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O CDS continua a sonhar com Portas, que nunca excluiu a hipótese de avançar
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O CDS continua a sonhar com Portas, que nunca excluiu a hipótese de avançar

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

O CDS continua a sonhar com Portas, que nunca excluiu a hipótese de avançar

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

CDS mantém esperança de ver Portas em Belém e divide-se sobre plano B (Gouveia e Melo ou Mendes)

Democratas-cristãos mantêm esperança de que Portas esteja disponível para Belém, acreditando que iria buscar votos a eleitorado do PSD. Gouveia e Melo e Marques Mendes dividem partido.

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Um encontro noturno com Nuno Melo e a notícia de Henrique Gouveia e Melo que não quer ser reconduzido na Armada puseram o país político a fazer contas sobre as futuras presidenciais. Por maioria de razão, no CDS os cálculos também se vão fazendo, sempre com um desejo na cabeça: se Paulo Portas quiser e der sinal de que tem disponibilidade para entrar numa corrida à Presidência da República, o partido mobilizar-se-á de imediato para o apoiar, esperando até que parte do PSD faça o mesmo. Só excluído esse cenário é que os democratas-cristãos admitem avaliar outras opções — como os nomes de Luís Marques Mendes (que não vai convencendo) ou de Gouveia e Melo (que é olhado com um misto de sentimentos).

A esta distância, aconselha-se cautela com a tentação de falar em nomes concretos. A direção do partido, aliás, fecha-se em copas. “O CDS não definiu nem debateu o apoio a nenhum candidato. As presidenciais dependem sempre de atos de vontade dos próprios que, em normalidade, antecedem os apoios”, lembra uma fonte da cúpula do partido. Ainda assim, e enquanto a direção espera por candidaturas formais para se posicionar, há um dado que é tomado como certo: o CDS ficaria mais do que satisfeito por apoiar Paulo Portas. E, por agora, ainda acredita que há condições para que essa candidatura se possa concretizar.

Aliás, existe a convicção de que Paulo Portas pode valer mais do que o enfraquecido CDS. “Se um ex-presidente do CDS se apresentar, admito que o apoio dos militantes e do eleitorado esteja com ele”, sugere uma fonte do partido, antes de concretizar: “Se Paulo Portas quiser, o CDS está com ele e se calhar uma parte significativa do PSD também”.

Pelo partido fora, sejam fontes mais ou menos próximas de Portas, ouvem-se garantias semelhantes de quem garante também estar “ansioso” por saber qual é a vontade do antigo líder: “Se aparecer uma candidatura de Paulo Portas, vão todos para esse lado”. Todas as outras proto-candidaturas alternativas são encaradas como uma espécie de plano B ou C — pelo menos no que toca ao desejo de militantes e dirigentes.

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Quanto a essa hipótese, Paulo Portas mantém-se, como sempre tem estado, em silêncio. Mas quem rodeia o antigo vice-primeiro-ministro mantém as esperanças. Desde logo, porque o antigo presidente do CDS, que vai mantendo uma presença no espaço mediático com o seu programa de comentário na TVI, sobretudo dedicado a temas internacionais, também não quebra o silêncio para desmentir ou rejeitar esta hipótese. Por outras palavras: mantém tudo em aberto.

"Se Portas quiser, o CDS está com ele e se calhar uma parte significativa do PSD também", insiste-se no CDS. O partido lembra que o antigo líder pode valer mais votos do que o próprio CDS e que as presidenciais não são uma eleição de caráter partidário. Falta conhecer a vontade do próprio

O “carisma” de Portas e as feridas no PSD

Há quem recorde que, mesmo vindo Paulo Portas de um partido enfraquecido e que eleitoralmente vale muito pouco — a última vez que foi a votos sozinho não conseguiu eleger qualquer deputado —, as presidenciais são eleições muito personificadas, sobretudo carismáticas e inspiracionais: partem de figuras que podem em muitos casos ultrapassar as fronteiras do partido, ou, noutros casos, arregimentar muito menos tropas do que a casa-mãe. Tudo depende naturalmente da personalidade e da campanha que o candidato fizer. E há quem acredite que Paulo Portas faria um brilharete.

É também por isso que no CDS se vai criticando o critério do PSD, colocado logo à cabeça na moção estratégica que Luís Montenegro levou ao último congresso social democrata e que impõe que o candidato apoiado pelo partido seja preferencialmente um militante seu. “Não faço ideia do que o PSD pretende fazer, a não ser que prefere alguém do PSD — não acho isso um bom critério. Mas é o do PSD”, lamentava Cecília Meireles no seu espaço na SIC Notícias.

“A última vez que me lembro de o PSD escrever estas frases correu-lhes mal“, acrescenta outra fonte do PSD, lembrando o momento em que Pedro Passos Coelho teve de engolir o critério definido para afastar Marcelo Rebelo de Sousa — o candidato a Belém não deveria ser um “catavento mediático” — e aceitar uma candidatura esmagadoramente apoiada por PSD e não só.

Por tudo isto, há quem no do CDS não resista a perguntar: “E se fosse Portas?”. A convicção é de que seria uma personalidade que colheria votos bem além das fronteiras do CDS, cativando muito gente do universo social-democrata. Em tempos, por exemplo, Miguel Pinto Luz, hoje um destacado dirigente do PSD e ministro da Habitação e das Infraestruturas, defendeu abertamente a candidatura do antigo vice-primeiro-ministro e não excluía de todo a hipótese de o partido vir a apoiar uma figura que não fosse militante do PSD.

Muita coisa mudou desde aí — desde logo, o facto de o partido ser agora poder, o que obriga a um sentido tático mais apurado e menos estados de alma. Depois, e mesmo com o desencanto (quase) generalizado com Luís Marques Mendes, há feridas que não se apagam. Ainda na quinta-feira, em entrevista ao Observador, Miguel Morgado, antigo assessor político de Pedro Passos Coelho, argumentava que Paulo Portas não será capaz de apagar “facilmente junto da grande família do centro-direita a sua conduta quando foi parceiro de coligação de Pedro Passos Coelho”. “Isso seria sempre um óbice contra ele”, acrescentava o social-democrata.

Aliás, na entrevista que deu a Maria João Avillez, um raríssimo testemunho sobre o período da troika desde que deixou o cargo de primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho fez uma espécie de ajuste de contas com Paulo Portas, dizendo que o então líder do CDS “não tinha uma noção precisa, realista, de qual era o limite das nossas possibilidades” e falando abertamente sobre a crise do “irrevogável”. Também num quase inédito regresso a esse período, e a partir dos estúdios da TVI, Portas responderia a Passos: “Dava a entender que a troika era um bem virtuoso. Eu achava que era um mal necessário”.

Mesmo nesta nova reencarnação da PàF, agora liderada por Melo e Montenegro, há quem, no universo social-democrata, não esqueça, nem queira esquecer, estes episódios — que muitos no PSD ainda acreditam ter contribuído para o facto de Pedro Passos Coelho ter ficado a 13 deputados da maioria absoluta, em 2015, abrindo caminho para a ‘geringonça’ — e que dificilmente aceitaria abanar bandeirinhas por Paulo Portas.

O antigo vice-primeiro-ministro não ignorará isto e não ignorará que está muito longe de estar sozinho no quadro de protocandidatos à direita. Talvez por isso, esteja fechado em copas, enquanto avalia condições e a evolução do quadro político. Uma posição prudente, vigilante e “segura”, numa altura em que quem avançar cedo demais pode queimar as hipóteses de ter sucesso nesta corrida presidencial.

Marques Mendes poderia ser opção "natural" em coligação, mas há dúvidas sobre se será candidatura mais bem sucedida à direita

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

O “melão” Gouveia e Melo e as dúvidas sobre Marques Mendes

Para já, a direita está a passar pelo milagre de multiplicações de candidaturas. Henrique Gouveia e Melo (que vai assustando o PSD), Luís Marques Mendes (com dificuldades em arrancar), Pedro Passos Coelho (que não quer, mas é desejado), de Pedro Santana Lopes (que quer, mas não sabe se consegue) ou Rui Rio (que esperava uma vaga de fundo que nunca veio). A juntar a este já considerável leque, resta a dúvida sobre o que o Chega fará — apoiar Gouveia e Melo, lançar outra vez André Ventura ou avançar com uma outra candidatura que, num quadro tão fragmentado, fica em risco de conseguir resultados muito tímidos.

Com tantas dúvidas, o CDS mostra-se dividido sobre as restantes opções que tem pela frente. Portas seria o ideal, mas pode efetivamente não querer avançar. Se muitos fora do partido interpretaram a conversa noturna entre Nuno Melo e Gouveia e Melo, no bar lisboeta Cockpit, como um sinal de apoio velado, não falta quem dentro do CDS avance com explicações alternativas e peça alguma calma. Não há uma posição unânime sobre esse possível apoio e já vai sendo pública a divisão entre quem acredita que uma figura militar cairia bem junto do seu lado do eleitorado, sendo “muito boa ideia”, e quem nem queira ouvir falar no assunto.

“Não acredito, não apoio e acho que seria um absurdo”, disse o antigo dirigente Diogo Feio, num comentário na SIC, questionado sobre um eventual apoio a Gouveia e Melo. “A candidatura presidencial não é um concurso de excitação. As pessoas não devem ter surpresas”, insistiu. Também na SIC, Cecília Meireles discordou da ‘nega’ dada em termos tão definitivos e precoces —”é absolutamente precoce um partido estar a pensar em anunciar apoio” —, disse que preferiria alguém cujo pensamento político conhecesse, mas “não colocaria de lado” a opção Gouveia e Melo por nesta altura.

“O que sei é que geriu bem a vacinação, o que para mim não é condição suficiente para se ser Presidente. Agora, não conheço outras alternativas. A pessoa [que se quer candidatar] tem de ter vontade e demonstrar consistência nessa vontade. Enquanto não vir essas vontades tenho muita dificuldade em fazer escolhas”, sentenciou a antiga líder parlamentar dos democratas-cristãos.

Outra fonte do CDS já citada anteriormente explica as hesitações sobre Gouveia e Melo lembrando que falta saber o que o almirante pensa sobre pontos essenciais da forma como exerce o cargo — como usaria a sua magistratura de influência, se privilegiaria a estabilidade, se seria mais ou menos interventivo, e por aí fora. “O Presidente não é um melão”, resume esta fonte. Por outras palavras: tem de transmitir a ideia de alguma “previsibilidade” sobre o que é e sobre o que pretende para exercício do cargo; abrir o “melão Gouveia e Melo” quando já estiver eleito não é uma hipótese nada segura.

CDS divide-se entre quem acha que ter Gouveia e Melo como candidato seria "boa ideia" e quem classifica a hipótese como "absurda"

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

“Se a direita se põe com invenções, não passa à segunda volta”

Haveria sempre o conforto de apoiar a solução oficiosa do PSD, Luís Marques Mendes. Confortável porque isenta de riscos — qualquer derrota seria sempre atribuída aos sociais-democratas. Não ausência de Paulo Portas, Luís Marques Mendes até pode não ser o candidato desejável e desejado; mas é o mais óbvio e não criaria qualquer embaraço ao Governo e à Aliança Democrata.

Aliás, o mesmo Diogo Feio abriu as hostilidades na SIC, recordando que o CDS está numa coligação com o PSD em que a “desproporção de forças” é evidente e que seria um “péssimo sinal” não existir uma “união estrutural do centro-direita”. “O projeto [da Aliança Democrática] exige a vontade de uma maioria de natureza presidencial. Dormirei bastante tranquilo com uma candidatura de Marques Mendes”, fez questão de sublinhar, acrescentado que o comentador e o conselheiro de Estado é uma pessoa com “pensamento conhecido”.

A posição de Diogo Feio é partilhada por outros no PSD e há mesmo quem assuma que o “natural” para o CDS seria escolher uma de duas opções: “Ou há Paulo Portas ou apoia-se quem o PSD apoiar”. Quer isto dizer que para alguns democratas-cristãos, que desconsideram a hipótese de apoiar Henrique Gouveia e Melo, só terão uma estratégia diferente da do PSD se Paulo Portas avançar. Mas Marques Mendes não parece entusiasmar o próprio partido, muito menos o país, regista-se, com alguma surpresa, no CDS. Tudo somado, é preciso esperar pela evolução da situação política e de uma maior definição dos protocandidatos.

Num quadro ainda por definir e com possíveis candidaturas a surgir à velocidade da luz, o aviso a partir dos bastidores vai-se repetindo: “Se a direita se põe com invenções, não passa à segunda volta”. Se concorrer muito dividida contra a hipotética candidatura de Gouveia e Melo e ainda tiver de enfrentar um candidato da esquerda, arrisca-se a não chegar lá. Por agora, a ideia é esperar sem entrar em precipitações. A um ano da corrida que pode tirar a direita de Belém pela primeira vez em duas décadas, todo o cuidado é pouco.

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