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Italy's New PM Draghi Looks To Secure Senate Vote
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Como correu o primeiro mês de Governo de "Super Mario" em Itália

No primeiro mês de governo Draghi pôs reformas em marcha, assumiu uma postura assertiva na UE e em breve chegam os fundos europeus. E já surgiu uma dúvida: será que ele quer passar para a Presidência?

Com a popularidade em alta e um amplo apoio partidário, Mario Draghi pôs em marcha a reforma da máquina governamental italiana, com o combate à pandemia e à crise económica como prioridades. A duração do seu governo é uma incógnita, mas parece seguro pelo menos até ao início de 2022, quando há eleições presidenciais. A dúvida surge precisamente aí: depois de liderar o governo, “Super Mário” quer chegar a Presidente da República?

Convidado pelo Presidente Sergio Mattarella para formar governo após a demissão, em janeiro, do então primeiro-ministro Giuseppe Conte, o antigo governador do Banco Central Europeu aceitou o desafio e tomou posse no dia 13 de fevereiro, com um apoio partidário que vai desde a Itália Viva e do Partido Democrático à Força Itália, de Silvio Berlusconi, e à Liga, de Matteo Salvini, numa solução governamental que transformou radicalmente a política italiana.

No seu primeiro mês de governo, que se assinala este sábado, Draghi “pôs as tropas no terreno” para acelerar a vacinação no país, conforme nota ao Observador Francesco Clementi, professor de ciência política da Universidade de Perugia.

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O analista destaca a “centralização da organização do sistema de vacinação no governo”, retirando competências às regiões, um reforço da proteção civil e, principalmente, uma “forte organização baseada no exército italiano, uma estratégia completamente nova comparativamente à do governo de Giuseppe Conte”.

Pouco depois de assumir o cargo, Draghi demitiu o comissário especial Domenico Arcuri, que era responsável pela gestão da pandemia, substituindo-o pelo general Francesco Paolo Figliuolo, um antigo comandante da NATO no Kosovo e ex-responsável pela logística do exército.

epa08747990 European Commission President Ursula Von Der Leyen gives a statement on New Pact for Migration and Asylum  at the European Commission in Brussels, Belgium, 23 September 2020 (reissued 15 October 2020). European Commission President Ursula Von Der Leyen on 15 October 2020 has left the EU summit and said on Twitter she would self isolate after a member of her front office tested positive for Covid-19, coronavirus.  EPA/STEPHANIE LECOCQ / POOL
Na semana passada, numa conversa telefónica com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, Mario Draghi exigiu um “impulso” na vacinação na Europa, numa crítica à estratégia seguida até agora por Bruxelas. Dias depois, dava ordens para bloquear a exportação de 250 mil doses produzidas em Itália da vacina da AstraZeneca para a Austrália.

Na vacinação será dada prioridade aos mais velhos, rompendo com a estratégia de Conte, que deu prioridade aos profissionais de saúde. Até ao momento, a aceleração da vacinação ainda não se fez sentir significativamente, mas isso, considera o analista Giovanni Orsina, não se deve propriamente à ineficácia do governo Draghi.

“Neste momento, o problema não é a máquina italiana. O problema é europeu, porque não há vacinas”, afirma ao Observador o diretor da Escola de Governo da Universidade LUISS, em Roma, acrescentando que, “a partir de abril, um grande número de vacinas vai chegar a Itália, aumentando substancialmente a vacinação”.

Itália com 20.765 novos casos diários. Autoridades temem nova vaga

Enquanto aguarda a chegada de mais vacinas, Draghi enfrenta o que, nas palavras do próprio, é já “uma nova vaga de contágios”, o número de novas infeções a não dar sinal de abrandar — 26.829 novos casos e 380 mortes na sexta-feira.

Nesse sentido, o governo decidiu tomar novas medidas e esta sexta-feira decretou que a Páscoa será passada em confinamento. Até lá, grande parte dos italianos também estará confinada, sendo que a partir de segunda-feira encerram escolas, restaurantes e bares na maioria do país (Itália optou por medidas regionais, mediante a gravidade da situação epidemiológica).

Uma Itália “mais assertiva na Europa”

Apesar de ainda ser cedo para se apurar a eficácia das medidas do novo executivo para conter a pandemia, para Giovanni Orsina, no entanto, o efeito Draghi já se começou a fazer sentir na União Europeia. “O que Draghi pode fazer, e já começou a fazer, é aumentar a pressão sobre a máquina europeia, convencendo a União Europeia a usar todos os instrumentos possíveis para acelerar a vacinação”, destaca o cientista político.

Na semana passada, numa conversa telefónica com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, Mario Draghi exigiu um “impulso” na vacinação na Europa, numa crítica à estratégia seguida até agora por Bruxelas. Dias depois, o primeiro-ministro italiano dava ordens para bloquear a exportação de 250 mil doses produzidas em Itália da vacina da AstraZeneca para a Austrália, uma decisão que foi apoiada pela Comissão Europeia.

Draghi pede à Comissão Europeia “impulso” mais forte na vacinação

“Pela primeira vez alguém disse: ‘podem vender doses para fora da Europa, mas, se têm um contrato connosco, têm de cumprir com o que prometeram’”, sublinha o analista Francesco Clementi. Acrescenta Giovanni Orsina: “Draghi tem muito prestígio e é muito interventivo a nível europeu. Agora, temos uma Itália mais assertiva na Europa.”

Paralelamente à necessidade de acelerar o processo de vacinação, na cabeça de Draghi estão também os 200 mil milhões de euros que a Itália vai receber no âmbito do plano de recuperação europeu (Next Generation EU), destinados, sobretudo, a reformas estruturais no país. O primeiro-ministro italiano reuniu um núcleo duro de ministros tecnocratas à sua volta para gerir os fundos europeus, destacando-se o papel preponderante assumido por Daniele Franco, ex-vice-governador do Banco de Itália e ministro da Economia, além da centralidade dos Ministérios da Transição Ecológica, das Infraestruturas e da Inovação Tecnológica.

“Na Liga, de Matteo Salvini, o euroceticismo mudou radicalmente. Salvini agora está bastante próximo da posição da União Europeia enquanto instrumento para relançar a economia italiana”, sublinha Francesco Clementi, acrescentando que “os eleitores da Liga preferem ficar sob Mario Draghi com dinheiro, do que sem Draghi e sem dinheiro”.

No entanto, apesar da preponderância de ministros tecnocratas, Giovanni Orsina sublinha que é “impossível gerir todo esse dinheiro sem envolver os partidos políticos” — e é aí que podem começar alguns conflitos, sobretudo porque Draghi tem de gerir os interesses de partidos de formações políticas muito distintas.

“O dinheiro ajuda, mas reformar a administração pública não é só uma questão de dinheiro, é uma questão de interesses, de posições de poder, de sindicatos. Isso é muito complicado, porque pode implicar o confronto com grupos que não querem perder poder”, alerta Orsina.

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Nesse sentido, Draghi deu um passo importante na quarta-feira, ao assinar com alguns sindicatos um pacto com reformas para a administração pública, com o objetivo de simplificar a burocracia e investir em recursos humanos. “A pandemia e o plano de recuperação exigem novas formas de profissionalismo e novas formas de trabalhar”, afirmou o primeiro-ministro, citado pela agência Ansa.

Partidos em transformação

Enquanto são dados os primeiros passos nas prometidas reformas, todos os partidos que apoiam a solução de governo estão cientes de que os fundos europeus serão fundamentais, não só para as já referidas reformas, mas também para ganhos eleitorais futuros. Esse parece ser, aliás, o motivo que levou a Liga de Matteo Salvini a converter-se ao europeísmo.

“Na Liga, de Matteo Salvini, o euroceticismo mudou radicalmente. Salvini agora está bastante próximo da posição da União Europeia enquanto instrumento para relançar a economia italiana”, sublinha Francesco Clementi, acrescentando que “os eleitores da Liga preferem ficar sob Mario Draghi com dinheiro, do que sem Draghi e sem dinheiro”.

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O governo de Draghi, cuja maior oposição vem dos Irmãos de Itália, de Giorgia Meloni, um partido de extrema-direita, levou a grandes mudanças nos partidos políticos italianos, não só no já referido caso da Liga, mas também no Movimento 5 Estrelas e no Partido Democrático, que decidem as suas novas lideranças.

No caso do populista Movimento 5 Estrelas, o ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte vai assumir a liderança do partido, sendo ainda incerto o rumo que o mesmo vai levar. Já o Partido Democrático viu o seu secretário-geral Nicola Zingaretti apresentar a demissão e já começou a corrida à sucessão— o ex-primeiro-ministro Enrico Letta já manifestou disponibilidade para voltar a liderar o partido.

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Com os partidos a adaptarem-se a esta nova realidade política, a Liga, de Matteo Salvini, continua a liderar as sondagens (apesar de estar em queda), reunindo 24% das intenções de voto, à frente do Partido Democrático, do Movimento Cinco Estrelas e dos Irmãos de Itália, praticamente empatadas, entre os 16% e os 18%.

No entanto, parece pouco provável que Salvini esteja disposto a romper com Draghi para forçar novas eleições, uma vez que isso o poderia prejudicar nas urnas, tendo em conta o cenário dos próximos meses, que será marcado pelo processo de vacinação e pela aplicação dos fundos europeus. “A Liga vai continuar a ser o partido mais relevante enquanto as sondagens lhe forem favoráveis. Mas apenas ficam no topo da montanha enquanto sustentarem Mario Draghi, não há outra estratégia de saída para Salvini”, assegura Francesco Clementi.

Giovanni Orsina acrescenta que em Itália já se fala na possibilidade de, caso Draghi não avançar para a Presidência, Mattarella se apresentar à reeleição e cumprir apenas um dos sete anos de mandato, de forma a garantir que o atual governo chegue ao fim da legislatura.

Contudo, especula-se que a Liga possa querer forçar eleições antecipadas no verão, uma hipótese que Giovanni Orsina também considera pouco provável. “A não ser que aconteça uma catástrofe, como um falhanço total no plano de vacinação, é muito difícil que pressionem o gatilho contra o governo de Draghi”, sublinha o politólogo.

“Lua de mel” do governo até ao próximo ano

Os dois especialistas ouvidos pelo Observador concordam que até final de janeiro do próximo ano, quando é escolhido um novo Presidente, Mario Draghi deverá conseguir manter o seu governo confortavelmente. No entanto, adivinham-se movimentações políticas já a partir de agosto.

À luz da constituição italiana, é impossível dissolver o parlamento nos seis meses anteriores à escolha do Presidente (eleito pelo parlamento para um mandato de sete anos). Ou seja, a partir de agosto Draghi fica com a sua posição garantida, e é pouco provável que o governo caia antes disso, tendo em conta não só a grande popularidade do primeiro-ministro (na casa dos 60%), mas também o receio dos partidos em virem a ser prejudicados nas urnas.

No entanto, nota Francesco Clementi, “depois de agosto vão aparecer algumas nuvens no céu, porque os partidos são livres de fazerem o que quiserem, porque sabem que a constituição não permite a dissolução do parlamento”, uma fase em que os partidos vão aproveitar, sobretudo, para “usar a sua participação no governo para conseguirem ganhos para si próprios”.

“Não acho que este governo tenha problemas antes de fevereiro de 2022. Por isso, o governo deve conseguir sobreviver no próximo ano. Mas isto é política italiana, e tudo pode acontecer”, realça Giovanni Orsina.

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E se Draghi quiser ser Presidente?

No final de janeiro, adivinha-se um cenário político muito complexo em Itália e totalmente imprevisível. Os analistas e a imprensa italiana, contudo, já traçam alguns cenários, e uma das hipóteses em cima da mesa é a possibilidade de Mario Draghi, de 73 anos, querer concorrer à Presidência.

“Claro que Draghi ainda não fez qualquer declaração nesse sentido. É uma pessoa reservada e nunca diria que quer ser Presidente, porque tal poderia ser um erro político. Mas é compreensível que o queira”, sublinha o cientista político Giovanni Orsina.

Se Draghi decidir avançar para a Presidência existem duas possibilidades: a convocação de novas eleições ou a escolha de um novo governo. Mas, sublinha o analista Francesco Clementi, para que Draghi fosse para a Presidência seria necessário que a crise económica italiana estivesse resolvida, pelo que, “provavelmente, o governo de Mario Draghi terá necessidade de ficar no poder até ao final do período natural da legislatura, em 2023”.

Nesse caso, adensa-se a incógnita quanto à possibilidade de o atual Presidente, Sergio Mattarella, se apresentar à reeleição, uma vez que, reitera Clementi, “apenas Mattarella garante o futuro do governo de Draghi e de todas as escolhas que ele fizer, especialmente durante o plano de recuperação”.

Giovanni Orsina acrescenta que em Itália já se fala na possibilidade de, caso Draghi não avançar para a Presidência, Mattarella se apresentar à reeleição e cumprir apenas um dos sete anos de mandato, de forma a garantir que o atual governo chegue ao fim da legislatura.

“Em 2023, votaríamos novamente e o parlamento elegeria um novo Presidente. Mas isto são apenas rumores”, sublinha o cientista político, pondo em cima da mesa mais um possível cenário para o futuro da sempre inesperada e surpreendente política italiana.

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