro por não dizer claramente que não viabiliza um governo o PS. Sousa Real soube abanar bem as bandeiras do PAN, sendo a primeira a puxar pelos ativistas climáticos que invadiram o debate para falar de ambiente (assunto pouco sexy e, por isso, quase ausente dos debates). Ainda acabaria por falar para quem tem animais de estimação, falando para o seu eleitorado mais fiel. Paulo Raimundo confirmou a inabilidade para debates, ficando-se por desejos naif que competiriam com Jacques de La Palice. Deixou claro, no entanto, que está dentro de uma solução que afaste a direita do poder. Ainda assim, Mariana Mortágua apresentou-se como a grande defensora da geringonça, o que à partida lhe garante votos.

* média das notas corrigidas ma manhã de sábado, dia 24, devido a um erro

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Falta apenas um único debate, o último e decisivo: será na rádio, esta segunda-feira, às 10h00, num simultâneo Rádio Observador, TSF, Rádio Renascença e Antena 1. Conta também com os oito líderes dos partidos com assento parlamentar, Pedro Nuno Santos, Luís Montenegro, André Ventura, Rui Rocha, Mariana Mortágua, Paulo Raimundo, Inês Sousa Real e Rui Tavares. Pode ver o calendário de todos debates que já se realizaram (e do que falta) neste gráfico.

O último debate dos líderes partidários é nas rádios

Pode recordar aqui as notas do debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro.

Pedro Nuno Santos anunciou que viabilizará Governo minoritário da AD, Luís Montenegro não desfez tabu. Quem venceu o debate?

Pode recordar aqui as notas dos debates da segunda semana: segunda-feira, terça-feira, quarta-feiraquinta-feira, sexta-feirasábado e domingo.

Notas dos debates. Quem foi melhor: Mariana Mortágua ou Inês Sousa Real, Luís Montenegro ou Rui Rocha?

As notas dos debates. Quem ganhou: Pedro Nuno ou Paulo Raimundo? Luís Montenegro ou Rui Tavares?

As notas dos debates. Quem ganhou: Pedro Nuno ou Mortágua, Rui Tavares ou André Ventura?

Notas do debate. Entre “anestesiar a saúde e bloquear a economia” e dar “borla fiscal à banca”, quem ganhou: Rui Rocha ou Mariana Mortágua?

Quem ganhou os debates desta quarta-feira, que terminaram com as visões opostas de Paulo Raimundo e Rui Rocha sobre o papel do Estado

As notas dos debates desta terça-feira, que acabaram com ataques de candidatos terroristas entre André Ventura e Mariana Mortágua?

As notas do debate. Montenegro recusa acordo com Chega populista e racista; Ventura diz que PSD “salta para o colo do PS”: quem venceu?

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