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O deputado da Iniciativa Liberal (IL), Bernardo Blanco, intervém durante o debate preparatório do Conselho Europeu, na Assembleia da República, em Lisboa, 19 de outubro de 2022. MANUEL DE ALMEIDA/LUSA
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Bernardo Blanco tem liderado os trabalhos da IL na comissão parlamentar de inquérito à TAP

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Bernardo Blanco tem liderado os trabalhos da IL na comissão parlamentar de inquérito à TAP

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Bernardo Blanco: "PS não consegue tirar a mão das empresas públicas. É nefasto"

Em entrevista, Bernardo Blanco, deputado da IL em destaque na comissão de inquérito à TAP, acusa o PS de fazer "gestão partidária" da companhia aérea e carrega contra Pedro Nuno e João Galamba.

Bernardo Blanco, o deputado que tem liderado os trabalhos da Iniciativa Liberal na comissão de inquérito à TAP, não tem dúvidas: do que foi possível apurar nas várias audições parlamentares feitas até ao momento, é cada vez mais evidente que o PS não consegue “tirar as mãos” das empresas públicas em que envolve o Estado e que faz uma “gestão quase partidária” da coisa pública.

Em entrevista ao Observador, no programa “O Sofá do Parlamento”, Blanco lamenta que a guerra que se vai travando no PS pelo futuro pós-António Costa tenha contaminado a gestão da companhia aérea. “Existe uma ala de Pedro Nuno Santos e de João Galamba que não quer envolver a ala de Fernando Medina em nada. Coisa que avisámos que iria acontecer e cada vez se está a saber mais, infelizmente.”

Depois de ter revelado a existência reunião “secreta” entre parlamentares do PS, a CEO da TAP e membros dos gabinetes ministeriais promovida por João Galamba, a Iniciativa Liberal vai pressionar para que seja revelada a lista completa dos deputados que estiveram presentes — admitindo que o socialista Carlos Pereira não tenha sido o único a fazê-lo — e admite pedir a sua exclusão da comissão de inquérito à TAP. De todo em todo, a conclusão já existe: “João Galamba continua o tipo de gestão e de interferência política que Pedro Nuno Santos já tinha”.

[Ouça aqui o Sofá do Parlamento com o deputado Bernardo Blanco]

Bernardo Blanco, da Iniciativa Liberal: “Galamba continua interferência de Pedro Nuno”

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“Existia muita interferência política na gestão da TAP”

Na sequência das audições desta semana o presidente da Iniciativa Liberal já pediu a demissão de João Galamba e também a de Ana Catarina Mendes. Não é perigoso entrar nesta vertigem de pedir cabeças de ministros? 
Os pedidos de demissão não foram gratuitos, têm uma razão de ser. Há três casos muito graves, um deles uma reunião secreta entre deputados do PS e a CEO da TAP para preparar ou até combinar perguntas e respostas. A CEO disse que a iniciativa tinha sido recomendada pelo Ministério liderado por João Galamba e já pedimos todas as documentações, emails, notas de calendário aos Ministérios e ao grupo parlamentar do PS para saber de quem é que esta iniciativa partiu e quem é que esteve presente na reunião. Se há deputados que estiveram nessa reunião e agora estão na comissão de inquérito, há uma questão de potencial conflito de interesses que deve ser averiguada.

João Galamba tornou-se uma figura mais importante nesta comissão de inquérito? Apesar de não ser ministro na altura em que a gestão está a ser fiscalizada
João Galamba continua o tipo de gestão e de interferência política que Pedro Nuno Santos já tinha. Nesta comissão de inquérito também descobrimos que João Galamba deu instruções ao CFO para não existir apresentação de resultados da companhia. Isto é um ministro a interferir na gestão da companhia. Temos o ex-secretário de Estado Hugo Mendes a editar um comunicado da TAP em resposta ao Governo, temos alterações a apresentações comerciais da companhia feitas por membros do Governo… O que temos visto, tal como a CEO disse, é que existia muita interferência política na gestão da TAP. O PS não tirava a mão da empresa. Era uma gestão não só pública mas quase partidária e isso é uma prova de que o Estado não deve estar presente na economia ao nível do que tem estado. O PS não consegue não pôr a mão nas empresas públicas. Isso é muito nefasto.

O PSD vai pedir para ouvir João Galamba. Concordam que é importante ouvi-lo?
Claro, tendo em conta o que foi divulgado temos que ouvir o ministro João Galamba.

O PSD vai pedir à Comissão de Transparência uma avaliação da isenção do deputado do PS, Carlos Pereira, que esteve nessa reunião. Para a Iniciativa Liberal este deputado tem condições para continuar na comissão de inquérito?
Temos que perceber um bocadinho melhor o caso. Se tiverem combinado perguntas e respostas, parece-me uma coisa muito grave. Se só se tiver partilhado informação, acho completamente inadmissível na mesma, mas podemos achar que esse deputado e outros, porque ainda não conhecemos a lista completa, podem permanecer na reunião. Até agora, só sabemos do deputado Carlos Pereira. Provavelmente, Carlos Pereira não esteve sozinho porque nem era coordenador na comissão de economia. Estava lá já como coordenador do PS na comissão de inquérito à TAP.

O coordenador na de economia, Hugo Costa, é outro deputado que também está na comissão de inquérito
Carlos Pereira já foi convocado, a meu ver, como coordenador na comissão de inquérito o que é ainda mais grave.

Já disse que este tipo de reuniões não podem ser prática. A Iniciativa Liberal pondera propor alguma alteração ao Parlamento? Por exemplo, que tenham que ser registadas na agenda pública das reuniões dos grupos parlamentares?
Brevemente vamos submeter a proposta sobre o lóbi. Não sei se a questão é a mesma, mas o projeto até pode ser adaptado se fizer sentido. As reuniões que os grupos parlamentares têm podem ser tornadas públicas. Hoje em dia, só são públicas se os partidos assim o quiserem. A maioria dos partidos não o tem feito. Mas, mais grave do que isso, é a reunião ser com a presidente de uma empresa pública que recebeu 3,2 mil milhões de euros dos portugueses e que vem a uma audição parlamentar dar explicações. É uma pessoa de fora que vem ser escrutinada e estamos a fazer uma espécie de audiência prévia numa lógica de um advogado que antes do julgamento fala com as testemunhas. Isso não pode ser.

"Claro que estes casos têm impacto na imagem da TAP, mas isso é responsabilidade do PS. Há casos porque o PS os promoveu e geriu mal. Isto reflete que o Estado em Portugal está demasiado presente na economia e quanto mais os partidos puserem as mãos nas empresas mais isto vai acontecer"

“Hugo Mendes era provavelmente o pior amigo da CEO”

Na audição de Christine Widener foi possível perceber a presença constante do Ministério das Infraestruturas na gestão da TAP, tendo Hugo Mendes como principal interlocutor. O ex-secretário de Estado é a figura central desta comissão de inquérito ou acredita que era apenas um elo de ligação com Pedro Nuno Santos?
Era o braço direito de Pedro Nuno Santos. O que se conclui é que Hugo Mendes está metido em tudo, em todos os casos. Provavelmente, era o pior amigo da CEO, não sei se ela teria noção na altura. Recentemente, Christine Widener foi nomeada para a Câmara do Comércio Externo de França, o que é proibido pelo Estatuto do Gestor Público. Por acaso, comunicou ao Ministério que disse para sair desse lugar. A CEO saiu, mas diz que Hugo Mendes tinha dito que podia integrar esse órgão à vontade. Se a CEO confiasse sempre nas informações que o ex-secretário de Estado lhe dava estava metida em várias trapalhadas. O caso de Alexandra Reis é mais um, o despacho é surreal. Pedro Nuno Santos, sabendo de tudo, pede esclarecimentos à TAP e quem responde é a TAP em conjunto com o secretário de Estado. Foi tudo um número público, era tudo uma fachada. É completamente surreal.

A CEO diz que não vê razões para ser demitida. Tem a mesma opinião? Christine Widener é um bode expiatório do Governo ou tem também culpas que deve assumir?
A CEO tem responsabilidades e isso parece completamente consensual. Foi quem liderou o processo de despedir Alexandra Reis. Apesar de só terem existido quatro audições, pelas informações a que tivemos acesso, já é bastante consensual. Confiou obviamente na informação do advogado, mas, como número um da empresa, tem responsabilidades. Se foi grave o suficiente para ser demitida é outra questão. Existiu uma grande pressão mediática e política para que isso acontecesse. Fernando Medina teve uma grande pressão. A CEO admitiu que Medina lhe disse que era a pessoa ideal para o cargo e com ótimos resultados.

Mas não existiu um lavar de mãos da CEO no despedimento de Alexandra Reis? Que depois foi contraposto pela ex-administradora.
Sim, claramente a CEO liderou o processo de despedir Alexandra Reis, mas também esclareceu que o Governo estava a par de tudo. Alexandra Reis também diz que só soube da saída no dia 26 de janeiro e sabemos que, muito antes disso, a CEO já tinha falado com o Governo. Aliás, Alexandra Reis diz que perguntou à CEO se o Governo estava de acordo e a CEO disse “of course”, que é uma expressão engraçada.

"Existe uma ala de Pedro Nuno Santos e de João Galamba que não quer envolver a ala de Fernando Medina em nada. Até existe aquela mensagem do ex-secretário de Estado Hugo Mendes a dizer à CEO para não falar com mais nenhum Ministério. Pelos vistos, João Galamba repete esse processo e também não envolve Fernando Medina"

“Relação entre Alexandra Reis e mulher de Medina despertou-me curiosidade”

Fernando Medina geriu mal o processo da auditoria da Inspeção Geral de Finanças e da demissão da CEO? 
A auditoria parece-me bastante parcial. Sei que a IGF deve ser uma entidade independente mas sendo tutelada pelas Finanças nunca vai ser completamente. O email que Alexandra Reis envia a dar conta de que põe o lugar à disposição também foi para o secretário de Estado do Tesouro da altura. Não percebo como é que não se ouve esse secretário de Estado no relatório. As Finanças eram o acionista e não foram ouvidas. Fernando Medina assinou o despacho para Alexandra Reis passar para a NAV e depois para a secretaria de Estado do Tesour e ninguém das Finanças foi ouvido. Quem fazia a ligação da TAP às Finanças era o CFO, que foi ouvido muito rapidamente e que a IGF optou por nem colocar as declarações. Parece que tudo foi feito para tirar as Finanças do relatório. Não digo que não tenha informações válidas, mas tudo o que tem a ver com as Finanças não está no relatório e parece que a IGF não tentou saber o que é que as Finanças conheciam. E há ainda o facto, sendo mais polémico, que a diretora jurídica da TAP ser a mulher do ministro das Finanças e não se procurou ouvi-la. Acho incompreensível como é que os serviços jurídicos da TAP não foram envolvidos em nada numa saída desta dimensão.

A relação entre Fernando Medina e Alexandra Reis precisa de ser clarificada ou as explicações da ex-administradora foram esclarecedores? 
Fiquei com algumas dúvidas. Alexandra Reis disse que tinha muito boa relação profissional com a ex-diretora jurídica e disse que, em 2022, quando já não estava na TAP, esteve com ela duas vezes numa “lógica de networking”.

O que é que isso pode querer dizer?
Despertou-me curiosidade a expressão. Tendo uma “muito boa relação”, a mulher de Fernando Medina pode-lhe ter recomendado Alexandra Reis [para o Governo]. Não acho que isso tenha mal, mas convinha que se dissesse. Uma pergunta que ficou por responder — e tentei fazê-la várias vezes — é que Alexandra Reis disse que se dava muito bem com pessoas das Finanças, e que essas pessoas também a poderiam ter recomendado ao ministro. Mas nunca disse quem eram. Referiu apenas o chefe de gabinete e alguns assessores, sem nomes. Fica-se ainda sem perceber como é que Fernando Medina chegou ao nome de Alexandra Reis. Talvez quando Medina vier à comissão de inquérito se consiga saber.

O Observador revelou que o Ministério das Finanças foi deixado à margem da tal reunião “secreta” entre a CEO da TAP, membros do Governo e deputados do PS. Acredita que este afastamento é estratégico dentro do Governo ou Medina está igualmente por dentro dos dossiers?
É a tal lógica de que falava: existe uma gestão partidária da TAP.

Uma gestão partidária que pelos vistos quer exclusividade nessa relação com a CEO.
Existe uma ala de Pedro Nuno Santos e de João Galamba que não quer envolver a ala de Fernando Medina em nada. Até existe aquela mensagem do ex-secretário de Estado Hugo Mendes a dizer à CEO para não falar com mais nenhum Ministério. Pelos vistos, João Galamba repete esse processo e também não envolve Fernando Medina.

São as lutas internas do PS a entrar na gestão da companhia?
São relações partidárias a intrometerem-se na gestão pública da TAP. Coisa que avisámos que iria acontecer e cada vez se está a saber mais, infelizmente.

Com o que se sabe ao dia de hoje, já é possível dizer que Gonçalo Pires mentiu à comissão de Inquérito? 
Sim, acho que se pode dizer. Estava a pensar se isto podia ter implicações, mas acho que já se pode dizer que mentiu e isso também tem consequências, porque não se pode mentir na comissão de inquérito, que tem praticamente o estatuto de tribunal. No final, dependendo do que vier no relatório, podem ser tiradas consequências. Mas parece-me que sim, que o CFO mentiu.

Seria importante ouvi-lo novamente ou pedir esclarecimentos adicionais por escrito?
Sim, foi uma hipótese que já se ponderou, mas ainda não está nada decidido. Na própria audição ficou claro que o CFO estava confuso nalgumas respostas ou não queria dizer algumas coisas. Tinha algum conhecimento informal mas não sabia bem as datas e aí começou a dar para ver que havia mais do que o que estava a dizer. Chamá-lo uma segunda vez pode ser útil. Mas primeiro ainda há muita gente a ouvir.

"Tendo uma 'muito boa relação', a mulher de Fernando Medina pode-lhe ter recomendado Alexandra Reis [para o Governo]. Não acho que isso tenha mal, mas convinha que se dissesse. Uma pergunta que ficou por responder - e tentei fazê-la várias vezes - é que Alexandra Reis disse que se dava muito bem com pessoas das Finanças, e que essas pessoas também a poderiam ter recomendado. Mas nunca disse quem eram. Fica-se ainda sem perceber como é que Fernando Medina chegou ao nome de Alexandra Reis"

“António Costa posiciona-se escondido”

Onde é que se posiciona o primeiro-ministro no meio de todas estas revelações que têm surgido. É possível que não estivesse a par destes casos?
Posiciona-se escondido. Até achei curioso que tivesse dito que é preciso apurar toda a verdade. Não sei se o primeiro-ministro ficou assim tão contente com essa frase. Se sabia das coisas ou não? Não faço a mais pequena ideia. Há muitos casos de gestão de dia a dia que duvido que o primeiro-ministro saiba.

Mas a questão da gestão quase caso a caso.
O primeiro-ministro é o responsável máximo pelo Governo. António Costa tem de dar a cara pelo que se passa. No mês passado,o ganhou uma boia de salvação que desviou as atenções e o PS fez por isso: o palco do Papa. Ainda tiveram esta quarta-feira a ajuda do caso do Trump, mas parece-me inevitável que o primeiro-ministro assuma as responsabilidades e, infelizmente, ainda haverá mais coisas na TAP a divulgar.

A Iniciativa Liberal gostava de ver uma boa privatização da TAP. Estes casos todos e estas polémicas não podem prejudicar esse negócio?
Uma boa privatização já vai ser muito difícil. Pelo que é possível apurar, já se está no processo de privatização há quase um ano, o que é muito grave. O Governo e a TAP fingem que não há nenhum processo e estão a fazer um informal. Começaram em março, selecionaram uma empresa, a Evercore, que desde o verão tem apresentações comerciais para vender a TAP e que está há 9 meses a operar sem contrato. Não sei se é ilegal, mas parece pouco provável que não seja. O Governo está a fazer tudo à margem e isso já é um mau começo. Claro que estes casos têm impacto na imagem da empresa, mas isso é responsabilidade do PS. Há casos porque o PS os promoveu e geriu mal. perdemos o dinheiro e estamos a saber de casos que em nada dignificam as instituições, não só o Governo mas que já está a chegar ao Parlamento.

Terminamos com uma questão mais sobre o seu papel de vice-presidente da Iniciativa Liberal. Já foram justificadas as saídas de alguns assessores que eram próximos de Carla Castro. Esta era a forma ideal de pacificar o partido depois de um congresso onde ficaram expostas várias fraturas? 
Só um é que saiu da Assembleia da República. O outro foi uma decisão local, que não posso comentar, nem enquanto deputado nem como dirigente nacional. Nesse caso falamos de alguém com bastantes valências, mas que, com a reorganização das comissões, ficou sem espaço e por isso saiu.

E Carla Castro continua a fazer parte do dia a dia do grupo parlamentar?
Claro, estamos unidos. Oito deputados. Um grupo parlamentar

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