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Corte nas calorias. Engorde as poupanças no longo prazo com custos baixos

Siga estes 7 passos para fazer uma dieta às despesas da sua carteira de aforro de longo prazo. Descubra como pode cortar a tributação sobre os investimentos de 28% até zero. Sim, às vezes é possível.

    Índice

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Começámos por explicar que não é preciso ser rico para desenhar uma carteira para o longo prazo. Basta começar com 200 euros para construir um pé-de-meia centrado no mercado acionista. Acrescentámos que a maioria deveria retirar as emoções da sua carteira. Os fundos que replicam índices de ações devem ser preferidos por quem quer automatizar a poupança. Até exemplificámos com carteiras de longo prazo para alguns perfis de aforradores. Depois, para quem opta pelos fundos de índice listados na bolsa, desenhámos uma estratégia para não gastar mais de 20 euros por ano em comissões de bolsa.

Todas estas recomendações procuraram otimizar uma carteira automatizada de longo prazo. A simplicidade desta estratégia não só torna mais fácil a vida dos aforradores – que se preocupam menos com o futuro do seu dinheiro – mas também assegura um retorno elevado (como mostram as simulações históricas) e uma dieta nos custos associados ao aforro. No entanto, há um custo que, nos artigos anteriores, não foi analisado: os impostos.

Os investidores que têm uma carteira automatizada de longo prazo têm mais uma razão para sorrir: podem pagar menos impostos se forem fiéis à estratégia. A maioria dos ganhos financeiros é alvo de uma tributação de 28% (22,4% para os residentes dos Açores). É possível pagar menos? Sim, como verá mais à frente. Para conseguir que os seus investimentos paguem o mínimo – até menos do que alguns produtos com benefícios fiscais, como os planos de poupança-reforma –, siga as instruções neste guia para construir uma carteira automatizada de longo prazo.

Escolha um fundo de índice barato. Evite dividendos

Não nos cansamos de repetir: são as ações que mais rendem no longo prazo. Muitos estudos comprovam-no, como a mais recente edição da análise anual de três académicos londrinos. Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton estudam os retornos bolsistas desde 1900 e, na última avaliação, concluem que as ações mundiais renderam anualmente 5% acima da inflação. As obrigações e as aplicações de curto prazo capitalizaram à taxa anual de 1,8% e 0,8%, depois de descontar a inflação.

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Quando ponderar investir em ações numa estratégia automática de longo prazo não pense em comprar títulos individuais. Deve adquirir uma carteira diversificada de ações. Se não alcançar a diversificação, uma potencial quebra acentuada de apenas um título – pense no Banco Espírito Santo, no Lehman Brothers ou na Enron – tem um efeito dramático no património.

Os fundos de investimento são os candidatos naturais a receberem o seu dinheiro, porque são simples de compreender (o dinheiro de muitos aforradores é investido em conjunto), são baratos (as comissões cobradas tendem a ser mais baixas do que através do investimento direto) e transparentes (os gestores são obrigados a divulgar periodicamente a carteira).

Dentro do universo de fundos de investimento, há um grupo que mais deve interessar aos aforradores de longo prazo que seguem uma estratégia automática: os fundos de índice. Porquê? Porque são ainda mais simples de compreender (os gestores replicam a composição de índices de mercado), mais baratos (podem cobrar menos de 0,1% do seu património por ano) e mais transparentes (como replicam um índice, sabe-se que a composição é sempre muito próxima da do índice de referência).

Deve procurar três coisas no seu fundo de índice nesta tática de longo prazo. Primeiro, deve ser o mais barato possível. Não é apenas a minimização da comissão de gestão que se deve procurar: se for um fundo de índice negociado na bolsa, as comissões de bolsa também devem ser baixas. Segundo, não deve distribuir dividendos, porque seria tributado no curto prazo e não no longo prazo, que fica mais barato (como verá mais à frente). Os dividendos devem ser capitalizados pelo próprio fundo, isto é, os dividendos que o gestor obtiver das ações na carteira do fundo devem ser aplicados automaticamente na compra de mais ações. Terceiro, procure fundos de grande dimensão. Para minimizar a tributação, deve manter o fundo durante o máximo de tempo possível. Se o fundo for grande, há mais garantias de não ser liquidado unilateralmente pela sociedade gestora.

Fundos de índice para o seu futuro
Procurámos os melhores fundos de índice que investem em ações de todo o mundo, da Europa, da zona euro, dos Estados Unidos da América (ou América do Norte) e dos mercados emergentes. Os principais critérios de seleção foram a ausência de dividendos, as menores taxas de encargos correntes e os maiores ativos sob gestão.
Fundo Mercado
(índice de referência)
Rentabilidade anual bruta Ativos totais
(milhões de euros)
Taxa de encargos correntes Disponibilidade
1 ano 3 anos 5 anos 10 anos
Fundos cotados
iShares Core MSCI World ETF
ISIN: IE00B4L5Y983
Mundo
(MSCI World)
9,41% 12,77% 14,91% n.a. 6.652 0,20% Bolsa de Amesterdão
iShares MSCI Europe ETF
ISIN: IE00B4K48X80
Europa
(MSCI Europe)
-1,21% 5,45% 10,00% n.a. 492 0,33% Bolsa de Amesterdão
iShares Core Euro Stoxx 50 ETF
ISIN: IE00B53L3W79
Zona euro
(Euro Stoxx 50)
-1,81% 4,05% 8,84% n.a. 1.677 0,10% Bolsa de Amesterdão
iShares Core S&P 500 ETF
ISIN: IE00B5BMR087
EUA
(Standard & Poor’s 500)
13,61% 17,88% 19,28% n.a. 14.944 0,07% Bolsa de Amesterdão
iShares Core MSCI Emerging Markets IMI
ISIN: IE00BKM4GZ66
Mercados emergentes
(MSCI Emerging Markets IMI)
11,68% n.a. n.a. n.a. 3.401 0,25% Bolsa de Amesterdão
Fundos não cotados
HSBC GIF Economic Scale Index Global AC
ISIN: LU0164941436
Mundo
(HSBC Economic Scale Index World)
6,82% 11,32% 13,37% 3,67% 144 0,95% Banco Best
Pictet Europe Index R EUR
ISIN: LU0130731713
Europa
(MSCI Europe)
-1,91% 5,16% 9,71% 2,07% 1.727 0,68% Banco Best, BiG
Amundi Index Equity Euro AE
ISIN: LU0389811372
Zona euro
(MSCI EMU)
0,29% 5,46% 10,16% n.a. 155 0,30% ActivoBank
Amundi Index Equity North America AE
ISIN: LU0389812347
América do Norte
(MSCI North America)
12,10% 16,00% 17,42% n.a. 811 0,30% ActivoBank
Pictet Emerging Markets Index R USD
ISIN: LU0188499684
Mercados emergentes
(MSCI Emerging Markets)
11,20% 4,09% 5,23% 4,02% 720 1,12% ActivoBank, Banco Best, Banco Carregosa, BiG, Millennium bcp
Fonte: Bloomberg, entidades comercializadoras e gestoras. Rentabilidades em euros. n.a. = não aplicável. 14 de outubro de 2016

Há milhares de fundos de índice, muitos dos quais podem ser adquiridos por aforradores portugueses. Se tem dúvidas sobre qual escolher, busque o mais genérico de todos: um fundo que invista em ações de todo o planeta, desde que respeite os critérios anteriores (barato, sem dividendos e grande).

Se for à bolsa comprar, escolha o iShares Core MSCI World ETF. Se preferir a via mais tradicional – a subscrição junto de um banco –, opte pelo HSBC GIF Economic Scale Index Global AC, comercializado pelo Banco Best. O Banco de Investimento Global (BiG) distribui uma série do mesmo fundo (EC em vez de AC), mas é um pouco mais cara: em vez de 0,95% do produto do Best, a taxa de encargos correntes – o peso dos custos de gestão, depósito, supervisão e outras despesas correntes no património ao longo de um ano – é de 1,25%.

Antes de avançar para o passo seguinte, lembre-se: a escolha do fundo é o ponto mais importante desta estratégia. Demore o tempo que for preciso para o eleger, porque este instrumento deverá ficar muitos anos na sua carteira, de preferência décadas.

Abra conta num intermediário de bolsa barato

Se quer seguir uma estratégia automatizada de longo prazo com uma carteira global mas não está confortável com a ideia de ir à bolsa comprar unidades de um fundo de índice, subscreva o HSBC GIF Economic Scale Index Global AC. Em vez de usar um índice reconhecido internacionalmente, a sociedade gestora deste produto preferiu criar o seu próprio índice de referência: o critério do HSBC para selecionar ações é a contribuição de cada empresa para a economia global. O índice é calculado por uma entidade independente, a Euromoney Indices.

HSBC GIF Economic Scale Index Global AC

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Tem mais de 1.600 títulos na carteira, principalmente de emitentes dos EUA, do Japão, do Reino Unido, da Alemanha e de França. Os principais ativos:

Wal-Mart Stores (EUA) 1,84%
General Electric (EUA) 1,06%
Exxon Mobil (EUA) 0,93%
AT&T (EUA) 0,82%
Volkswagen (Alemanha) 0,74%
Royal Dutch Shell (Países Baixos–Reino Unido) 0,73%
Verizon Communications (EUA) 0,68%
JPMorgan Chase (EUA) 0,68%
Bank of America (EUA) 0,64%
Wells Fargo (EUA) 0,64%

Fonte. HSBC. 31 de agosto de 2016

Até fevereiro de 2015, este fundo não replicava um índice. Por isso, as rentabilidades indicadas no quadro anterior, excluindo o retorno do último ano, não refletem a atual estratégia. Todavia, o HSBC calcula que a rentabilidade anual bruta do HSBC GIF Economic Scale Index Global AC teria sido de 6,37% na última década, assumindo as regras do índice de referência e a taxa de encargos correntes de 0,95%.

Apesar de o fundo do HSBC ser uma boa escolha, é possível aumentar o retorno esperado investindo no iShares Core MSCI World ETF. No entanto, é crucial escolher o intermediário mais barato.

Se aplicar mil euros trimestralmente e se as ações dentro de ambos os fundos renderem, em média, 6% por ano, acumulará mais no iShares após um ano e meio ao optar pelo serviço de corretagem GoBulling Pro do Banco Carregosa na compra do produto da iShares em vez do fundo do HSBC. A GoBulling Pro é a plataforma de negociação mais barata para seguir uma estratégia automatizada de longo prazo em Portugal, como o Observador revelou em março.

Receia a GoBulling?

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Quando recomendámos a GoBulling Pro, alguns leitores duvidaram da estabilidade do Banco Carregosa devido à sua pequena dimensão. Tal como em muitos outros intermediários financeiros, a GoBulling Pro funciona sobre a plataforma do banco dinamarquês Saxo Bank. O património dos clientes do Carregosa está numa conta única junto do Saxo, chamada de conta omnibus. “A conta omnibus é usada para gerir as posições junto do Saxo Bank, sendo que os seus ativos nunca são utilizados para colateralizar outras operações”, explica João Queiroz, diretor de negociação da GoBulling. Mesmo numa situação-limite de falência do Banco Carregosa, os títulos dos clientes estão segregados em contas individuais. Aliás, “a qualquer momento o cliente pode ordenar a sua transferência para qualquer outra instituição”.

A opção de transferência da carteira é algo que nunca se deve descartar, em particular se o preçário GoBulling Pro for revisto negativamente para os clientes. Atualmente, o Banco Carregosa cobra 0,1% do montante a transferir, com um mínimo de dez euros por espécie de valor mobiliário.

João Queiroz sublinha, no entanto, que “o Banco Carregosa se orgulha de ser uma das instituições mais sólidas da banca europeia, com um rácio de solvabilidade superior ao dobro do exigido pelo regulador desde há longa data – a média desse rácio manteve-se sempre acima dos 20%”.

Não é por acaso que os fundos cotados listados no quadro anterior estão disponíveis na bolsa de Amesterdão. Juntamente com as praças de Bruxelas, Lisboa e Paris, Amesterdão é o destino mais económico para as suas aplicações bolsistas. Na maioria dos intermediários financeiros, negociar numa destas quatro bolsas – que, conjuntamente, formam a Euronext – fica entre 17% e 33% mais barato do que operar noutra bolsa europeia ou norte-americana. Toda esta poupança resulta em dinheiro que pode ser injetado na carteira de longo prazo em vez de encher os cofres dos corretores.

Através do serviço GoBulling Pro, paga cinco euros sempre que comprar ou vender em Amesterdão. Nesta estratégia, não há mais nenhuma comissão a contabilizar.

Se quer realmente maximizar o pé-de-meia e se prefere um fundo cotado, a GoBulling Pro é, hoje, a escolha certa. O segundo intermediário mais económico, a plataforma Best Trading Pro do Banco Best, cobra mais do que o dobro do Banco Carregosa: um mínimo de 10,40 euros por ordem de bolsa em Amesterdão. Não tenha dúvidas: o seu banco do dia-a-dia é claramente mais caro do que o GoBulling Pro.

Fora de Portugal há intermediários mais baratos. A DeGiro, que, quando se estreou por cá, planeava extinguir os “dinossauros” da corretagem nacional até 2019, é uma das mais económicas. Por exemplo, uma vez por mês, os investidores não pagam a comissão de bolsa nas operações sobre o iShares Core MSCI World ETF, de acordo com a lista de fundos cotados isentos. A corretora holandesa cobra anualmente 2,50 euros pelo acesso a cada bolsa de valores (excluindo a lisboeta).

A abertura de conta no estrangeiro pode adicionar uma camada de complexidade ao investidor, em particular ao nível fiscal. Por exemplo, a Lei Geral Tributária obriga os contribuintes a comunicar, através da declaração anual de IRS, os números das contas de títulos abertas em instituições estrangeiras. Todavia, os clientes da DeGiro não têm números de conta. Além disso, embora esteja registada na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, a corretora holandesa não é supervisionada pela autoridade portuguesa dos mercados financeiros, porque está sob a alçada da homóloga dos Países Baixos.

Ponha de lado algum dinheiro todos os meses

Se quer ter dinheiro no futuro, faça uma poupança hoje. Sempre que possível, estabeleça uma poupança periódica. Se tem um rendimento fixo, como um salário mensal, defina o montante que consegue poupar. Há táticas que pode usar para não se esquecer, como o agendamento automático de uma transferência bancária mensal após o recebimento do vencimento para a sua conta de investimentos. Tudo vale – até acumular dinheiro num mealheiro – para reforçar a estratégia automática de longo prazo.

Antes de subscrever ou comprar unidades do fundo de índice de ações, pense por alguns segundos: tem a certeza que não necessitará do dinheiro durante muitos anos? Não se esqueça que esta estratégia é de longo prazo: dez anos é um bom princípio, mas mais é melhor. Meça a duração do pé-de-meia em décadas.

Se planeia usar algum dinheiro no curto ou no médio prazo, procure instrumentos financeiros adequados. O Observador compilou os produtos de baixo risco mais interessantes para aforradores conservadores e para aplicações em que se preveja que vão durar menos de dez anos. Um resumo: até três anos, faça depósitos a prazo no BNI Europa; mais anos, opte por Certificados do Tesouro Poupança Mais; e, para mais de cinco anos, compre Obrigações do Tesouro.

De qualquer maneira, tudo o que aplicar no fundo de índice está acessível em caso de emergência. O fundo iShares Core MSCI World ETF pode ser liquidado em três dias úteis. O HSBC GIF Economic Scale Index Global AC pode ser resgatado em seis dias úteis.

Invista no fundo de índice. Não pare até precisar do dinheiro

Depois de fazer a sua análise, escolheu o fundo de índice de ações no qual planeia investir durante mais de uma década. Também já elegeu o intermediário financeiro. Até já programou uma transferência mensal da sua conta do dia-a-dia, na qual recebe o vencimento, para o intermediário financeiro através do qual investirá. E agora?

Há mais um passo a decidir: a frequência das aplicações, de modo a minimizar o impacto das comissões. Se selecionou um fundo de índice não cotado, como o HSBC GIF Economic Scale Index Global AC, tem de respeitar os montantes mínimos de investimento. No caso do produto do HSBC, precisa de mil dólares, cerca de 890 euros, na primeira aplicação. Por isso, se amealha 100 euros por mês, terá de esperar nove meses para começar a investir, por exemplo. As aplicações seguintes neste fundo exigem que compre, pelo menos, uma unidade, que vale atualmente menos de 30 euros.

iShares Core MSCI World ETF

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Tal como o fundo HSBC GIF Economic Scale Index Global AC, tem mais de 1.600 títulos na carteira, mas o fundo iShares está mais concentrado nos EUA, no Japão e no Reino Unido. Os principais ativos:

Apple (EUA) 1,97%
Microsoft (EUA) 1,31%
Exxon Mobil (EUA) 1,10%
Amazon.com (EUA) 1,01%
Johnson & Johnson (EUA) 0,99%
Facebook (EUA) 0,90%
General Electric (EUA) 0,81%
Nestlé (Suíça) 0,74%
Alphabet (EUA) 0,74%
JPMorgan Chase (EUA) 0,73%

Fonte: BlackRock. 14 de outubro de 2016

Se escolher um fundo cotado, tem de procurar que a comissão de negociação seja mínima face ao montante a aplicar. Por exemplo, se investir 250 euros no iShares Core MSCI World ETF através da GoBulling Pro, a comissão de cinco euros representa 2% do investimento. É muito? Sim, mas se for investir durante muitos anos, o impacto é diluído.

Após os artigos do Observador a recomendar fundos de índice, um leitor perguntou-nos quanto teria rendido a estratégia de investir no iShares Core MSCI World ETF desde 1989, assumindo a comissão de bolsa de cinco euros, se tivesse optado por aplicar 250 euros por mês, 500 euros de dois em dois meses ou 750 euros trimestralmente. Para lhe responder, tivemos de criar um fundo sintético, porque o fundo iShares só tem sete anos. Assumindo o desempenho do índice de referência, o MSCI World em euros (e escudos antes do euro), e subtraindo a taxa atual de encargos correntes (0,20% por ano) e uma comissão de bolsa de cinco euros, a opção entre mensal, bimestral ou trimestral teria sido quase indiferente: desde janeiro de 1989 até setembro de 2016, a rentabilidade anual bruta teria sido de 6,68%, 6,74% e 6,70%, respetivamente.

Embora o investimento mensal implique mais comissões de bolsa (o dobro ou o triplo do que na tática bimestral ou trimestral), essa estratégia capta mais do rendimento médio mensal das ações, contrabalançando alguns custos. No entanto, se aderir à estratégia automatizada de longo prazo para retirar uma preocupação de cima dos seus ombros, a preferência de aplicação trimestral pode ser a mais indicada ao seu perfil.

Deixe o bolo fermentar. Não mexa na poupança

Criar um índice sintético para estimar o desempenho passado de uma estratégia não é despropositado. Se a sociedade gestora do fundo de índice continuar a procurar replicar o índice de referência, há razões para acreditar que os investidores ganhem o mesmo que o índice subtraído da taxa de encargos correntes. Nos últimos sete anos, o iShares Core MSCI World ETF rendeu 12,35% por ano, exatamente menos 0,20 pontos percentuais do que o MSCI World.

O índice sintético permite perceber porque é importante deixar a poupança fermentar. Retrocedendo ao final de 1969, quando o índice MSCI World foi criado, conclui-se que a esmagadora maioria dos períodos de uma década foram generosos. Aliás, a partir da informação passada é possível aferir que a probabilidade de perder dinheiro numa estratégia de poupança mensal durante dez anos é de 5%. Em estratégias de 15 anos, a probabilidade é de 2%. Melhor: nunca houve um período de 20 anos em que uma poupança mensal tenha perdido dinheiro, assumindo uma taxa de encargos correntes de 0,20%.

Estes cálculos não garantem que, nas próximas duas décadas, uma estratégia de poupança automática não tenha prejuízos, mas dão algum conforto aos aforradores.

Quando precisar do dinheiro pague poucos impostos

Muito se falou sobre a Reforma do IRS, que entrou em vigor no início de 2015, mas há uma mudança que passou ao lado da maioria das pessoas: a correção monetária a aplicar aos preços de aquisição de instrumentos financeiros no cálculo da tributação de mais-valia.

Até 2014, a mais-valia fiscal era contabilizada pela diferença entre o preço de venda e o preço de aquisição, abatido do custo da venda, como as comissões de bolsa. A partir de 2015, o preço de aquisição pode ser multiplicado por um fator de correção monetária, o que pode baixar a tributação efetiva dos investimentos.

À partida, se o contribuinte não optar pelo englobamento dos rendimentos, é alvo de uma taxa de imposto de 28% sobre as mais-valias dos investimentos. Todavia, graças à correção monetária, a tributação pode ser menor – até muito menor. (Poucas vezes o englobamento vale a pena; seria necessário que a taxa a aplicar a todos os rendimentos fosse mais baixa do que a taxa de tributação efetiva dos investimentos.)

Um investidor que tenha gasto 1.000 euros em títulos do iShares Core MSCI World ETF no final de 2009, teria vendido a posição por 2.123 euros no final de 2015, alcançando uma mais-valia de 1.123 euros. No entanto, o valor de aquisição usado no cálculo da tributação seria de 1.080 euros, porque o fator de correção para as aquisições em 2009 é de 1,08. No final, a tributação à taxa de 28% resultaria num imposto de cerca de 290 euros, o que se traduz numa tributação efetiva de 25,8%. Este cálculo assume ainda a declaração de uma comissão de bolsa de cinco euros na compra e na venda, porque, além do custo da venda, a Reforma do IRS também veio permitir o abatimento do custo da compra.

Porque é importante investir para o longo prazo? Porque o fator de correção monetária só é aplicável quando a compra foi efetuada há mais de 24 meses. Além disso, quanto mais longa a duração da aplicação, maior é o fator e, logo, menor a tributação. (Pode haver exceções, como em 2009, quando a inflação nacional foi negativa: o fator de correção de 2009 é superior ao de 2008.) O Ministério da Finanças publica anualmente os fatores de correção monetária a aplicar nas alienações nesse ano. Em novembro de 2015, a última vez que o fez, o fator para aquisições em 2011 era de 1,03, por exemplo, mas, para compras realizadas em 1987, era de 3,07.

O impacto do fator de correção monetária pode ser drástico. No limite, a taxa de tributação efetiva é nula.

Um investimento de mil euros no índice MSCI World a meio do ano 2000 teria gerado um ganho efetivo de 387 euros no final de 2015 (assumindo uma comissão anual de gestão de 0,20% e comissões de bolsa de cinco euros na compra e na venda). Todavia, o preço de aquisição ajustado pela fator de correção monetária (1,38) é superior ao preço de venda, por isso o fisco não tributaria esta operação. A taxa de tributação efetiva seria de zero.

Assumindo que o fator de correção monetária reflete a inflação, isto quer dizer que, grosso modo, os investidores apenas são tributados quando alcançam uma rentabilidade real positiva.

As simulações conduzidas pelo Observador mostram que seria raro alcançar uma tributação efetiva nula, mas seria menos raro a tributação ser inferior à taxa mínima aplicada a produtos financeiros com benefícios fiscais, como planos de poupança-reforma e seguros de capitalização, que é atualmente de 8% se o reembolso for na forma de capital. Todavia, na maioria dos casos simulados (aquisições entre 1970 e 2013), a taxa de tributação efetiva teria ficado acima de 20% – mas sempre abaixo de 28%. Em média, teria sido de 21,5%.

Conseguir uma taxa de tributação baixa não custa nada. Tudo o que precisa é preencher a declaração anual de IRS como manda a lei, incluindo a data e o preço da compra e da venda, bem como as despesas e os encargos necessários a essas operações. A autoridade fiscal fará as contas por si.

Goze o seu dinheiro. Mantenha enquanto não necessitar

O que acontece quando chegar à altura em que previa necessitar do dinheiro? Na maior parte dos planos de poupança de longo prazo, não precisa do capital todo junto. Isto acontece a quem está a amealhar para complementar a pensão de reforma, por exemplo: deseja-se o resgate mensal de um montante fixo. Se for o seu caso, deixe o pé-de-meia capitalizar enquanto não precisa dele.

Imagine uma família que começou a poupar há cerca de 30 anos, em setembro de 1986. A sua estratégia foi aplicar um montante mensalmente até à aposentação, 15 anos depois. No primeiro mês aplicaram 37 contos (cerca de 185 euros) e aumentaram o aforro mensal a uma taxa anual de 2%. A sua última aplicação, em setembro de 2001, foi de 250 euros. Com uma carteira diversificada de ações mundiais (replicando o índice MSCI World), nessa altura acumulava mais de 86 mil euros, assumindo uma comissão de bolsa de cinco euros em cada compra e um custo anual de 0,20% do património. Esse pé-de-meia reflete uma rentabilidade anual de 10,36%.

Em outubro de 2001, quando entraram na aposentação, a família começou por resgatar 250 euros por mês para complementar as pensões de reforma. Todavia, o resgate mensal aumentou à taxa anual de 2% desde então. A fortuna investida numa réplica do índice MSCI World manteve-se, bem como os custos (cinco euros em cada alienação e 0,20% do património por ano). Mesmo depois de resgatar durante 15 anos (em setembro passado, a venda teria sido de quase 336 euros), o património estaria em quase 75 mil euros. Ao fim de 30 anos, a rentabilidade anual (antes de impostos) teria sido de 6,35%.

O impacto da poupança pode ser radical para as famílias. A família hipotética que investiu durante 30 anos aplicou uma soma de cerca de 39 mil euros, resgatou mais de 52 mil euros e ainda lhe sobrou quase 75 mil euros.

As ações – e os fundos de ações por transmissão – são muito voláteis no curto prazo. Será que os aforradores portugueses na aposentação aguentam os altos e os baixos da bolsa? Essa decisão caberá a cada um deles, mas, se compreenderem que, seguindo a estratégia certa, podem fazer mais pelo seu dinheiro, talvez a volatilidade seja o menos importante. Note que a família anterior começou a resgatar as suas poupanças em 2001, quando a bolha tecnológica já tinha estourado na bolsa (a famosa bolha das dotcom) e os preços das ações estavam a ser arrastadas para mínimos históricos.

Quanto mais tempo estiver a acumular e a desacumular as poupanças, melhores perspetivas enfrenta. Se, em vez de 30 anos, a família tivesse investido durante cerca de 46 anos – 28 anos a aplicar e 18 anos a resgatar –, a sua rentabilidade anual bruta teria sido de 6,95%.

É verdade que o desempenho passado não é garantia de resultados futuros, mas, nas estratégias passivas de longo prazo, é o melhor indicador para formar as expectativas dos aforradores.

David Almas é analista financeiro independente registado na CMVM com o número oito. O autor trabalha subordinado ao Código Deontológico dos Jornalistas. O autor detém unidades de participação do iShares Core MSCI World ETF.

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