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O nome de Călin Georgescu não era favorito nas sondagens. A segunda volta é dia 8 de dezembro

DIGI24/INQUAM PHOTOS/AFP via Get

O nome de Călin Georgescu não era favorito nas sondagens. A segunda volta é dia 8 de dezembro

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Călin Georgescu. Quem é o romeno pró-Putin que pode chegar a Presidente e acabar com o apoio a Kiev

Foi expulso do partido de extrema-direita pelos seus elogios a Putin e fez campanha no TikTok. Se for eleito, a UE pode ter um novo Viktor Órban — e Kiev e a NATO podem perder o apoio fiel da Roménia.

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Num cavalo branco, vestido com trajes tradicionais romenos, a derrotar o seu oponente num combate de judo e a correr numa pista de atletismo. No final, o slogan “Reconstruir a Roménia. Călin Georgescu 2024”. É o que se pode ver num dos vídeos da campanha eleitoral de Călin Georgescu, o vencedor da primeira volta das eleições presidenciais na Roménia, no passado domingo. Os vídeos surpreendentes de Georgescu, publicados principalmente no TikTok, ajudaram a transmitir a sua mensagem ultranacionalista, pró-Rússia, anti-NATO e anti-União Europeia. Se a campanha foi inesperada, o resultado nas urnas foi surpreendente: as sondagens não lhe davam mais de 10% — Georgescu conseguiu 22,94%.

Georgescu vai agora à segunda volta, no dia 8 de dezembro, onde vai enfrentar Elena Lasconi, a candidata do partido liberal União Salvar a Roménia (USR). Pelo caminho ficou o candidato que liderava as sondagens, o primeiro-ministro Marcel Ciolacu, dos sociais democratas (PSD, centro-esquerda). E o choque cresce, pois a queda do PSD na primeira volta é uma derrota história para o partido. Será a primeira vez que um candidato do PSD não vai à segunda volta desde a revolução romena de 1989. Mas o crescimento da extrema-direita romena não é uma preocupação apenas interna. A norte, ao longo de mais de 650 quilómetros de fronteira, está a Ucrânia, que tem beneficiado do apoio firme de Bucareste desde o início da invasão russa.

@calingeorgescuoficial Importanța sportului în viața noastră. Vorbim despre importanța sportului în viața noastră. Sportul este o poveste de dragoste care trebuie apreciat, respectat și practicat în fiecare zi. Sportul ne învață să nu renunțăm niciodată și să mergem până la capăt, să avem dorința de a câștiga și de a fi campioni. Am trăit bucuria alături de marii noștri campioni din gimnastică, handbal, fotbal, canotaj. România a avut și va avea campioni în viitor, iar noi trebuie să îi chemăm, să îi educăm, să îi formăm și să îi inspirăm pentru a putea deveni campioni. #sport #pasiune #campioni #România #disciplină #muncă #învingere #calingeorgescu #calingeorgescu2024 #românia #fy ♬ sunet original - calingeorgescu

As posições de Georgescu também levantam preocupações dentro da União Europeia. A sua declarada neutralidade traduz-se em simpatia pelo regime de Vladimir Putin, uma posição semelhante à de outro líder europeu — o húngaro Viktor Órban –, que levaria a ainda mais bloqueios à ajuda à Ucrânia em Bruxelas. Além da UE, também a NATO tem peças em jogo na Roménia, que se tornou no segundo maior bastião da Aliança Atlântica na Europa de Leste, a seguir à Polónia. As críticas de Georgescu à NATO põem em risco planos internacionais para a região. Várias teias internacionais concentram-se assim, até ao dia 8 de dezembro, num palco improvável: Bucareste.

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O elogio à “sabedoria russa”, os “heróis nacionais” fascistas e a vergonha diplomática da NATO. O que defende Călin Georgescu?

“Reacendemos a chama da esperança e o povo romeno escolheu deixar estar de joelhos, de ser humilhado”, afirmou o professor universitário de 62 anos durante o seu discurso de vitória, refletindo o seu lema de campanha “Restaurar a dignidade da nação romena”. Călin Georgescu saiu vitorioso depois de conduzir uma campanha baseada no ultranacionalismo e no protecionismo económico. Mas de onde surgiu esta figura? Trabalhou na área da agricultura, como diretor de várias agências, e foi relator especial das Nações Unidas. A par disso, foi conselheiro de vários governos da última década.

Entrou no holofote político quando foi cabeça de lista pela Aliança pela União dos Romenos (AUR), o partido de extrema-direita, nas eleições legislativas de 2020. Dentro do partido, Georgescu destacou-se pelas suas posições contra a NATO, a União Europeia e o apoio militar à Ucrânia e a favor da Rússia. “É um homem que ama o seu país”, afirmou sobre Vladimir Putin em 2022, elogiando a sua capacidade de fazer tudo o que for necessário pelo seu país e a “sabedoria russa”, e afirmando a sua proximidade com a herança cultural russa — um posicionamento que vai de encontro à hostilidade que os países ex-comunistas habitualmente sentem por Moscovo. Oana Popescu-Zamfir, diretora do think tank romeno GlobalFocus Center, relata ao Observador que, repetidamente, Georgescu olha para a Rússia como um vizinho com valores semelhantes, alinhados com o cristianismo ortodoxo e contra os valores ocidentais: “É um eco de propaganda do Kremlin”, alerta a investigadora romena.

Os partidos de extrema-direita institucionalizaram-se ou foram proibidos de estar nos boletins de voto. "Isto criou um vazio na oferta política que foi preenchido por Călin Georgescu."
Sergiu Mișcoiu, diretor do centro de cooperação internacional da Universidade Babeș-Bolyai, na Roménia

Ainda antes da invasão russa na Ucrânia, em fevereiro de 2022, Georgescu tinha deixado críticas à NATO, ao afirmar em 2021 que a colocação de sistemas de mísseis norte-americanos no sul da Roménia era “uma vergonha para a diplomacia” e um desafio à Rússia, mais do que uma medida de paz. Olhando para dentro, classificou Ion Antonescu — o líder romeno durante a II Guerra Mundial, colaboracionista do regime nazi na Roménia — e Corneliu Codreanu — líder do movimento antissemita romeno Guarda de Ferro, dos anos 20 e 30 — como “heróis nacionais”. Criticado, recusou as acusações de apologia do fascismo.

O acumular de afirmações polémicas fez com que fosse expulso da AUR, em 2022. Sergiu Mișcoiu, diretor do centro de cooperação internacional da Universidade Babeș-Bolyai, na Roménia, explica ao Observador que o afastamento de Georgescu foi uma tentativa do partido se “institucionalizar e polir” e tornar-se menos radical nas eleições. “Isto criou um vazio na oferta política que foi preenchido por Georgescu”, aponta Mișcoiu. Mas o corte de laços entre Georgescu e a AUR não foi definitivo. O candidato da AUR, George Simrion, conquistou um quarto lugar nas presidenciais, com 13,87% (nas sondagens, rondava os 16% e a possibilidade de chegar à segunda volta) e no seu discurso na noite eleitoral apelou ao voto em Georgescu na segunda volta.

Falando nas sondagens, o Center for European Policy Analysis destaca que as sondagens na Roménia são pouco fiáveis. Ainda assim, a vitória de Georgescu surpreendeu: o seu nome nunca apareceu nas projeções de candidatos à segunda volta, as suas intenções de voto não passavam dos 10%, nos cenários mais animadores e o seu nome continuava ausente das primeiras projeções da noite eleitoral. A sua ascensão meteórica ao longo da noite eleitoral de domingo foi uma combinação de múltiplos fatores internos, mas também externos.

A “tempestade perfeita”: o TikTok, a inflação, a inconstitucionalidade da extrema-direita e a mão do Kremlin

Călin Georgescu passou despercebido nos media mainstream: participou em debates, mas deu poucas entrevistas a jornais e televisões e não teve a mesma cobertura mediática dos restantes partidos. Mas, no TikTok, a sua campanha corria a todo o gás. Com mais de 300 mil seguidores e 4 milhões de gostos, Georgescu partilhou dezenas de vídeos, desde excertos dos debates eleitorais a vídeos com mais produção, como aquele em que anda a cavalo e pratica desporto — não muito diferente de imagens protagonizadas por Vladimir Putin no passado. Os escassos eventos de campanha limitaram-se a zonas rurais, cuidadosamente selecionadas.

@calingeorgescuoficial Alegerile și libertatea în România - Ștefan Mandachi și Calin Georgescu Vorbim despre faptul că la alegerile din 24 noiembrie, nu votăm doar președintele, ci alegem de ce parte a istoriei ne vom afla. Discutăm despre lipsa de libertate actuală și cum prima condiție pentru a fi liber este să conștientizezi că ești în închisoare. #alegeri #libertate #istorie #calingeorgescu #CĂLINGEORGESCU #fyp #tiktokromania #fypp #romaniaistorie #5pasidebine ♬ sunet original - calingeorgescu

A importância do TikTok na Roménia é considerável. Por um lado, quase 50% dos romenos estão no TikTok (9 milhões de utilizadores entre 19 milhões de habitantes), o que faz com que a aplicação tenha um enorme alcance. O alcance é ainda mais expressivo entre a diáspora romena na Europa, que bateu recorde de afluência e votou mais à direita do que é habitual, salienta Kamil Całus, investigador no think tank OSW. Para além disso, o algoritmo ajuda a fazer uma “campanha agressiva”, classifica o professor de relações internacionais Valentin Naumescu, através da utilização de hashtags ou colaboração com influencers. A própria natureza da aplicação alimentou o crescimento de Georgescu, porque o candidato a soube utilizar. Mas o TikTok sozinho não explica tudo, sublinha o professor à Digi24.

Outra dimensão é mais reconhecível nos restantes países da Europa: Georgescu conquistou votos entre uma população afetada pela crise económica. A Roménia tem as taxas de inflação mais altas da União Europeia — em outubro de 2024, atingiram os 5%. Além disso, a população desempregada concentra-se nas zonas rurais, precisamente onde Georgescu realizou os seus eventos. A palavra “frustração” é utilizada por todos os analistas romenos: frustração com a crise económica, com o papel passivo da Roménia na UE, com a forma como o governo enfrentou a pandemia e com a guerra na Ucrânia — tanto com o investimento recorde na Defesa, como com a abertura de portas e ajuda a refugiados ucranianos, com quem têm diferenças culturais profundas.

"As suas políticas caminham para o protecionismo económico, sem concessões à Ucrânia, a outros vizinhos ou à UE. Lembra os tempos de Ceaușescu, antes de 1989, em que a Roménia era autossuficiente."
Oana Popescu-Zamfir, diretora do 'think tank' romeno GlobalFocus Center

Tudo isto criou uma desilusão com os partidos do sistema e abriu terreno fértil à extrema-direita populista e nacionalista. Călin Georgescu, com as suas medidas para apostar na Roménia, foi um dos melhores exemplos desta fação, tal como o próprio destacou no seu discurso de vitória. “As suas políticas caminham para o protecionismo económico, sem concessões à Ucrânia, a outros vizinhos ou à UE. Lembra os tempos de Ceaușescu, antes de 1989, em que a Roménia era autossuficiente”, compara a especialista Popescu-Zamfir.

Ao mesmo tempo, este voto de protesto e revolta podia ter acabado diluído entre os restantes partidos de extrema-direita. Mas aqui surge outra dimensão que beneficiou Georgescu: o facto de o Tribunal Constitucional ter impedido Diana Șoșoacă, deputada no Parlamento Europeu, de concorrer, por considerar as suas políticas inconstitucionais. “Isto criou uma oportunidade para Georgescu, de obter o legado de Șoșoacă, que tinha mais números nas sondagens“, explica ao Observador o professor Mișcoiu.

Além de todos estes fatores internos, os especialistas recusam excluir uma outra explicação, que já foi analisada na Moldávia, na Geórgia e na Bulgária: a possível interferência do Kremlin no processo eleitoral. Popescu-Zamfir chama-lhe “modus operandi de Moscovo”, Mișcoiu refere-se ao “manual de propaganda da Rússia”. E sugerem que a operacionalização terá acontecido através do pagamento a influencers e parceiros de negócios e da criação de bots — contas online automáticas — para promover os conteúdos de Georgescu, principalmente nas redes sociais. Mas destacam que, apesar de plausível, é necessária mais investigação para confirmar esta teoria ou até interferências mais diretas.

A partir de Moscovo, a reação foi contida. “Não podemos afirmar que estamos familiarizados com as posições do candidato em relação ao nosso país”, afirmou Dmitry Peskov. Ainda assim, o porta-voz da presidência russa admitiu que as relações de Bucareste face à Rússia eram hostis e que iam continuar a monitorizar o processo eleitoral. A “hostilidade” a que o Kremlin aponta o dedo é resultado de um apoio firme da Roménia à defesa ucraniana, ao longo dos últimos quase três anos de guerra.

Roménia: o bastião da NATO no flanco leste da Europa (que inclui portugueses) e o aliado fiel de Kiev

A relação história entre Kiev e Bucareste não é tranquila. A Roménia acusou por várias vezes a Ucrânia de discriminação contra as minorias romenas no país — críticas semelhantes às deixadas pela Hungria. Mas a invasão russa, em fevereiro de 2022, pôs de lado divergências antigas entre os dois países para apontarem baterias a um inimigo comum. O apoio da Roménia à Ucrânia passa por duas grandes dimensões: militar e económica.

Na dimensão militar, os dois países assinaram um acordo de segurança para dez anos e a Roménia entregou armamento — incluindo um sistema de defesa anti-aérea Patriot, um dos poucos países que o fez — e treinou pilotos e forças especiais do Exército ucraniano. Estas medidas resultaram no aumento recorde dos gastos em Defesa: em 2024, o orçamento para esta área foi de 19 mil milhões de euros. Assim, pela primeira vez desde que se juntou à NATO em 2004, Bucareste cumpriu as metas de investimento da Aliança Atlântica de 2% do PIB. Por comparação, em 2023, o valor estava nos 1,6%; agora, está nos 2,5%. Isto faz da Roménia um dos bastiões da NATO na Europa de Leste.

Para além de ter agora o segundo maior exército da região (75 mil operacionais, superados apenas pelos mais de 120 mil da Polónia), a Roménia é base para as missões de dissuasão da Aliança Atlântica, entre as quais se destaca a Enhanced Vigilance Activity (EVA). As atividades contam com a participação de vários Estados-membros da Aliança, incluindo Portugal. O contingente português na Roménia integra, pela primeira vez, uma Unidade de Operações Especiais com capacidade para comandar as suas próprias missões. Ao todo são 281 operacionais portugueses, 60 das operações especiais.

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A Roménia é palco de várias missões da NATO, incluindo uma que mobiliza mais de 200 operacionais portugueses, 60 das operações especiais

Anadolu via Getty Images

Mas o investimento da NATO vai mais longe. Para além da colocação de mísseis — os criticados por Georgescu — a Aliança tenciona construir até 2030 a maior base militar na Europa, com capacidade para 10 mil soldados, superando a base militar de Ramstein, na Alemanha. É de notar que o apoio romeno à Ucrânia não é totalmente desinteressado. A Roménia é o Estado-membro da NATO que registou mais meios russos no seu espaço aéreo, incluindo vários drones que caíram no seu território. Bucareste tem sentido diretamente a ameaça do Kremlin e a Ucrânia tem sido a sua linha de defesa entre Moscovo.

Este investimento recorde na NATO e na defesa da Ucrânia é alvo de críticas de Georgescu, que acusa a Aliança de não defender os interesses da Roménia, mas sim de utilizar o país para os seus próprios fins. Em vez disso, o candidato presidencial independente segue “a onda Donald Trump”, como define Popescu-Zamfir. “Georgescu diz que a Roménia deve ser neutral: o facto de estarmos na UE e na NATO faz-nos mal e devemos parar toda a ajuda à Ucrânia, seguir uma paz fácil e negociada, a todo o custo. O mais importante é cortar os custos e perdas da Roménia”, explica ao Observador. A investigadora volta à questão da crise económica para notar que esta solução encontra eco na população. Os gastos na Ucrânia são vistos como “desnecessários” e só criam ainda mais instabilidade no país — e a solução passa por conceder territórios à Rússia. “As pessoas pensam ‘já nos habituámos a [ceder à Rússia] ao longo da História, vamos é acabar com a guerra‘”, resume.

Contudo, além da dimensão militar, surge uma segunda questão, relativa às exportações agrícolas. Com a ofensiva russa, muitos dos portos ucranianos no Mar Negro ficaram inoperacionais. Como alternativa, os produtos agrícolas que abastecem o resto do continente — não é por acaso que a Ucrânia é o “celeiro da Europa” — têm sido escoados através da Roménia. Isto exigiu novos investimentos na reabilitação de portos romenos e das rotas de exportação, marítimas e terrestres. “A adaptação destas rotas foi um esforço adicional que não aconteceu sem atrito entre Kiev e Bucareste”, destacou o analista da Ucrânia, Simon Schlegel à Radio Free Europe/Radio Liberty.

Se Georgescu conseguir impor as suas medidas eleitorais, de protecionismo económico, este escoamento pode ficar ameaçado, colocando em risco não só a economia ucraniana como o abastecimento de toda a Europa. Mas, caso seja eleito, qual será realmente o papel do Presidente romeno para aplicar as suas políticas?

Eleições legislativas, eleições presidenciais e a margem real para Călin Georgescu ser eleito e impor as suas medidas

É preciso sublinhar novamente que Călin Georgescu ainda não foi eleito e ainda terá de enfrentar as urnas na segunda volta. Mas a sua eleição é quase certa, admite Sergiu Mișcoiu. Em primeiro lugar, porque o independente conta já com o apoio da AUR. Por outro lado, é improvável que os restantes partidos apelem ao voto em Lasconi para formar um “cordão sanitário” contra a extrema-direita. Porquê? Porque antes da segunda volta das eleições presidenciais — dia 8 de dezembro –, os romenos vão às urnas para votar nas eleições legislativas no dia 1 de dezembro.

Neste momento, o governo romeno é composto por uma coligação entre os sociais-democratas de centro esquerda (PSD) e os democratas cristãos de centro direita (PNL). Os candidatos presidenciais do PSD e PNL ficaram, respetivamente, no terceiro e quinto lugares e os líderes dos partidos apresentaram a demissão, face à derrota histórica. Por isso, os dois partidos moderados e do sistema apresentam-se às legislativas profundamente fragilizados e farão de tudo para minimizar as suas perdas. Ora, apelando ao voto na liberal Lasconi para as presidenciais, surge o risco de esse ser interpretado como um duplo apelo para o voto nas legislativas e o PSD e o PNL sofrerem uma dupla derrota, nas duas eleições. “Esta estratégia, de pôr as legislativas entre as duas voltas das presidenciais, foi criada pelo PSD [numa tentativa de combater a extrema-direita]”, explica Miscoiu. “Mas virou-se como um boomerang contra eles”, remata.

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É improvável que os partidos do governo apelem ao voto útil na adversária de Georgescu, Elena Lasconi

AFP via Getty Images

As legislativas mudam completamente o que representa a eleição de Georgescu para a Roménia. Se as eleições presidenciais fossem isoladas, os seus poderes seriam limitados. A Roménia, tal como Portugal, é um sistema semi-presidencialista de pendor parlamentar. Ou seja, o Presidente é o chefe das Forças Armadas e o representante internacional, mas o poder de decisão está principalmente nas mãos do governo e do sistema de partidos no Parlamento. Contudo, é o Presidente que deve nomear o Governo na ausência de uma maioria absoluta nas urnas, depois de consultar os partidos — uma vez mais, um processo com que Portugal está familiarizado.

Ora, tudo aponta para que, depois do dia 1, o Parlamento romeno fique ainda mais fragmentado. Nesse caso, estaria nas mãos do Presidente, possivelmente Georgescu, nomear o governo. “Ele pode muito bem nomear a AUR. Se for eleito, terá muita margem de manobra para organizar o próximo governo”, considera Mișcoiu.

"Călin Georgescu tem de passar pelo Conselho de Segurança, consultar o Parlamento e está completamente sozinho, porque não tem um partido. Isso vai-lhe pôr limitações à sua margem de manobra."
Oana Popescu-Zamfir, diretora do think tank romeno GlobalFocus Center

Oana Popescu-Zamfir é mais otimista e discorda que Georgescu consiga assim tanta margem de manobra para decisões extremas no que toca à política externa. “Ele tem de passar pelo Conselho de Segurança, consultar o Parlamento e está completamente sozinho, porque não tem um partido. Isso vai pôr-lhe limitações”, argumenta.

A sucessão de legislativas e presidenciais vai ajudar a decidir muito mais do que o futuro da Roménia. A primeira volta das presidenciais contou com uma afluência na casa dos 51%, semelhante às últimas eleições. Mas, no seu discurso de vitória, Georgescu apelou a uma ida em massa às urnas para aumentar este número. Os resultados eleitorais das próximas duas semanas vão dar respostas mais concretas a Kiev e a Bruxelas. A Ucrânia saberá se pode continuar a contar com um dos seus maiores apoiantes. Já a União Europeia corre o risco de ganhar um “segundo Viktor Orbán” em Bruxelas e “perder” mais um Estado membro para a área de influência de Vladimir Putin.

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