No quarto dia da invasão da Rússia à Ucrânia, Kiev continua a resistir, apesar dos relatos de várias explosões na capital ucraniana durante a noite de sábado e a madrugada deste domingo. Fica aqui um ponto da situação cronológico, atualizado ao longo do dia, enquanto continuamos a acompanhar os desenvolvimentos, minuto a minuto, no nosso liveblog que pode encontrar neste link.

O que aconteceu durante a noite?

@ Satellite image ©2022 Maxar Technologies

  • Os meios de comunicação pelo mundo começaram a noticiar que um longo comboio de tropas russas estava a dirigir-se para Kiev por via terrestre, de acordo com imagens de satélite recolhidas pela empresa norte-americana Maxar Technologies — especialista, entre outras coisas, na captação de imagens de satélite para serviços de informação e segurança nacional. Tratar-se-á de uma fileira de cerca de 5.2 quilómetros de forças russas, que estaria a avançar em veículos armados. Ao início da noite, estas tropas pareciam estar a encaminhar-se para Kiev. A última informação disponível apontava para que estivessem a cerca de 65 quilómetros da capital ucraniana.
  • Nas últimas horas, as autoridades ucranianas confirmaram que as tropas russas tomaram mesmo controlo da cidade ucraniana de Berdyansk — uma cidade portuária que tinha cerca de 100 mil habitantes antes da guerra começar e que fica no sul da Ucrânia, a cerca de 600 quilómetros a sudeste da capital Kiev. Fica mais perto de Mariupol (a cerca de 80 km) e de Donetsk (a cerca de 200 quilómetros a sul desta região, controlada por separatistas pró-russos). Ainda assim, as tropas russas ainda não tinham conseguido, esta noite, assumir o controlo de outras cidades que procuram dominar, como Kharkiv e sobretudo Kiev.

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  • Os 27 Estados-membros da União Europeia aprovaram nas últimas horas, sem votos contra, um pacote de 450 milhões de euros para compra e envio de armamento para a Ucrânia e um outro pacote de 50 milhões de euros para compra e envio de material não militar — bens que poderão escassear no país como, por exemplo, combustível. É a primeira vez que a União Europeia vai enviar armas para um país europeu que está sob ataque.
  • Na conferência de imprensa em que anunciou a ajuda da União Europeia à Ucrânia, o alto representante para a política externa da UE, Josep Borrell, aludiu ainda a sanções económicas prometendo que a UE vai “atrás da elite que apoia Putin e que tem beneficiado do regime”. Borrell garantiu também que a UE vai apoiar os países europeus que acolherem os refugiados de guerra ucranianos e assumiu o receio “que a Rússia possa não parar na Ucrânia”. Porque não é ainda possível perceber “o que Putin pode fazer a seguir”, será preciso “começar a trabalhar com os países vizinhos, como a Geórgia e a Moldávia, e com a região dos Balcãs”.
  • Segundo o Governo ucraniano, já morreram pelo menos 352 civis na guerra — destes, pelo menos 14 são crianças. Os registos do ministério do Interior da Ucrânia apontam ainda para 1.684 civis já feridos, 116 dos quais crianças.

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  • Em entrevista à Euronews, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reagiu às declarações do Presidente ucraniano que este sábado tinha pedido, em duas intervenções, que “uma discussão de longa data” se definisse: a “adesão da Ucrânia à UE”. Há vários anos que os políticos ucranianos têm sinalizado o desejo de pertencer à UE (tal como à NATO) e na entrevista à Euronews a presidente da Comissão Europeia apontou: a Ucrânia “faz parte de nós, é um de nós… queremos que entrem”. O processo é longo, mas até aqui, nas declarações feitas sobre o assunto, os responsáveis europeus tinham-se mostrado sempre mais cautelosos e reticentes quanto à hipótese.
  • O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, destoou este domingo dos principais líderes mundiais ao recusar-se a condenar de forma contundente a invasão da Ucrânia pela Rússia. Bolsonaro revelou ter estado “duas horas” ao telefone com Putin, explicou que o Brasil vai manter-se neutro em relação ao conflito — porque a economia brasileira tem negócios com a Rússia e porque “não podemos interferir, queremos a paz mas não podemos trazer as consequências para cá” — e falou pejorativamente sobre o Presidente ucraniano, Zelensky: “O povo [ucraniano] confiou num comediante para traçar o destino da nação”.

O que aconteceu durante a tarde?

Russia Attacks Ukraine

  • A tarde foi marcada pelo anúncio de que delegações da Rússia e da Ucrânia se vão encontrar na Bielorrússia para negociações de paz. Inicialmente o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tinha recusado que o diálogo acontecesse num país aliado de Moscovo, mas acabou por ceder. “Vamos lá para ouvir o que a Rússia tem para dizer e vamos dizer-lhe o que pensamos disto tudo”, resumiu o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano. O encontro está marcado para a manhã de segunda-feira.

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  • O outro grande acontecimento da tarde foi o anúncio de um novo pacote de sanções da União Europeia. As novas medidas determinam o encerramento do espaço aéreo europeu a aviões russos (incluindo jatos privados), e a proibição de transmissão dos media estatais russos RT e Sputnik. A UE anunciou ainda que vai, pela primeira vez, financiar a aquisição e entrega de armas e equipamento a um país sob ataque — algo que explicou horas depois em detalhe — e que a Bielorrússia vai também ser alvo de sanções.

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  • Os confrontos no país estão a agravar a crise humanitária, com a Organização Mundial de Saúde a alertar para as reservas muito baixas de oxigénio para fins médicos. Alguns hospitais ucranianos podem ficar sem oxigénio no espaço de 24 horas, alertou a OMS.
  • A Rússia reconheceu pela primeira vez que sofreu baixas entre as suas forças armadas, mas não avançou números. Durante a manhã as autoridades ucranianas tinham dito que 300 militares russos foram mortos em combate.
  • As forças russas continua a pressionar o território ucraniano: o presidente da câmara de Kiev chegou a dizer que a capital estava “cercada”, com entradas e saídas bloqueadas — para depois corrigir a declaração, garantindo ter sido mal interpretado — e há relatos de que o aeroporto de Zhytomyr, a cerca de 150 quilómetros de Kiev, terá sido atingido por mísseis oriundos da Bielorrússia.
  • Também um míssil bielorrusso terá destruído este domingo um edifício histórico em Chernihiv, cidade localizada a cerca de 150 quilómetros a norte de Kiev. A informação é avançada pela agência de notícias ucraniana UNIAN e o edifício, de acordo com o jornal ucraniano The Kyiv Independent, remontará a 1939. Do ataque não terá resultado qualquer ferido.
  • Há também relatos de que o exército russo entrou em Berdyansk, uma cidade portuária da região de Zaporizhia. Nesta região fica uma central nuclear ativa, localizada ainda assim a cerca de 200 quilómetros da cidade de Berdyansk. Este sábado o governo ucraniano tinha anunciado que as forças russas estavam a aproximar-se desta central nuclear.

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  • O Presidente ucraniano Zelensky, muito ativo no Twitter, tem relatado inúmeros contactos com líderes mundiais. Estar tarde foi a vez do Presidente português, a quem agradeceu pelo encerramento do espaço aéreo a aviões russos, pelo apoio à decisão de afastar a Rússia do sistema bancário SWIFT e pelo apoio na área da Defesa.

O que aconteceu durante a manhã?

UKRAINE RUSSIA CRISIS

  • O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou que o comando militar coloque as forças de dissuasão nuclear em alerta máximo após as declarações “agressivas” dos países da NATO.

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  • A manhã foi marcada por troca de palavras sobre eventuais negociações de paz entre Kiev e Moscovo. A Rússia disse ter uma delegação pronta na Bielorrússia, e criticou a Ucrânia por “desperdiçar a oportunidade” para conversações. O Presidente Zelensky insistiu que estava aberto ao diálogo, mas não na Bielorrúsia, um país aliado de Moscovo e que o governo ucraniano diz ter informação que vai declarar guerra à Ucrânia e juntar-se ao conflito. Apesar desta tomada de posição de Zelensky, ao início da tarde, a estação pública de televisão russa RT avançou que “após avanços e recuos” a Ucrânia acabou por aceitar enviar uma delegação para a região bielorrussa de Gomel. É uma informação que não foi ainda confirmada pelo lado ucraniano.
  • Com os países ocidentais a recusarem-se a enviar tropas para a Ucrânia, o Presidente Volodymyr Zelensky apelou a “todos os cidadãos de países estrangeiros” para se juntarem aos ucranianos, como voluntários, e anunciou a criação de um Corpo Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia – um grupo que será composto por cidadãos de outros países que querem ajudar a defender a Ucrânia da invasão russa.
  • Zelensky manteve os esforços no palco internacional e anunciou que avançou com uma ação judicial contra a Rússia no Tribunal Internacional de Justiça, que faz parte da ONU. Horas depois defendeu a expulsão da Rússia do Conselho de Segurança da ONU, por considerar que a invasão da Ucrânia equivale a um ato de genocídio.
  • Vários países anunciaram o encerramento do seu espaço aéreo à Rússia: Finlândia, Irlanda, Dinamarca, Bélgica, Alemanha e Itália.
  • A forças russas entraram na segunda maior cidade ucraniana, Kharkiv, onde se registaram violentos confrontos de madrugada, mas a Ucrânia acabou por anunciar, a meio da manhã, que está agora em controlo da cidade.

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  • Num novo balanço, as autoridades ucranianas dão conta de 4.300 militares russos mortos em combate, e também de 200 civis ucranianos.
  • Também a ONU atualizou o seu balanço de refugiados: quase 370 mil pessoas deixaram a Ucrânia, ao quarto dia do conflito.

O que aconteceu durante a madrugada?

  • Em Kharkiv, a noite começou com vários ataques aéreos de grandes dimensões, que se prolongaram durante a madrugada. O dia de domingo ainda estava no início e já tinha sido anunciado que as forças militares russas já tinham conseguido entrar nesta cidade, que é a segunda maior da Ucrânia. Apesar dos avanços russos, as Forças Armadas ucranianas garantem que estão nas ruas a lutar pelo território.
  • Ainda não existe uma confirmação de que tenham entrado, mas as forças militares russas já conseguiram, pelo menos, cercar também outras duas cidades: Kherson e Berdyansk.
  • Até agora, a Ucrânia tem conseguido manter Kiev, mas durante a madrugada registaram-se vários bombardeamentos, com fortes explosões. Um desses bombardeamentos atingiu um hospital pediátrico e, pelo menos, uma criança de seis anos terá perdido a vida.
  • Segundo as contas do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de 150 mil pessoas já fugiram da Ucrânia.
  • A Austrália mudou de ideias e anunciou que vai financiar equipamento militar letal para a Ucrânia.
  • Já ao início desta manhã, começaram a surgir informações de uma possível negociação com a agência estatal russa RIA Novosti a anunciar que tinha sido enviada uma delegação da Rússia para a sua aliada Bielorrússia a fim de sentar à mesa com Ucrânia para conversações. O porta-voz do governo Dmitry Peskov disse estarem “prontos para iniciar negociações”. Zelensky já respondeu. Não recusou negociar, mas rejeitou qualquer conversa em terreno aliado ao país que está a invadir o território ucraniano.
  • Um dos conselheiros de Zelensky falou também sobre uma possível negociação e classificou a viagem da delegação russa como “propaganda”. A Ucrânia quer apenas negociações “reais”, sem ultimatos, referiu.

 Se quiser ler o resumo do dia 3 da invasão russa da Ucrânia, pode entrar neste link.