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Candidate Isabel Diaz Ayuso and leader of Popular Party (PP
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Isabel Díaz Ayuso e Pablo Casado eram aliados próximos, mas entraram em rutura

LightRocket via Getty Images

Isabel Díaz Ayuso e Pablo Casado eram aliados próximos, mas entraram em rutura

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Contratos fraudulentos e acusações de espionagem: o PP espanhol está a implodir. O que aconteceu?

Estalou a guerra entre o PP e a presidente da Comunidade de Madrid. O caso envolve espionagem, contratos fraudulentos e acusações de crueldade. Como chegámos até aqui?

A estrela do PP espanhol pode estar com um pé fora do partido. Este foi o culminar de uma longa saga, em que o líder do Partido Popular e a presidente da Comunidade de Madrid entraram em conflito e foram subindo o tom das acusações, ao ponto de esta quinta-feira o partido ter anunciado que abriu um processo interno de averiguação a Isabel Díaz Ayuso, que poderá resultar na sua expulsão.

Esta que já é descrita como uma batalha pelo controlo da direção do partido de direita espanhol, tem como pano de fundo acusações de espionagem e contratos irregulares com empresas de produção de máscaras.

Tudo começou com notícias, na quarta-feira, de que a direção nacional do Partido Popular (PP) de Espanha está a investigar, desde outubro, o governo regional de Madrid, liderado por Isabel Díaz Ayuso. Em causa um contrato público de um milhão e meio de euros, assinado em 2020, através do qual o irmão de Ayuso terá recebido uma comissão. O contrato público está relacionado com compra de máscaras por parte do Ministério da Saúde, durante a primeira vaga de Covid-19, a uma empresa cujo presidente era amigo de Tomás Díaz Ayuso — um negócio pelo qual este último teria recebido uma comissão de 280 mil euros.

Mais há mais: segundo os jornais El Mundo e El Confidencial, a direção do PP pediu a Ángel Carromero, braço direito do presidente da câmara de Madrid, que vigiasse Ayuso, recorrendo a detetives que estariam encarregues de provar que o irmão da líder madrilena tinha recebido uma comissão pela adjudicação de um contrato para compra de máscaras FFP2 e FFP3. Os jornais escrevem que responsáveis do PP próximos da direção nacional “contactaram várias agências de detetives para sondar a possibilidade de as contratarem para localizar os documentos fiscais e bancários do irmão de Ayuso”.

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Detetive “Dom Julio” confirma pedido de espionagem

O secretário-geral do PP desmentiu “de forma taxativa e sem reservas” que o partido tenha tentado contratar detetives privados com o intuito de elaborar um dossier contra Ayuso. Mas à ABC, o detetive Julio Gutiez, do Grupo Mira, uma empresa de detetives privados de Madrid, disse ter sido contactado por “pessoas ligadas a uma empresa do Partido Popular ou na qual o PP governa” para lhe encomendarem uma investigação à presidente da Comunidade de Madrid.

E o jornal El Mundo vai mais longe nas provas: esta quinta-feira divulgou um áudio em que se ouve o presidente da Empresa Municipal de la Vivienda (EMV), Álvaro González, a contactar pessoalmente os detetives, para tentar encomendar os serviços espionagem.

Dom Julio, é Álvaro González, o presidente da EMV”, diz em tom visivelmente nervoso. “Estou a ligar-lhe para ver se nos podemos encontrar para verificar algumas informações que recebi, se possível”, pode ouvir-se na gravação, em que González nunca chega a especificar o assunto, tendo os dois homens combinado falar pessoalmente quando o detetive voltasse de uma viagem a Las Palmas, para a qual estava prestes a partir.

“A primeira coisa que lhes disse foi que era ilegal e que não ia fazer qualquer investigação ilegal. Não era sequer uma investigação, porque o que eles queriam eram dados muito específicos da administração fiscal e de um banco, de uma caixa de poupança. Recusei, e como recusei, esse foi o fim da história”.
Julio Gutiez, detetive do Grupo Mira

Segundo o El Mundo, o presidente da EMV fez a chamada — tentou várias vezes antes, sem sucesso — depois de saber que funcionários da sua empresa já tinham contactado o  Grupo de Investigação Mira para tentar obter dados bancários e fiscais confidenciais de Tomás Díaz Ayuso, especificamente uma declaração da sua conta bancária e a declaração fiscal da empresa à qual a presidente da Comunidade de Madrid adjudicou o contrato de compra de máscaras na China, a Priviet Sportive.

“A primeira coisa que lhes disse foi que era ilegal e que não ia fazer nenhuma investigação ilegal”, disse o detetive. “Não era sequer uma investigação, porque o que eles queriam eram dados muito específicos da administração fiscal e de um banco, de uma caixa de poupança”, continuou ele. “Recusei, e como recusei, esse foi o fim da história”.

Isabel Díaz Ayuso soube desta quase-investigação ilegal através de um ex-ministro de Mariano Rajoy, que, por sua vez, foi informado pelo próprio detetive. O caso fez com que o presidente da câmara de Madrid ordenasse uma investigação interna em que nas últimas semanas, foram recolhidos depoimentos da empresa municipal.

"Nunca imaginei que a direção nacional do meu partido fosse atuar de modo tão cruel e tão injusto contra mim. Não pode haver nada mais grave do que acusar alguém da própria casa, com responsabilidade de governo, de corrupção."
Isabel Díaz Ayuso, presidente da Comunidade de Madrid

“Nunca imaginei que o meu partido fosse atuar de modo tão cruel”

Estrela em ascensão do PP, depois de ter conquistado com uma maioria quase absoluta a governação da região autónoma de Madrid, Isabel Díaz Ayuso não poupou nas palavras contra o seu antigo aliado, Pablo Casado, líder do PP: “Apesar de a vida política ser cheia de tristezas, nunca imaginei que a direção nacional do meu partido fosse atuar de modo tão cruel e tão injusto contra mim. Não pode haver nada mais grave do que acusar alguém da própria casa, com responsabilidade de governo, de corrupção (…) Que a oposição me ataque, é lógico, mas que o faça a direção do meu partido, porque me quero candidatar ao Congresso, é insensato.”

Ayuso já garantiu publicamente que nem ela nem ninguém do seu executivo “interveio para adjudicar o contrato”, frisando que o seu irmão trabalha como comercial, na área da Saúde, há 26 anos e que o negócio não tem nada de ilegal: “Ninguém encontrará uma única prova de corrupção da minha parte”.

A líder madrilena acredita que a quase-espionagem, e acima de tudo, as suspeitas de corrupção, são apenas uma manobra política para a afastar da liderança do partido, que já deu sinais de querer disputar: esta segunda-feira, após uma vitória do PP em Castela e Leão, a líder madrilena exigiu que a direção do partido marque uma data para o congresso de Madrid.

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Segundo o jornal El País, há motivos para achar que esta investigação tem, pelo menos em parte, uma motivação política: antes de a investigação avançar, a direção do PP terá chamado Ayuso para uma reunião em que a ameaçou que difundiria informações sobre os contratos suspeitos se não se retirasse da corrida à presidência do partido em Madrid.

Risco de expulsão

Estas relevações e trocas de acusações culminam na decisão da direção nacional do PP, anunciada esta tarde em conferência de imprensa, de abrir um processo interno contra a líder madrilena, devido às “acusações gravíssimas, quase criminosas” contra o líder e cúpula do partido e concluir a investigação às alegadas irregularidades em torno da adjudicação do contrato à empresa do amigo do irmão de Ayuso. O secretário-geral do partido, Teodoro García Egea, anunciou a abertura deste dossier em tom grave, na sede do partido, alertando que os serviços jurídicos do PP estão também a avaliar se avançam com um processo judicial contra a líder madrilena, em resposta às acusações de que o partido engendrou um plano para a destruir de forma “cruel”.

Este processo “tem como objetivo recolher informação” e, no cenário mais grave, pode resultar na expulsão de Ayuso do PP. O tom solene do secretário-geral “mostra que não há compromisso possível, que Ayuso tem um pé fora do PP”, escreve o El País. Os termos em que tudo foi apresentado “revelam que a cúpula rompeu com a sua presidente regional mais mediática, a mais popular”, afirma o jornal.

“Muitas pessoas interrogam-se agora se esta questão está relacionada com as diferenças entre a liderança nacional e Isabel Díaz Ayuso relativamente à data do congresso do PP de Madrid. A resposta é sim.”
Teodoro García Egea, secretário-geral do Partido Popular

Nesta conferência de imprensa, Egea não apresentou qualquer prova de que Ayuso tenha estado envolvida em ilegalidades, mas enfatizou a sua falta de colaboração na investigação. Depois de lhe terem pedido explicações sobre a adjudicação do contrato das máscaras, disse Egea, Ayuso não só se negou a responder, como “contra-atacou” com o que consideram ser uma campanha de “desprestígio” contra a direção do partido.

Estes “ataques injustos”, “intoleráveis” e que “causaram muitíssimo dano” podem resultar numa antecipação do congresso do PP de Madrid, afirmou Egea, dizendo que essa foi “a verdadeira razão” por que Ayuso criou esta polémica: para pressionar a marcação de uma data, para breve, devido às suas ambições dentro do partido.

“Muitas pessoas interrogam-se agora se esta questão está relacionada com as diferenças entre a liderança nacional e Isabel Díaz Ayuso relativamente à data do congresso do PP de Madrid. A resposta é sim”, afirmou o número dois do PP.” Mas “ter um bom resultado eleitoral”, como o que ela teve, “não isenta de retidão e lealdade”.

“Isto só acaba com um dos dois fora”

Esta implosão política ganhou tal magnitude em Espanha que o governo anunciou estar a estudar a possibilidade de convocar o debate sobre o estado da nação para finais de março ou inícios de abril, devido à posição frágil em que se encontra o líder do PP. Em três anos como presidente do governo, Pedro Sánchez nunca realizou este debate, alegando a repetição das eleições e a pandemia.

Este sismo político já chegou também à rua. Uma centena de pessoas, apoiantes de Ayuso, juntou-se à porta da sede do PP, na rua Génova de Madrid, gritando palavras de ordem, pedindo, inclusive, a demissão de Casado: “Já aguentámos um Rajoy, não vamos aguentar outro”, “Fra-Casado, demissão!”.

Não se sabe ainda como vai acabar esta guerra interna do PP, mas tudo indica que, entre Ayuso e Casado, só um poderá ficar no partido.

Dirigentes, ex-ministros, presidentes de câmaras e deputados, ouvidos pelo jornal El Mundo, mostram-se chocados com a intensidade e dimensão que o caso assumiu. O tão falado congresso nacional do partido é visto como a batalha final e já quase ninguém contempla a possibilidade de uma reconciliação. Duas frases são repetidas pelas fontes do jornal: “Isto só acaba com um dos dois fora”, “Um dos dois morre: Ayuso ou Casado”,

O corte total entre os dois dirigentes, em tempos amigos, choca com a imagem de maio de 2021, quando Ayuso venceu, de forma estrondosa, as eleições de Madrid. Nessa altura, a nova líder subiu ao palanque ao lado de Casado que, de sorriso no rosto, anunciou o início de um “novo capítulo em Espanha”. Os dois tinham os olhos no Palácio da Moncloa, onde estava o seu principal alvo, Pedro Sánchez. Agora, não é certo quem vai sobreviver.

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