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As mais recentes negociações entre a Ucrânia e a Rússia foram feitas por videoconferência (Twitter de Mykhailo Podolyak)
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As mais recentes negociações entre a Ucrânia e a Rússia foram feitas por videoconferência (Twitter de Mykhailo Podolyak)

As mais recentes negociações entre a Ucrânia e a Rússia foram feitas por videoconferência (Twitter de Mykhailo Podolyak)

Ucrânia-Rússia. O que se alcançou e o que falhou nas negociações, 30 dias após o início do conflito

Moscovo diz que só há acordo em "questões secundárias". Estatuto da Crimeira e de Donbass são o problema, diz Turquia. Kiev contraria Erdogan e nega "consenso". Como têm corrido as negociações?

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(Em atualização)

Já faz mais de um mês desde que começou a invasão da Ucrânia pela Rússia e parece continuar a não haver acordo entre as duas nações. Ao 30.º dia de guerra, um dos elementos da delegação russo disse que não havia acordo para “principais questões”, estando apenas resolvidas as “secundárias”, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano referiu que não havia qualquer “consenso” e contrariou as alegações de Erdogan.

Na véspera, o Presidente da Turquia — país que tem procurado mediar o conflito entre a Ucrânia e a Rússia — indicou Kiev e Moscovo já tinham chegado a acordo relativamente a alguns temas, como a questão da NATO, do desarmamento e da utilização da língua russa na Ucrânia. O estatuto da Crimeia, que foi anexada pelos russos em 2014, e de Donbass, cuja independência foi reconhecida por Putin dias antes do início da guerra, continuam a ser os temas que, segundo o líder russo, causam problemas.

Acompanhe em baixo o diário das negociações, com os vários dias de encontros (e desencontros), ao vivo e por videoconferência, entre as delegações russa e ucraniana neste caminho sinuoso para a paz.

O que tem acontecido nas reuniões?

Logo no segundo dia de guerra na Ucrânia, Zelensky mostrou-se disponível para negociar com a Rússia. Estas afirmações surgiram horas depois de Lavrov ter dito que a Rússia negociaria com Kiev “a qualquer momento”, desde que os ucranianos pousassem as armas. Após as declarações do Presidente da Ucrânia, Moscovo referiu estar pronto para enviar uma delegação à Bielorrússia para dar início a conversações com uma delegação ucraniana.

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Só dois dias depois, a 27 de fevereiro, é que se marcaria, para o dia seguinte, a primeira ronda de negociações de paz. O Presidente da Ucrânia, que inicialmente tinha recusado que o encontro decorresse num país aliado da Rússia, acabou por ceder, não se mostrando, contudo, crente na boa vontade de Moscovo: “Vamos lá para ouvir o que a Rússia tem para dizer e vamos dizer-lhe o que pensamos disto tudo.”

Negociações para a paz. Zelenksy não acredita, Putin dá sinais contraditórios

28.02: 1.º encontro sem acordo

O encontro durou cerca de cinco horas, na região de Gomel (Bielorrússia), mas o cessar-fogo não ficou acordado. Ainda assim, Moscovo concordou em por fim aos ataques a civis, algo que acabou por não se verificar, visto que houve bombardeamentos logo nas horas seguintes.

À saída do encontro, a Rússia considerou que se “encontraram certos pontos sobre os quais poderia haver posições comuns”. Já a Ucrânia sublinhou que as “negociações continuavam a ser difíceis”: “Infelizmente, o lado russo continua extremamente enviesado no que diz ao respeito aos processos destrutivos que levou a cabo”, escreveu Mykhailo Podolyak, conselheiro do Presidente ucraniano, na sua conta oficial do Twitter.

Desta reunião ficou ainda a garantia de que haveria uma nova ronda negocial — na altura sem data definida — na fronteira com a Polónia.

Negociações para cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia em suspenso à espera de novo encontro

"Infelizmente, o lado russo continua extremamente enviesado no que diz ao respeito aos processos destrutivos que levou a cabo"
Mykhailo Podolyak, conselheiro do Presidente da Ucrânoa

03.03: 2.º encontro e os primeiros compromissos

O segundo encontro entre as delegações russa e ucraniana ocorreu na quinta-feira seguinte, 3 de março, em Belovezhskaya Pushcha, na região de Brest, na Bielorrússia, junto à fronteira com a Polónia.

Numa publicação Twitter, o conselheiro de Zelensky partilhou uma fotografia da mesa de negociações, onde referia os assuntos mais importantes do encontro: cessar-fogo imediato, armistício e corredores humanitários.

A Rússia e a Ucrânia, porém, acordaram apenas os seguintes pontos:

  • corredores humanitários para civis;
  • fim das hostilidades durante um período de tempo para conseguir retirar civis;
  • entrega de medicamentos e alimentos em locais de combate.

No dia seguinte, a Ucrânia dava conta de que aguardava por uma nova ronda negocial no fim de semana seguinte, mas o encontro acabou por só acontecer na segunda-feira, dia 7.

Os acordos estabelecidos, contudo, acabaram por não se verificar. No fim de semana, os corredores humanitários em Mariupol e Volnovakha falharam por duas vezes. A cidade portuária de Mariupol, que já estava há vários dias sem água, eletricidade e saneamento, foi alvo de fortes bombardeamentos e 200 mil pessoas não conseguiram sair. A Ucrânia acusou a Rússia de não respeitar o cessar-fogo, enquanto Moscovo culpou os “nacionalistas ucranianos” de impedirem a saída dos civis.

Mariupol continua isolada. O que falhou na segunda tentativa de evacuação?

07.03: 3.º encontro com novos acordos

A terceira ronda de negociações ocorreu na região de Brest, na Bielorrússia, no dia 7 de março (segunda-feira), mas novamente terminou sem acordo relativamente ao cessar-fogo. No entanto, chegou-se a acordo para a formação de corredores humanitários em cinco cidades: Chernihiv, Sumy, Kharkiv, Kiev e Mariupol.

Nessa manhã, a Rússia tinha proposto abrir quatro corredores humanitários a partir de Kiev, Mariupol, Kharkiv e Sumy, sendo que as rotas da capital e de Kharkiv tinham como destino a Rússia e a Bielorrússia. Uma proposta rejeitada por Kiev.

Antes do início da reunião, a Rússia deu conta das suas exigências para o cessar-fogo:

  • o fim dos exercícios militares pelo exército ucraniano;
  • a alteração da constituição do país para assegurar a neutralidade da Ucrânia;
  • o reconhecimento da Crimeia como território russo.

Medidas consideradas “inaceitáveis” pelos ucranianos.

Civilians Continue To Flee Irpin Amid Calls For 'Humanitarian Corridors'

Moradores de Irpin e de Bucha a tentarem sair das cidades. No dia 10 de março, Rússia propôs abrir 4 corredores humanitários, sendo que algumas rotas iriam terminar na Rússia ou na Bielorrússia

Getty Images

Ao contrário do que aconteceu nas anteriores negociações, alguns dos corredores humanitários foram respeitados ao longo dos dias posteriores. No dia seguinte foram retiradas cinco mil pessoas de Sumy. As restantes cidades, no entanto, foram bombardeadas e por isso não foram evacuadas. Dois dias depois deste terceiro encontro, a Ucrânia anunciava a retirada de 40 mil pessoas através dos corredores humanitários. Ainda assim, nesse mesmo dia, a maternidade de Mariupol foi bombardeada.

Grávida fotografada em Mariupol, ferida após bombardeamento a maternidade, terá morrido — tal como o bebé

10.03: encontro paralelo entre ministros dos Negócios Estrangeiros na Turquia

No dia 10 de março, três dias após o último encontro entre as delegações russa e ucraniana, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois países encontraram-se à margem do Fórum Diplomático de Antalya, na Turquia. Mas nem assim houve acordo para cessar-fogo, como era objetivo da Ucrânia.

À saída da reunião, que foi mediada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Sergey Lavrov negou que a Rússia estivesse a atacar deliberadamente alvos civis, acusando os ucranianos de usar as pessoas como escudos humanos. O ministro russo adiantou ainda que iria falar com Moscovo para estabelecer um corredor humanitário na cidade de Mariupol.

“Fiz o meu melhor para, pelo menos, encontrar uma solução diplomática para a tragédia humanitária que se está a desenrolar no terreno de combate e nas cidades cercadas”, disse o ministro ucraniano, em inglês à saída do encontro.

Press release from the Minister of Foreign Affairs of Ukraine Dmytro Kuleba

“Fiz o meu melhor para, pelo menos, encontrar uma solução diplomática", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, na Turquia

dia images via Getty Images

Dmytro Kuleba referiu ainda que Lavrov garantiu que os ataques iriam continuar até que as suas exigências fossem respeitadas: “Isso significa rendição, algo que não é aceitável”, acrescentou. Quanto ao cessar-fogo, segundo o ucraniano, não houve progressos, porque “parece que há outros decisores para este assunto na Rússia”.

12.03 e 13.03: 4º e 5º dias de contactos por videoconferência, com equipas sectoriais

Depois de um fim de semana marcado por um ataque a uma base aérea a 26 quilómetros da fronteira entre a Ucrânia e a Polónia, que fez pelo menos 35 mortes e 134 feridos, Moscovo e Kiev estiveram em constantes conversações para tentarem chegar a um acordo.

De acordo com Volodymyr Zelensky, ambas delegações mantiveram contacto diário por videoconferência e um dos principais objetivos dos negociadores ucranianos era “fazer de tudo” para que houvesse um encontro entre os líderes da Rússia e da Ucrânia, referia o jornal britânico The Guardian, esta segunda-feira.

O mesmo foi transmitido pelo conselheiro do Presidente ucraniano, através do Twitter:”As negociações com a Rússia estão a decorrer de forma contínua em formato vídeo. Foram criados subgrupos especiais de trabalho. As posições da Ucrânia são determinadas pelas diretivas anteriores”, escreveu Mykhailo Podolyak.

O conselheiro publicou também um vídeo na mesma rede social onde dava conta de que a Rússia estava a “começar a ter conversas construtivas”. “Acho que vamos chegar a alguns resultados concretos numa questão de dias”, lê-se no Guardian.

As mesmas versões foram transmitidas pelo lado russo, com um dos elementos da delegação do país a dizer que se estavam a verificar progressos significativos e que seria possível haver um acordo escrito.

14.03: 6.º encontro, também por videoconferência

As delegações da Rússia e da Ucrânia reuniram-se esta segunda-feira, dia 14 de março, pela sexta vez. O encontro, à semelhança do que já tinha acontecido no fim de semana, foi por videoconferência. Podolyak voltou a usar o Twitter para descrever esta ronda negocial como “difícil”.

“Embora a Rússia perceba o absurdo das suas ações agressivas, ainda tem a ilusão de que 19 dias de violência contra cidades pacíficas ucranianas é a estratégia certa“, lê-se no tweet.

O conselheiro de Zelensky explicou ainda que a reunião foi centrada na “paz, cessar-fogo, retirada imediata de tropas e garantias de segurança” e que a “discórdia” entre os dois países se deve a “dois sistemas políticos demasiado diferentes”.

As negociações neste dia ficaram, segundo Podolyak, em “pausa técnica” , sendo retomadas no dia seguinte.

15.03: 7.º encontro antes de um possível fumo branco

O sétimo encontro aconteceu no dia seguinte, terça-feira dia 15 de março, com os mesmos temas em cima da mesa:

  • cessar-fogo;
  • retirada das tropas russas da Ucrânia.

Horas depois, o mesmo conselheiro de Zelensky referia que as negociações continuariam esta quarta-feira (o que acabou por acontecer, totalizando 8 dias de encontros e contactos), falando num “processo negocial difícil”: “Há contradições fundamentais, mas há certamente margem para um compromisso. Durante a pausa, o trabalho dos subgrupos irá continuar”, adiantou Podolyak.

Ao final da noite, o Presidente da Ucrânia, além de agradecer a visita dos líderes da Eslovénia, Polónia e República Checa a Kiev, falou das negociações, sublinhando que era “preciso ter paciência”. Ainda assim, Zelensky mostrou-se otimista, indicando que as “posições nas negociações [estavam] mais realistas”.

Zelensky convida “todos os amigos da Ucrânia a visitarem Kiev” e disse que “posições nas negociações estão mais realistas”

16.03: 8.º encontro com um plano provisório

Ao 21.º dia de guerra começou (aparentemente) a haver algum fumo branco. O Financial Times, que citava três elementos ligados às rondas negociais, revelou que os dois países chegaram a um acordo e elaboraram esboço para um plano de paz provisório com pelo menos 15 pontos.

Ainda que a parte do plano conhecida na quarta-feira só mostrasse “a posição reivindicada pelo lado russo” — esse alerta foi feito pelo negociador ucraniano e conselheiro de Zelensky, Mykhailo Podolyak —, foi possível levantar o véu sobre estará em cima da mesa. As contrapartidas para Kiev conhecidas nesse dia eram:

  • declarar-se neutral;
  • renunciar à adesão à NATO;
  • aceitar limites para as suas forças armadas;
  • não ter bases militares estrangeiras ou armamento em troca de proteção de países aliados.

Negociador ucraniano diz que “plano de paz” com 15 pontos revelado só tem o lado russo

Do lado ucraniano, as exigências feitas a Moscovo passariam obrigatoriamente por um cessar-fogo e a retirada dos militares russos da Ucrânia, avançou Podolyak.

Numa entrevista à PBS, divulgada pelo ucraniano na sua página de Twitter — antes do seu comentário sobre a publicação do Financial Times — o conselheiro de Zelensky avançou que um cessar-fogo estaria para breve, sublinhando que a Rússia tem “suavizado” as suas posições, uma vez que a guerra não estava a correr como previsto.

Eles não têm os recursos, estão a ficar sem reservas. Tinham como objetivo capturar o território o mais cedo possível, em três dias, queriam uma Blitzkrieg [guerra relâmpago], mas não conseguiram”, descreveu Mykhailo Podoliyak.

Durante o dia foram surgindo várias informações de que este encontro poderia ter bons resultados. Antes de ser conhecido o plano, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo considerou ser possível chegar a um acordo com a Ucrânia: “Concentro-me nos relatórios que os nossos negociadores nos estão a dar. Dizem que as negociações não são fáceis, por razões óbvias, mas que há alguma esperança de um compromisso”, disse Sergei Lavrov numa entrevista à televisão russa RBC TV, citada pela agência espanhola Europa Press. E acrescentava que as principais questões nas negociações incluíam a segurança das pessoas no leste da Ucrânia, a desmilitarização do país e o uso da língua russa na Ucrânia.

O ministro afirmou ainda que a neutralidade da Ucrânia estava a ser “seriamente” considerada. Já o porta-voz do Kremlin falou na possibilidade de Kiev se tornar um Estado desmilitarizado como a Áustria. Algo que, segundo Dmitry Peskov, estava a ser debatido nas negociações e que poderia “ser visto como um compromisso”.

Esta situação, explicava o The Guardian, teria de implicar mesmo a neutralidade da Ucrânia. De acordo com o jornal britânico, a Áustria tem suas próprias forças armadas, mas está vinculada à neutralidade pelo Tratado do Estado Austríaco de 1955 e pela sua constituição, que proíbe a adesão a alianças militares e o estabelecimento de bases militares estrangeiras no país.

Para Ucrânia, esta era uma proposta inaceitável: “Nós compreendemos a tentativa dos nossos parceiros de se manterem proativos no processo de negociação, daí as expressões ‘modelo austríaco’ ou ‘sueco’. Mas a Ucrânia está agora num estado de guerra direta com a Rússia“, afirmou Podolyak, em declarações a uma televisão local, citado pela BBC.

Assim, o modelo só pode ser ‘ucraniano’ e apenas com garantias de segurança legalmente verificadas e não outro modelo ou opção.”

Ainda esta quarta-feira, a Rússia respondeu ao pedido de Zelensky e disse estar disponível para uma cimeira entre o seu Presidente e o da Ucrânia, mas com uma condição: será para alcançar um acordo e não para “reunir-se por reunir”. As afirmações foram feitas por Lavrov, após um encontro com o seu homólogo turco, Mevlut Cavusoglu, em Moscovo.

Mevlut Cavusoglu - Sergey Lavrov meeting in Moscow

Os ministros dos Negócios Estrangeiros turco e russo após um encontro em Moscovo

Anadolu Agency via Getty Images

17.03: 9.º encontro e um possível encontro entre Zelensky e Putin

As negociações entre russos e ucranianos foram, mais uma vez, retomadas na manhã do dia 17 de março, quinta-feira. O dia, porém, começou com um balde água fria, com o Kremlin a dizer que a notícia do Financial Times estava “errada”: “Não é correta. Há elementos que são corretos, mas no geral a notícia está errada“, afirmou o porta-voz do governo russo, citado pela agência Bloomberg.

Dmitry Peskov culpou ainda os ucranianos pela demora nas negociações, referindo que o governo de Zelensky “não está com pressa”.

Também um responsável da diplomacia dos Estados Unidos adiantou que continua a existir “um fosso muito grande” entre as posições da Ucrânia e da Rússia, indicou a Reuters, sem identificar a fonte.

China está “preocupada” com “crise humanitária” e já enviou ajuda para a Ucrânia

Mas nem tudo foram más notícias. A Turquia está a tentar promover um encontro entre os Presidentes da Rússia e da Ucrânia, avançou a Bloomberg. O ministro dos Negócios Estrangeiros turco, que está a liderar esta missão, afirmou que Vladimir Putin disse ao líder turco, por telefone, esta quarta-feira, que não se oporia a que a Turquia promovesse um encontro com Zelensky.

Em Lviv, num encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Cavusoglu disse estar esperançoso num cessar-fogo: “Temos uma maior esperança num cessar-fogo.” De acordo com o jornal britânico The Guardian, o ministro turco adiantou que debateu com Dmytro Kuleba uma proposta sobre corredores humanitários para a retirada de civis em Mariupol, acrescentando que Kiev e Moscovo fizeram acusações mútuas relativamente ao falhanço dessas rotas.

Turkish Foreign Minister Mevlut Cavusoglu in Ukraine's Lviv

Depois de uma ida a Moscovo, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia esteve com o seu homólogo ucraniano em Lviv

Anadolu Agency via Getty Images

“A solidariedade da Turquia permanece inabalável. Agradecido pelo apoio político e humanitário, bem como pelos esforços diplomáticos da Turquia para pôr fim à guerra devastadora da Rússia contra a Ucrânia”, escreve o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano no Twitter.

Esta quinta-feira, Podolyak levantou o véu sobre o que se tem passado nas mais recentes negociais e revelou que os dois países estão a estudar uma “fórmula legal” para acomodar o estatuto das regiões de Donetsk e Lugansk.

Recorde-se que Putin usou como pretexto para a sua “operação militar especial” a proteção dos civis de origem russa destas repúblicas separatistas. Dias antes do início da invasão, o Presidente russo já tinha proclamado a independência das regiões.

Donetsk e Lugansk, as duas regiões que fazem Putin sonhar com a reconstituição do império russo

Para conselheiro de Zelensky, se a Ucrânia e a Rússia chegarem a um entendimento sobre este tema, dar-se-á um passo significativo nas negociações, que poderá abrir a porta novos desenvolvimentos, incluindo “uma reunião especial” entre os Presidentes dos dois países.

Até agora, as delegações russa e ucraniana permanecem firmes. A reconciliação das disputas pode demorar entre alguns dias a uma semana e meia. Nesse período, devemos aproximar-nos de um acordo de paz”, afirmou Podolyak a um jornal polaco.

18.03: 10.º encontro com negociações “muito difíceis”

O 23.º dia de guerra começou com uma conversa entre o Presidente russo e o chanceler alemão. Nesse telefonema, segundo a agência Reuters, Putin acusou a Ucrânia de estar a atrasar as negociações, ao fazer propostas “cada vez mais irrealistas”. “Ainda assim, a Rússia está pronta para continuar a procurar uma solução em linha com as suas abordagens baseadas em princípios que todos conhecem”, indicou o Kremlim relativamente à conversa.

Horas depois, chefe-adjunto de gabinete do Presidente da Ucrânia confirmou que as negociações estavam a decorrer, mas que estavam “muito difíceis”. Em declarações a um canal de televisão local, Andrii Sybih fazia ainda saber que a Ucrânia não iria abdicar da sua candidatura à União Europeia para chegar a um acordo com a Rússia.

No entanto, já ao final do dia, um negociador russo dava a neutralidade de Kiev como praticamente certa, sendo que com esta decisão, a Ucrânia não poderá fazer parte da NATO. Citado pela agência estatal da Rússia, a TASS, este membro da delegação russa acrescentou ainda que a desmilitarização do país liderado por Volodymyr Zelensky estava a “meio caminho”.

Uma posição contrariada pelo conselheiro de Zelensky. Podolyak garantiu, através do Twitter, que a posição da Ucrânia não mudou e que as declarações da Rússia têm como objetivo “provocar tensão nos media”.

21.03: 11.º encontro com Rússia a querer acelerar negociações

Ao 26.º dia de guerra, Kiev e Moscovo retomaram as negociações, depois de um fim de semana com várias declarações de ambas nações — e não só.

Durante a madrugada de sábado, dia 19 de março, o Presidente da Ucrânia deixou um apelo à Rússia: negociações céleres e justas, sob pena de Moscovo ser alvo de perdas tão grandes que serão necessárias “várias gerações” a recuperar. E voltou a insistir num encontro com Vladimir Putin:

É hora de nos encontrarmos. Hora de falar. É hora de restaurar a integridade territorial e a justiça pela Ucrânia. “

Ao 24.º dia de guerra, contudo, Putin dava sinais de que essa reunião não seria para já. Segundo o porta-voz do presidente turco Erdogan, Ibrahim Kalin, citado pelo New York Times, o Presidente da Rússia considerava que as “posições” dos dois líderes não estavam “próximas o suficiente” para que pudesse ocorrer um encontro.

A acontecer um encontro entre Zelensky e Putin só será quando houver paz. A garantia foi dada pela Turquia, que tem procurado mediar o conflito entre a Ucrânia e a Rússia, ao 25.º dia de guerra.

Numa entrevista ao jornal turco Hurriyet, o chefe da diplomacia turca referiu que as negociações estavam a evoluir, indicando que duas nações “quase” concordaram em quatro questões, num total de seis. Mevlut Çavusoglu, porém, não adiantou que pontos eram esses e sublinhou que algumas questões precisavam de ser decididas “ao nível da liderança”.

Se as partes não se desviarem das suas posições atuais, podemos dizer que temos esperança de um cessar-fogo”, disse. Se houver paz, se houver um acordo, eles [Putin e Zelensky] reunir-se-ão definitivamente. Eles não excluem esta possibilidade.”

O porta-voz de Erdogan, numa entrevista ao mesmo jornal, já tinha falado nessas seis questões:

  • a neutralidade da Ucrânia — ou seja, a Ucrânia não entrar na NATO;
  • o desarmamento e as garantias mútuas de segurança;
  • o processo a que a Rússia chama “desnazificação”;
  • a remoção de obstáculos à utilização generalizada da língua russa na Ucrânia;
  • o estatuto do Donbass— cuja independência foi reconhecida por Putin três dias antes do início da invasão;
  • e o estatuto da Crimeia — anexada pela Rússia em 2014.

Turquia admite “quase acordo” em quatro das seis questões em discussão

No domingo, dia 20 de março, o Presidente da Ucrânia reiterou a disponibilidade para negociar com Putin e deixou um alerta: se as tentativas de negociações “falharem”, o conflito entre os dois países poderá levar a uma “terceira Guerra Mundial.”

De acordo com o Financial Times, que citava duas fontes que foram informadas sobre o processo de negociações, Mariupol era considerado “um ponto delicado” nas negociações, uma vez que os separatistas pró-russos reivindicam esta cidade portuária, apesar de fazer parte da Ucrânia.

O mesmo jornal adiantou ainda que um acordo entre as duas nações poderá implicar “concessões simbólicas” por parte da Ucrânia, como mudar o nome de ruas que tenham nomes de ucranianos que tenham lutado com a Alemanha nazi contra a URSS. Também a Rússia deverá fazer cedências, como deixar cair o russo como segunda língua oficial da Ucrânia se Kiev não limitar a utilização do idioma.

Na segunda-feira, dia 21 de março, a delegação ucraniana anunciou uma nova ronda negocial, que deverá durar todo o dia, com vista a um possível cessar-fogo. O encontro desta manhã, por videoconferência, durou cerca de 90 minutos e deverá ser retomado durante a tarde.

Hoje estamos a trabalhar o dia todo”, disse David Arakhamia, um advogado que integra a delegação negocial da Ucrânia, citado pela Reuters.

Esta indicação surgiu depois de o Kremlin ter adiantado que não foram feitos progressos significativos nas negociações com a Ucrânia e que conversações não estão a progredir da forma que a Rússia desejaria. Por isso, Moscovo irá “intensificar os seus esforços para trabalhar mais rapidamente nas negociações”, lê-se na Sky News, que cita um comunicado do governo russo.

"Hoje estamos a trabalhar o dia todo"
David Arakhamia, advogado que integra a delegação negocial da Ucrânia

À semelhança do que já tinha sido adiantado pelo chefe da diplomacia da Turquia, este domingo, a Rússia não está disponível para um encontro entre Putin e Zelensky, considerando que “não há base” para uma possível reunião.

O porta-voz do Kremlin apelou ainda aos países “que têm influência sob Kiev” para darem uso a essa influência para que a Ucrânia tenha uma posição “mais construtiva” nas negociações.

Já o Presidente da Ucrânia voltou a falar na possibilidade de um encontro com Putin, desta vez em Jerusalém, depois de no domingo ter feito um intervenção no Parlamento de Israel: “O primeiro-ministro israelita Bennett está a tentar encontrar uma forma de negociar com a Rússia. E estamos gratos por isso. Para que, mais cedo ou mais tarde, comecemos a falar com a Rússia, talvez em Jerusalém. Este é o sítio certo para encontrar a paz, se é que é possível encontrá-la“, afirmou Zelensky, numa nota informativa enviada à comunicação social.

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O líder ucraniano repetiu mais uma vez a ideia de um encontro com o homólogo russo, numa entrevista a um conjunto de canais televisivos públicos da Europa, na noite de segunda-feira: “Sem este encontro, não é possível compreender na totalidade para o que [os russos] estão preparados para fazer de forma a pôr fim à guerra e o que estão dispostos a fazer se não estivermos preparados para este ou aquela acordo”, afirmou Zelensky, acrescentando que as questões relativas à Crimeia e a Donbas seriam debatidas nesse encontro com Putin. Aliás, o líder ucraniano comprometeu-se a desistir da entrada da Ucrânia na NATO — algo que já tinha avançado em dias anteriores — em troca de um cessar-fogo, uma retirada das tropas russas do país e uma garantia de segurança da Ucrânia.

Durante a tarde, o Presidente da Ucrânia já tinha garantido que a Ucrânia não iria aceitar ultimatos para que termine o conflito, depois de a Rússia ter exigido a Kiev a rendição de Mariupol. Ainda na entrevista à televisão estatal Suspilne, Zelensky acrescentou que os acordos feitos com a Rússia, nas negociações de paz, terão de ser alvo de um referendo aos ucranianos.

Acordo com Rússia terá de envolver referendo, diz Zelensky, que insiste numa reunião com Putin

Numa entrevista à BBC, o conselheiro de Volodymyr Zelensky deu a conhecer a estrutura negocial da Ucrânia, com os vários grupos que trabalham “em diferentes formatos” — resta saber se é a mesma do lado russo:

  • “Equipa negocial”: são os membros da delegação da Ucrânia “que todos conhecem” e que participaram nos primeiros encontros presenciais das negociações;
  • “Conselheiros políticos”: Kiev conta com uma equipa de conselheiros políticos, que não são “apenas ucranianos ou russos” e que pode ser consultada durante este processo negocial. O chefe do gabinete de Zelensky, Andriy Yermank, por exemplo, “trabalha com conselheiros políticos de outros países” que são “parceiros” da Ucrânia (ainda que não sejam detalhados os países que estão em contacto mais estreito com a equipa de negociadores ucranianos);
  • “Grupos legais”: há uma equipa que se ocupa das questões legais do processo negocial e que, nas palavras de Podolyak, “tem de verificar tudo”;
  • Grupos consultivos“: a Ucrânia tem ainda grupos de pessoas que “analisam” de que forma todo este processo “irá ser visto pela sociedade ucraniana” e trabalham as várias questões para que elas sejam aceites pela população. “Ao contrário da Rússia — e nós explicámos isto nas negociações —, não podemos fazer [as negociações] sem dialogar com a sociedade. Afinal de contas, temos um princípio de existência do Estado e da sociedade ligeiramente diferente”, sublinhou o ucraniano.

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22.03: 12.º encontro com Rússia a pedir negociações com mais “substância”

O 27.º dia de guerra começou com a confirmação, por parte do Kremlin, de que as negociações estavam a decorrer. No entanto, à semelhança do que aconteceu na véspera, Moscovo mostrou insatisfação e disse que queria conversações “mais ativas” e com mais “substância”.

epa09769907 Kremlin spokesman Dmitry Peskov is pictured during a joint press conference of the Russian and Belarusian Presidents  following their meeting at the Kremlin in Moscow, Russia, 18 February 2022.  EPA/SERGEY GUNEEV / SPUTNIK / KREMLIN POOL MANDATORY CREDIT

Com as negociações entre a Ucrânia e aRússia a decorrerem, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, adiantou que Moscovo não tenciona tornar públicas as exigências feitas a Kiev

SERGEY GUNEEV / SPUTNIK / KREMLIN POOL/EPA

“Está a decorrer um processo qualquer. Gostaríamos que [as conversas] fossem mais ativas e com mais substância“, afirmou o porta-voz do governo russo aos jornalistas, esta terça-feira, refere a AFP.

Dmitry Peskov adiantou ainda que a Rússia entregou a Kiev um documento escrito com as suas exigências “há vários dias” e que gostaria de ter uma “resposta mais rápida e com substância”.

Ainda assim, o porta-voz do Kremlin indicou que a Rússia não tenciona tornar públicas as exigências feitas à Ucrânia, lê-se na Reuters.

Durante a manhã, Oleksy Arestovych, conselheiro de Zelensky, adiantou que “as hostilidades ativas” entre os dois países poderiam terminar em “duas a três semanas”, noticiou a Sky News.

Na noite desta terça-feira, a Rússia admitiu a possibilidade de usar armas nucleares, caso a sua “existência esteja em risco”. Esta hipótese foi levantada pelo porta-voz do Kremlin, numa entrevista à CNN, Dmitry Peskov ressalvou ainda que Moscovo se guia pelo seu “conceito de segurança doméstica”.

Rússia admite usar armas nucleares se a sua existência estiver em risco

Sobre as negociações, Volodymyr Zelensky indicou, num discurso publicado nas redes sociais, que a delegação do seu país continua a trabalhar com a Rússia para chegarem a um acordo de cessar-fogo, mas sublinhou que, por vezes, as exigências de Moscovo eram “escandalosas”. Ainda assim, as conversações, segundo o Presidente da Ucrânia, estão a avançar “passo a passo”.

“É muito difícil.” Zelensky diz que algumas exigências da Rússia nas negociações são “escandalosas”

23.03: 13.º encontro com ameaça de guerra nuclear como pano de fundo

A Ucrânia avançou, esta quarta-feira, que as negociações de paz com a Rússia estão a decorrer, mas que estavam “difíceis”, avançou a AFP. O conselheiro do Presidente da Ucrânia falou mesmo em “dificuldades sérias”, porque Kiev tem “posições claras e com princípios”.

“As negociações continuam online. Estão a decorrer com sérias dificuldades, porque o lado ucraniano tem posições claras e com princípios”, afirmou Mykhailo Podolyak.

Ainda assim, a Ucrânia apontou o fim da guerra para abril e desvalorizou a possibilidade de Moscovo vir a desencadear uma guerra nuclear, apesar da ameaça desta terça-feira sobre o uso de armas nucleares.

24.03: 14.º encontro e uma data para o fim da guerra?

No dia em que se assinalou um mês da invasão da Rússia à Ucrânia, surgiu uma data para o final do conflito: 9 de maio, dia em que a Rússia derrotou a Alemanha nazi. A data, de acordo com os serviços de secretos ligados às Forças Armadas da Ucrânia, estava a ser avançada aos militares russos, lê-se no twitter do Kyiv Independent.

Neste 29.º dia de guerra ficou ainda marcado por três cimeiras, em Bruxelas: da NATO, do G7 e da União Europeia. Ao longo do dia, vários líderes mundiais mostraram-se descrentes na vontade do Presidente russo em pôr um fim à guerra. O primeiro foi o chefe da diplomacia europeia. Para Josep Borrell, a Rússia não está interessada num cessar-fogo, porque ainda não atingiu os seus objetivos militares.

“[A Rússia] quer cerca a costa até à fronteira com a Moldávia e isolar a Ucrânia do mar. Só irá querer negociar a sério quando garantir uma posição de força“, afirmou Alto Responsável para a Política Externa e de Segurança da UE, numa entrevista, acrescentando que os “próximos 15 dias” serão decisivos.

As declarações do primeiro-ministro britânico, na noite de quinta-feira, foram na mesma direção. “Não estou otimista que Putin queira mesmo [paz]“, disse Boris Johnson. Segundo o líder britânico, o objetivo do Presidente russo é destruir “as grandes cidade da Ucrânia”, tal como aconteceu na guerra da Chechénia.

A propósito das negociações de paz, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou a participação do oligarca russo Roman Abramovich, o dono do Chelsea, na fase inicial das negociações entre a Rússia e a Ucrânia. Algo que já não acontece hoje em dia.

Ele participou na fase inicial. Agora, as negociações são entre as duas equipas, os russos e os ucranianos“, disse Dmitry Peskov aos jornalistas, numa conferência de imprensa esta quinta-feira em Moscovo.

Após a cimeira da NATO em Bruxelas, o líder turco garantiu que a Rússia e a Ucrânia já chegaram a acordo em algumas questões. O Ministro dos Negócios Estrangeiros turco já tinha dito que havia acordo em quatro questões, num total de seis, no início da semana, mas não entrou em pormenores. Ao contrário do que fez Recep Tayyip Erdogan, esta quinta-feira:

Pode dizer-se que há acordos sobre alguns temas, seja a NATO, seja o desarmamento, seja a segurança coletiva ou o estatuto oficial da língua russa. Mas fora disto estão os temas da Crimeia e Donbass, e isso desde logo não pode ser bem recebido pela Ucrânia.”

25.03: negociações continuam sem acordo no 15.º encontro

As negociações decorreram ao longo de toda a semana, por videoconferência, mas continuam sem acordo à vista. Segundo um elemento da delegação russa, as “principais questões” ainda não tinham sido resolvidas, mas não especificou quais: “As negociações têm decorrido durante toda a semana, de segunda a sexta-feira, por videoconferência e irão continuar amanhã”, afirmou Vladimir Medinsky, citado pela agência russa Interfax, acrescentando que só havia acordo nas “questões secundárias”.

Já o Ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, referiu num comunicado que não há qualquer “consenso” com os russos nesta fase das negociações. E contrariou as declarações de Erdogan:

Não há consenso com a Rússia sobre os quatro pontos mencionados pelo Presidente da Turquia”, garantiu Kuleba, saudando, no entanto, “os esforços diplomáticos” turcos “destinados a acabar com a guerra”.

Kiev e Moscovo reconhecem que negociações de paz estão “muito difíceis”

A comunicação social da Turquia dava conta, ao 30.º dia de guerra, que o Presidente turco iria pedir a Putin, numa conversa telefónica que estava agendada para os dias seguintes, para ser “o artesão da paz”. Ainda segundo o media turcos, Erdogan deverá reunir-se esta sexta-feira, com o seu homólogo ucraniano.

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